Contando Estrelas 2 escrita por Letícia Matias


Capítulo 15
Capítulo 15




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A semana com Johnny tinha sido mais do que perfeita. Eu havia melhorado rápido e ele tinha me levado todos os dias para a faculdade e me buscado. As meninas ficaram babando e eu também. Principalmente em uma noite em que ele apareceu de terno em frente ao seu Audi A3 preto para me buscar para jantarmos fora. E eu tive o enorme prazer de beijá-lo na frente de todo mundo e fazer questão de mostrar que ele era meu.

Ele também fez questão de marcar seu território na primeira vez que ele foi me buscar. Eu estava saindo da faculdade com Henry, conversando sobre o trabalho no Starbucks e sobre as aulas e então Johnny veio até nós e disse que ele era meu namorado e Henry ficou muito constrangido. Eu tive vontade de rir, mas fiquei chateada ao mesmo tempo, pois Henry ficou mais distante de mim e ele era uma boa pessoa.

– Nem acredito que você já está indo embora. – eu disse de frente para ele.

Ele estava encostado em seu carro de frente para mim. Estava de terno, exatamente do jeito que eu o vira pela primeira vez.

Todos que passavam nos táxis ou na calçada olhavam para nós.

– Eu sei. – ele disse. – Queria passar o tempo todo aqui com você. – ele disse pegando minha mão e me envolvendo num abraço.

Sorri ao abraçá-lo. Eu já disse que ele era o cara mais cheiroso do mundo¿

– Bem, nos vemos em breve. – eu disse. – Afinal, estarei em Beverly Hills sábado que vem para visitar meu querido pai na cadeia.

Há dois dias, tinha chegado uma carta da delegacia de Los Angeles onde meu pai fora preso, e eles pediam que eu fosse lá para responder algumas perguntas.

Ele sorriu murchamente.

– Se cuide, ok¿ E não fique de gracinha com Henry. Não gosto dele.

Ri e revirei os olhos.

– Pare com isso! Henry é uma ótima pessoa e disse que vai me ajudar a arranjar um trabalho.

Johnny fez cara feia, porém não disse mais nada.

– E você, cuidado! – eu disse. – Estarei aqui, mas estarei de olho em você e em Alicia.

– Esqueça Alicia, por favor.

– Só se você esquecer Henry.

Ele suspirou e pegou meu rosto em suas mãos.

– Eu te amo. – ele disse olhando em meus olhos.

Dei-lhe um selinho.

– Eu te amo.

Ele entrou no carro e olhou para mim.

– Até mais Srta. Anne.

– Mal posso esperar para vê-lo novamente, Sr. Donahue.

Ele riu.

– Tchau. – ele disse.

Estalei os lábios lhe mandando um beijo e acenei.

Ficamos nos olhando por mais um minuto e então ele deu a partida no carro me deixando com o coração pesado. Fiquei ali na calçada por minutos intermináveis e depois entrei no grande prédio.

No sábado de manhã, Katie apareceu no apartamento para ajudar-me a fazer uma mala. Estávamos no meu quarto e eu estava terminando de arrumar a mala enquanto conversávamos.

– Você está pronta para isso¿ - ela perguntou.

– Tenho que estar. Eu não o vejo desde... O meu aniversário praticamente. É estranho porque agora o verei pela primeira vez e eu juro que tenho tanta merda para falar para ele. Tanta coisa engasgada... Você não faz ideia, Katie.

Ela mordeu o lábio e suspirou.

– Ao menos você verá Johnny.

– O que me preocupa é que Johnny também estará lá, entende¿ E... Desde aquele dia no bar, quando Alex apareceu... Eu sinto que não terminou, sabe¿ Que ainda tem algo e estou preocupada com Johnny.

– Vai dar tudo certo, Mary. Você verá.

Sorri e a abracei.

– Obrigada por tudo! – eu disse.

Eu estava vestida com uma calça jeans azul escura, um casaco de lã cinza e um all-star preto.

