_ Isaac, mantenha-se focado. No final da contagem, quero que você esbarre em alguém e finja que se machucou bastante! _ Ordena Anthony, o pestinha mais rápido de Londres.

_ Tudo bem, darei o melhor de mim. _ disse Isaac com uma voz suave e tranquila.

_ Esse é meu garoto! Vamos lá. Três...

Isaac suava frio enquanto arregaçava as mangas do trapo que usava.

_ Dois...

O pirralho franziu o cenho e analisou toda a movimentação de pessoas pela cidade.

_ Um!

Com passos fortes e longos, Isaac mergulha na multidão e esbarra numa mulher que segurava delicadamente uma cesta de compras. Ambos caíram. Um longo vestido rosado contornava as curvas da mulher que solta um leve grito de susto ao mesmo instante que Isaac geme exageradamente por uma dor inexistente.

Agonizando com a dor de fantasia, Isaac cria uma roda de pessoas ao seu redor, contando com a presença de vendedores que saíam de suas cabanas para bisbilhotar na confusão. Enquanto isso, Anthony sorrateiramente entrava em cada uma das cabanas sem responsáveis e furtava alimentos variados entre frutas e peixes. Depois de alguns minutos, Anthony berrava o nome de seu irmão que instantaneamente trancava os gritos e levantava na correria, deixando todos os cidadãos perplexos.

_ Você foi ótimo Isaac! _ exclama Anthony enquanto preenchia seus pensamentos de felicidade _ Essa foi sua primeira vez, nada será tão difícil se trabalharmos juntos. Não acha irmão?

_ Sim! Finalmente posso ajudar a família a sobreviver.

_ Exatamente Isaac... Essa é a nossa família. Só eu e você.

Isaac e Anthony possuem bastante semelhança em suas aparências. Ambos com cabelo negro e pele esbranquiçada. Apenas os olhos castanhos de Anthony fazem contraste os verdes do irmão. Além da característica peculiar de mechas vermelhas nos cabelos do garoto mais velho.

A Noite cai enquanto os irmãos cozinhavam uma refeição diante à uma fogueira. O lugar que os irmãos costumam chamar de lar é um grande beco deserto, recheado por caixas de papelão e barris de lixo.

A caixa no topo de uma das pilhas cai.

_ Isaac, ouviu isso? _ perguntou Anthony, assustado.

_ Ouvir...

_ Shh! _ sussurra o irmão mais velho, interrompendo Isaac.

_ Aah, vocês são idiotas! Vamos botar tudo abaixo, além de transformar em cinzas tudo que sabe respirar. Não precisamos andar por becos nojentos! _ resmunga um homem misterioso que os irmãos passaram a observar escondidos. Ele estava vestido com uma espécie de armadura negra como a noite e brilhante como as estrelas, uma sapuri.

_ Nunca mais me chame de idiota, ou fará parte do que esse lugar irá virar! _ responde grosseiramente o companheiro do homem.

_ Não tenho medo de vocês. Nem mesmo de você Lucca! Estão todos no meu nível e...

_ Cale a boca, Chad. Quem está aí? _ perguntou Lucca, percebendo a presença dos garotos junto a seus vultos. _ Quem está aí? Se eu precisar me mover, você estará morto!

_ Segure minha mão, Isaac. _ sussurrou Anthony. _ Como fizemos hoje mais cedo, tudo bem? Tudo vai dar certo! No final da contagem. Três...

Os irmãos entreolharam-se e o pequeno Isaac pode converter seu medo em coragem.

_ Dois...

Anthony estava machucando a mão do irmão pela força que apertara.

_ Um!

Com uma rápida investida, o garoto mais velho derruba uma pilha de caixas. Ainda segurando o irmão, Anthony corre para se livrar dos homens que não conseguiram identificar pela escuridão do local.

_ Ei, vocês dois! Fiquem parados para facilitar suas mortes! _ gritou Chad.

Chegando ao fim do beco, outro homem com vestimentas parecidas aos dos outros aparece impedindo a passagem dos pequenos.

_ Não vão fugir. Precisamos trabalhar como sombras essa noite e vocês não vão estragar nossa missão.

_ Ei cara, só queremos sobreviver. Deixe-nos ir, nem mesmo ficaremos nessa cidade! _ disse Anthony, implorando com lágrimas aos olhos.

_ Eu me chamo Brandley e sou um espectro de Hades, assim como meus companheiros ali. Primeiramente, engula a merda desse choro!

O corpo de Anthony trava, sua mão larga Isaac e sua expressão sofre paralisia assim como seu choro.

_ Isso mesmo... Agora contarei como é a vida de qualquer cavalheiro. É necessária uma grande cicatriz. Um passado marcante. Um ódio comprimido. Algo para se vingar, para continuar a viver. Você é um irmão mais velho, eu posso te tornar um grande guerreiro. Mas talvez eu precise arrancar um de seus braços ou... Matar seu irmão.

