A Dama De Veneza escrita por Dani Schirmer


Capítulo 4
I never forget about you




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Estava sentada no jardim de casa lendo, quando Isabella passou correndo por mim, ela estava correndo de Antonella, as duas sempre estavam brigando, mas nunca se separavam. Meu trabalho era cuidar delas, mas a única coisa que eu pensava era em Alexander, seu beijo, seu corpo perto do meu, pensamentos que nunca deviam nem existir.

– Madame. – A voz era suave.

Olhei para trás e vi Anna, ama de leite da casa, ela havia cuidado de todas nós, mas eu sempre havia sido sua preferida, ela havia me prometido algo que daria a imortalidade a mim e a Alexander, algo que nos uniria para sempre.

– Sim – Continuo a ler meu livro.

– Na próxima Lua cheia tudo estará pronto. – Ela surrava.

– Ótimo. – Fecho meu livro e levanto-me. – Antonella e Isabella vamos embora.

Andei em direção a casa pensando em como seria viver ao lado dele para sempre, não ter que mais usar pretextos para velo, eu estava seguindo o meu destino e não o que os outros queriam que eu fosse.

Entrei em casa e sentei-me em um divã, meus pensamentos flutuavam, mas nem tudo na vida são rosas, ainda tinha o casamento com Conde Philip, minhas irmãs, minha família, eu largaria tudo por um simples capricho.

– Dominique, estou falando com a senhorita. – Sua voz era de repreensão.

– Estava apenas com meus pensamentos. – Suspiro.

– Ande temos coisas para organizar e quero-te bela para a visita de Conde Philip ao anoitecer. – Ela me puxou pelo braço. – Estas parecendo uma camponesa, vá se aprontar.

– Sim senhora. – Andei devagar até meu quarto.

Depois de fazer o que minha mãe havia mandando, esperava impacientemente que aquela visita acabaste, somente o olhar dele já me fazia sentir náuseas.

Acordei com o sol batendo em meu rosto, levantei da cama e fui me arrumar para mais um dia de trabalho, sai de casa com a lembrança da voz de Katherine, lembrança de uma vida que eu achava ruim, mas estava enganada.

“....Assim, mais uma vez fui traída pelo meu coração, palavras de tolas de um senhor tolo, devemos aprender que nesta maldita vida, nada vale a pena.”

– E assim termina mais um pedaço do trecho do diário de uma das minhas antepassadas. – Fecho o diário e percebo os olhares interessantes. – O que quero lhes mostrar é que, todos nós temos uma história, nós fazemos parte dela, então todas as vezes que fizerem algo, cuidado, por que isso pode mudar a sua história.

O silencio da sala foi tomado por burburinhos, as paredes velhas tinham sido tomadas por mapas e quadros, eu me sentia realizada ao ver tantas pessoas interessadas pelo o que eu dizia.

– Senhorita Dominique, quando vamos aprender sobre história de verdade? – A voz vinha de Luz, a menina mais inteligente da sala.

– Isto é história minha cara, tudo isso é história. – Começo a rir. – Então turma, pensei em um trabalho interessante, que tal juntarmos todos e irmos a pontos “turísticos de história”. – Levanto e começo a escrever no quadro negro.

– Vamos pegar um trem e vamos até a Alemanha, iremos em Auschwitz, iremos entender e conhecer melhor aquela que um dia foi Alemanha Oriental e Ocidental. – Paro de escrever no quadro e me viro para os alunos. – Quem quiser ir por favor levante a mão.

A sala inteira estava de mão levantada menos Luz, a arrogante que se acha inteligente.

– Bom minha turma favorita, vou pedir a Ben que anote os nomes e me entregue. – Abro um sorriso e sento-me.

Assim que todos saíram e a lista já estava em minhas mãos, peguei minha bolsa e os livros e fui em direção a sala de Irma Sofia, bati na porta e entrei.

–Boa tarde Irma. – Sento-me em sua frente e coloco a bolsa e os livros no chão.

– Boa tarde Dominique, estava pensando em você agora, tenho recebido ótimas opiniões sobre suas aulas, achei interessante você ler seu diário a eles. – Ela ria. – Então minha doce menina, o que posso fazer por você hoje?

– Quero sua permissão para leva-los até a Alemanha, minha ideia e mostra-los o que eu vi e passei. – Olho os quadros das antigas irmãs atrás dela e abro um sorriso. – Quero ensina-los tudo, mostra-los como foi.

– Você tem a minha permissão, eu irei lhe dar uma autorização para mandar para os pais e é só você me falar a data que vai e a que volta. – Ela abriu uma das gavetas e tirou um caderno.

– Iremos segunda feira e voltaremos domingo, sei que está em cima da hora, mas acredito que será bom para eles. – Retiro da bolsa a lista de alunos interessados e entrego a ela. – Às vezes precisamos voltar ao passado para entender realmente o que aconteceu.

– Está tudo bem, hoje mesmo mandarei a circular, agora vá para casa e descanse. – Ela sorria.

Sai da escola carregando minha bolsa e a pilha de livros, andar pelas ruas sujas e cheias de Veneza cada vez mais se tornavam um tormento.
Assim que entrei em casa larguei tudo no sofá e coloquei uma calça de moletom e uma blusa, andei pela casa de pantufa enquanto Luna corria pela sala.
Fiz um café e sentei-me num banco no jardim de casa, fiquei olhando as pessoas passarem na rua e o som da música dos Gondoleiros.

– Luna....Luna vem cá menina. – Grito e começo a assobiar.

