Lá e Cá escrita por brassclaw


Capítulo 4
Sob o bater das asas




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/531996/chapter/4

“Na minha opinião, ela é só uma menina assustada.” Disse Alphonse, com uma expressão calma e serena, o que não devia representar o que sentia de verdade. O que devia ser frustração e raiva, como qualquer outro homem membro do Conselho. Mas Alphonse sempre foi o melhor em fingir o contrário. Alguém deveria controlar a situação de qualquer forma.

“Ela não é uma menina assustada.” Salazar murmurou um pouco irritado.

Era a segunda ou terceira reunião que o Conselho de Bruxos marcava para discutir sobre o caso Ravenclaw. Estava cansado de olhar aqueles velhos parados em suas cadeiras enormes, babando sobre os pergaminhos e não fazendo nada. Pela segunda ou terceira vez, eles estavam ali de novo, discutindo sobre o mesmo fato e não resolvendo nada, não entrava na cabeça de Salazar porque marcar mais reuniões se nada era resolvido. Não tinha o que resolver.

O problema era simples: Rowena Ravenclaw estava órfã e seus cuidados seriam transferidos para o tio dela, Amis Ravenclaw. Não que fosse obrigado, mas ele realmente queria aquilo e o mais rápido possível. Amis tentava persuardir Darius, pai de Rowena, a casá-la com Ryan, o primo. Rowena sempre detestara a ideia e Darius sempre respeitou a vontade da filha, mesmo que, aos poucos, tentasse mudar a mente dela. Com a morte de Darius, Amis apenas viu o que sempre quis: casar Ryan e Rowena.

Mas Rowena complicou tudo e fugiu e o Conselho estava um tanto hesitante de gastar homens atrás de uma menina só porque Amis sempre ambicionou a beleza, inteligência e poder dela. O Conselho ainda não acreditava no que Rowena era, para saber que realmente era interessante gastar homens para ir atrás dela.

“Casar sangue com sangue é algo poderoso, vocês entendem? Vocês veem em si mesmos, todos filhos de pais ambos bruxos. Poder como o dos senhores, não há! Eu acho que esse casamento seria o ideal! É algo que ninguém espera. Algo que nos levantará!” Amis dizia com grandes e brilhantes olhos, tentando olhar no fundo de cada ancião da Mesa.

Amis estava quase ganhando aquela discussão.

“Lorde Ravenclaw, serei mais curto e rápido possível, essa serão minhas ultimas palavras perante essa discussão: eu não gastarei dinheiro e homens em cima de uma crença apenas, preciso de provas que ela vale a queda de um reino, caso contrário, não vou colocar uma gota de sangue em jogo.” Disse Coven, se colocando em pé e batendo seu copo na mesa.

Ele era quem comandava aquela mesa, mesmo que todos dissessem que tudo era discutido imparcialmente. Querendo ou não, o ponto final sempre era dele. E aquele era um ponto final. Salazar suspirou aliviado, torcendo para que pudessem ir embora de uma vez.

“Amis não fala tudo de verdade.” Resmungou Lohan ao seu lado, Salazar apenas riu baixinho. “Até porque, se ele falasse tudo, o Conselho já estaria atrás de menina faz tempo.”

“Você acha que ele falaria? Ele é mais inteligente que isso. Ele sabe que o Conselho pode tirar a guarda dele e fazer com Rowena o que bem entender. Amis só está garantindo sua parte.” Salazar disse mais baixo, observando todos os bruxos se mexerem e arrumarem seus pergaminhos, se preparando para atender o próximo caso e, então, olhando Lohan, seu pai, fazer o mesmo ao seu lado.

“Ganância.” Disse ele, olhando o filho e sorrindo de lado.

“Agora, se ela aumentar só mais um pouquinho, Amis perde tudo.” Ambos homens riram e olharam para a porta, esperando que o próximo caso entrasse.

Amis ainda estava um pouco desnorteado, voltando para o seu lugar na banca para ouvir os casos. Salazar ainda se perguntava porque ele não juntava suas coisas e ia atrás de Rowena sozinho. Quer dizer, ele mesmo já achara Rowena sozinho. E, por um segundo, passou na sua cabeça que ele, talvez, não tivesse qualquer talento mágico.

