A Fera Amavel escrita por Lívia


Capítulo 8
Esse não pode ser meu destino!


Notas iniciais do capítulo

Leiam... a tristeza de Yona.
Sei que demorei, mas divirtam-se.



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P.O.V Yona

Eu adorava ter aqueles momentos de solidão. Sentia-me mais aquecida pelo fogo, feliz e relaxada, não pensava em mais nada, exceto a beleza do fogo em aquecer até os corações mais solitários . Estava tão inteiramente à vontade ali que fiquei inconsciente de que alguém pudesse estar vindo por trás de mim , até que senti uma sombra sobre as minhas costas. Assustada, levantei meus olhos e virei o rosto, e dei de cara com meu pai olhando para mim . Ele olhou ao redor e começou a se aproximar até mim , e esperei estancada pela provável bofetada que receberia, mas seus braços me envolveram num abraço. Fiquei surpresa com aquela contato, não esperava por isso e trêmula busquei corresponder aquele carinho.

– Yona. Vem comigo até a montanha cabeça de cobra .- disse , com a voz seca no meu ouvido. – E não olhe para trás .

Um passeio entre pai e filha?! Aquilo eu não esperava por parte dele. Mesmo que estivesse desconfiada de algo , não poderia fugir. Ele era o meu pai e era o homem que era responsável por mim. Ele até sentiu na obrigação de pegar a minha mão e juntos saímos para longe de todos. Sentia-me desajeitada, sabendo que era obrigada a segui-lo . Estava tão confusa e embaraçada,na verdade estava honrada e contente pelo novo comportamento dele. Mas eu o sigo para cada vez mais longe da aldeia , e para mais fundo da floresta. Senti ao doce cheiro dos pinheiros selvagens até chegarmos na montanha mencionada. Ao chegarmos na montanha, ele retirou sua mão da minha e caminhou até as pedras para se sentar da longa caminhada que fizemos , e Shuman , meu pai me encarou e começou a narrar a historia de seu ódio :

– Olhe , Yona, eu já estou com quase quarenta outonos e não admito as ironias do Grande Espírito no meu destino. Fique sabendo que você sempre foi um peso de discórdia entre sua mãe e eu. Todos têm um segredo, todos têm um mistério. Minha família tinha um poder que era passado de pai para filho. A magia de conversar com os animais e serem amigos deles e é muito, muito antigo esse poder ... Desde que os Deuses da Natureza fizeram o mundo, mas esse dom nunca poderia ser passado para uma mulher, nunca. Pois os nossos ancestrais acreditavam que quando o poder era passado para uma mulher ...essa criança além de sugar o poder do antecessor era levada a ter uma índole maléfica .E quando tivemos o seu irmão pensei que ele era o meu sucessor , e eu sempre o levei para conversar com os animais mas ele não teve êxito de conseguir a magia. E quando sua mãe disse que estava esperando você e desconfiava que era menina insisti e fiz de tudo para que ela não conseguisse gerar a criança . Mas seu sangue venceu e sua mãe pariu você . E sem sua mãe notar você acabou tirando o meu dom de mim. E desde pequena você conseguia balbuciar com os bichos ....mesmo sem entender que ninguém entendia você . E não satisfeita em chamar a minha atenção e de todos da aldeia , quando fez seis primaveras ... você tirou a sua mãe de mim, e eu jurei que quando tivesse uma chance eu te mataria por isso.

Ele não poderia estar falando sério , estava até pronto para me atacar, e os olhos daquele urso voltaram à minha cabeça. Não podia deixar meu pai fazer isso comigo! Simplesmente ele não era capaz de enxergar o meu amor , não enxergava mais nada. Ele pouco se importava com os meus sentimentos. Consegui me desvencilhar de sua mão fechada vindo em minha direção com um soco fraco. “CORRA!”. E então comecei a correr. Mas meu pai fora mais rápido do que eu , me agarrou e me derrubou no chão , deu um soco com a mão fechada que partiu meus lábios . O pânico que senti era enlouquecedor . Tentava me levantar e ele tornava a bater em mim. Foi dando socos um atrás do outro.

