Lost

Athenodora
Passamos o resto do dia sem ouvirmos falar sobre Fellypa. Ela havia saído por volta das dez da manhã logo após a pequena treta com Lótus e parece que havia esquecido de voltar.
Eu odiava ver a maneira como as coisas entre ela e Luc haviam ficado depois da chegada dessa menina, mas não podia me meter em tudo que dizia respeito a ela.
Nós tínhamos dezessete anos e não sabíamos nada em relação ao amor, mas sabíamos quando estávamos afim de alguém e esse sentimento ia além de corpo. Vinha da alma e era forte. Felly estava assim com Luc, assim como eu estive com Jeremiah. A diferença é que da parte dela era retribuído.
Posso afirmar que na hora em que vi Lotus pela primeira vez eu não gostei da cara dela, e depois de dois dias de convivência gostava menos ainda. Ela ficava pelos cantos falando sobre como havia sofrido na sua vida e de como era difícil pra ela ter sido criada de uma princesa em outro país. Que chata.
Seu irmão era lindo, na verdade ambos eram. Eles tinham cabelos dourados, pele reluzente e olhos claros e profundos. Ele parecia o oposto dela e ficava falando de lutas e coisas egocêntricas.
Agora já eram quase onze horas da noite e eu estava realmente preocupada. Fellypa tinha suas crises de bipolaridade e mal humor que atingiam até a mim as vezes, mas logo ela baixava a guarda e ficava de boa. Dessa vez ela parecia ter sido abduzida. A ultima pessoa que falou com ela foi Luciel. Só que agora ele estava ocupado vendo fotos no celular de Lotus e dando risadas espalhafatosas demais pro meu gosto.
– Athen? - Estava tão furiosa olhando pros dois juntos que nem percebi a aproximação de Madson e Jowlly ao meu lado - Precisamos conversar!
Elas estavam sérias e pareciam saber de algo que eu não sabia. Saímos da sala seguidas pelo olhar curioso de Jeremiah que logo o desviou quando o encarei carrancuda.
– Falem! - sentamos em uma pequena sala adversa a sala principal, era menos iluminada e agitada, lugar perfeito pra uma boa conversa, ela tinha prateleiras de livros em todo o seu entorno e parecia um lound de estudos.
– Felly... Ela sumiu né? - Jow foi a primeira a falar. - Tipo ja fazem quase treze horas desde que ela saiu e até agora...
– Ela só deve estar submersa no lago pensando na vida. Ela precisa desse tempo. - Era nisso que eu queria acreditar. Era mais fácil do que pensar no pior.
– Qual é Van Black? Nem você acredita nisso... - Madson era incrivelmente irritante mas sabia mais sobre mim do que eu imaginava. Acho que por ter me odiado no passado ela havia aprendido a me conhecer. Talvez pra saber onde atacar caso brigássemos.
– E o que sugerem? - Perguntei não mais protestando. Eu estava entrando em desespero e sentia meus nervos a flor da pele.
– Sabe que existem lacunas no feitiço que você fez. Ele protege os que estão na casa de serem atacados, não os que saíram pra nadar. E se ela... - Jow foi interrompida pela porta que se abriu.
– Atrapalho? - Jeremiah estava entrando na sala quando o encarei.
– Você sempre atrapalha professor. Isso não é da sua conta. - Falei me virando pras meninas novamente.
– Se estão falando do desaparecimento de uma das minhas alunas é sim da minha conta menina. - ele continuava me tratando como sua irmãzinha mais nova. Que ódio...
– Eu não vou perder tempo com uma discussão com o senhor dono da razão. Entra, fecha essa merda de porta e senta. Você só vai ouvir. - Falei pra ele que mostrou um ar de deboche que o deixava incrivelmente lindo.
– Não sei o que deu nela mas não vou ficar aqui sentada como um buda esperando ela entrar pela porta murcha de tanto ficar na água. - Madson fazia caretas engraçadas o que nos fez rir.
– Tecnicamente é impossível uma sereia murchar na água! - Jowlly falou levantando o dedo.
– Não avisaram isso pra mãe da Felly, ela parece uma ameixa seca - Fiz cara de peixe e me retorci, dessa vez até Jeremiah riu.
– Vamos procurá-la, não suporto ficar aqui! - Madson se levantou e foi buscar casacos pra nós com sua velocidade de vampira.
Saímos pelos fundos da casa enquanto os demais estavam ocupados jogando videogame e conversando. Era impossível que ninguém houvesse dado falta dela. Ela era muito importante. Bando de idiotas...