Nós descemos de elevador e Adam foi até a avenida conosco. Muito eficiente, chamou um táxi.

– Não precisava se preocupar Adam. Muito obrigada. – eu disse em frente ao táxi com a porta aberta.

– Imagine! Faça uma boa viajem Mary. Cuide-se.

Lhe dei um beijo na bochecha.

– Obrigada. – virei-me para Katie. – Se cuide, ok¿ Voltarei segunda-feira.

Ela sorriu.

– Você também. – segurou minha mão. – Dará tudo certo, Mary.

Assenti, eu não estava muito convencida disso, mas tinha que convencê-la de que eu estava.

Entrei no táxi e ele me levou até o aeroporto.

O voo foi tranquilo, eu dormi a grande parte do tempo. Era incrível o efeito que aviões tinham em mim. Eu sempre dormia.

Eu estava desembarcando, puxando minha mala vermelha de rodinha quando vi Johnny de longe olhando para mim. Estava de calça jeans, camisa polo verde escura e um sapato marrom escuro. Estava com as mãos nos bolsos da calça.

Sorri e comecei a correr arrastando a mochila de rodinha, passando pelas pessoas que me olhavam com uma expressão confusa. Quando cheguei perto o suficiente, larguei a mala e pulei em Johnny passando minhas pernas em sua cintura. Dei-lhe um beijo apaixonado.

Algumas pessoas assoviaram e a grande maioria ficou olhando e sorrindo.

– Oi. – eu disse com os pés no chão novamente.

– Oi. – ele sorriu. – Tudo bem¿

– Muito melhor agora. – eu disse suspirando.

Ele riu.

– Digo o mesmo Srta. Anne.

Ele pegou minha mala do chão rindo e pegou minha mão entrelaçando seus dedos nos meus.

Fomos para o seu carro e depois ele dirigiu sem pressa pelas ruas de Los Angeles.

– Vamos para a casa da sua mãe primeiro, certo¿

Mordi o lábio.

– Sim.

– Não parece muito contente de estar aqui. – ele disse olhando pra mim.

Olhei para ele e dei um sorriso murcho.

– É que... Eu estive adiando essa visita sabe¿ E terá o julgamento e tudo e teremos de estar lá. Eu... Não sei se estou preparada para isso.

Ele assentiu lentamente.

– Você não pode odiá-lo Mary. – ele disse olhando para frente.

Franzi o cenho e me ajeitei no bando do carona.

– Como assim¿

– Não importa o que ele fez comigo ou com você, não importa o quanto você odeie o jeito dele e as manias dele, não importa o quanto você odeie todas as coisas nele... Ele continua sendo seu pai sabe¿ Nós sempre perdoamos os pais e eles sempre nos perdoam.

– O quê¿ - exclamei. – Está me dizendo que devo perdoá-lo pelo o que ele fez¿ Ele mandou te matar, ele ia te matar Johnny! E só não te matou porque eu pulei na sua frente.

– Ele nunca quis te matar. Ele queria ferir a mim, machucar a mim, não a você, porque não importa o quanto ele te xingou, o quanto ele ficou com raiva quando descobriu sobre nós... Ele nunca quis te matar! Você é a filha dele.

Respirei fundo tentando me acalmar.

– Eu não estou te entendendo, sinceramente. Ele queria te matar! Se ele tivesse lhe matado eu teria morrido por dentro Johnny, você não vê isso¿ Eu... Não sei o que seria capaz de fazer com ele. Você acha que tem perdão isso¿ Toda essa obsessão dele por aquela porcaria de empresa fez com que ele chegasse a esse estado. E, ainda tem aquela praga do Alex. Então por favor, seja sensato. Ele tentou te matar e você não deve perdoar pessoas desse tipo. E não importa se o sangue dele corra por minhas veias, não importa se eu tenho a merda do sobrenome dele... Eu nunca vou perdoá-lo por isso.

