É Megan! escrita por HuannaSmith


Capítulo 55
A Verdade


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora meus amores, aqui está mais um capítulo, boa leitura!



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Davi

O terno preso no cabide estava no trinco da porta, eu sentado no meu sofá olhando pra ele e ele pra mim, foi muito legal da parte da minha tia alugá-lo pra mim, preciso devolver.

Levantei e tirei o cabide da maçaneta, fui até a sala, onde minha tia está dobrando e passando algumas roupas que acabaram de sair da máquina de lavar.

– Tia - chamei a atenção dela - aqui tá o terno que vo...

– Não vai com esse terno pra festinha da Marra, né? Essa gente rica considera que repetir roupa é quase um pecado, mas não se preocupe, eu tenho a coisa certa

– Tia, é que eu...

Tia Rita tirou de dentro de uma caixa um terno preto, um dos mais lindos que já vi na minha vida, fez eu parar de falar assim que bati os olhos nele, deve ter custado uma nota! Como minha tia conseguiu?

– Era do seu pai, Davi - ela disse com um sorriso em quanto acariciava o terno - guardei até que você estivesse grande o suficiente para usá-lo

– Tia... isso é incrível

Ela me entregou o terno, o qual segurei com todo o cuidado, meu coração acelerou, meu pai já usou esse terno e ele me faz tanta falta.

– Esse é o melhor presente que eu já ganhei na minha vida - meus olhos ficaram lacrimejaram

– Ele com certeza iria querer que ficasse com você, é melhor do que nessa caixa juntando poeira, quero que use hoje..

– Obrigado pelo terno tia, obrigado mesmo, mas eu acho que não vou - a interrompi

– Como não vai?! - ela perguntou surpresa

– Depois de tudo o que aconteceu... estou sem ânimo de sair de casa

– Mas a Megan pode estar lá Davi, você não acha que é uma boa oportunidade de tentar contar a verdade á ela?

Como em um estalar de dedos, uma cena simplesmente brilhou na minha cabeça, se passou como um filme, minha tia acertou em cheio dessa vez, eu vou a essa festa e, vou provar a Megan a verdade.

– Você é um gênio! - a beijei no rosto, fazendo ela soltar uma blusa que segurava - e obrigado pelo terno! - disse saindo da sala e já quase chegando no meu quarto

~•~

Megan

O vestido estava na minha frente, mas um peso enorme se pendurava nas minhas costas, só em pensar onde meu pai pode estar agora, se a polícia conseguir encontra-lo, será o seu fim.

Será que eu devo mesmo ir pra essa festa? Me divertir enquanto meu pai está sendo procurado pelo FBI? Acho que ir para a festa até que posso, mas me divertir já é um pedido grande demais da parte da minha mãe.

E tem mais, não é só isso que faz com que eu não queira ir, tem Davi também, com certeza ele vai estar lá querendo se aproximar de mim a qualquer custo e eu tendo que disfarçar na frente de todo mundo, mas se ele apelar vai levar outro tapa!

Essa história toda de fraude e refugiamento na qual meu pai está envolvido, deixou minha mãe em verdadeiras ruínas, eles podem até ter se separado antes disso, mas ela não consegue me enganar, sei que ainda o ama profundamente e, está sofrendo muito com tudo isso.

Se vou para essa festa é por causa dela, para vê-la um pouco mais feliz, talvez até um sorriso, naquela cara de tristeza que me corrói por dentro.

Peguei o vestido que estava sobre a cama, de cor vermelha com uma gola em "V", preta, levei-o até o espelho, acentuei no pescoço, ele caía muito bem, um espetáculo de vestido.

Com o frio da noite, não que a peça pedisse, peguei uma meia calça preta em uma das minhas gavetas, a vesti, ela ficava levemente transparente, coloquei meus brincos e tirei meu colar de dentro da roupa, o coloquei a mostra, sua corrente descendo do meu pescoço, redondo na ponta e com minhas inicias, "MG", o salto escolhido era da cor preta também, talvez essa seja minha forma de mostrar meu desespero, mas na realidade não, é que meu senso de moda nunca morre.

Me olhei no espelho, o cabelo dourado descia até minha cintura, com as pontas levemente cacheadas e onduladas, a franja penteada para trás da orelha e uma maquiagem leve, mas com um batom vermelho marcante.

