Guardian Angel escrita por Juliano Adams


Capítulo 3
Ele é uma ilha


Notas iniciais do capítulo

Bem, leitores... Eu acho que devo explicações... Foi bem difícil pra mim ficar sem entrar no nyah, eu ia excluir a historia, mas tinha tantas ideias que achei melhor deixar em hiatus. Agora que passei na facul (o/) vou poder continuar com tudo. Espero que não tenham me deixado g.g



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/530911/chapter/3

Leonardo se deixava hipnotizar um pouco por aquele perfume, não sabia bem porque, mas era como se o pertencesse. Quando o aroma se diluiu no ar e a sombra de Patrick se misturou as sombras daquela casa velha Leonardo foi tomado de um desejo bem comum para os garotos de sua idade: o de acessar a internet. Sim, precisava falar com Yara.

Apesar da comida ser uma de suas grandes paixões, Leonardo pôs o bife com fritas em segundo plano dessa vez, nada poderia ser mais urgente que tentar entender aquele enigma vestido de preto.

–Yara, o cara é uma ilha. – Bufou ele tirando o casaco e sentando-se em frente a câmera.

–Ilha? – Perguntou a amiga enquanto se sentava com um vidro de esmalte em uma mão e uma gata persa preta na outra. Aquela era Anabel, ferrenha inimiga de Leonardo. Ela adorava arranhar.

–É estranho, ele fala pouco, acho que vindo dele só ouvi umas duas frases com mais de cinco palavras. Mas quando fala ele é engraçado. Ele tem um senso de humor ácido. Eu gostei de conversar com ele. O problema é que ele não é muito convidativo. – Continuou Leonardo acenando para Anabel, que continuou lambendo seu pelo despreocupada.

–Timidez é normal. – Respondeu Yara aproximando-se da tela. – Não insista muito com ele. Pelo menos ele não te ignorou, já é um bom caminho.

–Eu não sei porque tão fazendo isso. – Respondeu Leonardo. – Mas parece que ele tem uma resposta pra alguma coisa. Pode parecer patético, mas eu preciso falar com ele, por alguma razão.

Yara sorriu com os lábios, como se soubesse mais do que ia revelar.

–Acontece...Não acredita em destino? – Ela riu. – Talvez você dois precisem de respostas. As vezes os livros não tem todas – Ela soou misteriosa, Leonardo riu, cético. Um dia talvez admitisse que Yara estava com a razão

–Ih, você tá muito misteriosa hoje. Vai virar consultora espiritual? – Brincou ele.

–Claro, “Mãe Yara” já soa bem, já tenho o gato, só preciso de um turbante e uma bola de cristal. – Brincou ela, arregalando os olhos e fazendo movimentos com as mãos. Leonardo soltou uma gargalhada.

–Obrigado pela consulta então Mãe Yara, agora eu vou saindo, o bife e as fritas me aguardam. –Disse ele, cumprimentando e desligando a câmera. Do outro lado Yara sorriu e acariciou a gata. “as vezes os livros não tem todas as respostas”.

Leonardo desceu correndo, não sabia o que estava acontecendo, mas naquela hora não importava. Não podia pensar com fome. Primeiro tratou de rechear o estomago com camadas e mais camadas de bife com fritas. Depois pensou no que estava acontecendo. Não entendia o que Yara disse e não entendia porque continuava falando com Patrick. Não estava condoído dele. Leonardo nunca sentira pena de muita gente (aliás, de quase ninguém). A realidade era que Patrick era uma pessoa extremamente interessante (a maioria dos loucos é assim, e é por isso que são mais legais que as pessoas normais) Lembrou-se de Larissa que praticamente contara todas as coisas mais importantes de sua vida em cinco minutos (esmaltes de unha, uma banda famosa, uma viagem para os EUA e uma festa de quinze anos). Com Patrick não era assim. Uma conversa de um dia não revelou quase nada sobre ele. Continuava um mistério. Um mistério que gostava do século XIX. Quem seria Patrick? Um psicopata? Um aficionado em literatura vitoriana? Apenas um cara tímido? Leonardo não sabia responder nem o porquê de estar se perguntando isso.

Tentou descansar, uma mensagem de Larissa chegou no celular, carinhas sorridentes insistentemente convidavam para um sorvete: Leonardo não viu outra opção a não ser aceitar. Saiu para duas horas enfadonhas de caminhada em meio ao shopping da cidade. Larissa parecia ignorar o sorvete derretendo em suas mãos, as vitrines tinham algum poder hipnótico sobre ela: a cada dois metros andados, Larissa parava por cinco minutos admirando os vestidos e objetos por detrás da vidraria. Por vezes entrava e perguntava coisas aos vendedores. Leonardo estava no seu limite.

–Que tal sentar um pouco? – Sugeriu ele, e agradeceu aos céus por ela ter concordado.

–E então, gostando do passeio? – Perguntou ela. Leonardo quase riu imaginando como alguém podia perguntar algo do tipo sem imaginar uma possível resposta negativa.

–Sim, você é ótima companhia. – Riu ele, com o sorriso mais bem encenado da história.

–Aww. – Larrisa, como muita gente ficaria após receber tal elogio, ficou sem saber dizer nada e só se limitou a esse gemido. – Mas então, por que não sentou do meu lado hoje? Ficou lá com o esquisitão... – Larissa parecia do tipo que gostava de companhia. Quem não gostaria da companhia de Leonardo?

–Ele parece legal, eu só queria entender por que ele não fala com ninguém. – Intrigou-se Leonardo. No fundo queria descobrir algo através de Larissa. É bem provável que ela não soubesse nada, Larissa parecia do tipo que não reparava muito nos outros. Mas não custava perguntar, não se pode subestimar as informações de ninguém.