Eu estava falando tão rápido e alto que eu nem notara até eu me calar.

Johnny não disse mais nada, apenas dirigiu.

Eu sentia minha cabeça girar e minhas mãos estavam geladas. Ótimo, minha pressão havia baixado. Fiquei olhando pela janela, contemplando as ruas de Los Angeles, pouco parecidas com as de Nova York. Algumas semelhanças.

– Você está bem¿ Está com as mãos geladas.

– Estou bem. – eu disse sem emoção fitando a janela.

Chegamos na casa da minha mãe minutos depois e ela me deu um grande abraço. Seus cabelos louros estavam cacheados e impecáveis.

– Olá querida! Como você está¿

– Aborrecida. – eu disse.

Ela franziu a testa e olhou para Johnny. Johnny arqueou levemente as sobrancelhas e não disse nada para minha mãe. Fora um olhar cúmplice.

– Bem, e você, como está¿ - perguntei.

– Estou bem. – ela disse. – Vamos entrar.

Eu não sentia que aquela era minha casa, não mais. Mesmo sabendo que casa dos pais sempre seria a casa dos filhos, mesmo que seus pais tivessem cem anos de idade e você oitenta e sete. Talvez eu não me sentisse bem ali porque eu sentia que tudo havia mudado desde aquele ocorrido.

– Oi Mary, como está você¿

Sorri e abracei a Sra. Norah.

– Olá Sra. Norah, estou bem e você¿

– Ótima, querida, ótima. – ela respondeu e sorriu para Johnny. – Fiz algo especial para você comer.

– O que¿

– Tacos.

– Oh meu Deus, Sra. Norah. Você é maravilhosa! – eu disse abraçando-a novamente. – Eu realmente quero comer Tacos.

Ela sorriu.

– Com licença, vou terminar de arrumar a cozinha.

Na mesa do jantar, eu, Johnny, Michael e minha mãe comíamos conversando sobre a faculdade e sobre minha adaptação em Nova York. Johnny estava fazendo de tudo para emendar assuntos um nos outros para que eu me esquecesse da nossa pequena discussão no carro. Mas, não seria tão fácil. Eu realmente não entendia o ponto de vista dele. Eu simplesmente deveria perdoar meu pai por aquilo¿ Já era incômodo eu chamá-lo de pai depois daquilo, imagine perdoá-lo.

Depois do jantar, subi para meu antigo quarto para tomar banho e vestir-me para ir ao tribunal e para a delegacia.

Eu tinha vestido uma saia social cinza, uma camisa social branca e um blazer cinza por cima, também tinha colocado um sapato preto de bico fino e prendido meu cabelo num coque.

Quando chegamos lá, o Sr. e a Sra. Weedon estavam presentes esperando por nós para entrar na sala onde o julgamento aconteceria.

A sala era enorme composta com várias fileiras de bancos de madeira. Tomamos nossos lugares um ao lado do outro. Haviam outras pessoas na sala, pessoas da empresa, pessoas que eu não conhecia. E Alex estava ali também. Olhando para mim e Johnny.

Johnny viu que eu encarava Alex e segurou minha mão.

– Mary. – ele disse.

Olhei para ele.

– Pare. Não se estresse com antecedência.

Respirei fundo. Era extremamente... Horrível e anormal estar sentada ali. Eu sentia que ia desabar em lágrimas a qualquer momento.

Quando a sala estava cheia com várias pessoas conhecidas e a grande maioria desconhecida para mim, uma juíza disse:

– Pode trazê-lo.

Mordi minha língua e olhei para porta com os olhos cheios d’água. Meu pai entrou com os braços algemados para trás olhando para mim. Ele tinha o cabelo raspado e usava um macacão laranja. Ele sentou-se numa cadeira perto da juíza.

Uma lágrima caiu dos meus olhos enquanto eu o fitava. Johnny apertou minha mão discretamente.

– Podemos começar¿ - a juíza disse.