– Você está linda - minha mãe disse da porta

– Não sabia que estava aí

– Cheguei a pouco tempo - ela disse entrando, colocando a mão em meus ombros e nos colocando diante do espelho

– Que fique bem claro que estou indo porque você me pediu, mom

– Não importa o motivo, quero que você se divirta como nunca se divertiu em nenhuma outra festa

– Isso vai ser um pouco difícil, em meio ao caos que a gente tá vivendo agora - baixei a cabeça

Com a ponta do dedo indicar sob meu queixo, minha mãe levantou meu rosto, fazendo com que eu olhasse meu reflexo no espelho.

– Se você quiser que seja, com todas as suas forças, será - ela disse com um sorriso no final

Já ouvi muitos "ditados" brasileiros e, até agora, o que realmente é a mais pura verdade, é que praga de mãe pega, mas acho que dessa vez não vai rolar, nem se eu usasse todas as forças do mundo, ainda assim, não conseguiria deixar essa situação um pouco melhor.

Meu MarraBook começou a tocar, ele estava em cima da minha cama, corri até ele.

– É uma chamada de video - disse para mom que estava logo atrás de mim

Cliquei em "aceitar", era Baylee, a chamada logo iniciou, já tem dois dias desde que conversamos da última vez, quero saber como anda a família Blois Marra!

– Hi Baylee! - eu disse e mom acenou atrás de mim

– Hi Meg! Como andam as coisas?! Tentei falar com vocês o dia todo, a notícia já rodou o mundo, o tio Jonas é um dos mais procurados pelo FBI! - ela disse angustiada

– A história é longa... e pra te dizer a verdade, eu nem sei contar ela por completo - meu coração entristeceu de repente

– It's ok Meg, sabe que pode contar comigo sempre, right? Nós somos família, tio Jonas é minha família também

– Yeah, I Know - minha parte americana transcende quando estou falando com a Baylee - como ela está?

Baylee desembalou a coisinha que estava em seu colo, coloco-a em uma posição que eu pudesse vê-la, a pequena abriu os olhos para tela, grandes e caramelo claros, exatamente como os de Danilo.

– Ela está tão linda Bay! - exclamei - não vejo a hora de apertar essa linda da tia - Baylee riu

– O pediatra disse que três meses é o tempo de espera ideal pra esse tipo de viagem, foi bom esperar, ela tá mais durinha, menos chorona... - Baylee riu - chegaremos aí pela manhã

– Estarei esperando - disse com um um sorriso enquanto observava a pequena Maria Clara

Ter contato com o crescimento da pequena Maria, mesmo que por chamadas de vídeo e não pessoalmente, me fez perceber quanto tempo eu e Davi terminamos.

– Como anda o Davi? - Baylee perguntou, mom havia saído para que conversássemos mais a vontade

– Desde que terminados que não o vejo, raramente quando vou pra Plugar, dar minhas aulas de inglês, ele está por lá - expliquei - tirando o dia terrível que foi hoje e levando a idade da Maria em conta, já faz um ano e três meses que eu praticamente não falo com Davi Reis

– Uou... já passou tudo isso? - ela fez uma pergunta retórica - e como você está?

– I'm fine - disse quase como em um suspiro - as coisas estão indo bem

– E o Michel da Cursed Night? Você me falou dele na semana passada, eu e a Maria Clara ficamos curiosas para saber o que aconteceu quando vocês saíram juntos da boate, afinal, rolou ou não?

– Ele queria, eu também mas... não sei explicar, tive uma espécie de bloqueio na hora

– Bloqueio sexual? WHO YOU ARE?! E o que fez com minha prima?! - ela disse perplexa

– Você está na frente de uma criança, olha a boca!

– Ela não entende, não de preocupe, apenas continue

– Até que rolou Baylee, mas eu não me senti confortável e fui embora, pronto, fim da história, foi só isso, não é a mesma coisa, entende?

– Sim, entendo perfeitamente, não é a mesma coisa que era com o Davi...

– Baylee! - exclamei

– Agora eu tenho que ir, a Maria precisa mamar - a pequena já estava começando a reclamar - tchau, beijinhos e se divirta na festa! - Baylee disse levantado enquanto segurava a Maria e desligava a chamada de video

– Tchau...

Senti um pouco de ciúmes da vida da Baylee no momento, não é inveja, pois este sentimento nunca teremos uma da outra, é só que... a vida dela está tão estável, está com Danilo, os dois casarão só civil mas estão juntos, juntos cuidando da filha deles, que é a coisa mais fofa e linda desse mundo, e cuidando da vida deles também!