Anthony cerrou os punhos e bufando passou a gritar:

_ Não sei que merda está falando, mas não vai matar meu irmão!

A voz de Anthony ecoou por todo o beco e Brandley pode sentir uma pequena faísca de cosmo emitindo do garoto.

_ Você tem muito que aprender! _ Brandley avança com o punho erguido, e sua cosmo energia maligna.

Uma grande explosão derrubou tudo o que havia no local, os irmãos foram lançados contra a parede e se levantaram arquejando. O espectro tinha sido parado por um homem forte, com um cosmo dourado a sua volta.

_Tudo bem. Você vai deixar os garotos em paz. Vai deixar a cidade em paz e nunca mais vai esbarrar comigo. _ disse a voz do homem que entrara na frente do golpe que mataria Isaac.

_ Q-Quem é você? _ gaguejou Brandley.

_ Eu sou Shiryu de Dragão.

Shiryu não precisou fazer muito depois de queimar seu cosmo de maneira que todos ali presentes pudessem sentir e medir seu nível.

_ Iremos embora. Mas será um erro tornar esse garoto em um cavaleiro do jeito errado. Apenas a escuridão produz bons cavaleiros.

_ Atena discorda de você, espectro... _ resmunga Shiryu.

Os homens desaparecem na escuridão.

_ Então, me digam seus nomes.

_ Eu me chamo Anthony e esse é meu irmão: Isaac.

_ Garoto, deixe seu irmão falar por si próprio. _ apreendeu Shiryu.

_ Eu sou Isaac... _ disse Isaac em uma crise de tremedeira.

_ Ok, serei franco com vocês. Vocês são crianças que sofreram muito, por muito tempo. Merecem uma nova vida. Merecem um recomeço. Mas isso não será possível se vocês ficarem juntos.

_ Do que diabo está falando? Acabou de nos salvar, e já está tentando nos destruir? _ berra o garoto Anthony.

_ Ei, Ei. Acalme-se. Não sou como aqueles caras! Preciso de cavaleiros... Estou propondo que ganhem moradia e treinamento, mas em lugares diferentes. Vocês precisam disso. Entenderão e agradecerão mais tarde.

Os irmãos se abraçaram forte e aparentavam não se soltar por um bom tempo. Shiryu segurou o ombro do mais velho e pediu que decidissem se aceitariam a proposta de deixar a viver nas ruas.

_ Tem como você um tempo para nós? Muito obrigado! _ exclamou Anthony, nervoso. _ Irmão, sei que não se deve separar uma família. Sei que não nos fará bem no início. Mas roubar todos os dias não é um bom exemplo para você. Olhe pra mim.

Isaac, um garoto de poucas palavras conseguia transparecer seus sentimentos pelos seus olhares. Agora cheios de lágrimas que percorriam seu rosto em busca de seus lábios.

_ Não quero ficar longe de você! _ sussurrou Isaac.

_ Então faremos uma promessa. Duas, aliás. A primeira será nunca mais choraremos ok? _ Anthony passava levemente a mão no rosto de Isaac, enxugando as lágrimas. _ E depois, nos tornaremos excelentes cavaleiros e vamos nos encontrar daqui a dois anos, no Santuário. Tudo bem pra você?

_ Eu não sei se sou capaz de me tornar um cavaleiro sem você. Por que não podemos fazer isso juntos?

_ Isaac, eu percebi que... Não somos ninguém aqui. Acabamos de presenciar a verdadeira face desse mundo. É tudo tão cruel! Acho que esse tal de Shiryu é alguém bom. Alguém confiável. Estou apostando nele para sobrevivermos.

_ Tudo bem... Eu te amo irmão.

_ Eu também te amo, pirralho. _ disse Anthony desmoronando um abraço em Isaac.

_ Ok. Anthony, você vai seguir por aquele caminho... _ Shiryu aponta para o norte _ Em direção ao Santuário Sagrado de Atena, na Grécia. Saberão o que fazer com você lá. Não sou dois, e seu irmão precisa de mais ajuda do que você. Ou seja, seu primeiro teste para ser um cavaleiro, é chegar sozinho ao santuário. Enquanto isso levarei Isaac para os cinco picos de Rozan.

_ Que ridículo! Já estou vendo o quão estupido é ser um cavaleiro de merda. Tchau pra vocês. _ Anthony virou-se revoltado.

Uma troca de olhares entre Anthony e Isaac formou uma cicatriz em suas mentes e a enorme vontade de chorar em ambos foi estacada.

_ Não se preocupe Isaac, seremos grandes amigos. Iremos além de um mestre e seu discípulo. _ disse Shiryu para acalmar o garoto que mal se mantinha em pé.

Caminhando devagar e se abraçando com frio, Anthony sussurra para si:

_ Te vejo depois, irmãozinho...