Ninguém disse nada.

– Bem, vamos começar com os fatos. – ela disse e depois de longos minutos falando sobre todo o ocorrido ela pediu para que os advogados começarem a defesa e objeções.

Eu estava com vontade de sumir dali. Era tão estranho vê-lo ali, naquela posição. Eu nunca tinha imaginado que aconteceria algo assim na minha vida.

– Srta. Mary Anne McCurdy, está presente¿

Levantei-me.

– Sim, meritíssima.

– Pode descrever o fato ocorrido¿

Engoli em seco olhando para meu pai.

– Sim. – eu disse. – Primeiramente, meu pai me acordou e disse que sabia de tudo. Ele agrediu minha mãe e me agrediu fisicamente e verbalmente também. – dei uma pausa. – Ele disse que iria me levar até um lugar e que eu precisava ver algo. Nós chegamos em um lixão e ele me arrastou até perto de um esgoto aberto onde Johnny estava algemado e amordaçado. – minha voz falhou. Eu ainda olhava para ele com ódio e frieza nos olhos. – Depois eu comecei a falar com ele e ele me amarrou e disse que eu tinha que ver algo. Ele... Sacou uma arma e apontou para Johnny então eu consegui me soltar e bem na hora do disparo... Eu... – respirei fundo. – Eu pulei na frente da vítima. – que no caso era Johnny.

A juíza assentiu.

– E, tinha mais alguém no local¿

– Sim. Haviam dois homens vestidos de preto com uma máscara preta, não consegui identificá-los. Mas, semana passada, eu estava em Nova York , estávamos eu, Johnny e nossos amigos num bar e ele – eu disse apontando para Alex que arregalou os olhos perdendo a cor da pele. – Disse que tinha contado tudo para meu pai e que o ajudara.

– Eu protesto! – Alex levantou-se. – Como se atreve sua...

– Sua o quê¿ - gritei. – Sua o quê¿ Você é outro assassino, um louco. Ele disse que sempre esteve de olho em mim e que me teria a qualquer custo e ameaçou a mim e a Johnny...

– Chega! – Alex disse.

– ... disse que muita coisa estava por vir e que era para nós aguardarmos. Ele nos ameaçou e disse que estava envolvido neste caso.

Alex veio para cima de mim, mas vários homens o seguraram.

Johnny veio até mim.

– Chega! Silêncio no tribunal! – a juíza disse. – Nós manteremos o Sr. Alex preso enquanto investigamos seu envolvimento no caso.

– O quê¿ Isso é um absurdo eu... – Alex começou a falar.

– Silêncio! – ela o interrompeu. – Pode sentar-se Srta. Anne.

Johnny me conduziu até o banco onde estávamos.

Eu me sentia tão... Fraca e tão... Lixo. Eu me sentia um lixo por estar fazendo parte daquilo. Eu queria xingar tudo e a todos.

O julgamento durou ao todo duas horas até tomarem a decisão.

– Nós já temos a decisão. – a juíza Carter disse.

Silêncio no tribunal.

– Sr. Rolland Ethan McCurdy, o senhor ficará preso por cinco anos por porte ilegal de armas e tentativa de homicídio. Caso encerrado. – então se levantou da mesa e retirou-se da sala.

Minha mãe começou a chorar do meu lado e Michael a abraçou. Fechei os olhos e deixei que as lágrimas escorressem silenciosas. Johnny não disse nada, apenas me abraçou.

Depois de alguns minutos tentando me acalmar abri meus olhos e vi que quase metade da sala já tinha se deslocado.

Levantamos para ir embora.

– Srta. Anne¿ - ouvi uma voz chamar.

Virei-me. Era a juíza Carter.

– Sim¿ – eu disse com a voz rouca.

– Seu pai tem direito a visitas e ele disse que queria lhe ver. A srta não é obrigada, mas, acho que vocês devem colocar assuntos pendentes na mesa.

Engoli em seco.

