Becky e Rick estavam num beco sentados, enxugando as lágrimas um do outro enquanto Carol estava em posição de ataque. A qualquer momento os zumbis poderiam vir e atacá-los, por sorte quando Carol avistou um lá na árvore, já saíram correndo. Aquela não foi a melhor saída deles, mas Carol deixou o anel dela para que Lilly pudesse ver que eles estavam bem, que correram para sobreviver, e não que viraram comidas pros mortos-vivos.
Será que minha irmã está bem? Será que fiz a escolha certa ao deixar todos eles lá? Agora eles são minha família, e família não se abandona, pensou Carol. O pensamento fez com o que ela derramasse uma lágrima, e ela acabou cedendo ao choro que vinha engolindo desde que o apocalipse começara.
Becky estava abraçada com o menino e viu que Carol estava chorando, ela sentiu uma pontada de culpa, pois a ideia de sair daquele lugar era dela.
– Olha pra mim Carol.
Carol virou, e Becky pode ver as olheiras que arruinavam a aparência angelical de sua amiga. Percebeu também que pela primeira vez estava vendo a verdadeira Lindsay, não aquela que se entupia de maquiagem e hidratava o cabelo de 7 em 7 dias, e isso fez com que ela ficasse orgulhosa.
– Por que você está chorando?
– Por nada. Estou apenas na guarda.
– Claro, até por que ficar na guarda é muito triste. Olhe pra mim, estou comovida! - Becky falou em tom sarcástico, e viu que Carol tinha ficado ainda mais brava. - Me desculpe. Quer conversar sobre o que está te incomodando?
Carol estufou o peito e soltou todo o ar, antes de falar ela olhou pro alto, e finalmente Becky pôde ver o que ela sentia: medo, frustração, insegurança.
– Quer saber o que realmente está me incomodando? É esse saco de apocalipse! Quando eu finalmente achei que estava no caminho certo, começando a estudar o que eu mais admiro desse mundo, tudo vira de cabeça pra baixo. E por que nós temos que salvar todos? Por que eu não poderia virar zumbi?
Becky tampou as orelhas de Rick, que estava dormindo.
– Você acha que Lilly gostaria de que você falasse assim da sua vida? Você tem noção do que está falando?
– Totalmente. - Carol apertou os olhos, como se estivesse em um desafio. E quem sabe ela estivesse mesmo? Ela estava sendo desafiada por sobrevivência, quem não conseguir morrer até o final, vence. E esse não é um jogo que qualquer um gostaria de entrar, a maioria falaria 'não', mas por alguma razão, elas abraçaram o destino e disseram sim, aceitaram o fato de tomar conta dos outros. Ser responsável por pessoas que você não conhece é um grande desafio.
– Mas você sabe que se não fosse pelo apocalipse, você jamais conheceria Sam né? - Becky falou aquilo sentindo como se milhões de alfinetes estivessem entrando em seu estômago.
– Eu sei. Mas quem me garante que ele é o cara certo pra mim? - Houve um grande silêncio, a tensão dominava aquele ambiente, até que Carol decidiu continuar aquela conversa. - Vai dormir, está quase anoitecendo. Eu fico na guarda.
– Não. Durma você, faz dias que você não dorme, daqui a pouco você vai pedir cérebros no café da manhã... Pode ir sossegada. Eu coloco a barra de ferro, assim nenhum zumbi vai chegar até nós. - Becky sorriu para disfarçar o nervosismo que emitia na voz.
– Você promete que qualquer barulho você me acorda?
– Claro.
Carol deitou ao lado de Rick, e Becky usou todas duas forças para empurrar aquela barra de ferro. Antes de finalmente cair no sono, Carol se perguntou de como sua irmã estaria, se estava bem, ou se estava... Ela não conseguiu terminar o pensamento, aquilo doía demais. Então, ela desviou todos esses pensamentos e começou a sentir saudades das orquestras que costumava ir, aquela lembrança fez com o que ela caísse em paz profunda, e finalmente adormecesse.