The 69th: For What I Believe In escrita por Luísa Carvalho


Capítulo 2
Quase Lá


Notas iniciais do capítulo

Esse primeiro capítulo é mais uma introdução ao próximo, espero que gostem! (:



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(POV Burton)

Confesso que não tive coragem de dizer nada a ela durante a Turnê dos Vitoriosos, e isso devido a diversos fatores.

O primeiro deles é o que faz doer o coração: June nunca foi a mesma depois dos Jogos, e seus traumas posteriores à Arena são maiores do que os de qualquer outro tributo que já conheci. Quando não estava com Fennie, Elise ou comigo, June não saía de seu quarto no trem; trancava a porta e por lá ficava até a próxima refeição ou sessão com a equipe de beleza. Chorava muito, e todos os dias. Não tive coragem de intervir, pois, considerando meus próprios problemas pós Arena, decidi que o melhor seria deixá-la sozinha. Pelo menos era isso o que eu a fazia pensar, pois, na verdade, nunca a deixei sozinha por muito tempo. Encostava na porta de seu quarto e a ouvia chorar o quanto quisesse. Quando cessavam os soluços era porque June havia finalmente dormido, então eu voltava para meu próprio quarto e me permitia cair no sono como ela.

Além disso, não disse nada a June porque sei que o que sinto parece bobo, e que não há espaço para qualquer tipo de romance em nossas vidas. June agora é uma mentora e, pelo que conseguimos arrancar de suas palavras, quer ir ao Distrito 6 organizar projetos comunitários para a população. Se conseguir levar sua família ao distrito, ela não terá tempo para romances nem mesmo antes dos Jogos.

Por último, sei que não sou o tipo de pessoa de quem ela precisa e nem quem merece. Fui seu mentor durante a Edição 68 e passei muito tempo ao seu lado, mas o problema é que gastei tanto desse tempo tentando afastar meus sentimentos que acabei tratando-a mal. June deve me odiar, considerando tudo o que eu já disse a ela e a seu irmão. E, sim, sei que como pessoa fui um idiota por ter priorizado minha estratégia como mentor. Manter-me afastado dos tributos funciona para seu próprio bem e não duvido disso, mas não posso agora tentar recuperar todo o tempo que gastei com arrogância. Nunca precisei fazê-lo, mas agora que quero não sei se isso vai ser possível.

Mas June não era meu único tributo, havia Cameron. E apesar de ele ter precisado de uma atitude dura para cair na real, sei que o machuquei. Cameron. Aquele que também se ofereceu como tributo quando viu que não tinha como evitar que sua irmã o fizesse. Aquele que morreu em sua frente já no final dos Jogos pelas mãos de uma garota em que June um dia confiara. Cameron. Nome tão familiar a mim e, pelo que ouvi durante os últimos dias, tão constante nos sonhos de June. Desde sua morte, June não mencionou seu nome e teve repulsa àqueles que o fizeram. Talvez seja melhor assim: talvez Cameron pertença apenas a sua memória e seu nome não seja digno da Capital.

Sei como é a dor de um Vitorioso, mas para June é diferente. Eu cresci em meio à fome, à pobreza, aos horrores dos Jogos. Já ela viveu tendo do bem e do melhor que a Capital poderia oferecer. A Arena foi demais para se aguentar de uma vez.

Eu quero saber o porquê de June ter se envolvido com tudo isso.

Eu quero saber o que a motivou durante todo esse tempo.

Mas, mais do que qualquer coisa, eu quero ser aquele a dar-lhe esperanças para continuar.

**

Acordo um dia de manhã em meu quarto no trem e me lembro de que aquele é o último dia da Turnê, o que significa que retornaríamos à Capital, ficaríamos lá durante um ou dois dias e depois eu voltaria ao Distrito 6. Nesse meio tempo, June deverá se decidir se viverá na Aldeia dos Vitoriosos, no 6, ou se simplesmente continuará em seu atual lar na Capital.

Sei que o que June realmente quer é se mudar para o distrito, mas tenho dúvidas sobre ela fazer com que toda a sua família a acompanhe. O que me preocupa é que, se as coisas não derem exatamente certo nesse quesito, não sei quando a verei de novo. Talvez a equipe que comanda os Jogos permita dois mentores aos próximos tributos do Distrito 6 já que agora há dois Vitoriosos e um deles é da Capital. Porém, mesmo que haja essa possibilidade, ainda nada é certo; e eu não conseguiria suportar a ideia de ficar longe de June por tempo indeterminado sendo que nunca tive coragem de contar a ela como me sinto nem oportunidade de saber se ela sente o mesmo por mim.

Assim, é quando me levanto da cama que percebo que estou decidido a falar com June. Se não o fizer agora, só Deus sabe quando a vida me dará uma nova chance.

Visto-me como de costume e saio do quarto, seguindo pelo corredor até o local onde a mesa do café está posta.

A primeira - e única - coisa que vejo é Elise Werbern, a enviada da Capital para os tributos do Distrito 6. A mesma que teria pego dois papéis de dentro das bolas de vidro se não fosse por June e Cameron, que se ofereceram como tributos antes mesmo do sorteio dos nomes. A mesma Elise que fez de tudo para tentar impedir que os dois jovens da Capital entrassem nos Jogos.

– Bom dia, Elise! - exclamo, vendo que ela é a única sentada. - Você não adora um cômodo cheio?

Ela dá um sorriso sem entusiasmo, e é assim que percebo que não achou tanta graça em meu sarcasmo.

– Hoje vai ser um dia duro - diz, enfim. - Além de todos estarem cansados por causa da Turnê, pode ter certeza de que June não está nada bem. Vai ser uma surpresa se aparecer para comer algo hoje.

Fico em silêncio durante um tempo, concordando mentalmente e relembrando a noite passada, o quanto os soluços e sussurros de June demoraram a cessar. Me atormenta saber que ela não se sente confortável em conversar com nenhum de nós a ponto de falar sozinha.

Bom, não exatamente a qualquer um de nós.

Elise continua a falar quando percebe que meu silêncio significa que não quero comentar sobre June.

– Voltar para casa depois de tudo isso sem saber o que esperar... Eu tenho dó da minha Vitoriosa, sabia? - Percebo que sua voz assume um tom choroso exagerado e desejo simplesmente poder pegar meu bolinho e sair do cômodo, mas me sinto mal em deixá-la sem atenção alguma. - June passou por tanta coisa que às vezes me pergunto como aguentou tudo isso com tão pouco preparo. Me lembro muito bem do quanto tentei impedi-la quando se ofereceu, do quanto seus olhos pareciam ao mesmo tempo decididos e incertos...

– Já chega - afirmo, e dessa vez realmente me levanto. - Vou pegar algo daqui e levar para June comer, bem longe dessa conversa. Você sabe que eu te amo, Elise, mas não pode dizer essas coisas tão perto dela. Ela já sofre o bastante tendo tudo isso em mente, não acha?

Vejo que ela contrai o corpo levemente, como se estivesse se sentindo arrependida. Sei o quanto é difícil para ela ficar quieta e conter tudo o que quer dizer. Afinal, é Elise.

– Uau, você realmente se importa com ela, Burton.

Você nem imagina o quanto.

Mas, em vez de dizer isso em voz alta, pego dois bolinhos de chocolate e vou em direção ao corredor, fazendo a porta na minha frente abrir-se automaticamente.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Se leram o capítulo, por favor não deixem de comentar. Sei que pedir é chato, mas os comentários, recomendações e coisas do tipo são as motivações para que a fic continue (: