Passado: Uma Caixinha de Surpresas escrita por Ankia


Capítulo 5
O Sequestro da Loirinha


Notas iniciais do capítulo

Trilha Sonora: Complicated - Avril Lavigne



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Tudo começou após a entrega da garota, recém-nascida, ao pai. Ele já tinha uma filha, Manu, na qual era filha de Bia, como ela. Sim, a deusa teve duas filhas com o mesmo mortal, mas não poderia mais visitá-lo por ordem de Zeus.

(...)

Charles Sardothien, um cara alto, barba por fazer, careca e extremamente musculoso, carregava a pequena criança enrolada em um manto vermelho pelo aeroporto. Muitos olhavam-o desconfiados, mas ele já se acostumara com isso. Era grande e chamava atenção por onde passava.

(...)

Mukilteo. Sim, já fazia algum tempo que não voltava para sua cidade natal.
Em um jipe verde-oliva, parou a frente de uma mansão de cor azul-bebê e voltou a caçula nos braços, enquanto caminhava até a porta de entrada. Abriu-a e deu de cara com um dos mordomos.

–Senhor! A que lhe devemos a visita?

–Tirei umas férias. Cadê a Manu?

–No quarto, estudando.

O pai acenou com a cabeça e subiu as escadas, seguindo para os dormitórios. Abriu a porta silenciosamente e logo viu a primogênita sentada à frente de uma escrivaninha, com um lápis na mão, escrevendo algo em um caderno.

–Hey, garotinha, olha quem voltou! -A garotinha virou a cabeça, em direção à voz. Seus cabelos escuros estavam presos em um rabo de cavalo mal-feito e ela trajava um vestidinho branco que lhe ia até os joelhos.

–Papai! -Quando percebeu o homem parado na porta, pulou da cadeira e correu até ele, abraçando seus joelhos.

–Tenho uma surpresa, já que seu aniversário foi ontem. Quer ver?

Abaixando-se devagar, sentou no piso gelado, ficando na altura da garotinha. A pequena de três anos fitou a loirinha recém-nascida, abrindo um sorriso inocente e com um brilho curioso nos olhos negros.

–Quem é?

–Sua irmãzinha. Seu nome é Maitê.

–May?

–É um nome complicado, eu sei, mas pode chamá-la assim se quiser. Agora é a mais velha e a mais responsável. Promete cuidar dela?

–Sim, prometo.

(...)

Mesmo pequena, Maitê era bem violenta. Discutia por qualquer coisa e logo partia para a ignorância. Manu, ao contrário da irmã, puxara o altruísmo, separando e desculpando-se pelas brigas que a loira causava.

(...)

Charles voltou para Nova York, deixando as irmãs Sardothien em Mukilteo. A cidadezinha era pacata, locais importantes eram bem perto e a taxa de crimes era baixa. Seria um lugar perfeito para elas crescerem, mas uma gangue nômade estava hospedada nela, naquela semana de março de 2003. A semana do aniversário delas, que seria dia 21, o dia em que tudo mudou.

20/03/2002 - Uma quinta-feira calma, como todos os outros dias. Já escurecia pela janela do quarto delas, enquanto comiam uma fatia de pizza de frango. Mesmo que a mansão fosse gigante, o que era, elas gostavam da companhia uma da outra, então dormiam em uma beliche. Manu embaixo e Maitê em cima.

–Hey, Nunu. Vamos tomar sorvete amanhã? -A loirinha tinha um brilho nos olhos azuis, quase translúcidos. O que era irresistível.

–Por que não? Já que o nosso aniversário é amanhã. -A moreninha sorriu e limpou a boca da irmãzinha com um guardanapo.

–Níver? -Ela vira a cabeça para a esquerda, como os cachorrinhos costumam fazer.

–Sim, você vai fazer dois anos e eu, cinco.

(...)

–Nunu! -A caçula sacode a primogênita que dormia na cama de baixo.

–Hm... Que foi, May? -A mais velha coça o olho, fitando-a.

–Posso dormir com você? -A pequena segurava um ursinho branco contra o corpo.

–Pode. Entra aí.

A morena ergue o cobertor, deixando que a loirinha aconchegasse à frente dela. Então, com Maitê abraçada no ursinho e Manu com o braço por cima da irmãzinha, ambas dormiram com as testas coladas, espantando qualquer pesadelo que tentasse voltar a atormentar a pequena.

(...)

–Então, o que vai querer, Maitêzinha? -Uma mulher de meia-idade, cabelos loiros com alguns fios grisalhos presos em um coque e avental branco estava debruçada sobre o balcão, observando as duas com um sorriso bobo nos lábios.

–Chocolate, tia! -A garotinha pulou de alegria ao pronunciar tal sabor.

–E você, Manuzinha? -A mulher virou o olhar alegre para a mais velha.