“Onde está o próximo caso?” Perguntou Coven mais alto, sobrepondo sua voz sobre os murmúrios do salão. “A descrição! Onde ela está?”

“Ahn... É esse pergaminho mesmo, senhor... Ele só descreveu como ‘A arte de desaparecer no ar’, não quis passar qualquer outra informação.” Disse um mocinho, o que carregava tudo sempre de um lado para o outro.

“E como era esse homem?” Perguntou o mais velho, olhando o menino com uma sobrancelha arqueada.

“E-eu... Não sei, senhor. Ele só me mandou uma carta.” Disse o menino, tremendo em seu lugar e dando um passo para trás.

“Mas que diabos... O que dizia na carta?” Perguntou enquanto voltava a olhar a porta.

Coven franziu a testa, olhando uma vez para o teto e então para a porta, como se procurasse entender a lógica daquilo. Mas logo no segundo seguinte um guinchar soou por todo o salão mas um tanto abafado. Então todos olharam para o alto a tempo de ver um pássaro enorme entrar pela janela de vitral no centro do salão e abrir as asas antes de cair no chão. Assim, planou em volta do salão, por sobre os gritos dos homens nos bancos. O pássaro guinchou mais uma vez antes de ir para o centro do salão, batendo as asas alguns metros do chão.

Parecia esperar silêncio. Como se pedisse aquilo de forma educada.

Foi ali que todos se surpreenderam ao ver que aquilo era uma águia. Uma águia gigante, maior do que todas que já viram.

***

Agora era oficial, iria sumir do mapa completamente. Ninguém iria encontrá-la, nem Salazar. Procurou incansavelmente durante três semanas um lugar calmo e repleto de paz e magia. Ali iria colocar sua casa, montar sua proteção e não pensar em Conselho e qualquer coisa derivada daquilo. Iria fazer um falso negócio e, para si, estaria suficiente... Não perfeito, mas suficiente.

O lugar foi difícil de achar. Nenhum parecia bom o suficiente e, o que parecia mesmo, era complicado. Quando pisara naquela terra, pode sentir a magia subir pelo seu calcanhar, indo pela perna e brincando em seu corpo. Era o lugar perfeito. Mas aquela terra já tinha dono, descobrira da pior forma.

Apenas viu o sol sumir aos poucos e uma grande sombra se formar ao seu redor, quando entendeu qual era sua forma, não soube o que fazer primeiro. Decidiu olhar para trás e encontrou um enorme dragão a encarando com olhos grandes e ferozes.

Pensou que não ia sair viva dali enquanto erguia ambas as mãos em sinal de paz, o animal pareceu entender e, com isso, estranhar. A bruxa fez uma reverência e então começou a conversar, procurando sempre soar amigável e carinhosa. O animal poderia não entender suas palavras, mas o tom sempre estaria atento. O dragão parecia velho, talvez por isso tinha um pouco mais de paciência.

No fim do dia tinha sido adotada pelo dragão, e tudo o que conseguiu fazer foi rir da sua grande sorte.

Na semana seguinte começou a real luta. Criando magias para fazer a pequena loucura de mover seu velho chalé de pesquisa, que ficava na floresta perto da casa de seus pais, para o campo do dragão. E conseguiu, com muito esforço. Ficou terrivelmente cansada no final mas, por fim, seu chalé estava sobre as rochas da gruta onde o dragão habitava, isso sob o consentimento do animal.

Depois disso, voltou uma noite para sua casa. Nada saíra do lugar. As janelas continuavam quebradas, a sala continuava com metade dos móveis no chão e o sangue ainda manchava alguns tapetes. Não aguentou ficar mais do que alguns segundos ali. Apenas pegou a tapeçaria que sua mãe bordara e saiu sem olhar para trás. Lágrimas forçando passagem pelos olhos mas mantendo-se firme enquanto aparatava para seu novo lar.