Eu continuo apenas dando as aulas na Plugar, o que eu amo, mas... não que Davi tenha feito algo de produtivo com a vida dele além de tentar, a todo custo, se aproximar de mim, e não que só pense nisso por causa dele também, eu penso por mim! O que eu estou fazendo da minha vida?!

Se bem que com tudo isso que aconteceu com meu pai e a Marra, parece que vai ter muita coisa para eu fazer agora...

~•~

Davi

– Mais em cima...

Puxei a parte de trás da gravata azul escuro, fazendo o nó subir até o pescoço.

– Mais em baixo...

Desfiz o processo, abaixando mais o nó e deixando o colarinho um pouco frouxo.

– Vai ser meio termo! - decidi

Coloquei a gravata nem no estilo sufocado e nem no estilo desleixado, foi mais ao estilo indeciso.

– Ainda arrumando essa gravata, Davi? - tia Rita entrou no meu quarto - vai perder a hora

– A Pamela deixou o carro comigo, não vou precisar ir de ônibus

Tia Rita me puxou e colocou a gravata no lugar certo, ao estilo mauricinho, mas desci um pouquinho mais, esse não faz nem de longe o meu estilo.

– Não esqueça de se divertir

– Pode deixar - afirmei com um sorriso

Nos despedimos e eu fui para o carro, cujo qual se destacava parado em uma rua da gambiarra, eu só espero que tudo o que preparei seja ao menos visto por ela.

~~~~

Na minha opinião, tem mais fotógrafos agora do que tinha de manhã, e mais gente também, tantos gênios da programação! Se não fossem os fãs da Megan gritando o meu nome, teria ficado de boca aberta olhando para figuras como Santiago Gonzalez e outros.

Fotos não são o meu forte, procurei a entrada mais próxima para a "Marra noturna", tudo estava muito bem arrumado por dentro, parecia uma daquelas boates que a Megan frequenta.

Uma pista de dança, andar de cima, fumaça, luzes, um bar de coquetéis e bebidas alcoólicas... enfim, tudo o que tem direito, me sentei em uma das cadeiras em frente ao bar, disse para o barman que não queria nada e ocupei o tempo em observar as pessoas se entrelaçarem na pista de dança ou se agarrarem nas mesas ou pelos cantos das paredes.

"Se divirta", foi o que minha tia pediu e eu afirmei, mas até agora tá mais pra ficar sentado olhando os outros se divertirem, se ao menos a Megan estivessem aqui... assobiei para o barman, ele veio até mim novamente.

– Você sabe se a Megan Lily já chegou? - perguntei em um tom levemente alto por conta da música

– A filha do Jonas Marra? Não, ninguém da família Marra chegou garoto

– Será que ele vem?

Quando olhei aquele que me chamou de "garoto" já havia saído para servir outras pessoas, nem sequer ouviu minha pergunta, não era para ele mesmo.

Vou esperar um pouco mais, ela tem que vir, a Pamela me prometeu que ela viria! Se não vier vou buscá-la em casa, mas tenho que vê-la esta noite.

Foi aí que eu vi, mesmo imerso em meus pensamentos, Megan apareceu na entrada principal, todos os olhares se voltaram para ela - inclusive o meu - com os cabelos dourados e brilhantes, um vestido vermelho e os lábios da mesma cor, ela sorriu lindamente para todos, mas na minha cabeça, o sorriso era só pra mim.

Foi conversar com alguns amigos, uns 6 ou 7 em uma rodinha, duvido que ela tenha notado minha presença, mais o que eu queria? Se estou escondido atrás de todos aqui no bar? Ela soltava um sorriso ou outro enquanto conversava, mas ela não me engana, o que aconteceu ainda mexe muito com ela.

Eu podia simplesmente invadir a rodinha, arrastá-la de lá e levá-la para ... mas cadê a coragem? "Um homem precisa de um pouco de álcool para aflorar as garras, meu rapaz", o Cláudio dono do bar da esquina da minha rua diz isso sempre - para conseguir clientes, mas diz - chamei o barman novamente, ele já estava ficando irritado.

– Me dê uma dose dupla! - disse antes que ele me batesse

O pequeno copo estava na minha frente sem demora, fechei os olhos e joguei tudo dentro da garganta, foi como se eu estivesse engolindo fogo, queimou tudo por dentro, alguns companheiros ao meu lado levantaram seus copos em minha direção, gritaram alguma coisa juntos, estavam me saudando, dei um sorriso meio rasgado, a garganta ainda ardida.