– Aaaaaiiiiiiiiii!- berrei bem alto mais e mais. Sentia a minha cabeça zumbir, senti o gosto de sangue escorrer pelo meu nariz e dos cantos da minha boca. Tentava me levantar ao máximo , mas ele me mantinha presa no chão duro de pedra. Não vou mentir que com o sentimento de preservar a minha vida, tentei, também, lutar , e dei murros no peito dele que pareciam não produzir nenhum efeito sobre aquele corpo guerreiro.

Onde estava meu irmão Zonta?

Onde estava Denahi, agora?

Onde estava o xamã ou o chefe Wyome ?

–Eu te perdôo , pai.- disse e fiquei repetindo durante todo aquele tempo, mas aquilo só fez ele aumentar ainda mais aquela dose de violência até me ver com os olhos fechados e inconsciente de tudo.

–Kenai, ela está acordando.- disse uma voz que fez chiar em meus ouvidos , e meus olhos semi abertos se focaram no filhote de urso e no urso que estavam bem diante de mim.

Tentei levantar mas todo meu corpo doía com o esforço.Só agora acreditei que estava ainda viva e podia enxergar , um pouco, o sol iluminar o meu rosto pálido e inchado e a doce caricia do leve vento soprar para mim “bom dia” .

–Lindo ! - Sorri interiormente exclamando sobre o dia muito bem-vindo. Se eu pudesse me erguer sacudiria o meu cabelo e tornaria a correr para longe em direção à uma campina e caçaria borboletas que nem quando era uma criança .... Longe era essa realidade, estava muito machucada. E então os meus pensamentos luminosos se escapam entre os dedos e me vêem aqueles que fazem meus ombros se encolherem e sou tomada de súbito pela tristeza do rosto de meu pai transparecendo o ódio sanguinolento . E pelo meu rosto escorrem as lágrimas mornas e o ambiente da caverna me sufoca com o derradeiro momento de ontem. Isso não pode ter acontecido comigo. Deve ter sido um pesadelo. Era o que eu queria acreditar, mas a verdadeira historia cruel que meu pai se agarrou desde que nasci roçou em meu ouvido o desprezo que aquela pessoa jurou que teria de mim até o fim dos meus dias. Minhas entranhas estavam queimando de fome e sede . Considerei o que poderia fazer para empurrar aquela tormenta de volta na escuridão e voltar para aquele estado letárgico do sonhar. Eu não queria mais pensar em viver. Estava morta e desonrada para o meu pai, e com certeza ele deve ter inventado uma história para o meu desaparecimento que levou numa morte trágica. E esse foi o ultimo ingrediente que faltava para eu chorar... estava morta para todos, ninguém da aldeia iria procurar por mim. Ninguém. Todos os meus sonhos de conseguir construir uma família e ter um lar tornaram – se nevoa . Meu coração estava profundamente ferido em relembrar aquelas palavras duras e cruéis como o amargo bolor . Eu tentei. Juro que tentei fazer com que aquele coração de pedra se rachasse e deixasse eu entrar. Tudo o que eu queria era ter sua consideração , mas agora meu mundo se desabou e me deixo debulhar em lágrimas.

O Urso , a certa altura , estava se aproximando de mim. Fiquei com tanta raiva dele que sem pensar em mais nada dei um tapa na cara dele.

–CÉUS! – disse levando a pata no local onde foi atingido. – Qual é o seu problema?

–Caramba... – disse o ursinho. – Você viu a fúria mortífera voadora que ela te deu, Kenai?!

–Por que você me salvou de morrer? – perguntei com os olhos em fúria cheios de lágrimas .

Ele fez um silêncio horrível ; depois abriu seus lábios e sentenciou: -Porque devo minha vida a você. E tudo o que aconteceu com você foi por minha causa.-disse com aqueles olhos.