– Ótimo. – eu disse. – Realmente tenho.

– Pode entrar. – um policial abriu a porta para mim.

Quando entrei, vi uma mesa e duas cadeiras. Lá estava ele, de cabeça baixa.

Andei até a mesa e parei em pé. Eu me sentia fria de repente, com ódio e amargurada.

Ele levantou sua cabeça lentamente e pude ver seus olhos vermelhos.

– Mary. – ele disse.

Respirei fundo.

– Está tão bonita. Com aparência de mulher.

Não disse nada. Respirei fundo novamente e fechei os olhos. Abri-os depois de um segundo e sentei-me cruzando as penas.

– Como você está¿ - ele perguntou.

– Melhor impossível. – eu disse.

Ele assentiu e colocou suas mãos algemadas em cima da mesa. Olhei para elas com repulsa e depois para seu rosto.

– Eu estive esperando muito tempo por sua visita. – ele disse.

– Ah é¿ - eu disse friamente. – E porque¿

Ele engoliu em seco.

– Para me desculpar-me.

Soltei uma risada debochada e balancei a cabeça rindo. Ele olhava para mim com uma expressão surpresa.

– Desculpar-se. – eu disse e assenti. – Vá em frente.

Seus ombros tensos relaxaram visivelmente.

– Eu... Sinto muito. – ele disse. – Eu nunca quis machucá-la. Nunca! Eu fiquei completamente apavorado quando vi que o tiro tinha acertado em você...

– Ah sim, o tiro deveria ter acertado em Johnny, certo¿ - eu disse assentindo e olhando-o com amargura.

– Eu estava... Fora de mim e...

– Fora de si¿ - sussurrei friamente.

Ele me olhou e depois olhou para suas mãos.

Soltei um ar debochado.

– Você bateu na cara da minha mãe, me chamou de vadiazinha e de muito mais, você mandou sequestrar Johnny, você fez com que ele quase congelasse na neve, me levou para aquele lugar para que eu pudesse ver você matando ele. – eu disse. – E você sente muito¿ Estava fora de si¿ - ri novamente e assenti.

– Eu sei que está zangada...

– Zangada. – repeti. – Você acha que estou zangada¿ Deixa eu lhe dizer algumas boas verdades, papai. Sabe por que está aqui¿ Porque você é um doente obcecado por aquela merda de empresa, está aqui porque ficou com medo de que Johnny só estivesse comigo para tomar seu lugar na empresa, está aqui por causa da sua doença e obsessão pelo trabalho, está aqui porque tentou matar uma pessoa! E sabe do que mais, não adianta pedir desculpas, nada fará com que eu me esqueça do que você fez. – respirei fundo. – Nada.

– Mary, eu sempre fiz o melhor que pude para que você pudesse tocar aquela empresa e você nunca agradeceu! Há tantos que queriam estar no seu lugar...

– Realmente há. Alex por exemplo. E eu deixei muito claro que eu odiava aquele lugar e odiava seus jantares, seu modo de trabalhar e sua obsessão. Eu nunca vou me importar com aquela empresa, nunca! Entenda isso de uma vez por todas. E entenda que não importa quantas pessoas você mande atirar em Johnny, eu levaria uma bala por ele de novo e de novo. – eu disse com lágrimas nos olhos.

– Você está louca! – ele disse exaltado. – Louca! Está apaixonada por um cara mais velho do que você que não quer nada mais além do que dormir com você.

Levantei da cadeira e inclinei-me sobre a mesa.

– Olhe aqui, - eu disse – Não se atreva. Eu não sou nenhuma vagabunda, ele não está comigo por interesse. Dormir, ele dorme com qualquer uma por aí. Eu não sou assim, e não ouse a falar isso. Não para mim. Se eu e ele nos separarmos um dia, não será por você, será por outros motivos. Eu o amo. – eu disse sentando-me novamente na cadeira.

Ele riu.