Só um é o suficiente, preciso saber o que estou fazendo se quero que isso dê certo, procurei a Megan com os olhos, ela já não estava mais com os amigos, bem, estava rodeada de outros amigos, mas dessa vez na pista de dança, na qual ela dançava lindamente, os homens a sua volta babavam por ela, é melhor eu ir logo, antes que algum desses idiotas resolva dançar com ela.

Megan dançava como em uma das primeiras vezes que a vi, na Cursed Night com o Danilo, mas diferente, não sei explicar, era mais intenso, como se ela depositasse alguma coisa na dança, não tinha como não olhar pra ela, é como ignorar um astro a sua frente, é simplesmente impossível!

Já era a quinta música que ela dançava, e só aqui parado pensando em como seria bom chamá-la para dançar, o barman acabou percebendo a minha estranha fascinação por Megan Lily, e me ofereceu outra dose.

– Pra criar coragem - ele colocou o pequeno copo a minha frente com um sorriso

Joguei tudo na garganta, estava esperando a sensação de queimação novamente, mas ela não veio, a bebida no copo era água, olhei para o barman e ele estava rindo enquanto limpava uma taça de vidro.

Aquilo soou como um "nem com mil doses você consegue", o que é uma afronta, mas não o culpo, estou aqui sentado desde que a festa começou, nem sequer levantei, fiquei só olhando ela dançar sozinha e com outros, mas acho que a água acabou fazendo efeito.

Respirei fundo e bati com a palma da mão no meu joelho, me auto dando um voto de confiança, um "vai lá! Você consegue", respirei fundo e levantei, fui na direção dela.

Algumas pessoas me reconheceram do concurso, acenaram para mim e eu apenas acenei de volta, não podia parar para conversar.

A faixa foi trocada, não consegui identificar que música era, mas pelo o que a Megan falava horas e horas para mim, quem estava cantando era Sia, mas eu não tenho absoluta certeza, estava mais concentrado em outra coisa.

Entrei na pista de dança, me esguiei entre os que dançavam, até conseguir alcançar o meio da pista, onde ela estava dançando sozinha, esperei um momento ápice da música.

Ela estava tão linda, o seu ritmo era perfeitamente sincronizado com a música, e o ápice finalmente veio, esvaziei completamente minha mente, invadi o espaço dela, ficamos frente a frente, ela me olhava meio assustada, coloquei a mão nas costas dela e a puxei para perto de mim, nossos copos sentiam um do outro, o olhar dela paralisou no meu.

– O que você tá fazendo?! - ela perguntou, todos olharam para a cena

– Me concede uma dança? Megan Lily?

Ela não respondeu, mas pude ver pelos olhos dela que queria dizer "sim", a música mudou bem na hora que estávamos prestes a dançar juntos, era mais um sinal para que eu fizesse aquilo.

Ainda era Sia quem cantava, mas agora sei perfeitamente o nome da música, Fire Meet Gasoline, uma das favoritas da Megan, ela sorriu fracamente quando escutou.

Minha mão foi descendo lentamente até sua cintura, acompanhado o movimento das costas dela, senti suas unhas em minha nuca, era como em São Francisco outra vez, a fera envolvendo sua presa, mas agora nós dois estávamos envolvidos, um no outro.

Ela me virou em um estalar de dedos, a música nos acompanhou, ela estava atrás de mim, descendo as mãos levemente, desde os meus ombros até meu tornozelo, me senti completamente envolvido por ela, aquela dança havia acabado de começar.

A coloquei na minha frente, suas costas em meu peito, passei a mão sobre seu rosto, ela respirava ofegante, desci a mão pelo seu pescoço, segui para o busto, passando pelo seio esquerdo, ela se virou rapidamente, colocando as mãos em meus ombros e me empurrando para trás com um leve sorriso entre os dentes.

A puxei novamente pelo braço, ela esbarrou no meu peito, a olhei com um sorriso, sua respiração ainda era ofegante, coloquei minha mão em suas costas, na região lombar, fui descendo meu corpo sobre o dela lentamente, fazendo com que ela segurasse meu ombro com as pontas dos dedos de uma mão, com medo de cair.