Jeremiah estava andando na frente com uma tocha que acendi com o poder do fogo, Madson e Jow seguiam lado a lado e eu estava mais atrás. Elas estavam concentradas ao redor e farejavam algo como cães de aeroporto. Devia ser legal conseguir ter essa percepção e visão aguçadas, facilita a vida. Eu vivo perdendo o celular imagina cheirar e achar o maldito. Seria top.
Seguimos pelo caminho de pedras rosadas que levava ao lago adjacente a casa, estava muito escuro mas não precisei da visão de vampira das meninas pra ver o que estava a nossa frente.
– Caramba! - Jow falou olhando na mesma direção que eu, ver as roupas de Felly ali jogadas me fazia pensar em um milhão de possibilidades. E se ela tivesse sido estuprada e morta ... Ou simplesmente morta. Meu Deus...
– Por que saíram sem mim? - Luciel apareceu de trás de um arbusto.
– Talvez porque a menina planta precise de você pra puxar o saco dela. - Jow falou com tom arrogante, nada típico dela. Gostei!
– Vocês estão paranóicas com essa historia da Lótus. - Luciel falou gesticulando
– Você vai ver minha paranóia colada na sua jugular se a Felly não aparecer seu babaca! - falei prendendo os cabelos. - Vou erguer essa água toda e ver se a encontro!
Afastei todos da minha frente e fechei os olhos concentrando-me em minha afinidade com a água. Eu não sabia se Felly estava ali mas precisava arriscar, isso acabaria com a minha energia quase por completo mas eu não aguentaria ficar em paz sem tentar.
Levantei as mãos e invoquei a água silenciosamente, senti um formigamento em meus braços e pernas e meu estomago estava revirado, eu mantive os olhos fechados e andei mais a frente, senti que não poderia avançar mais por que estava na beirada da rocha e poderia cair. Minhas mãos estavam posicionadas pra frente e com as palmas pra baixo, eu abri os braços devagar e pude ouvir a agua se movendo, virei as mãos pra cima e senti alguns pingos caindo em meu rosto, ao abrir os olhos vi que havia conseguido erguer o riacho e a água da pequena cachoeira estava correndo pra cima.
– Vejam se ela esta lá meninas, não consigo segurar muito tempo! - Madd e Jow pularam na grande cratera que estava no lugar do rio, peixes se debatiam no chão e elas andavam depressa para todos os lados, por fim saltaram de volta pro meu lado, uns dez metros de altura que pra elas pareceu um degrau de escada.
– Nada! - Madd falou baixo e sem força. Nesse momento senti uma tontura e algo quente escorreu do meu nariz, cai da rocha quase ao mesmo tempo que a água que eu segurava despencou sobre mim em uma chuva gelada. Depois disso tudo ficou negro.
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Jeremiah
Athen era muito poderosa, talvez uma das pessoas mais poderosas vivas na atualidade. Viva...
Se é que ela estava viva, por sorte consegui a segurar pela cintura quando ela caiu do penhasco, seria uma morte dolorosa, ela estava desacordada e agora as meninas a estavam carregando pra casa.
– Você acha que alguém sequestrou a Felly? - Madson perguntou me olhando enquanto ajudava Jow a levar a amiga pra casa.
– Não sei! Provavelmente sim. Ou ela voltou pra casa e nos desencontramos. - Sabia que isso não era verdade pois o caminho que tínhamos seguido até ali era o único que ligava a casa ao riacho.
Algumas horas depois do amanhecer barcos chegaram para nos salvar, mas eles não sabiam que tinham chegado tarde demais.
Ja haviam se passado três semanas e as aulas ja tinham voltaram, e Fellypa ainda estava desaparecida, era fácil fingir que não estava preocupado com o que estava acontecendo, mas algo mudava sempre que via Athen, ela estava cada vez pior, talvez entrando em depressão e o que eu mais queria era apenas poder ajuda-la. Quando os barcos foram nos buscar naquele dia ela se negou a voltar pra escola, foi preciso que Jowlly a fizesse desmaiar com um golpe de luta pra que conseguíssemos traze -la de volta a escola. Também quando ela acordou a escola veio abaixo. Ela gritava que nunca nos perdoaria e que faria de tudo pra ferrar com a gente e depois disso não a vimos por uns três dias. As meninas me disseram que ela isolou o quarto e elas tiveram que dormir com seus pares. Hoje por fim ela saiu do quarto e foi vista pela primeira vez depois do retorno da ilha.
Ela andava pelos corredores como uma pessoa desconhecida, estava vestida de preto dos pés a cabeça, o que pra ela era comum se fossem saia, saltos e top. Dessa vez ela estava com uma calça jeans rasgada, tenis de cano alto e uma blusa com estampa satânica, ela usava luvas longas e sia maquiagem parecia a do Soldado Invernal, ela não olhava pra ninguém, não estava jogando os cabelos que pareciam desgrenhados por uma onça, não estava acenando e abraçando ninguém. Estava Inerte em si mesma e não parecia mais a mesma pessoa.
Talvez essa fosse a forma dela de mostrar a todos que nós também não seriamos mais os mesmos.
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Evan
Estava preparando meu dever de magia quando alguém bateu na porta, eu corri achando que era Jow, precisava dar uns beijos pois desde a ilha não havíamos nos pegado, ela dormiu no meu quarto nas ultimas três noites mas só dormiu mesmo.
Só que ao abrir a porta vi Athen, ou pelo menos o que sobrou dela.
– Preciso de ajuda! - Ela falou entrando no quarto. Ela sentou na minha cama e tirou um maço de cigarros do bolso acendendo um.
– Você ta fumando? - perguntei chocado.
– Não trouxe o cigarro pra te visitar! - Ela falou dando uma tragada longa e soltando a fumaça tóxica pelo quarto todo.
– Eu não quero mais ficar aqui! Se falar com outras pessoas elas vão correr direto pra Jeremiah e falar tudo. Preciso que me encoberte porque vou fugir. - Ela soltou tudo de uma vez sem me dar tempo pra pensar.
– Não posso te ajudar.- Falei sentando ao seu lado. - Mas você pode! - Peguei o braço dela e senti algo, diferente, puxei as luvas depressa e revelei feridas fundas e abertas, cortes enormes que,davam a volta em,seu braço. - Automutilação é? Meio ultrapassado. - Ela sorriu quando ouvi minha pergunta.
– Cala sua boca rei gótico!- ela me empurrou e sentiu um pouco de dor nas feridas- Preciso que você arrume um jeito de me tirar daqui ainda hoje, vou voltar pra ilha e procurar Felly, sei que ela ainda está viva e bem, não seria eu mesma se não voltasse.
– Você não é mais você mesma... Olhe suas roupas, seu cabelo, sua maquiagem. Bem isso é maquiagem? - apontei os olhos borrados que faziam ela parecer um panda. - Qual é Athen, Felly não gostaria de ver você assim!
– Felly também não gostaria de ser abandonada em uma ilha deserta, mas vocês não pensaram nisso quando subiram naquele barco felizes e de consciência limpa. Vai me ajudar ou não? - Pelo menos sua personalidade forte e arrogante continuava intacta.
– Vou... Mas não vai fazer merda! - disse levantando e passando a mão nos cabelos.
– Brigada Evan! - Ela me abraçou forte e repousou a cabeça em meu peito. Nesse momento Jow abriu a porta bruscamente e o sorriso que ela carregava se desmanchou.
– Eu já vou! - Athen me soltou depressa e saiu do quarto.
– Ela estava... Veio... - Comecei a falar e Jow revirou os olhos batendo a porta e sumindo.
No final fiquei como gostava de ficar. Sozinho e com a consciência de que se deixasse Athen voltar pra ilha sozinha perderíamos mais uma amiga.
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Lótus
– Sim eu aceito! - Não eu não estava casando, era somente minha aceitação pra bibliotecária voluntaria, a diretora ficou feliz de me ver la, eu amo leitura e todas as coisas relacionadas a literatura neo-classicista, era deslumbrante.
Sai da biblioteca satisfeita, queria fazer algo pra me distrair e auxiliar a escola em um momento tão difícil. Eu e Fellypa não éramos próximas mas Luciel me falava muito dela, ele realmente a amava e eu admirava isso. Nunca seria capaz de amar alguém com aquela intensidade. Quando uma pessoa vive em meio ao ódio como eu vivi sendo criada de uma princesa mesquinha e arrogante, criamos imunidade ao amor.
Dobrei os corredores e fui em direção ao pátio, a diretora havia me pedido para pegar alguns livros na casa de estoque que ficava no outro lado da escola. Eu estava com aquela velha e clichê sensação de ser perseguida e observada. Odeio isso.
– Quem está ai? - perguntei olhando ao redor e pedindo em silêncio pra que a terra me protegesse dos inimigos se é que tinham inimigos. Antes que eu seguisse algo se chocou contra minha cabeça e cai no chão. Uma pessoa coberta por uma capa e uma máscara negras subiu em cima de mim e falou:
– Hipnose mandou lembranças escravinha! - na mesma hora em que falou ele torceu meu braço o quebrando e com uma espécie de mini foice cortou meu rosto me fazendo gritar, ele olhou pra cima e antes de sair correndo bateu com uma pedra na minha cabeça.
– Lótus! Lótus!- ouvi de longe a voz de Luciel que vinha correndo em minha direção, o homem da capa saiu dali em uma velocidade sobre humana. Luciel chegou perto de mim e vi sua indecisão de seguir o homem ou me ajudar. Por fim me ajudou. Me lembro que a ultima coisa que ouvi antes de desmaiar foi ele dizendo que tudo ia ficar bem.
Eu havia sido atacada a mando de uma tal Hipnose... Tinha certeza que nada ficaria bem.
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Um mês depois:
Madson

Era dia 24 de dezembro mais conhecido por pessoas normais como véspera de natal. Mais uma droga de feriado cristão que só servia para as pessoas gastarem dinheiro em presentes caros e perus enormes. Era um saco estar reunida com as pessoas que eu mais amava e não podermos ser felizes. Eu estava sentada com um copo de tequila olhando um filme de Jesus na maior monotonia. Jeremiah e Lírio estavam cozinhando e Lótus estava deitada no sofá toda machucada o ataque a ela tinha sido violento, mas ela pelo menos estava viva e ali. Athen estava sentada no chão toda de preto como uma Adams e fumando um cigarro fedido. Ela olhava pro nada e parecia estar muda. Os meninos jogavam cartas no outro canto da sala e Paula estava sobre uma mesa dançando podre de bêbada. Estava quase morrendo ali.
– Pessoal! Hora do Amigo secreto! - Falei levantando e todos me olharam nada felizes. Não era nada secreto mas era melhor do que ficarmos como estávamos. - Eu começo! - peguei meu presente e comecei a falar. - Meu amigo secreto é uma pessoa muito legal, meio retraído e adora bancar o difícil, tem mania de mais velho e gosta de... - Estava quase terminando quando Jeremiah riu alto e me interrompeu.- Ja entendi e obrigado! - Ele pegou o presente e viu que era um tablet.
– Nossa valeu Madd!- ele largou no sofá e pegou o presente dele! - Minha amiga secreta na verdade nunca se permitiu ser minha amiga, é uma pessoa querida e poderosa, brilhante e marrenta, linda e especial! Pelo menos ela ja foi! Uma pessoa por quem eu nutro um carinho muito, muito forte! - Ele entregou o pacote a Athenodora e meu coração quase parou! Jow me olhou de boca aberta e tapou uma risada histérica.
Athen pegou o pacote e forçou um sorriso agradecendo. Então o abriu.
– Você me deu uma roupa minha e uma foto... Minha? - ela parecia surpresa e meio desapontada.
– A foto é pra você ver que não está sendo você mesma, não sabe o quanto me machuca não ver mais esse sorriso! - Jeremiah falou gesticulando. - E essa roupa é a que você vai usar amanhã quando sairmos pra jantar! E você é a próxima!
Ai meu deus! Ela estava chocada e de boca aberta, tirou do pacote enorme um lindo vestido de renda vermelha que tinha um decote maravilhoso e uma fenda nas pernas que deveria ser considerada pornográfica, ela me mostrou a foto e uma lagrima escorreu dos seus olhos.
– Ele te ama! - falei baixinho e ela riu.
Continuamos o amigo secreto, comemos e fomos dormir. Não era a mesma coisa pois estávamos incompletos sem Fellypa, mas era bom ver que pelo menos Athen estava se reerguendo pouco a pouco!
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Entrei nos aposentos dela e vi que ela estava olhando pela janela, estava lindíssima em um vestido Lilás de seda, seus cabelos loiros e curtos estavam perfeitamente ondulados, uma verdadeira princesa que agora era.
– O banquete vai ser servido querida! - ela virou e sorriu, seus olhos azuis extremamente parecidos com o da mãe me fitaram. - o Castelo todo está a sua espera!
– Ja ia descer. Mas a noite está linda e gosto de observar a lua. Sozinha na escuridão. Como eu ! - ela andou até a sua penteadeira e colocou perfume!
– Feliz natal Hipnose!- falei a abraçando.
– Feliz natal papai! - ela respondeu e saímos do quarto rumo a nossa eternidade.