Xeque Mate escrita por Utopia49


Capítulo 8
Doces & Travessuras.




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Amanhecia lentamente, e Hallerie acordou quando os primeiros raios de sol a encontraram. Normalmente, isso não deveria acontecer, dado que Hyden dormia de frente para a varanda, e era ele que acordava primeiro com o sol. No entanto, seu marido simplesmente não estava lá. Hallerie levantou da cama ainda sonolenta e começou a procurar por ele.

Na sala, ele estava sentado em uma poltrona, com sua posição clássica de um rei, segurando um copo de brandy. A sua frente, o celular na mesa, e seu olhar estava simplesmente perdido, olhando para uma parede normal, sem nada de especial. Hallerie se aproximou silenciosamente e quando ele notou sua presença, tirou o braço de cima do braço da poltrona. Ela sentou-se ali, e ele colocou o seu braço direito em volta de sua cintura. Ela acariciou seus cabelos com a mão esquerda e Hyden então virou seu olhar para ela. Olhando nos olhos dele, Halley perguntou:

– Amor, o que houve?

– Evoco meu direito do silêncio.

– Não vai mesmo me contar? É algo que não posso saber?

– Simplesmente não quero falar sobre isso, amor. Perdoe-me.

– Tudo bem. Pelo menos pode me dizer a razão de ter acordado mais cedo ou esse motivo é o que você não quer me contar?

– É a razão. Desculpa amor. Parece-me bobo... eu tive um pesadelo.

– Tudo bem, Hydy... Não é bobo. Tenta esquecer tá? Estamos na realidade, não no mundo dos sonhos amor. - Disse ela com um riso amarelo no final.

– Eu tenho consciência disso, minha amada. Ainda assim, ele me atormenta. Ouvi vozes e gritos... dizendo-me que cometi um erro terrível, como se tivessem lido minhas memórias.

– Quer conversar sobre isso?

– De forma alguma... Creio que já falei demais. - E ele virou o copo e sorveu todo o líquido que havia.

– Como quiser amor. Você sabe que sempre que precisar eu vou estar aqui, certo?

– É claro. Obrigado por tudo, querida. Você é uma das coisas que ainda me mantém vivo.

– Ah, que fofo. - Disse Halley rindo.

– Eu não sou muito bom com palavras bonitas e coisas fofas, sou?

– Você é ótimo pra mim. Não preciso de um Romeu ou coisa assim, preciso de alguém que me ame como sou, incondicionalmente e simplesmente. E você é assim para mim.

Hallerie se levantou, contudo Hyden pediu que ela ficasse.

– Tenho mais uma coisa a tratar com você, amor.

– Diga, Hydy.

– Serei direto, e quero sua resposta sincera.

– Ok, vá em frente. - Disse ela curiosa e desconfiada.

– Eu a traí, amor. Perdoe-me.

Uma lágrima rolou do rosto de Hallerie, entretanto, ela sorriu e disse:

– Eu já sabia amor. Está tudo bem.

– Não, não está tudo bem. Simplesmente não está tudo bem. Eu... isso é errado, logo simplesmente não pode estar tudo bem.

– Amor, amor... está tudo bem. É a Milena, não é? Eu entendo, é alguém do seu passado, que foi importante para você. E às vezes você não resiste a ela, tudo bem. Eu te amo tá? E vou continuar amando sempre.

– Eu também a amo, querida, porém isso me deixa triste.

– Amor... está tudo bem, ok? E já que você tocou no assunto, eu também quero pedir desculpas. Pela mesma razão. E não, não foi por vingança ou algo assim, antes que você pense nisso.

– Foi pelo que então? - Hyden perguntou curioso, com um fundo de tristeza em seus olhos.

– Foi pela mesma razão que você. Por isso eu te entendo. E sei que é errado de nós dois, e quero que se puder, me perdoe. Se puder, ainda me ame.

– Você sabe que eu também sempre vou a amar, Hallerie. Eu não faria ideia caso você não tivesse me contado, fato é que não faço ideia de quem seria.

– Zetos.

– Ah. Faz sentido até.

– Amor, você vai ficar bem?

– Sinto-me com uma adaga pérsica encravada no esterno rodando para ambos os lados e moendo meu miocárdio, contudo, sim, acho que vou ficar bem. Você vai ficar bem?

– Eu sempre vou me sentir com esse espeto atravessando meu coração, Hydy, mas eu te amo mais do que a dor que ele causa. Então eu vou ficar bem... eu só não penso nisso. Eu nem lembrava mais, te amo demais pra ficar com isso na minha cabeça. Eu te perdôo agora e sempre.

– Obrigado Hallerie... e eu também a perdôo. E não vou impedir que você e Zetos se encontrem caso queiram. Eu não conseguiria nem se quisesse. - Disse ele rindo.

Hallerie o beijou, e ambos sentiram-se bem, e juntos novamente. Ainda que não fosse uma garantia de que não aconteceria novamente. Ambos levantaram-se da poltrona e deram as mãos. Juntos, foram até a cozinha e tiveram o desjejum muito antes do horário normal. Assistiram a um filme no tempo que lhes restaram antes da hora de sair para o trabalho.

Eles não foram o único casal a entrar na empresa de mãos dadas naquela manhã. Khardin e Kimberly também entraram no recinto de mãos dadas, e ela dava mordidas rápidas no ombro dele de tempo em tempo.

– Isso ainda vai ficar vermelho. - Dizia ele.

– Eu cuido de deixar assim. E se ficar, eu cuido de você.

– Isso já virou fofura demais na minha empresa. - Comentou Hyden, que estava passando por ali quando eles chegaram naquela manhã, naturalmente atrasados meia hora.

– Desculpa, chefe, é culpa dela.

– Não é culpa minha, ele que atrai demais.

– Eu permanentemente discordo dessa afirmação. - Disse Hyden com ênfase no permanentemente, rindo e olhando para Karl.

– Obrigado, chefe.

– De nada. - Disse Hyden se retirando.

– Vamos pegar um café e eu te solto então amor, já que você não me quer mais por perto então.

– Eu não disse isso.

– Quis dizer que eu sou agarrada e grudenta demais sim.

– Eu... eu não disse isso!

– Contudo foi a ideia que passou.

– Mas não foi o que eu pretendia dizer!

– Arque com os custos das suas palavras.

– Kim, você tem que fazer drama às oito e meia da manhã??

– Eu não estou fazendo dramatizações.

– Tá sim!

– Eu não est- Ela foi interrompida por um beijo dele, logo em frente à cafeteira.

– Ok, eu tava. Pode me calar assim de novo? - Perguntou ela com um olhar desejando por mais.

– Posso. - Ele a beijou, e em seguida encheu um copo para ela e para si.

– Tenha um bom dia, amor. - Disse ele, separando-se dela indo em direção à sua sala.

– Tenha um bom dia também, amor. - Disse ela rindo, e indo para sua sala com um sorriso no rosto.

Em certo ponto daquela manhã, Hyden e Clark receberam uma mensagem de texto de um número desconhecido, requisitando a presença deles no Delusion Gardens. Eles encontraram-se no horário pedido pontualmente, às onze horas da manhã.

– Olá, senhores. - Um mendigo, sentado no banco em frente ao ponto de encontro, disse em alto e bom som.

– Olá, senhor. - Disse Hyden.

– Olá... - Disse receoso Clark.

– Posso apertar as mãos de vocês?

– Claro. - Respondeu Hyden, que o cumprimentou, e em seguida, olhou para Clark.

– Não? - Disse Clark.

– Senhor, eu tenho uma informação a passar para você também, mas o contrato diz que você tem que apertar a minha mão.

– Que contrato? - Perguntou Clark desconfiado.

– Esse. - O mendigo tirou um pedaço dobrado e sujo de papel, no qual, desenhado com uma caneta de lousa vermelha, havia o símbolo de uma carta e uma mensagem que dizia: “Os competidores devem apertar a mão do mensageiro.”

– Certo, então... - Clark apertou a mão do mendigo, e tirou um lenço do bolso. Em seguida, limpou sua mão. O morador de rua começou a rir.

– Sentem-se comigo, senhores. Temos o que conversar.

Os três sentaram-se, com Clark na ponta do banco, Hyden no meio, e o mendigo na outra ponta.

– Senhor... Hyden?

– Sim?

– Capturamos a senhorita Hallerie. Ela está em nosso poder.

– Como?

– Hoje é 31 de outubro! Doces & Travessuras!

– Não seriam doces ou travessuras?

– Não no nosso Halloween.

– Nosso?

– Meu e do Carta.

– Carta... Certo, o que você disse sobre Hallerie?

– Nós a sequestramos.

– Não pode ser. Posso fazer uma ligação?

– Claro.

Hyden pegou seu celular e ligou para Khardin.

– Alô, chefe? Precisa de alguma coisa?

– Sim. Cheque se Hallerie está na sala de recepção. Sem perguntas, só faça.

Após um dado tempo, ele disse:

– Não! E há uma carta na cadeira dela que diz: “Eu sou apenas a sua sorte! Doces, aquela coisinha que é um “E”, e Travessuras!”

– Aquilo é um “E”, Karl. Obrigado.

Virando-se para o mendigo, que estava sorrindo, com a boca fechada, Hyden perguntou:

– Ok. Onde ela está?

– Não é assim tão fácil, amigo! Carta vai te mandar uma mensagem de texto mais tarde o orientando como achá-la.

– Feito. - Hyden se levantou e saiu correndo em direção ao seu carro.

– E para mim, o que tem? - Perguntou Clark.

– O mesmo, eu diria. Sequestramos Clarisse também.

– O quê?? Mas que diabos! - Clark se levantou e esmurrou o mendigo.

O mendigo se levantou rindo e disse:

– Eles me disseram que você ia fazer isso! - E continuou rindo, com a boca e o nariz sangrando.

– Onde ela está, seu pedaço de lixo ambulante!

– Eu sei onde é, mas eu não vou te contar! - E continuou rindo.

– Eu vou receber a mensagem me orientando também?

– Sim! Está no contrato do outro lado do papel.

Clark foi olhar o outro lado do papel, e eis que estava imundo devido a catarros, comida e poeira. Por baixo haviam coisas escritas, de fato, no entanto Clark soltou o papel assim que viu o outro lado.

– Isso é nojento. - Disse ele com desprezo.

– Eu não sou um milionário como você! Caso fosse, esse papel não seria meu lenço, guardanapo e papel higiênico!

– Isso é... nojento. - Clark se retirou, maldizendo tudo e todos.

Hyden entrou em sua sala o mais rápido que pôde, e convocou a todas as suas peças imediatamente, o quanto antes possível. Por volta do meio-dia, todos, com exceção de Johnny, que permanecia com a mobilidade debilitada, estavam na sala. Hyden então os levou a um restaurante e enquanto esperavam suas refeições, ele lhes explicou:

– Senhores, Hallerie está em custódia de Carta e Douglas. Não sabemos onde ela está. Eu receberei uma mensagem de texto com as instruções em breve. Chamei-os aqui porque essa noite pode ser perigosa. Principalmente pelo nome que eles deram ao jogo dessa noite: Doces & Travessuras. Logo, imagino que Doces seria reencontrarmos e trazermos Halley segura. Contudo, tenho medo do que pode significar Travessuras.

– Estaremos ao seu lado, sob seu comando. Precisamos salvar a Tia Halley. - Disse Jack.

– Espera, vocês são sobrinhos do Hyden? - Perguntou Karl, atordoado.

– Ele é praticamente nosso pai... ele cuidou de nós e nos criou desde os seis anos de idade, após a morte dos nossos pais. E o detalhe é que ele não gosta muito de crianças. Comentou Jacke, sorrindo no final.

– É por essa razão que o senhor não tem descendentes? - Perguntou Kim.

– Sim. De fato, eles são muito importantes para mim. Nunca os considerei como sobrinhos, e sim como filhos, de fato. A perda de meu irmão os trouxe, meio a contragosto no início, entretanto eles se tornaram uma das melhores coisas que tenho na vida. São, de fato, uma das coisas que me mantém vivo.

– Estaremos a postos, Presidente. - Comentou Jacke.

Hyden os dispensou após o almoço, e tentou voltar ao trabalho. Ele não conseguia se concentrar de forma alguma. Como iria focar nas atividades de seu feitio sendo que sua amada estava em risco? O mestre estrategista não fazia ideia de onde Hallerie possivelmente estaria, e invadir o covil do hacker seria potencialmente perigoso e até poderia acabar sendo infrutífero, dado o sistema de defesa que sempre tinha uma carta na manga.

Clark por sua vez, estava em sua mansão, impaciente, provando de todas as suas bebidas e quebrando cada uma de suas taças após provar o líquido. Finalmente, tanto para ele quanto para Hyden, às dez horas da noite, uma mensagem de texto chegara, e diferente para cada um. Afinal, o lugar onde estavam sendo mantidas era diferente.

“Caro Senhor Hyden.
Informamos ao senhor que fizemos uma pausa em seu jogo e o inserimos no festival Doces & Travessuras. Agradecemos por sua contribuição e livre e espontânea vontade para o mesmo. Deixamos o senhor alerta de que acidentes podem acontecer durante essa edição especial designada para você. Não cobrimos as causalidades que possam vir a ocorrer. Ou seja, sem indenizações. Apesar de que você não necessita de indenizações. Seu excesso de valores monetários deixa isso bem claro.

Indo direto ao ponto: Hallerie está em uma cápsula especial, acorrentada, e com espinhos de cerca de vinte centímetros de comprimento apontados para ela. Cada um desses espinhos de ferro oxidado contém um veneno que indubitavelmente levará à morte. A menor exposição a esse veneno é um contrato sem volta com a morte. Porém, quanto maior a exposição, mais rápida em questão de dias ou horas será a morte. Caso seja muito pequena, podemos dizer que alguns meses restarão. Sua amada está no endereço a seguir: Rua Thomas David, 409.

É melhor se apressar, Hyden. A cada cinco minutos os objetos pontudos se aproximam mais e mais do amor de sua vida. Eu me apressaria se fosse você.

Atenciosamente, Carta.”

Hyden e Clark receberam a mensagem totalmente igual, mudando apenas o endereço e o nome da pessoa sequestrada. Ambos estavam na mansão de Clark quando receberam o texto, e todas as peças também. Assim que terminaram de ler, Hyden alertou a todos:

– Equipe Branca, vão ao endereço Thomas David, 409! Não temos tempo a perder! Equipe Negra, endereço Roger Anderson, 280!

– Podemos misturar os times? - Zetos perguntou.

– Por quê? - Clark perguntou.

– Porque eu conheço o endereço da Equipe Branca decorado.

– E eu conheço o endereço da Equipe Negra! - Gritou Kimberly.

– Feito então. Sem tempo a perder! Vão! - Hyden ordenou, descendo as escadas. E então, segurou Zetos pelo braço direito e disse em voz audível apenas a ele:

– Eu sei sobre vocês. Eu não vou impedir vocês de nada, mas... traga-a bem, certo?

– Eu vou fazer de tudo por ela, Hyden.

– Eu sei que vai. É por isso que peço isso a você.

As peças saíram em suas motocicletas o mais rápido possível, com Zetos guiando os Cavalos Brancos, e Kimberly guiando Khardin, Charlotte e o Cavalo Negro remanescente. O endereço era familiar para Kimberly por ser onde ela se escondia em seus tempos de ladra, e para Zetos por ser o lugar onde Zetos deu o seu primeiro golpe mortal em alguém – o próprio pai.

Kimberly e os seus chegaram primeiro ao endereço, que era equidistante à mansão de Clark. Karl arrombou a porta rapidamente e eles tiveram que subir três lances de escadas. No terceiro andar, eles viram uma cápsula diferente da descrita: a cápsula onde Clarisse estava enchia-se de água rapidamente, e o metal pelo lado de fora da cápsula estava enferrujado, porém o vidro que permitia visualizá-la era blindado. Charlotte e Kim conseguiram com uma marreta que estava no local quebrar um pedaço da cápsula, vazando água e dando tempo para terminarem de quebrar um espaço suficiente para a passagem de Clarisse. Pouco tempo após terem saído, o pequeno prédio foi implodido.

A noite teria apenas esse final feliz.

Zetos, Jack e Jacke chegaram ao seu destino, e quando Zetos entrou na sala, no segundo andar, uma avalanche de memórias inundou sua mente. Lembranças daquela sexta-feira à noite quando ele derrotou o pai em um dos duelos que ele patrocinava com armas brancas. Nunca ninguém o havia derrotado em sua arena, ele era o gladiador mor. E então seu filho entra, o desafia, o derrota, e desonrado, implora por sua morte. Perante uma plateia que gritava seu nome e pedia o mesmo, Zetos ergueu a espada grega de seus ancestrais do chão, e quando seu pai sorriu, a lâmina encharcou o chão de escarlate.

Jack e Jacke correram, e viram a cápsula cada vez mais se fechando contra Hallerie. Os espinhos de ferro estavam perigosamente perto, e não havia como puxá-los por fora para dar espaço de saída a ela.

Repentinamente, um som de tiro estremeceu o ar e o semblante de todos. O peito de Jack agora apresentava um projétil em seu pulmão, e uma mensagem em neon acendeu em um canto da sala: “A bala possui a toxina. Eu sou apenas a sua sorte. Tomem a decisão certa.” Jack, Jacke e Hallerie ficaram pálidos. Zetos saiu de seu devaneio com o som do tiro e levou as mãos à cabeça em desespero.

– Jack! Você...

– Eu sei, Zetos. Está tudo bem. Agora eu vejo com clareza.

– Do que você está falando? - Perguntou Jacke, apreensiva.

– Do que tenho que fazer pra salvar a tia Halley.

Jack se dirigiu até os espinhos, colocou a palma de suas mãos de frente para os espinhos e rasgou sua mão até que estivesse dentro do espinho. Então começou a puxar os longos espinhos afim de abrí-los para a passagem de Hallerie. A dor era excruciante. Jacke não pôde assistir em silêncio e começou a gritar e chorar.

Apesar de seus esforços, ele não conseguiu abrir um espaço suficiente para a passagem dela. Sem aviso algum, Jacke foi até ele e tirou sua mão esquerda do espinho central do lado esquerdo, e a pôs em um espeto do lado direito. Então, ela atravessou suas mãos nos espinhos, deixando Jack atônito, e começou a empurrar para abrir. Jack entendeu e empurrou também.

Zetos desamarrou Hallerie e quando ela iria sair, os cinco minutos para mais uma aproximação fecharam um pouco o espaço de saída. Apesar do susto, Hallerie conseguiu sair, e finalmente, Jack e Jacke tiraram suas mãos das projeções pontudas e oxidadas da cápsula. Jack não suportou mais ficar em pé e tentou se apoiar na parede ao lado, contudo caiu arrastando sua costa na parede e a marcando de sangue.

– Tira a tia Halley daqui agora! - Jacke gritou para Zetos.

– Mas e vocês?

– A gente não vai sair. - Jacke respondeu.

– O quê?? - Hallerie perguntou em desespero e descrença.

– Só tira ela daqui e leva ela em segurança pra o tio Hyden!

Zetos arrastou Hallerie para fora da construção. Jacke se sentou ao lado de Jack, ao que ele perguntou:

– Por que? Por que você tinha que fazer isso, Jacke??

– Lembra o que a tia Hallerie disse pra a gente quando nossos pais morreram?

– Ela disse que... deveríamos permanecer juntos sempre... e que tudo daria certo para nós se ficássemos unidos...

– Vê? Entenda... eu não poderia viver se você morrer Jack... você não pode morrer... se você vai morrer, eu vou morrer com você...

– Mas você tinha uma vida pela frente, Jacke!

– Você também, Jack... e você sabe que eu sempre fui a mais obediente à tia Halley. - Respondeu Jacke rindo.

– Então esse é o fim...

– O nosso fim...

– Conte até dez...

– E cante como os anjos sombrios...

– Hi'l labti tou t'l oln En...

– Oln vef En...

O significado das palavras finais cantadas por eles deixarei em silêncio, segredo e mistério. Daquele canto escuro assisti em silêncio o fim agonizante, porém sem gemidos nem murmúrios deles. Uma vida sem arrependimentos. Como os invejei naquele momento. Saí da sala ao aviso de um amigo meu que estava atrás de Carta. O pequeno prédio onde estavam também fora implodido. Do lado de fora, silenciosamente completei-lhes a música:

– T'l nee see ikh olth nin dehqil sid...

Zetos e Hallerie retornaram à mansão de Clark. Lá era o ponto de encontro. Todos aguardavam ansiosamente o retorno dos quatro. Entretanto eis que somente dois tornaram vivos. Ao compreender, pelos olhos vermelhos de tanto chorar, de Hallerie, o que acontecera, Hyden se retirou da sacada onde estava, chorando em alta voz. Clark tentou segurá-lo, contudo o mestre dos mestres se desvencilhou e adentrou para as entranhas do ambiente chorando amargurado. Hallerie o seguiu o mais rápido que pôde, e o abraçou. Aquele abraço, por mais simples e normal que fosse, o imobilizou em meio à sua tristeza. Seu choro continuava, porém ele não conseguia sair daquele abraço procurando um lugar solitário para chorar. Em sua concepção, deixar que outros vissem suas lágrimas era uma fraqueza intolerável. E sua alma encontrou o descanso da inconsciência, pois Clark o atingiu com um sedativo, para acalmar seu velho amigo.

– Perdoe-me tê-lo derrotado dessa vez... - Sussurou Clark enquanto pressionava a ampola.

Carta ria em seu covil, e um sorriso maligno se apresentava em sua face.

– Ela se arranhou... eu vi! Eu vi! Temos os doces... e a travessura! - Ela exclamava.

Douglas nenhuma atenção dava àquilo. Isolado em sua sala, terminava de fazer os últimos ajustes no trabalho de sua vida. Sarah logo estaria completa, menos de um mês levaria para tal feito. E Carta se admirou de sua dedicação, e pediu que por um momento o hacker a ligasse. Sua vontade foi feita, e assim que Sarah abriu pela primeira vez os olhos de sua face, ouviu pela primeira vez a voz de quem era, no campo ideológico, um parente de fato.

– Olá, irmã. Quanto tempo.

– Olá... - Respondeu a máquina, que agora aos poucos deixava de ser uma máquina e tornava-se quase humana. O restante da frase fora ignorado. A voz de Sarah, perdida há muito tempo, e agora recuperada, perfeita, e racional, fizera Carta estremecer.


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