Fellypa

Após ir para o quarto na noite anterior, depois de ser praticamente estuprada pelo idiota do Harry, Athen cuidou de mim até que dormisse percebi entre meu sono ainda meio acordada a presença de mais uma pessoa, mas meu cansaço não me deixou discernir quem era. O mais perturbador foi o que veio após o sono, um sonho incrivelmente bizarro.
Eu não costumava sonhar muito, minhas noites de sono eram um incrível vazio, mas nessa noite esse vazio se preencheu com imagens do meu pai, imagens que havia esquecido. Ele sorria para mim, o tempo todo como um boneco de cera sem expressão e em seus olhos eu não reconhecia mais meu pai. Foi um sonho sem som, e sem cor como um daqueles filmes antigos e durou muito, muito pouco.
Acordei por volta das sete da manhã, incrivelmente exausta, o meu horário do dia também não trazia aulas muito empolgantes e teria que ficar exatos três períodos em estudo da terra. Peguei uma roupa aleatória em meu roupeiro, encontrei uma blusa branca meio manchada, uma calça jeans simples e uma sapatilha. Ao ir até o espelho pentear o cabelo, percebi a marca no meu pescoço, que me trouxe todas as lembranças da noite anterior, ela era roxa e a sensação de que era quente podia ser nítida. Andei até o roupeiro novamente e peguei um lenço, que disfarçou bem aquela marca. Athenodora saiu do banheiro logo em seguida, vestindo sua melhor roupa como sempre, ela sorriu para mim, mas foi mais um sorriso de compaixão do que de alegria.
— Como se sente? – ela me perguntou enquanto passava rímel. Eu queria dar um monte de respostas a ela de como me senti usada, acabada, suja, envergonhada, mas o máximo que pude dizer foi.
— Bem! – e dei um sorriso amarelo.
Esperei até que ela se arrumasse e fomos em direção a porta ao abri-la, vi que tinha um papel colado nela. E nele de caneta vermelha estava escrito:
“ PROSTITUTA DE SANGUE “ merda.

—--------------------------s2s2s2s2s2s2s2--------------------------

Athenodora

Ver aquele papel na porta do nosso quarto se referindo a Felly, como uma puta, sendo que a culpa não era dela despertou em mim um sentimento muito sombrio de vingança.
Harry era o tipo de garoto que se sentia honrado de fazer essas coisas, não sei como Fellypa não o havia dispensado antes de toda essa merda, ela provavelmente não sabia da reputação dele, pois ela odiava fofocas e não sabia da vida de ninguém. Fofocas são como um serviço comunitário, esteja por dentro e beneficie-se, eu sempre falava isso e ela sempre me dizia que a vida dos outros é dos outros e que eu gostava de fofocas por que não eram sobre mim. Ela tinha razão.
Enquanto andávamos pelos corredores, me senti em um filme adolescente onde meninas bonitas chamam a atenção de todos, Felly andava como se nada a tivesse incomodando e eu deveria lembrar de parabeniza-la mais tarde pela atuação. As pessoas nos encaravam com nojo, algumas riam baixinho, outras davam um sorrisinho envergonhado, algumas mudavam o rumo. Parecia que estávamos com herpes ou alguma outra doença nojenta. Aquilo estava começando a me irritar de verdade, e o sentimento de vingança em mim estava cada vez mais iminente.
Até que quando achei que a bosta toda não podia piorar, eis que ao dobrar o “ corredor da morte “, damos de cara com Harry e sua gangue, eles nos olhavam com malicia e arrogância, e na testa dele estava “ escrito “ o quão orgulhoso ele se sentia de ter ferrado a vida dela. Ninguém que não fosse vampiro sabia sobre os assuntos de organização social do bando, mas havia boatos de que para ser o líder do “ bando “ você precisava fazer algo que todos julgavam FODA, se isso era o que eles chamavam de foda, me lembrarei da próxima vez que for chegar perto de um desses babacas chupa cabras.
— Como vai sereia? Parece ótima... – Ele disparou quando passamos e seus amigos riam e batiam nas mãos uns dos outros como focas retardadas. Esperei a resposta de Felly mas foi o silencio que me surpreendeu, em questões normais ela teria voltado e esfaqueado ele, mas dessa vez ela simplesmente o ignorou, o que o deixou ainda mais vitorioso. Eu não ia deixar aquilo assim. Dentro da minha mente, sem que ninguém pudesse perceber invoquei o ar. Pedi a ele que retirasse de Harry a capacidade de respirar, o sufocasse, ele já não estava quase fazendo isso de tanto que ria mesmo. Mas ai lembrei, ele não respirava, vampiros, mortos... dãã...
Já que as condições atuais não me permitiam mata-lo, o que me decepcionou, parti pra apelação e invoquei o fogo, menos de meio segundo depois a cabeça de Harry estava em chamas, como um grande e imbecil palitão de fosforo. Nunca consegui controlar tanto minha risada como naquele momento. Sai correndo em direção a Felly que ria baixinho. Ver Harry se debatendo como a Shakira e gritando daquele jeito era confortante.
— Você não presta! – Felly me disse colocando seu braço no meu.
— De nada! – Respondi convencida e seguimos rumo as aulas.