Provavelmente, o único problema era Warlock que não gostara ter que dividir terreno com o dragão. Mas, querendo ou não, o dragão que deixou eles dividirem. E nada melhor do que ter um dragão por perto. Mas, pelo o que vira, o animal não queria ser incomodado. Não fazia barulho, não os incomodava. Saía as vezes, voltava e dormia. Era só. Nem era tão horrível.

Só depois de ter tudo ali que começou a aumentar o chalé, adicionando mais um cômodo no térreo e uma varanda com vista para o lago. Montou um estábulo para seu cavalo e preparou uma pequena horta ao lado da casa mas nem sabia o que plantar ali. Acabou plantando lírios, mesmo que sentisse que devia tentar algum tipo de comida. De qualquer forma, lírios eram lindos.

Um dia antes de se anunciar para o Conselho, montou as proteções sobre seu novo ninho. E não parou até que o dragão se incomodasse e saísse para olhar o que estava acontecendo e se surpreendendo por não ver a bagunça sobre sua gruta. Depois que colocou o dragão sob o encantamento, o animal bufou e voltou para dentro da gruta, como se realmente estivesse irritado com a pegadinha.

***

Ela devia ter de quatro a cinco metros de asa. Era um bicho enorme e pesado. Podia carregar um homem, com certeza. Talvez até dois! Mas todo o Conselho não pareceu pensar nisso, todos estavam surpresos demais. Encantados demais.

E isso só melhorou quando o grande pássaro desceu mais alguns metros e uma magia dourada preencheu sua forma até que caísse no chão, perfeitamente em pé e equilibrada, uma pessoa com uma longa capa de penas douradas. Quando a magia dourada se desfez a pessoa afastou o capuz da capa e olhou no fundo dos olhos de Coven enquanto várias exclamações de surpresa tomavam o salão.

“Me desculpe pelo vitral.” Disse a moça enquanto erguia uma mão e, com um gesto simples, todos os vidros subiam de novo e se juntavam na janela perfeitamente como antes. “Boa tarde.”

O silêncio se prolongou por um longo tempo, todos os homens encarando a moça no meio do salão com olhos arregalados. Até mesmo Amis. Com isso, Salazar achou melhor arregalar os olhos também antes que suspeitassem dele.

“Até onde eu sei, o Conselho é extremamente ocupado e não pode atender qualquer um, sugiro que andemos mais rápido com o meu caso.” Pediu a moça, piscando duas vezes e olhando em volta, vendo os homens se ajeitarem nos lugares de novo, olhando para baixo ou para os lados, procurando não fazer contato visual.

“Não é permitido a entrada de mulheres no Conselho.” Disse Coven, arqueando uma sobrancelha.

“Eu sei, mas acho interessante abrir uma exceção para o meu caso já que não tenho ninguém que me represente.”

Amis deu um pulo na cadeira e abriu os lábios, mas não deixou qualquer som sair já que Coven o olhou com aquele olhar de quem não queria mais ouvir a voz dele.

“Na realidade, o seu caso está sendo discutido faz um tempo. Sua guarda deveria ser dada a Amis Ravenclaw, seu tio.” Disse o velho, levantando-se da cadeira e apoiando os dois braços na mesa enquanto encarava melhor a jovem moça.

“Eu quero discutir o meu caso, se isso não for possível, eu sumo da mesma forma que eu apareci agora, só que não volto mais.”

Salazar não conseguiu conter o sorriso de lado ao ouvir aquilo. Uma ameaça branca, era bem bonito até. Não era algo forte e rude, mas era de deixar no ar algo simples para eles: Aceitem as condições ou percam aquela águia linda de quase 4 metros de asas para sempre.

“Se apresente, senhorita.” Disse Coven por fim, com uma inspiração pesada enquanto se sentava.

“Rowena Ravenclaw.”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Não me matem. Não sei por qual razão vocês me matariam aqui, vejo várias mas enfim.
Eu não sei o que explicar... (?)
Então eu respondo as dúvidas que surgirem para não ficar falando blás aqui desnecessários... É só mandar um review (:
Espero que tenham gostado e não queiram me matar (:
Até o próximo cap o/



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Lá e Cá" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.