Regina estava ansiosa, andava de um lado para o outro imaginando o doce sabor da vingança. Não havia lançado a maldição. Não quis abrir mão da última pessoa que amava. Seu pai continuaria ao seu lado para sempre. Ouviu batidas e deixou que Graham entrasse. Ela observou, satisfeita, que ele segurava uma pequena caixinha de madeira entalhada com desenhos de um belo cisne e pendurado em seu pescoço, uma pequena chave prateada. Ele fez uma pequena reverência e entregou ambos a sua rainha sem falar nada.

Antes que ela pudesse abrir a caixinha, Rumpelstiltskin surgiu envolto de uma névoa roxa.

– Minha cara, minha cara. – disse com seu sorriso zombeteiro. – Ainda não desistiu da sua vingancinha?

– O que você quer Rumpelstiltskin ?

– Acho que seu filhote de lobo pegou algo que me pertence. – disse apontando para a caixa que repousava nas mãos de Regina.

– Por que veio me incomodar ao invés de impedir o roubo no seu castelo?

– Eu quero ver como o usará. Belle não gosta quando faço encantamentos com as pessoas, mas isso não significa que eu não possa deixar que outra pessoa o faça. – disse movendo as mãos compulsivamente.

– Hum. – Regina sabia que Rumpel estava aprontando algo. Ele tinha esse brilho nos olhos que só apareciam quando tramava algo.

– Mas lembre-se, toda magia vem com um preço. – disse e desapareceu envolto numa nuvem roxa deixando suas gargalhadas ecoando entre as paredes do aposento real.

Regina caminhou até o lado direito do cômodo, onde ficava uma belíssima pintura de si. Com um gesto fez com que o mesmo desaparecesse, dando lugar a um pequeno cofre dourado. O caçador nunca viu aquilo antes, a pintura sempre estivera ali, desde que a rainha ganhara de um famoso pintor, apesar disso não estava surpreso. A rainha era a mulher mais misteriosa e cheia de segredos que já havia conhecido.

Ele observou enquanto ela dizia algumas palavras fazendo com que o cofre se abrisse, revelando seu conteúdo. Ali dentro havia o anel que Daniel dera a ela e um pequeno frasco com líquido azul. Ela pegou o anel e o levou carinhosamente até os lábios.

– Por culpa dela, Daniel, não tivemos nosso final feliz. E nem ela terá. – disse em um sussurro quase inaudível. Devolveu o anel ao cofre, pegou o frasco e com um gesto fez com que tudo voltasse ao normal. Ela depositou o vidrinho em sua mesa de centro e o abriu, fazendo com que o líquido azul brilhasse. Delicadamente, mergulhou o colar dentro do frasco e soprou um encanto sobre ele.

"Quando o homem que amas lhe jurar amor eterno voltarás ao normal. Mas, se ele jurar à outra, estarás fadada a permanecer dessa forma até o dia de sua morte."
Regina olhou para o caçador e sorriu maliciosamente.

– Finalmente, finalmente Snow White sofrerá como merece. – Olhando para o caçador completou: – Você sabe o que fazer. – Entregou-lhe o colar.

Ele fez uma breve reverência e saiu apressado. Essa era sua chance. Provaria à rainha que era leal e conquistaria seu coração novamente. Saindo do castelo, desapareceu na escuridão da floresta.

***

Emma desceu a escadaria do palácio e encontrou Snow à sua espera. Ela tinha o mesmo sorriso gentil e os mesmos olhos, mas parecia ter envelhecido vinte anos. Seus cabelos estavam presos em uma trança mostrando alguns fios brancos que se destacavam entre os negros. Ela continuava linda, apesar da aparência envelhecida. Logo que viu Emma correu para abraçá-la.

– Como ficou linda nesse vestido! Eu sabia que ia ficar perfeito! Hoje à noite você vai usá-lo e com certeza será uma das mais belas moças. - disse animada.