Eu a olhava fixamente nos olhos, tão intensamente que podia ver meu reflexo nos mesmos, ela colocou a mão levemente sobre o meu rosto, me encarava da mesma forma, nossas respirações atravessam uma a do outro, nada podia estragar aquele momento, os lábios dela estavam tão próximos, como a muito tempo não acontecia.

Todos a nossa volta pararam para nos aplaudir, só aí me toquei que a música havia acabado e que tinhamos dançado por longos quatro minutos, uma dança intensa, sexy e ofegante, meu corpo ainda estava sobre o dela, nossas respirações ainda se entrelaçavam e minha mão ainda estava segurando a lombar dela, os aplausos e assobios não destruíram o momento, mas o telefone dela sim.

O MarraPhone começou a tocar e eu senti ele vibrar em meu peito, ela se desvencilhou dos meus braços e tirou o aparelho celular de dentro do sutiã, ela guarda o telefone aí?! Atendeu rapidamente, sorri para as pessoas que voltaram a dançar gradativamente.

Megan colocou o dedo sobre o ouvido que estava livre, afim de escutar alguma coisa no meio daquela barulheira, saiu da pista e foi até um lugar mais calmo, eu tive que acompanhá-la, eu escutei o nome "Rita".

– Aconteceu alguma coisa, Megan? - repousei minha mão no ombro dela

– Samuel - ela respondeu enquanto desligava a ligação - temos que ir para a Plugar agora

– Claro! A sua mãe deixou o carro comigo, vamos

– Nós vamos no meu

O que eu podia dizer? No quesito dirigir eu não sou um gênio como na área de computação, comparada a mim, a Megan é uma pilota sensacional, no quesito estabilidade, direção, frenagem e... velocidade!

– Mega-a-a-a-n - gaguejei com os solavancos do carro, enquanto me segurava no sinto de segurança - você não acha que está indo muito rápido?

– Não, Rita disse que Samuel tá doente - ela respondeu virando bruscamente para a esquerda, eu fui literalmente junto com o carro, bati a cabeça no vidro

– Eu sei, mas tem a diretora do orfanato, não é ela que cuida de coisas assim?

Megan me respondeu com mais uma curva em alta velocidade para a esquerda, naquele momento eu já estava orando pela minha vida, clamando a Deus que chegássemos logo, ele atendeu ao meu pedido.

Em poucos minutos nós já estávamos em frente a Plugar, Megan parou bruscamente o carro e desceu quase correndo.

– Megan!

Gritei, mas ela não voltou, tive eu mesmo que desligar o carro e ir ao encontro dela dentro da Plugar, eu sei que a Megan gosta do Samuel, mas precisava realmente de tudo isso? As poucas luzes acessas faziam a Plugar se destacar no meio da noite.

Entrei e pude ver minha Tia com o menino no colo, o coitado estava com uma cara de doente de dar dó.

– Ainda bem que vocês vieram - exclamou minha tia - eu tenho que resolver algumas coisas em casa e fiquei com pena de deixar ele sozinho no orfanato

– Sozinho? - perguntei

– A diretora do orfanato disse que tem muitas crianças para cuidar e que não tempo pra ficar com ele

– Essa mulher é um mostro - Megan pegou Samuel no colo - vem cá querido

O pequeno de cara apática repousou o rosto sobre o ombro da Megan, enquanto ela passava a mão em suas costas.

– Se a febre dele aumentar você dá esse remédio - minha tia colocou um remédio de caixa azul em cima da mesa - eu tenho que ir agora, mais uma vez muito obrigada, Megan

– Obrigada você por me ligar avisando

As duas trocaram sorrisos e minha tia foi para casa, antes me entregou as chaves para fecharmos a Plugar antes de irmos embora, Megan sentou no sofá colorido com o pequeno ainda no colo, ele reclamou com uma pequena tosse.

– Você pode ir se quiser - Megan disse em um tom baixo

O "se quiser" significa que ela quer que eu fique.

– Se você está me sugerindo que eu vá embora e deixei você sozinha aqui com ele, eu dispenso - sentei ao lado dela, ela me olhou seriamente - a gente deixou o carro da sua mãe lá na festa e... eu gosto do Samuca - disse com um sorriso

– Samuca?

– É o apelido de Samuel, não sabia?

Megan optou por não me responder, me ignorou completamente e começou a passar as unhas pelo cabelo castanho do menino que eu apelidei docemente como Samuca, tenho que admitir, tem alguma coisa diferente nesse garoto.