–No primeiro ano ele era mais normal, ele até falou comigo uma vez ou outra, nem lembro sobre o que, mas ele era meio antipático. Ah sim, ele me xingou porque eu tava removendo esmalte na aula e ele não gostava do cheiro da acetona. Um chato. Depois do segundo ano que ele ficou meio assim, esquisitão. – Larissa contava vagamente a sua versão da história. É importante ressaltar que o cheiro de acetona não é realmente agradável a alguns, e a sala de aula não é o melhor lugar para remover esmalte, mas talvez Patrick fosse um chato mesmo.

–Vai ver aconteceu alguma coisa. – Leo duvidava que iria arrancar algo mais daquela conversa, talvez outra peripécia sobre a estética das unhas e seus chatos opositores, nada além, mas não custava levantar a suspeita. –Você já ouviu algo sobre a família dele?

–Eu ouvi falar que ele era gay... Sei lá, nunca prestei atenção no jeito dele, mas os gays que eu conheço são felizes. – Larissa provavelmente não sabia que a palavra “gai” significou feliz durante muito tempo, e depois, por algum motivo passou a designar rapazes como Patrick, infelizmente isso não quer dizer que todos os gays eram felizes, Patrick não era muito. Independente da etimologia da palavra, e da opinião de Larissa a respeito. Mas a afirmação serviu para levantar as suspeitas de Leonardo a respeito de Patrick. Nunca entendeu muito disso, não que tivesse preconceito, apenas nunca conhecera nenhum. Patrick não era o tipo de gay que Leonardo tinha em mente, o que não importa muito, pois gays não são só um tipo. Leonardo percebeu que aquilo não lhe dizia muita coisa, mas explicava porque os garotos batiam nele (embora ser gay não devesse explicar isso). Talvez estivesse triste por causa disso. Leonardo não teve tempo de concluir nada, logo Larissa mudou de assunto:

–Bem, agora chega de falar dos outros. Vamos falar de você. - Disse ela se aproximando. – E aí, tem namorada?

Leonardo sorriu. Sabia onde ela queria chegar.

–Não, solteiro.

Ela riu.

–Tá carente? Vou te dar um abraço. – Disse Larissa, entusiasticamente envolvendo os braços no rapaz. Eles se encararam por alguns segundos, e não é preciso dizer que acabaram se beijando, pois é isso que ele esperava. Leonardo já podia fazer mais uma marquinha na agenda de telefones, havia conquistado mais uma.

–E então gatinho? Pronto pra noite na minha casa sexta? – Disse ela, com um dos seus sorrisos infantis.

–Claro – disse ele voltando a beijá-la.

Após intermináveis amassos, não menos intermináveis paradas para contemplar vitrines, dois potes de iogurte congelado e duas horas de um filme extremamente raso, Leonardo viu-se livre de seu mais novo affair, antes de partir analisou cuidadosamente as medidas da moça, afim de poder relatar com precisão aos amigos. Fazendo os cálculos, percebeu que com essa havia igualado o número de loiras ao de morenas. Estava de volta em casa. Já era tarde, e sua mãe já estava dormindo. Ele, numa atitude previsível, despiu-se, despejando as roupas no lugar onde a gravidade desejasse, colocou o mesmo shorts do dia anterior e caminhou até a cozinha para pegar uma tigela de o-que-tivesse-na-geladeira. Yakissoba frio, na fome que estava não se daria ao trabalho de pressionar o pequeno botão do micro-ondas. Ligou a televisão, apenas para quebrar o sufocante silencio da sala.

Enquanto fitava o vazio, tentava resolver aquele quebra-cabeças. Não sabia exatamente por que aquilo o interessava tanto. Era bonito e sabia disso, financeiramente estável e sabia disso. Havia a loira bonita, a festa onde estariam mais loiras bonitas. A manutenção de sua vida social era classificada como pouco preocupante naquela cidade (bem como em qualquer outra), seu time de futebol estava vencendo o campeonato, e não possuía uma espinha no rosto há 6 meses. Por que a preocupação com o rapaz esquisito possivelmente homossexual depressivo potencialmente psicopata taciturno que vivia no século XIX? Leonardo começou a pensar em uma coisa nova, que geralmente não passava pela sua cabeça: os sentimentos das outras pessoas. Começou a postular: O que levara Patrick a ficar assim? É certo que ninguém é assim normalmente (Pelo menos Leo não conhecia ninguém) Seria um problema familiar? As brincadeiras dos garotos? Leonardo hesitou, mas queria descobrir, não era o tipo de pessoa que ficava sem as respostas que queria (mesmo que em grande parte do tempo as perguntas fossem “o que tem para comer? “tá solteira?” e “me dá dinheiro, pai?”) Não importava, Leonardo tinha uma certa atração por enigmas. Mas era um garoto. Leonardo estava acostumado com enigmas femininos – e seguro de que era o tipo feminino que lhe agradava – ainda assim o garoto o despertava curiosidade. Não tinha muitos amigos homens, lembrou, talvez estivesse precisando de alguma companhia que não a feminina. Leonardo não estava acostumado com “talvezes”, mas achou interessante possuir além de certezas na mente. Iria descobrir quem era Patrick.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eai o que acharam? juro que nao desaparecerei mais, mesmo, até pq os proximos capitulos estão prontos, e n demorarei mais q uma semana. haha espero que tenham gostado, e preciso da opinião de vocês, reviews são bem vindas u.u