Emma estava gostando daquele sonho. Não queria acordar tão cedo. Pela primeira vez Snow parecia sua mãe. Seus gestos, suas palavras e até mesmo sua aparência. Tudo aquilo era o que Emma sempre sonhara encontrar. Uma família de verdade.

O seu sorriso, como o usual, se estendia de um lado ao outro do rosto, um sorriso muito bonito que expressava sua felicidade verdadeira, sem mentiras ou falsidade. Emma achava que Snow não poderia ser mais linda, mas estava enganada. As rugas acentuadas pelo enorme sorriso a deixavam ainda mais bonita. Ela parecia mais real a Emma, uma mãe de verdade. O cheiro de rosas invadiu sua mente, fazendo-a fechar os olhos. Emma estava tão confortável naquele abraço, pela primeira vez em sua vida que não queria largar sua mãe. Não queria que o sonho acabasse. Não queria acordar.
Mas então um rosto lhe veio à mente, fazendo-a titubear. Duas lágrimas escorreram pelo seu rosto enquanto se perguntava se veria seu filho novamente.

– O que foi, minha querida? – perguntou Snow ao ver a expressão de dor da filha – O que há de errado Emma? – continuou enquanto puxava a filha, para um abraço de mãe ursa.

"É claro que o verei novamente! Isso é apenas um sonho!" exclamou para si, em pensamentos, sem acreditar totalmente.

Ela se entregou ao doce aroma de rosas e fechou os olhos deixando que as lágrimas escorressem livres pelo seu rosto. Não gostava de chorar na frente de alguém, mas aquela era sua mãe.

Sua mãe. Parecia que só agora a "ficha estava caindo", ela não havia se dado conta de que tinha uma família. Uma família diferente, mas real. Uma família de verdade. Então duas garotas entraram correndo pela porta, e Emma ficou surpresa ao descobrir que as duas eram suas irmãs, Elsa e Anna.

A primeira aparentava dezoito anos e usava uma trança que prendia seu cabelo loiro, como o de Emma. As duas eram muito parecidas. Elsa tinha olhos azuis claríssimos e um sorriso tímido, era comportada ao contrário da irmã mais nova. Usava um vestido azul claro com pedras azuis, mangas transparentes e pequenos bordados que pareciam pequenos flocos de neve. Uma capa azul transparente pendia de seus ombros pálidos. A garota era branca como a mãe. Nasceu no dia mais frio do inverno e por isso ganhara poderes, digamos... Congelantes.

Já Anna aparentava seus quinze ou dezesseis anos. Tinha cabelos castanhos levemente alaranjados e usava um penteado que era uma mistura de coque e trança. Tinha os olhos azuis também, algumas sardas e um sorriso alegre, idêntico ao de Snow. O espirito aventureiro da garota ficava a mostra o tempo inteiro. Ela tinha a personalidade de Snow enquanto Elsa era reservada como o pai, David. Anna usava um espartilho verde escuro com alguns desenhos de flores nas cores rosa e outras tonalidades de verde. As alças do vestido eram grossas de um tom mais claro de verde, da mesma cor que a saia, que possuía desenhos em tons amarelo e rosa. O cinto dourado deixava o traje docemente harmônico.

Emma estava surpresa com as irmãs, mas nenhuma delas pareceu perceber. Estavam todas muito animadas e não se deram conta que Emma agia como se não as conhecesse tão bem como deveria. Mãe e filhas passaram uma tarde agradável juntas brincando com o pequeno príncipe, provando joias, sapatos e experimentando bolos para o baile da noite, onde seria anunciado o nome de seu irmãozinho. Emma riu quando a mãe revelou que ela e seu pai ainda não tinham certeza de que nome dar ao bebê. As quatro conversavam animadamente imaginando os possíveis nomes, combinando os de componentes da família e criando nomes estranhos e espalhafatosos.

Todo aquele cenário parecia comum, mas havia algo que parecia não se encaixar, um ser que observava aquela cena atentamente, escondido nas sombras.