Tomei o tempo em observar os dois, eles tinham uma ligação tão forte que não sei nem sequer explicar, é como se pertencessem um ao outro, uma coisa familiar, e naquele momento eu percebi que ele já era dela, só ninguém tinha percebido ainda.

~•~

Paris - França, US

Cortinas brancas balançavam com o vento suave, as quais acobertavam um lugar aconchegante, com as paredes pintadas de um tom cinza claro, com pequenas corujas coloridas voando e outras pousando em galhos de árvores, uma pintura incrivelmente linda e delicada.

Com os cabelos negros e lisos, Baylee entrou naquele ambiente segurando, com muita cautela, algo nos braços, enrolado em um pano branco com pequenos ursinhos coloridos, o qual ela acariciava com a ponta do dedo, enquanto sorria para o mesmo.

Danilo entrou no quarto dando leve batidas antes, para avisar quem alí estivesse, que ele estava entrando, se não fosse pelo beijo que ele deu em Baylee, este ainda estaria irreconhecível, parecia ter crescido bastante, estava um tanto mais musculoso, o cabelo mais despojado, ai estilo francês mesmo, e uma barba rala cobria as laterais do rosto e da boca, estava, como dizem, de tirar o fôlego!

Danilo entrou no quarto, beijou a mulher e depois depositou outro beijo cauteloso sobre a testa do que agora, um pouco mais desenrolado, parecia ser Maria Clara, a filha de três meses do casal, cujo nome foi escolhido em homenagem a própria história deles, pois foi no parque M. Clara Sentiy, que eles deram o primeiro beijo.

– As malas já estão lá embaixo - Danilo disse para a esposa

– Ela já mamou e provavelmente vai dormir daqui até lá, deixe-me apenas vesti-la - Baylee disse enquanto Maria abria a boca em um bocejo sonolento - o vestido que a Megan deu á ela, está na primeira gaveta

Danilo pegou o pequeno vestido em um grande guarda-roupa, para um bebê de três meses, e os dois foram juntos vestindo a pequena Maria em una espécie de trocador, com muita cautela para não acordarem a pequena, juntos, eles já eram uma família.

~•~

Megan

– Davi - o cutuquei, ele estava literalmente dormindo na poltrona - Davi!

– Ahm? O quê? - ele disse em uma língua de difícil compreensão

– A febre do Samuel aumentou, o remédio não fez efeito, precisamos levá-lo ao hospital, now!

– Certo - ele levantou em um pulo - ele não tem plano de saúde, os hospitais públicos mais próximos ficam...

– Nós vamos para o hospital Copa D´Or - disse lhe entregando Samuel para que eu pudesse pegar as chaves do carro

– Megan, esse hospital custa o olho da cara! E ele nem tem plano de saúde! - Davi disse

– Não vou levá-lo a um hospital público, ele precisa de atendimento rápido e dinheiro não é problema

Parti em direção ao carro, fazendo um gesto com a mão para que Davi trouxesse Samuel.

– É claro que não...

Eu fui dirigindo até o hospital, que fica em Copacabana, um pouco longe da Plugar mas de um atendimento excelente, a distância acaba compensando.

Davi ficou o tempo todo no banco de trás com o Samuel no colo, o coitadinho estava com muita febre, mau conseguia abrir os olhinhos, isso me dava um aperto no coração.

Quando virão que se tratava de Megan Lily Parker Marra, não tivemos nem sequer de pegar uma ficha, Samuel foi logo atendido, isso é uma das vantagens de ter meus sobrenomes.

A emergência do hospital estava ligeiramente vazia, não haviam muitas crianças.

– Eu detesto hospitais

– Sei disso - Davi disse com um meio sorriso - logo, logo a gente sai daqui - o sorriso de bobo permaneceu

Graças ao mistério, Samuel não tinha nada grave, ele foi medicado e a febre finalmente baixou, mas não podíamos voltar para casa com ele, Samuel tinha que passar a noite em observação, caso ele apresentasse mais alguma coisa, outra que se descobrissem que não somos responsáveis legais por ele, iria dar o maior problema.

Deixei Samuel descansando na cama, ele dormia como um verdadeiro anjinho, fui até a sala de espera, onde Davi, sentado em um pequeno sofá azul, observava impacientemente as crianças chorarem na sala de medicação, sentei em uma cadeira de madeira antiga, próxima á ele.

– Ele vai ficar bem, já avisei a Rita e ela disse que tá vindo pra cá - falei

