Um mundo sem você escrita por Silent Leaf


Capítulo 1
Nem uma alma viva


Notas iniciais do capítulo

Faz muito tempo que eu não escrevo, mas realmente deu muita vontade de passar essa história para o "papel" assim que ela surgiu na minha cabeça.Peço desculpas se algum capítulo ficar curto demais ou faltar informação. Me disponibilizo pra tirar qualquer dúvida que não envolva spoiler, haha!Espero de coração que gostem e se tiverem qualquer comentário, seja crítica positiva ou negativa, por favor, não deixem de me passar para que eu possa melhorar sempre! :)Um ótimo dia para todos e uma ótima leitura!



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Assim como em uma tarde gelada qualquer, o único movimento na rua era aquele dos flocos de neve mergulhando no chão. Em algum lugar da minha mente, isso era reconfortante. Gostaria de pensar que todos os meus vizinhos estariam entocados em sua casa com as suas famílias. Infelizmente, não era tão fácil assim esquecer que olhei dentro daquelas casas a pouco tempo e que nenhuma delas tinha uma única alma viva. Vendo pelo lado bom da situação, também não tinha nenhum corpo morto. Ainda que, talvez, ter visto alguém morto me daria ao menos uma mínima dica do que está acontecendo. Porque eu não faço ideia. A única coisa que eu sei é que eu estou sozinho. Completamente sozinho.

Eu acordei dentro do meu carro, um Honda Fit branco, ou pelo menos dentro do que sobrou dele. A frente estava completamente amassada; Os poucos vidros que não estavam espalhados sobre tudo, se encontravam imensamente rachados; Até mesmo as portas e as rodas se curvaram de forma que nenhum carro normal conseguiria reproduzir. Havia pouco espaço sobrando para as minhas pernas, mas eu consegui esgueirá-las para fora do carro. Diferente do que se imaginaria, eu estava intacto. Realmente sem qualquer arranhão. Pelo contrário, sentia a calma e o conforto que por anos não encontrava. Como se tivesse adormecido em uma daquelas camas especiais depois de receber a melhor massagem do mundo. Confesso que demorei um pouco para sair desse transe e absorver a situação. Eu sofri um acidente? Olhei para a frente do meu carro e para os seus lados, não encontrei nada perto. Nada que pudesse ter batido nele e feito aquele estrago. Busquei as minhas memórias, sem sorte alguma. Eu não fazia ideia do que aconteceu ali. E quem quer que tenha causado aquele dano ao carro, com certeza fugiu da cena na primeira oportunidade. Lembro que na hora ainda balbuciei alguns palavrões direcionados à pessoa. Se eu, ao menos, tivesse a mínima ideia do que estava acontecendo aquela hora, com certeza pouparia as palavras ruins à ela (ou ele).

Procurei pelo responsável por um tempo, sem encontrar ele. Passei então a procurar alguma testemunha que pudesse me explicar o que aconteceu, mas nenhuma se via por perto. Esperei as autoridades, que com certeza alguém deve ter acionado para vir me socorrer. Até que percebi que havia esperado tempo demais, sentado ao lado da lataria que um dia foi meu carro. Peguei, nesse meio tempo, o meu celular para ligar para a minha namorada, Júlia. Haviam algumas chamadas perdidas que me fizeram questionar sobre quanto tempo passei desacordado, mas nenhuma veio dela, então decidi me preocupar com elas depois. Tentei ligar para ela, mas estava sem sinal. Aguardei um pouco e tentei de novo, buscando o sinal ao redor do carro, mas de nada adiantou. Fiz isso durante a meia hora que passou, até que percebi que não só nenhum socorro havia chegado, como nenhuma alma viva havia passado. Eu estava em uma das principais vias da cidade e não tinha visto uma pessoa ou um carro em meia hora. Olhei o relógio e verifiquei que eram quase 6 da tarde. Nessa hora, a rua normalmente estaria lotada de carros, ônibus e pessoas. Gritos, conversa alta, buzinas. Não se escutava um som que não viesse da minha própria respiração. Onde estava todo mundo?

