The Mysterious Lady escrita por Adrienne Moreau


Capítulo 3
Capítulo III


Notas iniciais do capítulo

Muito obrigada pelos comentários no capítulo anterior. Eles me motivaram muito!
Espero que gostem e boa leitura!



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Miku voltou para casa corada de excitação. Ela e Luka haviam passado uma manhã maravilhosa na Bond Street, comprando vestidos modernos e deslumbrantes.

Depois do almoço, trataram de se arrumar bem depressa.

Ao descer para o aposento onde o marquês as aguardava, Miku informou:

— Jamais pensei que comprar vestidos pudesse ser tão excitante! Luka será, com certeza, a mais bonita do baile.

— É claro que sim! — o marquês replicou. — E posso saber o que comprou para si?

Miku sorriu para o marquês.

— Comprei dois vestidos. Espero que Vossa Alteza aprecie.

— Vou apreciar, com certeza. Durante sua ausência, tomei uma decisão.

— Que decisão? — ela indagou.

— Resolvi apresentá-la aos amigos de seu falecido esposo — ele comunicou — aqui, em minha casa.

Miku fitou-o com olhos arregalados.

— Quer dizer que... vai oferecer... uma festa?

— Sim, uma festa. É claro que os jovens desejarão dançar e para isso meu secretário contratou a melhor orquestra da cidade.

— Como Vossa Alteza é gentil! Jamais imaginei que pudesse tomar tal... decisão.

— Acho que já é hora — o marquês arrematou — de eu fazer algo não apenas por você e Luka, mas também por meu filho.

A maneira como o marquês se referia ao filho fê-la perguntar-se se havia algo em torno deles que lhe passara despercebido.

Miku esperou, porém o marquês não disse mais nada.

Naquele momento, Luka entrou na sala de estar.

— Tomei conhecimento de suas extravagâncias, mocinha — o marquês brincou, piscando para Miku.

— Bem, compramos alguns vestidos adoráveis — Luka respondeu um pouco embaraçada — que espero que Vossa Alteza aprecie.

— Estou ansioso por vê-los — foi a resposta do marquês.

Quando entraram na sala, não havia sinal do conde e, portanto, fizeram a refeição sem ele.

Em seguida, Luka informou que desejava dar um passeio pelo jardim.

— Espero que goste dele — o marquês respondeu. — Gastei muito dinheiro para ter um jardim em Londres e para torná-lo um recanto magnífico.

Lembrando-se do que seu pai havia lhe dito, Miku asseverou:

— Acredito que sua casa seja em Hertfordshire.

— Sim, e pertence a minha família há quatrocentos anos. Seu esposo costumava se hospedar lá comigo e tenho certeza de que você vai apreciar o lugar tanto quanto ele, assim que o conhecer.

Miku ia ficando cada vez mais curiosa.

Em seguida, ela pediu ao marquês que lhe desse mais detalhes sobre a casa e seus pertences.

Os três passaram da sala de jantar para a sala de estar. Luka foi para o jardim e, após ter deixado a sala, o marquês comunicou em tom de voz bastante sério:

— Preciso falar com você, lady Hatsune.

Miku sentou-se no sofá e o marquês permaneceu de pé diante da lareira. Parecia refletir a respeito da melhor maneira de dizer a Miku o que tinha em mente.

Fez-se uma pausa distinta antes que ele começasse:

— Vejo que gosta muito de sua enteada e que ela é, sem dúvida, extremamente bonita.

— Essa é uma das razões por que eu estava tão ansiosa para trazê-la a Londres

— Seria um erro mantê-la escondida no campo — o marquês observou. — Bem, mas agora ela está aqui, tenho um plano que, espero, seja de seu agrado.

Miku perguntou-se a que o marquês se referira. Porém, ela ficou em silêncio, e o marquês prosseguiu:

— Você conheceu meu filho e espero que, como todas as mulheres, o tenha achado atraente.