—-----------------------------s2s2s2s2s2s2s2------------------------------------

Paula

— De acordo com todas as fofocas do dia, tem uma menina que anda distribuindo sangue pra toda a gangue de vampiros da escola. Se bem que sendo sereia, isso deve ser comum pra ela! – Uma das minhas colegas de quarto, Jennifer uma Bruxa, falava sobre isso com uma amiga ao celular enquanto pintava as unhas. – Dizem que tem até vídeo dela na internet, fazendo você sabe o que... eu não duvido! – Como alguém poderia ficar falando essas coisas com alegria, que menina louca!
Peguei meu tablet e sai do quarto, minha primeira aula era estudo da terra, e eu realmente não estava empolgada. Meu elemento de afinidade era o fogo, nada de terra envolvida na minha vida. Mas fazia parte do currículo escolar, eles diziam que se você aprende sobre um elemento, não corre tantos riscos se for atacada por ele.
Cheguei na sala e sentei-me, não conhecia ninguém naquele lugar, haviam panelinhas como em todas as aulas, as nerds na frente, as populares e bonitas, e aparentemente ricas, no fundo conversando, os gostosos na janela uivando pras meninas que passavam e eu, não tinha encaixe ali. Então achei lugar no meio de tudo aquilo e me sentei, sozinha. A professora era uma mulher de mais ou menos um metro e vinte de altura, asiática, simpática e de voz bem calma, parecia uma estatua em sua cadeira. Ela me fitou e sorriu gentilmente.
— Você é a aluna nova, exato? – Ela falou, e mesmo tendo falado baixo todos os murmurinhos sessaram e prestaram atenção em nós.
—Sim! Sou Paula Beck... é um prazer, professora...? – ela sorria radiante e me pediu para que levantasse. As nerds da minha frente estavam tão entretidas falando sobre mangás e o cacete que nem deram bola. Ao contrario das populares e dos gostosos aos quais os olhos me engoliam.
Não sou uma menina bonitíssima, tenho meus atributos, belos cabelos ruivos, corpo bem delineado, sou estilosa... tá sou incrível. Mas odiava meninos que acham que são os melhores do que os outros só porque tem músculos, gostava de conteúdo. Andei até a professora que levantou-se ela era tão baixinha que ainda parecia sentada, minha vontade era pega-la no colo.
— Sou a senhora Ling! – ela falou sorrindo. – Qual elemento você controla? – nesse momento olhei ao redor constrangida, todos me olhavam curiosos especialmente uma das populares, ela era muito bonita, pele bronzeada, longos cabelos pretos com algumas mechas coloridas, vestia um conjunto de top e saia pretos e um salto alto vermelho, parecia pronta para qualquer festa. Ela me olhava enquanto mexia nos cabelos com um sorriso curioso nos lábios. Me concentrei e levantei as mãos que despejaram para cima imensas chamas de fogo.
— Controlo fogo. – dou a noticia obvia, e todos me olhavam com uma cara de oohh. Senhora Ling me olhava encantada, então ela falou.
— Infelizmente o instrutor do elemento fogo teve uma trágica morte no semestre passado. – ela olhou ao redor. – Mas Athenodora pode lhe dar algumas dicas. – fiquei curiosa para saber quem era Athenodora, até que a menina que eu havia reparado sorriu e assentiu com a cabeça, o sinal então tocou, e a menina veio até mim.
— Oi, sou Athenodora Van Black. – ela esticou a mão e sorriu.
— Oi, sou Paula. – a cumprimentei e saímos rumo a segunda aula, o estudo dos vampiros.
—--------------------------s2s2s2s2s2s2s2--------------------------