Ela trazia em sua boca um bicho de pelúcia, como sempre pulou e deitou em meu colo. Estava tudo ótimo até que ouvi algumas vozes familiares.

– Saiam do meu jardim. – Gritei ao mesmo tempo que ria.

As vozes pararam e algumas cabeças apareceram na frente do portão.

– Ben, Anna, Clarice, Antônio. – Comecei a rir enquanto fazia carinho em Luna. – Entrem, fique à vontade.

Olhando assim parecíamos todos amigos, eles entraram e se sentaram no banco a mina frente, riamos e conversamos sobre a viagem até a Alemanha, mas tinha que me lembrar que eu era uma professora e eles meus alunos.

Era tarde quando eles foram embora, estavam me contando sobre a reação dos pais, eu fiquei muito feliz em saber que minhas ideias estavam sendo bem aceitas, mas voltar a Alemanha era voltar no tempo, depois de tanto tempo viva, eu já conhecia o mundo todo, continuava sentada no jardim de casa tomando um copo de vinho e vendo minha pequena Luna brincar.

Entre a escuridão da noite e a pouca luz do jardim alguém surgiu, o portão se abriu e Lorenzo apareceu, eu começava a ficar com medo dele.

– O que está fazendo aqui? – Tomo um gole do vinho e sorrio.

– Do meu quarto do hotel, dá para te ver. – Ele ria.

– Quer um pouco?

– Não, obrigado. – Ele se senta há minha frente e sorri.

Eram quase quatro da manhã quando Lorenzo foi embora, para a minha sorte, eu não tinha que dar aula no dia seguinte, assim que entrei em casa parei em frente a um desenho especial, aquele desenho me lembrava a um maldito passado, a um abandono.

Estava aflita na estação de trem, eu teria que deixar Luna uma semana com Lorenzo, andava de um lado ao outro contando o número de alunos, depois de ajudar todos a colocarem as malas no trem e acharem seus lugares, estava na hora de partir.
O vagão estava lotado de alunos, alguns dormiam, outros riam e tinha aqueles que estavam em casal, eu era uma só para tomar conta dessa boiada.

– Então gente, vamos mostrar que somos maduros e vamos nos comportar, não quero ter que mandar alguém para casa mais cedo. – Fico em pé e grito para todos ouvirem. – Então gente, não me façam passar vergonha.

Após horas de viagem finalmente o trem parou em Berlim, aquela boiada de alunos desceu, peguei minha bolsa e coloquei os pés ali novamente depois de quase sessenta anos. Reuni todos e entreguei folhas de guia, dividi os alunos em grupos.

– Então meus lindos e lindas, vou leva-los ao hotel e quero que liguem para seus pais e digam que estão vivos. – Começo a rir. – Então sigam-me.

Andei pelas ruas de Berlim guiando aquele grupo, tudo havia mudado muito, mas eu fazia questão de voltar ao mesmo hotel.
Depois de todos estarem instalados em seus quartos, meninos e meninas separados, finalmente deitei na cama.

Estava frente a frente com Alexander, meu coração estava acelerado, estávamos escondidos na igreja, uma noite chuvosa e fria, mas isso não impediria de falar tudo para ele. Eu andava de um lado ao outro, não havia palavras para expressar o que eu estava sentindo.

– Prestes atenção, tens que tomar logo a bebida, não temos muito tempo. – Deixei uma lagrima cair.

– Tomarei antes do baile. – Ele se aproximou. – Fugiremos daqui e criaremos nosso filho em paz.

Acordei com duas batidas na porta, passei a mão no rosto e suspirei, levantei da cama e fui em direção a porta.

– Quem é? – Bocejo.

– Sou eu Anna. – Sua voz era de sono.

Abro a porta e volto a sentar na cama, fiquei olhando aquela parede recém pintada e tentei me lembrar dos bons tempos.

– Dominique gostaria de perguntar se você vai nos acompanhar nos passeios? – Ela se senta na minha frente.

– Na verdade não, quero dar vocês a autonomia de ir a onde querem, mas no final de cada dia, quero resumos de pontos históricos. – Abro um pequeno sorriso. – Só isso que lhe aflige?

– Minha mãe era Alemã, mas ela morreu em um acidente. – Sua voz havia mudado.

– Estou aqui para o que você precisar. – Abraço ela. – Olhe essas paredes, elas guardam segredos, lembranças, momentos, mas cabe a nós, decidirmos o que deixaremos para elas.

– Você é meio louca, mas eu te amo. – Ela começa a rir. – Bom, vou voltar ao meu quarto e vou dormir.

– Bons sonhos.

Assim que sai do quarto e fui ao restaurante, percebi que todos estavam se enchendo de comida, cumprimentei um por um e dei algumas dicas sobre andar na cidade, sentei-me em uma sozinha, assim que todos saíram voltei ao meu quarto e me tranquei.

– Como foi perder a sua única lembrança viva de Alexander? – Ela olhava o sol se por.

– Foi a pior dor da minha vida, era minha filha, a única coisa que me ligava a ele ainda. – Deixo uma lagrima escorrer. – Eu tomei a poção antes de saber que estava gravida, mas isso não faz ser como eu, isto não a salvou.

– Eu penso em ter uma filha um dia, mas nunca a deixaria. – Ela acende um cigarro e me olha.

– Ela era tão frágil, tão pequena e eu deixei tirarem de mim, levaram ela. – Deixo outra lagrima escapar.

– Não se apegue ao passado, pense no agora. – Ela apaga o cigarro e me abraça.


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