Guardian Angel escrita por Juliano Adams


Capítulo 7
A Noite


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo narrado pelo Leo, espero que gostem.



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Sei lá, eu só sei que não consigo parar de pensar nele, é estranho pra caramba. Mas é legal ficar perto dele, e não é legal ficar longe. É tipo... Como se quando eu tivesse longe dele, eu quisesse ficar perto e ouvir aquelas coisas legais que ele fala, e o pior de tudo é que ele fala pouco, e isso é o que me mata... Tipo, por ele falar tão pouco eu fico mais tempo perto dele pra ele falar comigo... Sei lá, isso é muito estranho, ai quando eu tô longe eu fico lembrando dele... E eu quero falar com ele, mas ele tá longe... Sei lá, será que ele me hipnotizou ou alguma coisa? – Eu desabafei, sinceramente não sabia nem descrever o que era aquele negócio que eu tava sentido. Yara escutou tudo calmamente, parecia que tava ignorando meu desespero.

–Hipnotizou.... – ela riu. – Hipnotizou sim... É uma hipnose diferente, as pessoas geralmente chamam de “amor”. Você tá apaixonado, garoto!
–QUE? – eu ri sarcasticamente – Yara... Eu não sou gay... Tipo, você sabe muito bem que eu não sou gay! Eu já fiquei com mulheres o suficiente pra saber do que eu gosto! Tudo bem ser e tal, mas eu não.

Yara soltou uma gargalhada, parecia que tava caçoando da minha cara.

–Ai Leo, você é um anjinho, e você sabe... Anjos não tem sexo.

–Eu to falando sério Yara! E eu tenho sexo sim, você não viu porque não quis!

–Okay, agora você foi baixo... Escuta Leo, eu sei que talvez seja um pouco confuso o que você tá sentindo... Mas você sabe... A gente não se apaixona pelo corpo, e sim pela alma, e almas não tem sexo... Eu não falo de amor carnal... Existem vários tipos de amor, é só um sentimento puro Leo, não tem por que ficar com medo de si mesmo, é normal, só não se reprime. – Ela disse, e soou como minha mãe, ou mais que isso. Acho que nunca tinha pedido conselhos à minha mãe, só à Yara.

–Mas me conta, como foi o beijo? – Ela perguntou, com um sorriso malicioso. Como assim? Não havia falado nada sobre beijo nenhum.

–M-Ma-Mas Como é que você sabe? Que eu beijei ele?
Yara riu

–Agora eu sei.

Fiquei com cara de tacho. Ela continuou:

–Além disso, você tá falando tudo enrolado, você só ficou assim quando beijou a primeira menina que você tava gostando... É, a Juliana. – Yara disse, como se soubesse mais da minha vida que eu mesmo. Mal lembrava de Juliana, muito vagamente lembro de ter uns 14 anos. Mas parece ter sido em outra vida. Yara falava como se fosse ontem. Eu ia continuar a conversa, mas meu celular vibrou no bolso:

Larissa: Mor, não se atrasa hein.

Eu: Ok, já to saindo de casa.

Droga, tinha esquecido da festa. Odiava esquecer das coisas.

–Algum problema aí? – Yara perguntou como se soubesse de algo. Ela deve ter notado minha cara de preocupação.

–Na verdade sim. Tô saindo, um pessoal da escola me convidou pra uma festa e tal. – Expliquei meio vagamente, não sei se devia contar de Larissa. Melhor não falar nada por enquanto.

–Hmmm, juízo hein. Volta cedo, não bebe, se cuida, e tranca a porta do banheiro. – Aconselhou Yara.

–Valeu mãe. – Eu ri, e desliguei. Não podia mais perder tempo.