– Isso é uma boa notícia, que ele vai ficar bom e que minha tia tá vindo

– Pode ir pra casa se quiser

– Não quero ir, eu gosto do Samuel também, não tenho nada pra fazer lá mesmo... - ele baixou a cabeça

– Obrigada Davi, por ter me ajudado - sorri levemente

– Eu fiz por ele, mas por você também, eu gosto dos dois - ele me olhava profundamente

Virei o rosto para o corredor pouco movimentado, não queria ficar olhando pra ele, tudo o que aconteceu não pode ser simplesmente esquecido como ele quer, o que aconteceu é um fato e, os fatos não podem ser ignorados.

Rita apareceu no corredor entre os enfermeiros e crianças com catarro no nariz, o que pra mim foi um alívio.

– Megan! - ela disse me dando um abraço - como o Samuca está?

– Ele já foi medicado, a febre baixou, mas vai ter que passar a noite aqui, os médicos querem observar nessas primeiras horas

– Ah que bom, isso é um alívio - ela disse se sentando na outra cadeira - mas menina, esse hospital custa muito caro, as crianças do orfanato não tem plano de saúde...

– Isso não é um problema, Rita - disse a interrompendo - a única coisa que me importa é que Samuel fique bem

– Muito obrigada Megan, muito obrigado mesmo, isso é um gesto muito lindo da sua parte

Respondi apenas com um sorriso.

Davi respirou fundo e levantou do sofá azul, no qual sentaram juntamente com ele, uma senhora de cabelos vermelhos com um menino de uns seis anos no colo, Davi foi até o corredor que agora estava sem movimento algum, fazendo um gesto para que eu fosse até ele.

– O que será que ele quer?

– Acho melhor você ir ver, eu fico aqui, pode ir - Rita disse com um sorriso

Segui Davi até o corredor, ele segurava o lábio inferior com a ponta dos dedos, nitidamente nervoso, parecia querer me contar algo muito sério, me concentrei na palavras dele.

– O real motivo de eu ter ido aquela festa, foi para que você pudesse ver uma coisa - ele iniciou o discurso

– Davi se foi pra isso que você me chamou aqui, eu acho melhor eu...

– Por favor me escuta - ele me interrompeu - eu só preciso que você veja, não te peço nada mais, se não gostar você vai embora e pronto

Não respondi nada, apenas o observava atentamente, permitindo que ele continuasse, até me convencer.

– Samuel tá melhor, vai passar a noite dormindo, deixa minha tia aqui com ele e vem comigo, é só uma hora, é tudo o que eu te peço

Pensar nas infinidades de coisas que Davi pode me "mostrar", me faz pensar o que é tão importante pra ele que eu veja, e na Plugar? Estávamos lá a algumas horas atrás, não vi nada que me parecesse diferente ou chamasse minha atenção, mas a curiosidade insaciável que eu tenho acabou falando mais alto.

– Por favor - ele pediu mais uma vez

– Você tem uma hora - eu disse por fim

~•~

Chegamos na Plugar por volta de meia noite, as ruas escuras e solitárias, apenas o bar da esquina funcionava, este nunca, em hipótese alguma, está fechado.

Eu ainda não fazia ideia do que era tão importante para Davi, tudo estava como sempre, apesar de eu jurar ter visto algumas luzes no campinho, mas ele disse serem só luzes.

Davi tirou a chave do bolço, colocou na fechadura da grande porta de madeira, girou duas vezes e esta já estava aberta, empurrou-a e fez um sinal para que eu entrasse primeiro, revirei os olhos e o fiz.

Se eu não conhecesse Davi como conheço, jamais teria aceitado aquele convite, uma hora dessas eu poderia estar morta e estrupada, mas se tratando de Davi, é mais fácil ele querer me mostrar um novo protótipo ou coisa do tipo, mas eu estava curiosa.

– Pronto Davi, eu garanto que aqui ninguém vai ouvir, pode me dizer o que tinha de tão importante pra me dizer

– Mas não é pra ouvir, é pra ver

Lá vem ele de novo...

– So show me

– Sabe a área de computadores lá no fundo? Onde as crianças tem aulas especializadas? - fiz que "sim" com a cabeça - bem, é lá que tá o que eu quero que veja

O corredor que dava acesso à área estava completamente escuro, mas alguma luz estava acesa na mesma, respirei fundo e segui até lá, pra acabar de vez com isso, Davi veio logo atrás de mim.

