Faltavam alguns minutos para às 7 da manhã. Estava procurando o livro de Economia no meu mais que organizado quarto quando um arrepiou dividiu-me ao meio. Esperei que algo surgisse a minha frente, mas ninguém apareceu, exceto Melissa que acabara de passar avisando que não estaria no jantar por conta dos plantões duplos que teria a noite toda. O jantar, como ela mesmo disse, estava na geladeira e um ser misterioso teria que lavar os pratos. Não havia brecha para um não. Relutando sobre os pratos, beija-a no rosto desejando um bom dia. Ela sorriu alertando-me para não chegar atrasado na aula e foi embora. É, ela tinha razão, Coach me mataria se perdesse o treino. Coloquei a mochila nas costas enquanto buscava o capacete em cima da estante. A chave da moto estava em cima do criado-mudo ao lado do porta-retratos, mas por alguma razão não havia foto. Perguntei-me mentalmente se Melissa saberia o motivo disso, e sai de casa.

Enquanto pilotava a moto, senti que algo estava estranho. Não que sair de casa atrasado fosse estranho, o que de fato não era, mas Beacon estava com um ar novo, calmo. Talvez devesse ligar para Derek? Definitivamente não. Peguei o atalho mais rápido até o estacionamento de Beacon Hills High School, chegando na hora do toque.

— Cara, você sabe quantos QUD foi registrado ontem? VÁRIOS! - Afirmou Stiles, descendo do Jipe. — Pensei que teria trabalho a noite toda.

Abraço-o enquanto continuo com a careta de Isso-É-Algum-Tipo-De-Charada?, ele completa:

— QUD? QUF? Em que século você vive? Chamadas de emergência, pedido de socorro, coisa do tipo.

— E por que você não disse logo? — Indaguei. — Como está o Xerife?

— O velho está preocupado. Faz um tempo que não temos nenhum “verdadeiro problema”, se é que me entende.

— Sobrenatural?

— Exato, Mestre dos Códigos. Nada, nada, nada. — E latindo, Stiles finaliza — nem mesmo um uivo, cara. Parece que todos os lobisomens daqui foram castrados.

Rio, e continuamos caminhamos até a frente do colégio.

— Por falar nisso, percebi a mesma coisa. Tudo vai tão tranquilo ou é impressão minha?

— Não é. Devemos fazer alguma coisa? Ligar para alguém?

— Pensei em ligar para Derek, mas desisti. – Respondi.

— Graças a Deus. Aquele idiota provavelmente diria — Imitando Derek, Stiles inicia: — “Sério? Não posso ter um momento introspectivo solitário no meu apartamento!”

Caio na gargalhada. Ele continua:

— “Stiles, fecha sua boca senão arranco seu pescoço com meus dentes!”

— Stiles — enxugo as lágrimas de tanto rir — para!

Ele ri comigo.

— Agora é sério — seu tom muda —, devemos ligar ou não?

— Não sei, talvez seja melhor esperarmos. Qualquer coisa vamos procurar Derek. Agora — mostrando o celular para ele — devemos nos apressar!

Estávamos guardando nossas coisas no armário quando o mundo começa a parar subitamente. Minhas mãos suam e tremem. Meus olhos ardem e, sem motivo algum, estou perdendo o controle. Stiles me observa sem entender. Não consigo dizer sequer uma palavra. Sinto que algo está preste a acontecer. Não, não sinto, vai acontecer.

— Scott, não sei se você percebeu, mas estamos no meio do corredor repleto de adolescentes com seus smartphones em suas mãos loucos para filmar uma criatura sobrenatural da noite! Guarde suas garras, controle-se! — Stiles exclama.

Fecho meus punhos tentando esconder as garras.

— Não está funcionando. Não sei o que está acontecendo Stiles!

Stiles dar dois passos para trás, as pessoas começam a olhar para mim.

— O que foi? — Indago. — O que você está vendo?

— Suas presas, elas estão maiores que o normal. A-ah, e seus olhos estão vermelhos.

Estou perdendo o controle, o que faço?

Hesitando em chegar muito perto de mim, Stiles me leva para sala mais próxima. Por sorte não tem ninguém.

— Cara, respira fundo! — Olhando para os lados, ele procura.

— O que você está procurando?

— Um extintor!

— O quê? — Grito.

— Relaxa, dessa vez não tem nenhum por perto, droga.

Tento não pensar no que Stiles faria com o extintor se assim o tivesse, mantenho a atenção em qualquer distração.

— Fala alguma coisa, não me deixa perder o controle. — Ofegando, peço.

— Dizer qualquer coisa?

— É! — Rujo.

Stiles se afasta.

— Tipo, como você está perdendo o controle e seus pelos faciais estão crescendo? Sem falar que a qualquer momento alguém pode entrar na sala e ver você se transformando em um lobisomem?

— Stiles, você não está ajudando! — E mais uma vez rujo.

Minhas pernas falham e caio no chão.

— Ai, meu Deus! — Stiles pula. — O que eu vou fazer? Você não está morrendo, não é?

— Scott, você está bem? - Ouço alguém falar.

Essa voz, esse cheiro... Minhas mãos param de suar e meus olhos voltar ao normal. Stiles acena para alguém que vem atrás de mim, e fala:

— Ufa! Acho que estamos numa crise sobrenatural aqui, e o nosso amigo não está nada bem.

Não é possível. Não, não depois daquela noite. Viro-me de uma vez e minha visão falha. É um vislumbre? Estava realmente a minha frente? Eu... não sei, mas que seja, penso. Se isso for um sonho, quero permanece aqui até que seja real. E como uma flecha a ser disparada, meus sentimentos vem à tona: alegria, dor, medo e vergonha. Todos estes amplificados pelos meus poderes, pela culpa. O peso do mundo cai sobre meus ombros. Enxergo seus longos e compridos cabelos presos numa trança, aquele sorriso que um dia me fez completo, a mesma expressão de inocência que somente você a tem.

— Allison? — Pergunto mais a mim do que qualquer outro. Estou em choque.

— Aconteceu alguma coisa, McCall? — checando minha temperatura, questiona.

— Provavelmente deve ter bebido água com Wolfsbane, tenho certeza. - Stiles acrescenta.

— Você não deveria estar aqui. — Tento respirar — Você...

E estou de volta aquela noite. Se tivesse corrido mais rápido, se tivesse dado tudo de mim, se... Não me perdoou. Seria diferente. Prometi que não deixaria ninguém se ferir, prometi que protegeria a todos, e não cumprir com minhas palavras. Que tipo de líder assiste seus amigos partirem sem poder nada? Que líder é impotente quando mais necessita, quando a pessoa mais valiosa se vai? Stiles, Lydia, Isaac Chris... falhei com todos. Uma parte de mim se foi quando seus olhos fecharam para sempre. Quando, meu Deus, você suspirou pela última vez. E eu fiquei estagnado ali, com seu corpo em meus braços. Tentei tirar seu sofrimento, pedir que ficasse, mas foi em vão. Você sabia como terminaria e não lutou contra. Ficou firme e tentou me reconfortar nos poucos minutos que tinha. Eu deveria ter te reconfortado, dito que tudo ficaria bem! Nem isso fui capaz.

Sou abduzido a realidade quando seus braços cruzam meu corpo. Sinto seu calor emanar ao meu. O cheiro de seu perfume preencher as lacunas que um dia a saudade abrira.

— Eu estou bem, por que não estaria? - Sussurrou em meu ouvido - Agora vamos, Lydia deve estar querendo nos matar na sala de aula.