A Dama De Veneza escrita por Dani Schirmer


Capítulo 3
We're alone




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/532785/chapter/3

Entrei em casa correndo e fui direto ao quarto de Katherine, estava nevando, uma típica noite de inverno, assim que entrei em seu quarto avistei sua cachorra deitada no chão, mas já era tarde, minha irmã estava morta, minha pequena. Sai de casa sem dizer uma palavra, levava comigo somente a dor e a tristeza, entrei na carruagem e segui meu caminho sem olhar para trás.

Acordei sentindo um vento gelado no rosto, levantei da cama e fechei a janela, mais um sonho, mais uma lembrança, mal eu sabia que aquele seria o primeiro dia de muitos, a solidão que levaria comigo para sempre. Entrei no banheiro e tomei um banho rápido, vesti uma calça jeans rasgada, uma blusa velha e um casaco, prendo meu longo cabelo moreno em rabo de cavalo e peguei minha bolsa.

Quando cheguei a escola fui direto para minha sala, tinha que arrumar algumas coisas e pensar em outras, aos poucos os alunos foram entrando, mas eu não conseguia parar de pensar na mina irmã, Katherine sempre foi minha preferida, a doce e amável Katherine.

– Bom dia a todos. – Sento-me na borda da mesa. – Hoje vou falar sobre o passado, nossos antepassados, alguém aqui sabe o nome de algum ou algo sobre algum antepassado?

Algumas mãos se levantaram, era um bom começo pelo menos.

– Ok, você ruivinha. – Aponto para uma menina sentada no final da sala.

– Existia um conde na minha família, mas não sei o nome dele. – Ela começa a rir.

– Vamos fazer assim, libero vocês mais cedo, mas quero em minhas mãos até sexta, um texto sobre algum antepassado e o que ele fazia. – Começo a rir. – Agora saiam em silencio ou a Irma Sofia me mata.

A sala ficou vazia rapidamente, meu próximo tempo era com uma turma de crianças, talvez seria mais fácil de lidar, abri minha bolsa e peguei meu velho diário, fiquei folheando as folhas em silencio.

– Seu silencio me destrói, suas palavras me consomem, seu olhar é o paraíso. – Sua voz era de tristeza.

– Dia 08111799 “Minha irmã havia morrido, não havia mais nada para mim, tudo estava perdido...” e este foi o último relato do diário dela.

– Por que está me dizendo isso? – Ele se senta em uma mesa há minha frente.

– Este diário foi responsável por me fazer amar história. – Abro um pequeno sorriso.

– A vida é uma bola de injustiça, não sei se você tem ligado para Gaia, mas o avo dela está doente, foi internado, estou indo para lá hoje mesmo. – Sua voz continuava de tristeza. – Não deixe Gaia nesse momento, ela precisara de você.

Aquelas palavras soaram como um tiro, sai da sala deixando tudo para trás e fui direto para casa, peguei uma bolsa e coloquei umas roupas e fui para a estação de trem.
Já era tarde quando o trem chegou, desci na estação e peguei um taxi para casa de Gaia, assim que saltei senti um frio tomar conta, bati na porta e fiquei a espera.
Quando a porta se abriu percebi que ela estava com vontade de chorar e então somente a abracei e fechei a porta.

Já era de madrugada quando Gaia finalmente pegou no sono, meu coração estava partido em ver minha menina tão mal, se eu pudesse faria qualquer coisa para vela sorrir, para somente saber que ela está bem.
Sentei no sofá da sala e suspirei, a esta hora o pobre homem já havia partido, quando ela acordasse eu teria que dar a notícia, pela segunda vez eu estava enterrando alguém da família dela.

A madrugada estava silenciosa, eu continuava na sala a espera que ela acordasse, mas então ouvi uma batida, levantei-me e fui a porta, assim que abri, vi Lorenzo com os olhos cheios de lagrimas, não hesitei e o abracei.

– Não diga nada, está tudo bem, vai ficar tudo bem. – Comecei a chorar.

– Ele está em paz agora, tudo o que ele queria era reencontrar sua filha. – Sua voz era de choro.

– Eu não sei como vou dizer isso a Gaia. – Afasto-me dele e ando de um lado ao outro da sala. – Minha menina não vai suportar, não sei o que fazer.

– Sempre há uma saída para as coisas na vida, deixe que eu converso com ela, volte para Veneza, aqui não é o seu lugar. – Sua voz havia mudado. – Estou cansada da sua defensiva, tento me aproximar e você simplesmente me expulsa de perto de você, ai eu chego aqui e você me abraça.