–Oi, menina!- disse o ursinho um bom tempo depois daquela resposta.- Meu nome é Koda. Repete comigo. Ko-da.

–Koda... meu nome é Yona.

–Yona. Kenai chamava você de Bopha porque comparou seu cheiro com flores.

–Shh...Koda!

Aquele ursinho me fez sorrir, mas o nome do urso-cabeçudo fez me lembrar da “história” que Denahi havia contado. “Então era tudo verdade”,pensei.

–Kenai. Muito prazer. Meu nome é Yona. – disse olhando para o chão e vi uma cumbuca com água e um peixe para mim.

Mas como isso era possível ?

Resolvi comer o que estava na minha frente e agradeci aos espíritos por tudo que era oferecido para meu sustento do corpo,mesmo sendo peixe cru. Mas enquanto eu mastigava a comida, Koda me contava das suas aventuras de filhote de urso.

–Obrigada, Kenai. – tentei dizer sem olhar naqueles olhos outra vez.

–Vocês, humanos são muito estranhos. Por que precisaria fritar um peixe? E por que precisaria de um pedaço de coco seco e velho para beber água sabendo que a melhor coisa da vida é beber água corrente da nascente, hein?

–Particularmente eu não sei , Koda. Acho que nós , os humanos redefiniram sua relação com a natureza e tomaram a decisão que todos os animais são ferozes, sabe?!E esqueceram disso.

–Tem toda a razão, Yona. –disse Koda. – Mas ... espera. Como você consegue entender eu e o Kenai?

–Bom, isso vai ser uma história muito longa.

–Eu gosto de histórias cumpridas.

E então comecei a contar a origem do dom que nasceu na minha família tentando cortar a parte ruim e relatei para Koda as lendas mais interessantes dos meus ancestrais que transcenderam e fizeram parte de nossa cultura , e isso levou o dia , o raiar da tarde até anoitecer. Ele havia ficado empolgado e queria mais e mais histórias.

–Por favor, me conta mais uma.

–Koda, acho que já está na hora de dormir. E Yona também deve descansar.Teve um dia agitado e movimentado.- disse Kenai depois de um longo silêncio que não foi sentido pelo Koda, mas por mim foi sentido.

– Yona, vem dormir no cantinho perfeito comigo.-disse Koda batendo com a pata o local perfeito para eu dormir.

–Posso dormir abraçada à você ,Koda?

–Mas é claro que pode. Já gostei de você quando deu um tabefe no Kenai.

E já estava para dar mais um porque ele estava deitado atrás de mim, e seu braço estava envolvendo em minha cintura. Bati com força naquela imensa barriga de urso .

–Como se atreve a tocar em mim se não confio nas suas intenções? Além do mais que intenções você tinha quando me viu nua tomar banho?!

–Você viu ela como , Kenai? – perguntou Koda parecendo se lembrar do que aconteceu . - Naquele dia em que brincamos de esconde-esconde e você não me achou .... e daí caiu naquela armadilha... oh, oh agora está explicado.

–Koda! Vai dormir!- dissemos os dois em uníssono com a mesma sintonia .

–E enquanto a você , - disse exaltada. – durma em outro canto, ali.

Havia apontado no outro canto do fundo da caverna.Eu poderia ter sido mais cruel e apontado para à entrada da caverna, mas não era minha intenção ser tão mal assim. Ele podia ter negado, poderia ter me batido... mas não fez absolutamente nada. Deitou no outro canto , mas ficava olhando para mim, com a tristeza nos olhos .

–Boa noite, Yona. – disse por fim fechando os olhos. E assim que ouvi ele roncar bem alto , soltei todas as minhas lágrimas escondidas . “

Não. Não.Esse não pode ser o meu destino!”

Chorei, chorei à noite inteira tentando negar o meu destino agarrada naquele ursinho meigo adormecido.


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Notas finais do capítulo

E então o que acharam?
A raiva de Yona tem justificativa ou não?!
E continuem comentando e acompanhando...
Beijos



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