– O que você sabe sobre amor, Mary¿ - ele disse. – Só tem dezoito anos de idade e quer se comportar como uma mulher. Sabe qual foi onde eu errei¿ Nunca ter colocado limites em você. Você achou que poderia se envolver com um funcionário meu e eu iria aceitar¿ Nunca!

Eu ri escandalosamente e bati as duas mãos na mesa.

– Olhe só, eu não ligo para sua opinião ou seus limites. Eu não vivo mais do seu dinheiro, não vivo mais na sua casa, não vivo no apartamento que você comprou e não quero você na minha vida. Eu nunca vou perdoá-lo por isso. Nunca! E sabe de uma coisa¿ Poupe suas lágrimas para seus cinco anos de cadeia. Ninguém o tirará daqui e cinco anos ainda é muito pouco para você.

Ele começou a soluçar e eu me reencostei na cadeira respirando fundo tentando manter a calma.

– Eu só queria que fossemos felizes, eu só queria que você me respeitasse e que desse valor para as coisas que eu fiz naquela empresa, que você, sua mãe e Michael me admirassem e sentissem orgulho de mim.

Ri e me inclinei sobre a mesa.

– Orgulho¿ Eu sinto nojo de você! Eu me desgraço todos os dias por ter seu sobrenome, por ser sua filha. Você é um assassino, eu te odeio! – eu disse levantando-me da cadeira. – Poupe-me de suas lágrimas, elas não me comovem. Não espere que eu venha lhe visitar, não espere me ver novamente, porque eu não irei. Me esqueça! Eu te odeio o que você fez não tem perdão e agora, você vai pagar pelo o que fez. Tenha bons cinco anos vendo o Sol nascer quadrado. – eu disse e virei-me para ir embora.

– Não faça isso comigo, Mary! Eu imploro o seu perdão. – ele disse levantando-se e ajoelhando ao meu lado.

Franzi a testa.

– Pare com isso! – eu disse. – Você não entende, não é¿ Não vou lhe perdoar por isso! Você queria que eu assistisse você matando alguém! Matando Johnny! Eu o amo, ele me ama! Eu não vou perdoar você por isso. Você está aqui porque merece!

– Me desculpe Mary! – ele disse. – Por favor. Eu passo cinco anos aqui, mas, por favor, eu não suportarei ficar sem seu perdão.

– Como você acha que eu me senti quando aquela bala rasgou minha pele¿ Como você acha que me senti depois que acordei de todo aquele pesadelo¿ Você ainda acha que devo lhe perdoar¿

Ele engoliu em seco e abaixou a cabeça.

Lutei contra as lágrimas piscando os olhos rapidamente.

– Não sabe, não é¿ E nunca saberá, porque essa dor estará sempre presente em mim. Você se tornou um monstro por causa dessa empresa. Agora, se me dá licença, eu preciso ir. – eu disse. – É dolorido você ver um pai preso, um pai sendo acusado de porte ilegal de armas e tentativa de homicídio... É vergonhoso. Então, não me peça para vir vê-lo, não me peça para perdoá-lo... Eu não irei.

Andei em direção à porta e bati nela.

– Terminamos aqui.

A porta se abriu e eu saí deixando meu pai ajoelhado no chão de cabeça baixa.

Comecei a andar rápido e depois diminuindo o ritmo me segurando na parede com a visão embaçada conforme o soluço e as lágrimas me dominavam. Aquilo era doloroso demais.

Tropecei em meus pés e caí sentada encostando-me na parede chorando de olhos fechados, soluçando.

– Mary. – Johnny sussurrou envolvendo-me em seus braços.

Eu não disse nada por um momento, nem ele.

– Foi a c-coisa mais d-difícil q-q-que eu tive de fa-fazer. – eu disse entre soluços.

– Eu sei, eu sei. – ele disse me abraçando forte.

– Me leve embora daqui. – eu disse olhando para ele.

– É claro, vamos. – ele disse ajudando-me a levantar.


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