Eu e Maysilee estamos correndo de algo ou alguém, eu tenho um corte fundo na testa que não para de doer e escorrer sangue, Maysilee está bem e carrega uma espada na mão esquerda, quando vejo tropeço em uma pedra e caio no chão, Maysilee sem sucesso tenta me levantar.

–Vamos Clara! ou o tributo carreirista irá nos pegar, é a nossa chance de venc...

Antes que ela consiga completar a frase, alguém a golpeia por trás e ela cai no chão como um saco de batata, está sem vida, não consigo me levantar, estou chorando feito uma doida, o tributo carreirista olha para mim e vem em minha direção...

–Clara minha filha está na hora.

Meu pai está bem na minha frente, ele parece estar bem, mas sei que está fingindo e que está morrendo de preocupações, hoje é o dia da colheita, sim a temida colheita, e ela é especial é o segundo massacre quartenário, aonde serão o dobro de tributos que lutarão até a morte pela sua sobrevivência.

Na noite passada eu tinha deixado um vestido separado, não era um vestido especial, mas aquela não era uma ocasião especial. Eu iria passar na casa de Maysilee para irmos juntos a colheita, eu precisava saber se ela estava bem, depois daquele pesadelo com ela, eu fiquei muito apreensiva, o que restava era rezar para que o nosso nome não fosse tirado naquela colheita.

–Filha vai com Deus, eu estou aqui torcendo por vocês, vai ficar tudo bem, o seu nome não vai estar lá.

Meu pai me consola, nos abraçamos e ele quase chora, eu saio de casa ao mesmo instante que várias famílias estão se despedindo e falando as mesmas palavras acolhedoras para os seus filhos, é algo que chegar doer no coração, e quando me dou por conta já estou batendo na porta da família de Maysilee.

–Oi Clara, que bom que você veio, eu não queria ir sozinha de jeito nenhum, imagina só se ao invés de a capital furar o meu dedo, eles fizessem uma transfusão de sangue.

Maysilee estava fazendo piadas para ficar bem, eu dei uns tapinhas na sua costas, como costumo fazer quando ela está muito nervosa.

Eu fui a primeira a furar o dedo, é o método que a capital usa para identificar os seus tributos, depois juntamente com Maysilee, sua irmã gêmea e algumas amigas nos direcionamos para um lugar e esperamos o velho e chato discurso que a capital faz todos os anos.

–Olá a todos, e sejam bem vindos a mais uma colheita dos jogos vorazes, como vocês sabem esse ano teremos o dobro de tributos nos jogos, não é uma maravilha? antes de eu tirar os papeis e todos nós descobrirmos quem serão os nossos tributos representantes do distrito doze, vamos olhar aquele nosso velho vídeo da capital.

Minha vontade por dentro era rir daquele vídeo idiota, mas eu seria espancada publicamente pelos pacificadores, então o que me resta era esperar e tentar tranquilizar Maysilee, agarrando bem forte na mão dela.

O vídeo passou e a moça que anunciou o vídeo, começa a tirar os papeizinhos da urna, o meu coração quase pulou na hora em que ela foi anunciar o nome da primeira tributo feminina do distrito doze:

–Maysilee Donner.

Eu paralisei na hora em que a anunciadora falou o nome da minha melhor amiga, o meu pesadelo virou realidade, ao meu lado a irmã gêmea de Maysilee desmoronou.

–Minha amiga eu não sei o que dizer.

Abracei Maysilee longamente, no fundo eu sabia que ela não voltaria mais.

Enquanto a sua irmã gêmea chorava desesperada, eu a observava indo passo a passo até o palco, aonde a próxima tributo feminina foi anunciada. Depois que Maysilee foi chamada no palco eu mal prestei atenção nos outros nomes dos tributos, fiquei aliviada quando chamaram outra garota ao invés de mim, mas eu me senti culpada também.

–O último tributo masculino que vai representar o distrito doze nos jogos vorazes é: Haymitch Abernathy.

Eu conhecia aquele rapaz do colégio, era quieto e na dele, nunca incomodou ninguém e sempre trabalhou para ajudar a família, é triste ver pessoas conhecidas indo para a morte certa.

Depois de todo o acontecido, a capital permitiu que os tributos se despedissem da família uma última vez, como eu não era da família de Maysilee, eu deixei que ela passasse mais tempo com eles.

Voltei sozinha embora, mas eu não queria voltar para casa e compartilhar a minha tristeza com o meu pai, eu o magoaria mais ainda, então dei meia volta e sentei em um banco meio afastado do centro do distrito e fiquei ali chorando e observando as poucas estrelas que restavam naquele imenso céu. Estava distraída quando alguém tocou no meu ombro.

–Oi moça bonita, o que faz chorando aqui sozinha?

Era Edgar que falava comigo, eu comecei a enxugar minhas lágrimas, e ele se sentou ao meu lado.

–Desculpe incomodar, deve ser por causa que sua amiga foi escolhida pela colheita não é?

Eu apenas concordei com a cabeça.

–Aliás você ainda não me disse o seu nome?

Pensei por um instante, não fazia mal eu contar a ele meu nome, já que eu já sabia o dele.

–Meu nome é Clara, apenas Clara.