POV Astrid

Mais três dias e nem sinal dos irmãos. A esse ponto comecei a procura-los em ilhas vizinhas, mas não havia conseguido nada.

Já era de madrugada quando cheguei de outra busca, sem sucesso. Tempestade foi dormir e Medo se aconchegou em meu colo.

–Vá dormir, Milady. – Soluço beijou minha bochecha. – Já está tarde.

–Já vou – falei baixinho e ele se retirou, mas continuei sentada.

Não se passou nem uma hora e Ian aparecera para me irritar, com Valquíria e Brenda o seguindo, como se não fossem a lugar algum sem ele.

–O que foi, lindinha? – Ian fez uma voz considerada fofa por alguns. – Perdeu o motivo de viver depois que os irmãos sumiram?

Ouvi Brenda rir.

–Parece que sim, não se dedica nem mais ao namorado.

Encarei-a. Ela sorria como se o que acontecesse comigo fossem um mar de rosas na vida dela. E por que não seria? Valquíria mantinha o rosto inexpressivo.

Ian e Brenda continuaram a falar mais um monte de baboseiras, mas eu apenas ignorava e ficava quieta, e, graças aos deuses, eles se retiraram.

–Acho que vocês não tem tanta amizade quanto comentou, não é? – assustei com a voz de Valka, o que me fez dar um pequeno pulinho, deixando Medo desconfortável e fazendo-o sair de meu colo.

–Ah, oi, senhora Valka. – ela se sentou ao meu lado – P-Pois é, não andávamos mais nos entendendo bem, sabe? – menti.

–Não precisa mentir se não gosta deles, querida. Mas vim aqui dizer para você ir descansar, sei que está preocupada com Ágda e Ruan. Sei como é sentir falta de alguém, pensar que essa pessoa pode estar em perigo, talvez morta ou até mesmo em um lugar melhor, mas essa dúvida machuca profundamente. – seu olhar ficou distante por alguns segundos. - Enfim, vá descansar um pouco. Eles estão bem, pense nisso.

–Obrigada, senhora Valka. – encarei as estrelas como se elas pudesse me dar alguma resposta – Já vou, mas antes... – pensei bem em minhas palavras. – Não sei se é uma hora boa, mas... Já foi vítima de Drago Sangue-Bravo?

Pensei que ela iria ficar enfurecida ou até mesmo confusa, mas Valka apenas suspirou.

–Sim, Astrid, e me lembro de você, bem pequena, no dia em que fui capturada. Quase não te reconheci, você mudou muito, porém... Quando te vi, parecia tão óbvio que era você... Eu não sei... Mas, sei que você está numa missão – arregalei os olhos – Calma, calma! Não vou contar a ninguém. Você tem um coração bom, Astrid. Pense no que vai fazer, tente evitar a guerra.

Eu não sabia o que dizer, estava boquiaberta, a única coisa que consegui pronunciar foi:

–E-eu vou tentar...

–Eu sei que vai. Boa noite.

***

As palavras de Valka não me largavam um segundo, mas consegui distanciá-las para uma nova busca por Ágda e Ruan.

Era a metade da tarde do dia seguinte e nada.

Dei dois tapinhas de leve no pescoço de Tempestade e ela pousou no local mais próximo. Olhei em volta.

–Achou algo, garota? – ela balançou a cabeça. – Tudo bem, vamos comer algo e depois... – meus olhos focaram em uma ilha bem pequena, a qual eu não havia percebido. – Ali! Aquela ilha! Vá até lá, Tempestade.

Quando Tempestade pousou, percebi que a ilha não era grande coisa, mas era um pouco assustadora.

Havia árvores altíssimas, lagos e lama. Era escuro para uma tarde e mais frio que Berk.

Parei um pouco antes de adentrar realmente a floresta, numa parte ainda clara.

–Fique aqui, Tempestade. Qualquer problema que houver, eu te acho, está bem? – ela chacoalhou a cabeça, dessa fez afirmando.

Caminhei, entrando devagar na floresta. Não havia nada que me chamasse atenção, nada fora do normal. Até que eu vi um dragão.

Apenas um Escalderivel quase totalmente imerso em um lago. O dragão permanecia quieto - e parecia estar guardando a entrada de uma caverna, que estava ao seu lado.

Quando me aproximei, ele se debateu bruscamente, tentando me afastar e começou a emitir sons típicos de Escalderiveis. Ouvi passos vindos de dentro da tal caverna, junto com alguns resmungos.

–Vann, fique quieto! Por que me atrapalha tanto por nada? – repreendeu o dragão que se aquietou.

A garota que saiu de lá não devia ter mais de vinte e cinco anos. Ambos os cabelos e olhos eram castanhos escuros, a pele morena clara. Tinha nas mãos a ponta de uma lança, com um fio de sangue na extremidade. Suas vestes eram de um tom vinho com poucos detalhes brancos e um capuz que cobria uma parte do cabelo enrolado. A garota pareceu finalmente me ver.

–Ah, não foi por nada. – sorriu enquanto retirava o capuz – Foi por algo bom, mas não na hora certa. Quem se importa? Bem-vinda, Astrid.

–Como sabe meu nome? – tirei o machado de minhas costas. – Quem é você? Aliás, eu deveria te conhecer?

Ela fez um barulho de desaprovação.

–Não consegue lembrar-se de sua amiga, Astrid? Sua melhor amiga, e, na verdade a única?

–C-Catherine? – perguntei receosa. Eu não sabia que ficava feliz ou com raiva.

–Em carne e osso. – afirmou.

–Mas como... Você estava... Você devia estar morta.

–Devia, mas não estou. Mas vamos pular toda essa conversa, quem sabe um dia explico tudo, se nenhuma de nós morrer. – olhou fixamente para mim, os olhos escuros maldosos, depois começou a andar em círculos, gesticulado com a mão que estava segurando a ponta da lança. – O que interessa agora: não trabalho para ninguém, nunca trabalhei e nunca trabalharei. Estou apenas fazendo um favor de vingança com uma companheira de traição sua. Deve estar atrás dos pequenos irmãos, não é?

–O que fez com eles? – perguntei, levantando o machado. – Onde eles estão?

–Acalme-se e me siga. – então adentrou a caverna.