Não sabia bem o que dizer. Sei lá, Patrick não era atraente fisicamente, eu acho, eu não sei bem o que faz um cara ser atraente fisicamente... Nunca parei pra pensar. Larissa era linda da cabeça aos pés. Como qualquer mulher linda, qualquer movimento dela era pensado, sensual. Eu gostava do jeito como ela olhava pra mim, parece que ela me queria, e eu gostava disso. Patrick sei lá, ele era magrinho, tinha o cabelo todo bagunçado, mal me encarava, não tinha nada a ver com aparência. Mas eu amava o jeito dele, o raciocínio rápido, os jogos de palavras, o jeito esquivo, engraçado, nunca conheci ninguém assim, tão diferente. Não sei se Yara tava certa, se eu tava apaixonado, foi bom quando eu beijei ele. Nunca tinha beijado um cara, fisicamente eu não tinha sentido nada diferente em beijar uma mulher, mas a minha mente explodiu. Tipo, eu tava tão perto dele, era como se eu tivesse vencido por um momento aquela parede que eu tava tentando entrar, era como se eu tivesse conseguido, completado um desafio. E eu senti ele respirar tão fundo, como se alguma coisa acordasse dentro dele. Será que ele também tinha gostado? Na hora ele saiu sem dizer uma palavra, mas eu vi ele sorrir, não era aquele “u’ tímido que ele fazia com os lábios, ele mostrou os dentes. Será que ele também gostava de mim? Será que ele tava brincando comigo? Droga, eu precisava daquela sensação de novo.

Me vesti rápido: uma calça, tênis, e uma camiseta toda branca que foi a primeira que eu vi na minha frente. Minha mãe não ia me levar. Peguei um ônibus e mandei uma mensagem pra Larissa. Em uns 10 minutos eu cheguei. A casa dela era enorme, e praticamente toda a escola tava lá, menos Patrick, é claro. A garagem tava lotada de gente, e a música tocava tão alta que eu imaginava que os vizinhos fossem reclamar. Imaginei Patrick lá, acho que ele provavelmente sentaria num canto e começaria a desenhar as pessoas como se fossem aqueles pinguins que andavam no gelo. A Larissa tava linda, com um daqueles vestidos sem mangas que eu não lembro o nome, marcava bem as formas dela. Ela me beijou antes mesmo de me dar oi.

–Vem cá moor, vou pegar uma bebida pra gente. – Eu acho que ela já tinha bebido um pouco, a julgar pelo tom de voz dela. Ela me serviu vodka num daqueles copos vermelhos de plástico, acho que Larissa fazia de tudo pra parecer uma festa daqueles filmes.

–Gente, esse é o Leo, ele é novo lá na escola, ele tá comigo.- Ela dizia pra todo mundo que ela encontrava na festa, mesmo pra quem não perguntava - Acho que Larissa bêbada não tinha muita diferença de Larissa sóbria, a não ser pela voz. Ela me pegou pela mão e me levou até uma mesa perto da piscina, umas duas garotas tavam lá, demorei a lembrar o nome delas: Bruna e Camilla, eram as mesmas que estavam com ela no meu primeiro dia de escola. Elas não paravam de rir a cada coisa que eu falava, eu não sei nem se elas tavam pensando. Acho que foi depois do quarto ou quinto copo “virado” que elas resolveram puxar assunto. Eu já tava meio zonzo.

–E aí Leo, seu amiguinho não veio? – Perguntou uma delas, Bruna. Lembrei que tinha sido ela que me viu quando eu fui ao parque com Patrick.
–Não. – Eu ri. Não sabia muito o que responder.

–Que cara esquisito né? Será que ele tem algum problema? Sei lá, isso não deve ser normal. – Respondeu a outra, Camilla.

–Você que é amiguinho dele Leo, o que acha? – Larissa falava com um tom de desprezo quando se referia a Patrick, todo mundo naquela mesa falava assim.

–Não... Eu não sou amigo dele. É que ele me chamou pra fazer o trabalho de biologia, sei lá, eu achei que ele fosse mais legal. Mas é um cara muito chato. – Eu não queria ter dito aquilo, mas elas não iam me deixar em paz se eu começasse a defender Patrick.

–Imagino- Larissa riu. – Agora você já sabe quem é chato e quem é legal mô, só ficar comigo que te mostro as pessoas certas. – Ela disse, se levantando e me dando um beijo no canto do lábio, e tentando escorregar até me dar um beijo de verdade, como ela sempre fazia, mas a bebida não ajudou muito: ela se desequilibrou e derrubou o copo de caipirinha em mim, tava quase cheio. A minha camisa ficou toda manchada com aquilo, e transparente ainda.

–Foi mal mo. Desculpa eu. – Ela disse com a língua meio atrapalhada. Eu não lembro direito o que eu disse, mas lembro que quando bebo fico com muita vontade de ir no banheiro. Eu não tava pensando no que a minha mãe ia dizer se cheirasse minha camisa impregnada de vodka, mas por algum motivo achei melhor tirar e molhar na torneira. Aquele negócio tava grudando no meu peito. Deixei a torneira ligada com a camisa na pia e fui em direção ao vaso. Acho que Yara tinha dito alguma coisa sobre trancar a porta, porque senti alguém tocar meu ombro:

–Eai cara. –Era Alex, aquele cara que tava no pátio da escola, me virei de lado pra ele não ver nada.

–Eai. – Não fazia a menor ideia do que dizer. Ele não parava de olhar pra baixo, isso era estranho pra caramba.

–Escuta cara, tu tá pegando aquele viado lá, o... Patrick? – Fala sério, será que ele tava chapado?

–Não cara... Mas na boa, será que eu posso mijar em paz?

–Beleza cara... Mas é que eu queria saber... Tu curte? Eu vi vocês se beijando pela janela... Tu curte né? – Alex tava agindo esquisito, eu tava tão bêbado que a voz dele tava saindo com eco. Eu não sei direito o que aconteceu. Mas ele foi se aproximando e sei lá, ele me agarrou. Tipo ele passou o braço pelas minhas costas e com o outro ele puxou minha cabeça. No começo eu achei nojento pra caramba, mas não sei, eu podia ter empurrado ele longe e dado um soco nele. Mas eu não quis, eu queria assumir o controle. Ele era grande até, mas eu era mais forte que ele, eu era mais alto, eu virei ele de costas e empurrei ele contra a parede do banheiro ele virou a cabeça e eu continuei beijando ele, mas não era ele que tava me agarrando, eu tava agarrando ele, eu tava mandando ali. Eu tava ouvindo minha respiração, eu tava excitado pra caramba, tipo sei lá, tem um prazer estranho agarrar outro cara, era como se eu provasse que sou mais forte que ele, que eu posso sei lá, dominar. Eu soltei ele, se eu continuasse ali eu não sei o que eu ia acabar fazendo.

–Cara, nenhuma palavra sobre isso, entendeu? – Eu seguirei os pulsos dele com uma mão só, enquanto prendia o pescoço dele com o baço. Ele fez que sim enquanto retomava o fôlego, eu deixei ele livre, ele torceu minha camiseta e atirou em mim. Eu pendurei ela no pescoço e saí.

Larrissa mordeu o lábio quando me viu sem camisa.

–Nossa mor, demorou hein. - Ela tava mais bêbada que nunca.

–Eu tava tentando lavar a camiseta, mas o cheiro não saia nunca. – Eu ri.

–Não faz mal, você fica muito melhor sem. – Ela passou os braços em volta do meu pescoço, eu puxei ela contra mim, e beijei ela, era isso que ela queria, eu senti quando ela raspou as unhas nas minhas costas. Ela ainda não tinha visto nada, eu empurrei ela contra o balcão e deixei ela deitada. Ela guiou minhas mãos, eu podia sentir o coração dela acelerado. Dessa vez fui eu quem mordeu o lábio. Eu continuei beijando ela, se ela quisesse eu não pararia ali, mas ela me empurrou com o braço, já tava indo longe demais.

–A gente tem que sair mais vezes. – Ela disse, arfando. – Eu concordei. A festa já tava no fim. Eu me despedi dela com um beijo. Vim andando pra casa, minha cabeça tava confusa demais pra pensar em chamar um taxi. A rua tava rodando, eu tive sorte em lembrar onde eu morava.

Já deviam ser quatro horas quando voltei pra casa, só consegui me jogar na cama e tirar a calça, caramba, que noite. Eu não sei se era a camiseta ou eu que tinha bebido demais, mas eu sentia cheiro de álcool por tudo. Me virei pra cada lado da cama mas minha mente ainda tava girando, precisava entender tudo o que tinha acontecido. Eu coloquei a mão na minha cueca e me toquei, foi meio que instintivo, nossa, era o único jeito de conseguir dormir depois daquilo, eu não conseguia pensar em outra coisa. Na hora foi estranho eu não sabia se pensava no Alex ou na Larissa, acho que vi os dois ao mesmo tempo. E depois peguei no sono. O que que eu fiz? se a Yara souber vai me matar.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Espero que tenham gostado. Não deixem de deixar reviews haha XD