Coloquei a mão na maçaneta, que estava fria, olhei de relance para ele, que estava com o sorriso de bobo de sempre no rosto, empurrei a porta e entrei, ele quase me derrubou para entrar no mesmo segundo, parecia mais ansioso que eu mesma.

Davi desligou a luz da sala e seguiu para um computador que estava separado dos outros, o que me assustou a princípio, mas logo eu entendi o porque de tudo aquilo, e o motivo... era lindo.

Davi digitou algumas coisas no teclado e um pequeno projetor, do meu lado direito, acendeu, iluminando parcialmente a sala, e uma gravação começou a se passar.

– Eu conheço esse lugar... - disse, Davi estava sério

Era uma gravação antiga do refeitório da Marra Brasil, Davi entrava e pedia alguma coisa para Nacho, que saía imediatamente para atender ao seu pedido, ele sentou em uma das cadeiras enquanto esperava e, em poucos minutos, apareceu alguém que na época trabalhava conosco.

Manuela entrou no refeitório e pousou os olhos em Davi, o qual não á viu pois estava de costas para a mesma, a engenheira foi a até ele, colocando as mãos em seus olhos, fazendo o velho jogo do "quem sou eu?", foi quando Davi respondeu alguma coisa, que não pude escutar pois não havia áudio na gravação, e Manuela o virou no banco e o beijou fervorosamente, meu coração apertou só de ver, Davi a empurrou para trás e gritou alguma coisa, depois saiu do refeitório sem esperar o seu pedido, a gravação acabou.

– Davi... - disse em um tom baixo, mas ele apertou mais alguns botões e o projetor continuou seu trabalho, me interrompendo

Fotos começaram a ser passadas, acompanhadas por uma música, a qual reconheci imediatamente, era tipo... a nossa música! Davi e eu escutávamos todos os dias, Best Days do Graham Colton, as fotos pareciam dançar ao meu lado, ele com certeza havia modificado aquele projetor.

Meus olhos se encheram de lágrimas em quanto observava as fotos que dançavam diante dos meus olhos, Davi e eu no píer 36, abraçados com o pôr do sol atrás de nós, em outra já estávamos juntos com Baylee e seu antigo namorado em Chinatonw, e em outra logo adiante, que rodopiava lindamente, fui eu em mesma que a tirei, eu e Davi sorrindo, havíamos acabado de chegar ao nosso apartamento, estávamos tão felizes, nessa hora pude sentir uma lágrima escorrer sobre o meu rosto, era tudo tão nerd e tão... lindo!

As fotos continuaram a dançar, eu acabei me rendendo ao momento e mais lágrimas escorreram dos meus olhos, Davi e eu comendo açaí no carrinho do Caolho... brincando com o Samuel no campinho, essa em particular esmagou meu coração, era como um pequeno filme, um filme da nossa vida, de todo o tempo que passamos juntos, fotos de nós dois fazendo careta, a qual me fez rir e pude escutar o riso dele logo atrás de mim, ele... estava logo atrás de mim.

– Eu não tenho como te provar a verdade sobre as outras fotos, mas eu posso te garantir Megan - mais lágrimas caíram, eu já formava um rio inteiro - que eu nunca, nunca, seria capaz de te trair, sabe porque? - ele perguntou com os olhos vermelhos e um sorriso - por que eu te amo

Foi demais pra mim, aquilo era o que eu implorava que fosse verdade há muito tempo, e agora sei que é verdade! Coloquei minha mão dobre o ombro dele, a outra em sua nuca, puxei seu rosto de encontro ao meu e... o beijei, como nunca havia beijado antes, as fotos continuaram a passar, nós dois em frente ao projetor, elas dançavam sobre nossas roupas, a música embalava o momento, e o nosso beijo completava tudo aquilo.

Finalmente o soltei, para respirar um pouco, mas nossos rostos continuaram bem próximos um do outro, nossas respirações ofegantes se entrelaçavam, eu precisava dizer uma coisa á ele.

– Eu te amo, Davi

Ele abriu o sorriso mais lindo que eu já vi, e em meu reflexo nos olhos dele, pude ver que eu estava sorrindo também, um produto daquele momento que em meio a tantas pessoas, em todas as partes do mundo, nós estávamos vivendo.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, escutem Best Days do Graham Colton no Youtube! Assim vocês vão sentir mais ainda o momento Megavi do capítulo