–O de sempre. -A morena pronunciou com um sorriso leve.

A atendente da sorveteria entregou uma casquinha para cada uma das crianças. Chocolate para a mais nova e morango para a mais velha. Com um sorriso que não conseguia conter, a loirinha começou a lamber o sorvete, lambuzando até a ponta de seu nariz. A moça e a morena riram, enquanto a última pegava a mão da irmãzinha para irem para casa.
Manu carregava as bolsas escolares de ambas nos ombros, enquanto Maitê balançava para frente e para trás suas mãos entrelaçadas. E então aconteceu. Uma caminhonete negra cruzou a esquina e, em questão de segundos, abriu a porta e puxou a caçula para dentro. Desesperada, a primogênita correu e correu, mas o ponto fraco das duas era a velocidade, assim perdendo-a de vista. A única coisa que sobrou foi o sorvete de chocolate caído na calçada.

(...)

No carro, encapuzaram a loirinha, deixando sem visão. Mas ela não chorou. Puxou a dureza e a falta de sentimentalismo dos pais.
A aniversariante apenas sentiu alguns trancos e alguém puxando-a, até que sentaram-na em uma espécie de cadeira e puxaram o saco que cobria seu rosto.
Um clarão invadiu sua visão que, aos poucos, foi se acostumando, vendo o lugar em que fora trazida. Era uma sala totalmente branca, apenas uma porta. Mesa no centro e um homem sentado à sua frente. Hm... Cabelo aparado com alguns fios grisalhos, barba também grisalha em alguns pontos e um pouco musculoso. Claro nem se compara com seu pai, mas lhe colocava algum medo.

–Bem, bem. Qual seu nome, garotinha? -Ele começou, cruzando os braços e fitando-a, sério.

–Não posso falar com estranhos. -Ela imitou sua posição, cruzando os braços e fitando-o com uma cara brava. O que era impossível, com aquelas bochechas gorduchas e cara lambuzada de sorvete.

–Steve. Steve Westfall. -Ele dá um sorriso de canto -Agora não somos mais estranhos. Olha, só quero conversar numa boa. Não quero ir do jeito difícil. -Ele puxa uma faca de caça e coloca sobre a mesa, na frente dele, como uma ameaça.

–Sou Maitê. -Ela era pequena, mas não era burra. Não diria seu sobrenome. Ele poderia descobrir sobre Manu e Charles.

–Só Maitê?

–Sim.

–Garota esperta... Gostei. Lhe dou o meu sobrenome, então. Maitê Westfall. Hm... Não, Maitê não é intimidador o suficiente... Mas pensaremos nisso mais tarde.

–Não vai me deixar ir embola? -Ela acabou enrolando a língua e trocou o "r" pelo "l".

–Que gracinha. Mas, não. Não deixarei. Não quer ter uma vida de aventuras? Ou vai ficar somente naquela mansão? -Ele já sabia sobre sua irmã. Droga. -Sim, sua irmã. Aquela moreninha, não? -Ele coloca os pés sobre a mesa e com a faca começa a limpar as unhas das mãos -Será que terei que fazer algo com ela?

–Não mexa com ela! -Ela bate com os punhos na mesa.

–E o que vai fazer? -Vociferou ele, com um sorriso desafiador estampado no rosto.

Era a chance perfeita. Ela empurrou a mesa para cima, fazendo as costas dele encontrarem o chão e prendeu suas mãos com os pés, sentando em cima de sua barriga. Desarmado, ela pegou a faca e apontou para o seu pescoço.

–E agora? -A loira arfava um pouco pelo esforço. Mesmo que fosse prole de Bia, era uma simples criança.

–Bravo! -Com um simples movimento, Steve derrubou-a e desarmou-a, deixando-a embaixo com a faca em sua garganta. A loirinha engoliu em seco.

(...)

Do outro lado da cidade, a primogênita contava o ocorrido para os empregados, que ligaram para o pai das garotas. Mas, mesmo que ele saísse naquele mesmo instante de Nova York, não chegaria a tempo. Não havia nenhum avião saindo naquele horário e a distância era muito grande para fazê-lo de carro. 43 horas de distância. Nova York e Mulkiteo ficavam, praticamente, em lados opostos do país.

(...)

–O-okay... O que quer?

–Lhe oferecer uma vida melhor! Não parece do tipo que fica parada, não é mesmo?

–Vai deixar minha família em paz?

–Sim. Vamos sumir daqui e nunca mais voltar. De dou a minha palavra que não relarei um dedo na sua irmã ou no grandalhão do seu pai.

–Eu... Aceito. O que tenho que fazer?


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Notas finais do capítulo

E então, o que ela terá que fazer nessa gangue? Descubra no próximo capítulo! Ou não :v



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