Embora curioso, na hora estava muito mais preocupado com quem estaria preocupado comigo. Minha mente só se concentrava nela. Eu, com toda a certeza, fiquei desacordado algum tempo. Parecia claro que a Júlia deveria estar lá em casa, morrendo de preocupações sobre onde ou como eu estou. Corri para lá, já que não era muito longe e eu não me sentia debilitado de nenhuma forma pelo acidente. Pensando agora sobre a corrida, o caminho todo para cá também estava vazio. Não tinha pensado nisso durante o trajeto. A porta de casa destrancada me fez abrir um leve sorriso. Era como se a maçaneta me dissesse que eu ia encontrar ela ali dentro, me esperando. Ela provavelmente ia gritar comigo sobre estar louca de preocupação, mas ela podia fazer o que quisesse, eu só queria abraçar ela para sempre. Assim que abri a porta, gritei:

– Lia! Eu tô aqui! Tá tudo bem!

Mas ninguém me ouviu. Não havia ninguém na sala para escutar. De fato, não havia ninguém em nenhum cômodo para escutar. Nada de Júlia, nada de Eric, nada de nada. Me senti decepcionado, nos primeiros segundos, mas logo deixei o sentimento de lado. Busquei o telefone para chamar ela. Estavam sem sinal no celular esse tempo todo, mas era para isso que existia o telefone fixo. Tirei do gancho mas não tinha linha. Verifiquei o fio atrás dele: conectado. Olhei para a tomada: conectada. Estranhei e só então fui ligar a luz para confirmar o que já parecia óbvio. Não havia energia correndo pela casa. Que dia de sorte o meu! Pelo amor de deus! Mas tudo bem, era só usar o telefone de algum vizinho e depois eu me preocupava com o problema da luz na minha casa. Pensei de primeira na Thaís. De todos os vizinhos, ela era quem eu tinha mais proximidade. Éramos amigos desde a infância e essa amizade só aumentou depois que me mudei para a casa do lado da dela. Nós costumávamos ficar horas conversando no jardim conectante atrás de nossas casas. Qualquer problema que nós tivéssemos, qualquer briga (a menor que fosse) com a namorada, sempre tínhamos um ao outro.

Bati na porta da frente algumas vezes, sem ter resposta. Venci a vergonha e olhei pela janela para tentar achar alguém. Se me descobrissem, acho que desculpas não seriam o suficiente para satisfazer o Sr. Tsukino, pai da Thaís. Ele era um daqueles japoneses bem tradicionais, cheio de regras e costumes. Ninguém ali dentro. Bati na porta mais algumas vezes e desisti. Estava ficando frio demais para insistir em ficar fora de casa. Fui em passos rápidos para a casa dos nossos outros vizinhos e nenhum deles respondeu. Não achei ninguém ao olhar pelas janelas também. Pensei, em um primeiro momento, em ir direto para a casa da Júlia. Fui forçado a ser realista: Hoje era uma daquelas noites pesadas de inverno. Se eu fosse a pé para a casa dela, congelaria no meio do caminho ou, no mínimo, pegaria alguma doença. Eu precisava era voltar para casa, acender a lareira e grudar nela como cola. Sem energia em casa, aguentar o frio se tornava um desafio um pouco maior. Meu único conforto, se posso dizer assim, foi ver que meus vizinhos estavam sem luz alguma também. Seria uma dor de cabeça a menos para lidar amanhã. Eu, com toda a certeza, ia ouvir muito de todo mundo, mas não tinha o que fazer. Tudo que me restava era explicar para eles a situação quando os encontrasse. Era bem provável que acordaria com o Eric, meu melhor amigo, me chutando ou a Júlia me encontrando. Talvez até a Thaís bata aqui para saber se está tudo bem. Me pergunto se eles estão bem e, mais importante do que isso, aonde estão.


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Notas finais do capítulo

Muito obrigado por ter lido! Significa demais para mim.Se quiser deixar um comentário, eu agradeço em dobro!Espero que volte para mais capítulos :)



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