– Ela é minha melhor amiga, nada do que você diga irá mudar, não vou embora. – Começo a gritar. – Ela é a única pessoa que tenho nesse mundo, não me faça ter que abandona-la.

– Eu não te obrigo a nada, mas pense nas suas atitudes, por que do mesmo jeito que você me afasta, poderá afasta-la também. – Ele abre a porta e some entre a nevoa que se formava.

Saio da sala e vou até o quarto de Gaia, sento na poltrona e fico a olhando dormir, por um momento consegui fechar os olhos.

– Vamos Nique, vamos correr ou vamos perder o trem. – Sua voz era de alegria.

– Calma Julie, já estou indo. – Saio correndo atrás dela e subo no trem.

Estávamos sentadas uma na frente da outra na janela, o sorriso dela era contagiante.

– Animada? – Olho para ela.

– Sim, é Veneza, não tem como não estar animada.

Assim que abri os olhos novamente vi Gaia sentada na beirada da cama, seu olhar já me dizia tudo, levantei e a abracei com força.

– Ele está bem agora, está com sua mãe, e eu sempre vou estar aqui. – Lhe dou um beijo na testa.

– Obrigada Dominique.

Já havia passado quase duas semanas desde da morte do Avo de Gaia, quase todos os dias via Lorenzo, mas ele sempre trocava poucas palavras comigo e todas as vezes que eu fechava os olhos, Julie estava lá.
Assim que cheguei a estação de trem meu coração ficou vazio, eu tinha que deixar Gaia, ela iria para a faculdade e eu tinha aulas para dar.

Era noite quando o trem chegou a Veneza, sai da estação e fui andando calmamente até em casa, não conseguia tirar Lorenzo da minha cabeça e as rudes palavras dele, eu não gostava de me aproximar das pessoas pelo simples fato de saber que eu as veria morrer.

Quando parei em frente de casa avistei uma sombra perto do portão, entre a escuridão Lorenzo apareceu, talvez eu devesse deixar meu medo de lado e dar uma chance de amizade a ele.

– O que você está fazendo aqui? – Olho assustada para ele e abro o portão de casa. – Quer entrar?

– Pode ser. – Ele abriu um pequeno sorriso.

Sentamos na sala e ficamos um tempo em silencio, Luna estava deitada no colo dele.

– Você esqueceu suas coisas aquele dia na escola. – Ele tira do bolso meu velho diário. – Mais eu não li, fique tranquila.

– Obrigada, pode deixar ai na mesa. – Abro um pequeno sorriso. – Eu queria me desculpar, sei que começamos com o pé esquerdo, mas quero ser sua amiga.

– Está tudo bem, também fui grosso, espero que a senhorita me perdoe.

– Ás vezes me pergunto qual a minha dificuldade em fazer amigos. – Começo a rir. – Nunca tive muitos amigos, Gaia foi um anjo que caiu na minha vida.

– Quando lhe vi sentada sozinha no jardim, larguei tudo somente para descobrir seu nome, você simplesmente foi embora, quando lhe vir deixar a casa fui atrás, pegamos o mesmo trem, mas nunca imaginei que lhe veria de novo.

Levanto e começo a andar de um lado para o outro da sala, as palavras dele, ele por si só, era tudo tão perfeito, era como ter Alexander de novo, os mesmos olhos, só que a diferença era que Lorenzo tinha um olhar vazio, e Alexander um olhar de esperança.

– Veneza é um dos únicos lugares do mundo onde você pode dizer que mora no paraíso, mas sempre há a tentação tentando te levar para o mal caminho. – Levanto e começo a rir.

– O que você quer dizer com isso? – Ele se aproxima.

– Seu olhar é fascinante, mas vazio. – Aproximo-me mais dele.

– Cada vez mais tenho vontade de ficar perto de você, tudo me traz para perto de você. – Ele sorria. – Não me faça ter que ficar longe, não me afaste, fique perto de mim.

– Você vai me enlouquecer. – Começo a rir. – Estou com saudades de Gaia.

Estávamos perto o bastante para que eu pudesse sentir o perfume dele, perto o bastante para que eu tivesse vontade de abraça-lo novamente, mas eu não podia cair na tentação, eu teria que se mais forte.

– É melhor você ir. – Afasto-me dele.

– Até amanhã senhorita. – Ele abre a porta e some na neblina que se formava.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Dama De Veneza" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.