Meus olhos abriram-se devagar e uma forte luz os atingiu, fazendo-me piscá-los para que se acostumassem. Eu estava em um quarto branco, um barulho irritante vinha de um aparelho ao meu lado e eu conclui que estava em um hospital. Minha cabeça, assim como o resto do meu corpo, doía como se fosse explodir e manter os olhos abertos estava sendo uma tarefa difícil.

– Luce? – ouvi a voz doce da minha mãe e focalizei meus olhos nela. Ela estava sentada na minha cama, seus olhos estavam vermelhos e olheiras estavam estampadas em seu rosto cansado.

– Mãe? – perguntei confusa e ela sorriu aliviada. – O que aconteceu?

– Você sofreu um acidente de carro querida. Não se lembra? – ela mal acabou de falar e todas as memórias voltaram. Raquel dirigindo como louca, Luke nos seguindo, o carro batendo e capotando, Adam gritando por mim. Adam. Onde ele esta agora?

– Onde o Adam ta? – perguntei e ela sorriu de lado.

– Na lanchonete. O irmão dele o convenceu a ir. – ela deu um riso fraco. – Ele ficou aqui com você esse tempo todo.

– A quanto tempo eu estou aqui?

– Duas semanas. – mamãe disse e eu arregalei os olhos, sentando-me com um pouco de dificuldade. – Você bateu a cabeça com força e entrou num pequeno estagio de coma, mas nada grave, não se preocupe.

Ela afagou minha mão me passando um pouco de tranqüilidade. A porta abriu devagar e Adam entrou de cabeça baixa. Ele estava ainda pior que a minha mãe, sua aparência demonstrava o cansaço intenso. Ele levantou a cabeça e seus olhos encararam os meus, fazendo-o parar onde estava. Sorri de lado pra ele e em poucos segundos ele estava do meu lado.

– Eu vou deixar vocês sozinhos. – mamãe disse e saiu.

– Eu fiquei tão preocupado. – Adam disse numa voz baixa e rouca e beijou minha testa. Ele me encarou fundo nos olhos e segurou meu rosto. – Você esta bem?

– Estou. Na medida do possível. – acariciei sua mão e sorri.

– Desculpa Luce, eu não queria te colocar em perigo. – ele disse e soltou um suspiro cansado. – Eu deveria ter te protegido.

– Tudo bem, não foi culpa sua.

– Foi sim. Eu devia ter evitado isso. – ele soltou meu rosto e segurou minhas mãos.

– Você não tinha como saber. – sorri para ele e acariciei seu rosto só então percebendo um pequeno curativo acima da sua sobrancelha. – O que aconteceu?

– Parece que a família Thompsom tem uma maneira bem diferente de cobrar dividas. – ele riu fraco e eu o olhei confusa. – Eles me torturaram Luce. Harry me torturou, e quando ele falou sobre você eu não consegui me segurar e, digamos, que a minha tortura acabou ficando pior.

O encarei horrorizada. Eu sabia que Harry era maluco, mas torturar pessoas era demais. Torturar o Adam era demais.

– O que aconteceu com aqueles dois? – perguntei e não impedi a raiva de transparecer na minha voz.

– Harry foi mandado para um clinica psiquiátrica com segurança redobrada e acredito que ele não vai sair de lá tão cedo. Raquel acabou morrendo no acidente, o carro explodiu e se eu não tivesse tirado você a tempo você não estaria aqui. – ele disse e percebi a dor que ele sentia apenas de pensar em me perder. Era a mesma dor que eu sentia.

– Você sempre me salvando não é? - perguntei e ele sorriu.

– Sempre. – me deu um rápido beijo e colou nossas testas. – Até o fim da minha vida.

3 anos depois:

Três anos se passaram e muita coisa mudou. Eu diria que aquela Luce que entrou para a HalfBay não é mais a mesma. Conheci pessoas novas, fiz amigos, encontrei um amor, sofri e agora estou tendo o que posso chamar de paz.

As coisas não mudaram só para mim, é claro. Meu pai saiu da política, se dedicando a medicina, que era no que ele havia se formado. Mesmo depois de um tempo da morte de Eric a memória dele ainda é muito forte e, numa tentativa de amenizá-la, mamãe tem trabalhado numa ONG da cidade que ajuda e conforta pessoas que perderam entes queridos em acidentes graves e algumas vezes propositais. Lisa e Carter finalmente assumiram que se amam. Depois de todo o mundo, menos eles, saberem que um não podia viver sem o outro os dois começaram a namorar e pelo jeito isso vai longe. Carter apresentou um velho amigo chamado Lucas para Anne e foi amor à primeira vista, os dois não se desgrudam. Eu e Adam temos o nosso casal favorito: Kath e Luke. Os dois acabaram se aproximando e apesar das brigas, que ocorrem quase sempre que os dois estão juntos, a “amizade colorida” que eles tinham começou a evoluir para algo a mais. Eu e Adam estamos melhores do que nunca. Depois da formatura e de muita discussão consegui convencer o Adam a não escolher uma profissão que nos pusesse em perigo, por que, sinceramente, de perigo eu já to cheia e pensar em perdê-lo ou vê-lo machucado de novo me faz quase ter um ataque de ansiedade. Nosso namoro evoluiu para algo bem mais serio. Eu diria que evoluiu para um casamento. Sorri analisando o vestido branco e me lembrando de como foi o pedido.

“– Posso tirar a venda agora? – perguntei novamente e ouvi Adam rir.

– Ainda não, só mais um pouquinho. – ele deu uma pausa. – Agora pode. – Adam desamarrou o nó que segurava a venda e eu a deixei cair. Estávamos no terraço do meu prédio, da onde tínhamos uma visão completa da cidade. O pôr-do-sol dava um toque romântico ao lugar que estava enfeitado com pequenas rosas brancas e luzes que rodeavam todo o local. Sorri para Adam que me levou até a mesa colocada bem no centro do terraço.

– Tem um motivo especial para tudo isso? – perguntei e Adam riu, virando-se para mim e abraçando minha cintura. Nos dois estávamos de pé, próximos a proteção do terraço, observando a vista noturna da cidade.

– Na verdade tem sim. – ele disse e eu arqueei uma sobrancelha. – Nós estamos namorando há três anos Luce e eu não poderia estar mais feliz. No momento em que eu te vi pela primeira vez eu sabia que era com você que eu queria passar o resto da minha vida e é por isso que quero tornar isso oficial. – olhei confusa para ele que sorriu de lado, pegando uma caixinha no bolso e se ajoelhando na minha frente. – Quer casar comigo?

– Eu... – minha voz falhou e meus olhos marejaram. Meu coração acelerou e minhas mãos tremiam. Eu estava tao feliz que não pude evitar que um sorriso aparecesse em meu rosto. – É claro que sim.

Adam sorriu, colocando o anel no meu dedo, levantando-se e me beijando. Meu coração batia mais acelerado do que eu imaginava ser possível e o modo como ele me beijava assemelhava-se a primeira vez em que seus lábios tocaram os meus.

– Eu vou te fazer a mulher mais feliz do mundo futura Lucia Bennet. – ele disse colando nossas testas e eu sorri. – É uma promessa.”

Alisei a renda do vestido branco com as mãos. Um sorriso gigante estava estampado em meu rosto e meus olhos brilhavam com as lagrimas que eu tentava impedir. Estava tudo preparado, o vestido, a cerimônia, a festa...

Por que amanhã, amanhã é o Grande Dia.