— Sim... claro — Miku concordou com relutância.

O conde havia jantado com eles na noite anterior e Miku percebera a mesma expressão de sarcasmo e cinismo estampada em seus olhos.

Era como se ela tentasse tirar proveito da bondade do marquês.

O conde mostrara-se bastante atraente em suas roupas de noite. Porém, Miku tinha de admitir para si mesma que não gostava dele, e isso ela não podia confessar ao marquês. Com cautela, ela se limitou a murmurar:

— Tenho certeza de que seu filho faz muito sucesso... no mundo social.

— Tem razão — o marquês anuiu. — Ele é, ao mesmo tempo, muito inteligente, e sinto que desperdiça esse talento, divertindo-se o tempo todo, quando há muitas coisas que poderia fazer.

— Que tipo de coisa? — quis saber, cheia de curiosidade.

— O primeiro-ministro pediu-lhe muitas vezes que se incumbisse de missões em diferentes partes da Europa. Pelo que sei, ele aceitou duas que foram muito bem-sucedidas.

Fez-se uma pequena pausa, após o que o marquês prosseguiu:

— Não tenho bem certeza, mas suspeito de que ele tenha recusado várias solicitações feitas pelo primeiro-ministro simplesmente porque prefere divertir-se em Londres.

Miku sentia-se um pouco confusa.

— E há alguma razão para que ele não devesse proceder dessa forma? — ela inquiriu.

Um silêncio se seguiu, durante o qual imaginou que o marquês perguntava-se se devia responder à pergunta ou não. Finalmente, ele confessou:

— Vou ser bem honesto com a senhora, lady Hatsune. Estou bastante preocupado com meu filho.

— Por qual motivo?

— A resposta a sua pergunta é bastante óbvia: mulheres!

Inesperadamente, ele cruzou a sala e foi postar-se diante da janela. Depois de alguns minutos, retornou à lareira.

— Não suporto ver meu filho envolvido com uma mulher que não o merece e que eu não aprecio — ele declarou sem evasivas.

Miku, que não esperava por aquele desabafo, não sabia o que responder.

— A mulher em questão — o marquês prosseguiu — é lady Meiko Sakine.

Miku levantou as sobrancelhas.

— Fico surpreso que não tenho ouvido falar dela — o marquês tornou.

— Vossa Alteza se esquece de que sempre vivi no campo — murmurou.

— Bem, mas agora que está em Londres, com certeza vai ouvir falar de lady Meiko. Ela é filha do duque de Hagane, tendo se casado com lorde Sakine depois de sua primeira temporada. O lorde é bem mais velho que a esposa e prefere permanecer no campo a ter de enfrentar as infidelidades da esposa na cidade.

Miku ouvia com a máxima atenção.

Aquele era o tipo de história que seu pai lhe contaria sem rodeios, mas que jamais ouviria dos lábios da mãe.

— Ouve-se muitos comentários na alta sociedade, sobre o péssimo comportamento de lady Meiko.

Ele deu um suspiro antes de acrescentar:

— Devia ter imaginado que meu filho a acharia atraente, como acontece com todos os homens de St. Jame's.

Ao perceber o tom de amargura na voz do marquês, Miku apressou-se a dizer:

— Sua Alteza disse que lady Meiko era... casada?

— Sim — ele replicou —, mas ouvi dizer que lorde Sakine está muito doente e que os médicos garantem que lhe restam poucas chances de sobrevivência.

Agora Miku começava a entender por que o marquês estava tão preocupado.

— Tenho quase certeza — o marquês argumentou — que lady Meiko pretende se casar com meu filho.

— E por acaso ele pretende se casar... com ela? — Miku indagou surpresa.

— Não que eu saiba — foi a resposta do marquês. — Meu filho deixou bem claro que não pretende se casar até que seja absolutamente necessário o nascimento de um herdeiro para o título.

Ele suspirou antes de acrescentar:

— Desde que Kaito deixou Mayu, as mulheres não pararam de persegui-lo, apesar de ele jamais ter levado nenhum desses relacionamentos a sério. Afinal, essas mulheres são todas casadas e não há nenhuma razão para que tais envolvimentos sejam mais do que affaires de coeur.

— Mas é claro que, se lady Meiko é tão... extravagante como Sua Alteza diz — Miku argumentou —, seu filho não desejará torná-la sua esposa, tendo em vista a distinção de sua família.

Um silêncio se seguiu, antes que o marquês replicasse:

— Deve imaginar que estou exagerando — ele desculpou-se —, mas se lady Meiko ficar viúva, com certeza encontrará uma forma de arrastar Kaito até o altar, mesmo que ele não queira.

— E como... ela fará isso? — Miku indagou curiosa.

— Eu não sei — o marquês admitiu —, porém, ela é diferente de todas as outras mulheres. Possui um belo rosto e a astúcia de um demônio.

Miku ficou horrorizada com as palavras do marquês e arregalou os olhos.

— Mas o que Vossa Alteza pode fazer a respeito?

— O que desejo... é que sua enteada se case com meu filho!

Miku deu um grito. Não esperava ouvir tal declaração. Com certeza o casamento de Luka com o filho do marquês teria grande repercussão social e seria revestido de muita pompa.

No dia anterior ela conhecera o conde, mas jamais lhe passara pela cabeça que ele seria o tipo de homem com quem Luka apreciasse conversar e dançar. O duque era bem mais velho que sua irmã e um tanto sofisticado.

Miku tinha certeza de que o conde as julgava enfadonhas e inexperientes, não despertando assim seu interesse.

Tudo isso atravessou-lhe a mente numa fração de segundo. Então, ao perceber que o marquês aguardava uma resposta, ela apressou-se a dizer:

— Se Luka se apaixonar por seu filho e vice-versa, o casamento trará muita felicidade para ambos.

— Sei disso — o marquês tornou — e não há nenhuma mulher neste mundo que eu deseje mais como minha nora do que a filha de Kotaro.

— Não posso deixar de pensar — declarou — que o conde achará Luka um tanto jovem demais.

— Minha esposa tinha apenas dezessete anos quando nos casamos — o marquês lembrou — e fomos muito felizes. Eu a achava a esposa perfeita em todos os sentidos, porém, ela só conseguiu me dar um filho, quando eu desejava ter meia dúzia.

Miku caiu na risada.

— Todos os ingleses pensam assim. Meu esposo se ressentia por não ter filhos homens.

— E você não lhe deu nenhum? — o marquês indagou.

Um silêncio desconfortável se seguiu.

Miku não sabia o que dizer, porém, o marquês, sem esperar pela resposta, prosseguiu:

— Mas é claro, a senhora esteve casada com ele apenas por um curto período de tempo. Sua enteada é jovem e eu gostaria de ter um grande número de bisnetos antes de morrer.

— É claro que sim — Miku arrematou com um sorriso.

— Peço-lhe que me ajude — o marquês continuou. — Faça com que Luka perceba o quanto seria feliz tornando-se a marquesa de Greystone. Eu, por minha vez, farei de tudo o que puder para unir os dois pombinhos.

— Sim... é claro que o ajudarei — replicou —, mas talvez lady Meiko não seja tão perigosa quanto Vossa Alteza imagina.

— Espere até conhecê-la — ele advertiu-lhe. — Perceberá então que tenho razão. Lady Meiko é uma mulher que causa tumulto aonde quer que vá.

— Ela é realmente muito bonita?

— A maioria dos homens acha que sim — o marquês respondeu —, mas, para mim, ela não passa de uma mulher perigosa e astuta.

Tudo aquilo era como as histórias que Miku costumava ler nos livros. Os fatos podiam não ter ligação nenhuma com a vida real.

Mais tarde, quando subiu para trocar de roupa para jantar, comentou com Luka:

— O marquês é tão gentil. Sinto que lhe devo muita gratidão.

— É maravilhoso que ele tenha oferecido uma festa para mim — Luka comentou. — Pedi a um dos criados que me mostrasse o salão de baile quando voltei do jardim. O lugar é impressionante. Papai deve ter apreciado todos aqueles quadros.

— Eu também gostaria de vê-los.

— Você percebeu, Miku, que este também é seu primeiro baile? — Luka perguntou. Instintivamente Miku olhou por sobre o ombro.

— Tenha cuidado! — advertiu. — Caso alguém ouça seus comentários, poderá achar tudo muito estranho.

Luka baixou o tom de voz.

— Tem razão — replicou. — E, por favor, querida irmã, compre um vestido bem bonito para você!

— Farei isso — Miku garantiu —, porém, precisamos nos concentrar apenas em você. Quero que se mostre bem bonita tanto para o conde como para o marquês.

Luka caiu na risada.

— Por que rir?

— Porque é óbvio que o conde não se importa nem um pouco conosco — Luka respondeu. — Eu o estive observando enquanto conversávamos antes do jantar e ficou bem claro que ele fazia um grande favor nos dirigindo a palavra.

— Acho que isso não é verdade — Miku contrapôs.

— Claro que é — Luka afirmou com veemência —, e mesmo que eu seja amável com o conde, duvido que ele note que eu existo.

Miku imaginou que aquela hipótese não podia ser descartada.

— Seja lá o que você sinta — ela apressou-se a dizer à irmã —, precisa ser gentil, por respeito ao marquês. Afinal de contas, ele nos trata com tanta cordialidade, que é como se fôssemos viver aqui para sempre. Aliás, essa não seria má ideia.

— Claro que não — Luka concordou —, prometo tentar, mas sinto que o conde de Grey é um homem presunçoso e que detesta debutantes.

Quando desceram para o jantar, Luka estava muito atraente. Usava um dos vestidos novos que tinha adquirido na Bond Street.

— Esse vestido parece-me muito sofisticado para um jantar simples como esse — Miku admitiu —, mas é sempre bom experimentar um vestido em casa, antes de exibi-lo numa ocasião especial.

O vestido de Luka era branco, com anquinhas de renda e chiffon nas costas. O corpete, com suas mangas bufantes, realçava a cintura esbelta e delicada.

Miku não pôde deixar de pensar que o conde precisaria ter um coração de pedra para não achar sua irmã atraente.

Entraram na sala onde todos deveriam se encontrar antes do jantar. E para surpresa de Miku, não encontraram apenas o marquês e seu filho no aposento, mas também outras pessoas.

Quando ela avançou na direção da lareira, o marquês informou:

— Kaito está recebendo alguns de seus amigos. Deixe-me apresentá-los a você, lady Hatsune.

Havia dois homens e duas mulheres presentes e que não pareciam ter nenhum grau de parentesco com o marquês. Mas pareciam ser bastante íntimos da casa.

A mulheres eram muito atraentes e envergavam vestidos espetaculares. Os homens, que deviam ter a mesma idade do conde, ostentavam um ar de devassidão que muito desagradou a Miku.

Alguns minutos depois de Miku e a irmã terem entrado na sala, um outro homem chegou. Ao se dirigir ao marquês, o homem o tratou de "tio". Quando ele foi apresentado, ela descobriu que seu nome era Kamui Gakupo.

Gakupo era filho da irmã do marquês e parecia bem mais jovem que os outros homens. Era bonito, e tinha uma expressão de bondade no rosto.

Ele ficou bastante impressionado com Luka, que se achava ao lado do conde.

Lembrando-se das instruções de Miku, ela tentava conversar com o filho do marquês. Apesar de não poder ouvir o que diziam, tinha quase certeza de que o conde respondia às perguntas de Luka com evasivas.

O champanhe ia sendo servido pelos criados e Miku imaginou que não demoraria para que o jantar fosse anunciado.

Perguntou-se se fora o marquês quem colocara Luka ao lado do conde. Naquele momento, ela notou que o marquês olhava para o relógio.

A porta então se abriu e o mordomo anunciou:

— Lady Meiko Sakine, milorde!

Miku virou-se, curiosa para conhecer a mulher de quem ouvira tantos comentários.

Apesar de o marquês tê-la classificado de "demônio", ninguém podia negar que era extremamente bonita.

Lady Meiko era morena e naquela noite trazia sobre os cabelos uma tiara de esmeraldas que combinavam com os brincos. Seus olhos eram castanhos que refletiam o verde-escuro das esmeraldas que adornavam-lhe os cabelos e o pescoço.

Ela esgueirou-se devagar pelos cantos do aposento, como um felino.

Ao observá-la, Miku chegou à conclusão de que havia algo erótico e estranho em torno da mulher, como uma ameaça latente.

Sua atitudes estudadas faziam de lady Meiko uma mulher irresistível e atraente. As anquinhas postiças de seu vestido eram feitas de penas verdes de avestruz.

Ocorreu a Miku que Maika também usaria um vestido espalhafatoso como aquele sem nenhum constrangimento. A roupa era bastante decotada no busto, mais revelando do que ocultando o corpo da mulher.

Lady Meiko se movimentava pela sala com a mesma graça sinuosa de uma serpente.

— Desculpem-me pelo atraso! — ela se dirigiu ao conde que correu para cumprimentá-la. — É que recebi uma visita que não queria mais ir embora!

Enquanto falava, ela observava o conde por debaixo dos cílios cobertos de máscara.

Num gesto rápido, ela se voltou para o marquês.

— Quanta gentileza — exclamou em tom bajulador — em me convidar para o jantar. Já faz algum tempo que não janto aqui e devo admitir que adoro sua casa!

Havia charme nas palavras de lady Meiko, apesar de terem soado pouco naturais.

Miku notou que os olhos do marquês se estreitaram ao dizer:

— Soube que seu marido não passa muito bem. Deve estar preocupada com ele, não?

— Oh, claro que sim! — lady Meiko asseverou —, mas, como pode imaginar, não tenho nenhuma vocação para enfermeira e meu marido prefere permanecer no campo sem minha companhia.

Deixando bem claro que não desejava se demorar naquele assunto, ela se virou para cumprimentar os outros convidados.

Ficou evidente que as mulheres não apreciaram nem um pouco sua chegada. Porém, havia admiração nos olhos dos homens, como se eles a achassem não só divertida mas também irresistível.

O jantar foi anunciado e o marquês ofereceu o braço a Miku.

Ela ficou um tanto surpresa com aquela atitude.

Como lady Meiko era filha de duque, o marquês deveria ter se dirigido a ela.

Como se adivinhasse o que Miku pensava, o marquês murmurou-lhe enquanto caminhavam para a sala de jantar:

— Esta festa é de Kaito e não minha. Depois de nossa conversa de ontem, gostaria de ouvir sua opinião.

Miku deu-lhe um sorriso tímido e não houve necessidade de dizer mais nada.

Quando chegaram à sala de jantar, ela percebeu que se sentaria à direita do marquês.

O conde se encontrava na outra extremidade da mesa, tendo lady Meiko de um lado e Luka do outro. As duas mulheres criavam tanto contraste entre si que Miku teve vontade de rir.

Ela teve certeza de que aquilo fora obra do marquês, quando ele a fitou e piscou-lhe um olho.

Lady Meiko olhava para Miku como se ela fosse de outro planeta. Porém, ignorava Luka completamente.

Era óbvio que as mulheres a detestavam.

Foi só depois do jantar, quando lady Meiko soube que Miku achava-se hospedada na casa, que ela lhe deu mais atenção.

— Por que nunca a vi antes, lady Hatsune? — ela indagou. — Esteve no exterior ou vegetando no campo?

— Estive de luto — foi a resposta seca de Miku.

— Mas você conhece o marquês! Contudo, jamais o ouvi fazer comentários sobre você.

— Meu falecido marido era bastante amigo de nosso anfitrião — Miku replicou — e é por essa razão que ele nos ofereceu hospedagem em sua casa.

— Tal atitude é bastante incomum — lady Meiko observou. — O marquês nunca gostou da presença de ninguém em sua casa, a não ser, é claro, a de seu filho.

— Então eu e Luka tivemos muita sorte! — Miku respondeu com suavidade na voz.

Notou então que lady Meiko franzia a testa e que havia um ar de suspeita em seus olhos.

— Quer dizer que ficará hospedada aqui durante toda a temporada? — ela indagou com voz fria.

— Espero que sim, mas é claro, se formos um incômodo para o marquês, precisaremos encontrar uma casa em Mayfair.

— Acho que essa seria uma ideia bem mais viável — lady Meiko respondeu. — O conde sempre reclamou que acha terrível chegar em casa e encontrá-la cheia de gente.

— Se ele realmente se sente assim — Miku retorquiu —, então Luka e eu precisaremos ficar longe de seu caminho. E não será difícil numa casa tão espaçosa.

Aquela não era a resposta que lady Meiko esperava ouvir. Com um gesto de desdém, ela se afastou e foi conversar com as outras mulheres.

Quando os cavalheiros se reuniram a elas, o conde anunciou que estavam de partida para outra recepção.

— É uma festa sem importância — ele acrescentou.

— Como a festa é insignificante — o marquês adiantou-se — e você está sozinho, poderia levar Luka consigo. Tenho certeza de que Gakupo vai tomar conta dela.

O rosto de Luka se iluminou diante da ideia.

— Seria muito excitante — ela se dirigiu ao marquês —, mas temo que o anfitrião não me aceite e...

— É uma festa insignificante — lady Meiko replicou com agudeza na voz.

— Tanto melhor; assim, Luka não se sentirá constrangida — o marquês retorquiu.

Ele se virou para o sobrinho.

— Por favor, tome conta de miss Hatsune — ele pediu — E traga-a cedo para casa. Não acredito que ela precise de uma chaperon simplesmente para acompanhá-la daqui a Grosvenor Square.

— É claro que não, tio — Gakupo respondeu. — Prometo tomar conta de miss Hatsune, conforme o senhor sugeriu.

Não havia nada que Miku pudesse dizer. Ela sabia que o marquês enviava Luka à festa na companhia de seu filho.

Divertia-a vê-lo conduzindo a irmã à carruagem ocupada pelo conde e lady Meiko.

Gakupo sentou-se do lado oposto e de costas para os cavalos.

Quando o veículo partiu, Miku teve a certeza de que lady Meiko sentia-se furiosa ao ver que seu tête-à-tête com o conde fora por água abaixo.

Miku e o marquês retornaram à sala de estar.

Naquele momento, ele comunicou:

— Espero que não tenha se zangado comigo por eu ter enviado Luka com eles. Sabia que tal decisão enervaria lady Meiko. Talvez com isso meu filho perceba o quanto ela é enfadonha e de temperamento difícil.

Miku achou improvável que lady Meiko revelasse essa faceta de seu caráter ao conde.

Sabia que o marquês estava satisfeito consigo mesmo. Ele conseguira de certa forma se vingar da mulher que tanto desprezava.

Sabia exatamente o que o marquês pretendia fazer. Lady Meiko era cópia fiel de Maika e se lembrava muito bem de que maneira a francesa conseguira conquistar e enfeitiçar seu pai.

De qualquer forma, mesmo que o sonho do marquês em casar seu filho com Luka não se realizasse, ela pelo menos estaria no lugar certo, conhecendo as pessoas certas.

— Não havia pensado nisso — o marquês falou de repente —, mas será que a senhora, lady Hatsune, não gostaria de ter ido à festa também?

— Sinto-me feliz por estar aqui em sua companhia, milorde — Miku replicou. — Precisamos, sim, pensar primeiro em Luka, dando-lhe a oportunidade de encontrar muitos parceiros.

— Haverá muitos parceiros de dança para ela no baile que estou planejando para a próxima semana.

Miku fitou o marquês completamente aturdida.

— Na próxima semana? Assim... tão depressa?

— Quanto mais cedo melhor — ele replicou. — Já escrevi ao camareiro-mor, informando-lhe que você vai apresentar sua enteada na grande sala de recepção formal do palácio.

— Oh, como Vossa Alteza é gentil! Muito, muito obrigada! — Miku exclamou emocionada.

O marquês pousou a mão sobre a dela.

— Quero ser gentil com você — ele tornou —, não só pelo fato de ser viúva de meu grande amigo, mas também porque é muito bonita. É triste vê-la de luto. Espero que dentro em breve possa usar roupas coloridas, que realçarão a perfeição de sua pele e seus lindos cabelos anis.

Miku fitou o marquês bastante surpresa. Percebeu em seguida, que ele desejava consolá-la pela perda de um homem de quem também gostara muito.

Usava um vestido negro naquela noite, por julgar que um vestido colorido poderia ser inconveniente demais. A cor negra também fazia com que parecesse bem mais velha do que realmente era.

Ela sorriu para o marquês e respondeu:

— Nunca gostei de usar preto, e para agradá-lo, de agora em diante só vou usar roupas coloridas. É um grande erro viver no passado, quando tantos acontecimentos nos aguardam no futuro.

— É muito sensato de sua parte pensar assim — o marquês replicou em tom de aprovação. — É exatamente isso o que faremos, querida: viver pensando no futuro. Rezei muito essa noite para que meu filho percebesse que sua enteada é bem mais adorável e delicada do que... aquela... mulher frívola.

Não passou despercebido a Miku que tanto o conde como todos os outros homens em torno da mesa pareciam hipnotizados com o charme e beleza de lady Meiko.

Ela tentou entretê-los durante todo o jantar. Só quando a refeição estava quase no fim, foi que o conde voltou sua atenção para Luka.

Não se sabe o que ela falou, mas o conde caiu na risada, o que para Miku foi um bom sinal. Porém, um minuto depois, lady Meiko conseguiu atrair-lhe a atenção outra vez.

Depois disso, o conde se dirigiu a Luka apenas uma ou duas vezes, antes que o jantar terminasse.

Miku, porém, não desejava iludir o marquês e esperava que ele soubesse que seus planos, até então, não haviam tido sucesso.

O marquês fez comentários sobre o baile que desejava oferecer e sobre as pessoas que convidaria. Pelo menos uma dúzia dessas pessoas constavam da agenda de endereços do pai.

— Vai ser uma festa maravilhosa! — Miku exclamou. — Só espero que Luka e eu não lhe causemos nenhum aborrecimento.

— Isso jamais acontecerá — o marquês assegurou-lhe. — O que espero é que meu filho crie juízo. Será que ele não percebe que lady Meiko não passa de uma caça-dotes? Na verdade, acredito que essa união só resultaria em fracasso para o caráter e carreira de Kaito e para sua futura posição como marquês de Greystone!

Havia violência na voz do marquês e Miku apressou-se a dizer:

— Só nos resta... rezar... e isso é algo... que prometo fazer por Vossa Alteza.


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Notas finais do capítulo

Espero que esse capítulo não tenha sido cansativo demais para vocês, meus queridos.
E então? Gostaram? Odiaram? Comentem!
E caso vocês estejam pensando nisso, não, o marquês e a Miku não terão um caso. (risos)

Espero que tenham gostado e até a próxima!