Herói Grego escrita por LadyCandy, Juuh Cupcake


Capítulo 1
Capítulo 1- Tudo muda


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoal, esta é a minha primeira fic, não sou uma escritora das melhores, ainda estou aprendendo. Desculpem pelos erros de português ou qualquer outra coisa. Boa fic e tomara que gostem!


Beijinhos '3', Kara Mel



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Então, esse é o meu fim. Como, de tão pouco tempo a vida de uma pessoa pode mudar, acontece de uma hora para outra e a vida nunca mais continuará igual, muitas vezes nem para você mesmo. São nestes momentos que vejo como a vida é frágil, e preciosa.

Assim que ele abaixar o seu braço, sua espada com certeza irá quebrar algumas das minhas costelas, depois irá acertar os meus pulmões, e será o meu fim. Vou morrer.

Claro, poderia tentar me defender, contra-atacar, não sou uma pessoa que se acovarda facilmente, sei lutar aceitavelmente bem, dá para sobreviver. Mas não tenho como continuar, já estou muito ferida, e a força dele seria maior que a minha, tentar me defender seria inútil. E além do mais, não chego aos pés de um deus lutando.

Meu propósito nunca foi vencer. Tenho um mínimo de inteligência ou no máximo bom censo, para saber que quando entrei dessa luta, nunca mais batalharia novamente. Não vim para ganhar, mas para defender a quem eu amo. Um tributo de amor para aqueles que eu tanto eu quero bem, ao ponto de dar a minha vida em troca de alguns minutos a mais para que eles possam escapar.

Bem, comecei muito precipitadamente, melhor ir do início, quanto tudo isso começou, quando tudo aconteceu...

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Minha história começa no dia em que eu nasci, que não foi muito dos mais comuns.

Minha mãe começou ter dores horríveis e soube que eu estava chegando, então foi direto para o hospital, mas na trajetória até lá que a coisa ficou complicada, desde assaltantes violentos ( que quase a mataram) para motoristas malucos ( que quase atropelaram-na), ou seja, o universo decidiu fazer minha mãe pagar suas contas naquele dia. E no hospital, quando ela pensou que a fúria dos deuses iria parar de atormentá-la, acabou não sendo muito diferente. Mamãe quase me perdeu nas mãos de um médico nada competente, ao contrário das enfermeiras que me salvaram, teve até um incidente de uma mulher tendo um surdo psicótico tentando me levar! Mas sempre acabava rindo dessa história quando minha mãe a contava, imagine rir quando um cara tenta esfaqueá-la ou uma mulher roubar a sua filhinha? Mas não é a história em si, e sim o jeito que ela contava, as partes mais sombrias ela tornava as mais hilariantes.

Minha mãe sempre foi uma pessoa engraçada, sempre viu o lado bom das coisas e pessoas. Ela era a minha confidente, minha amiga, minha mãe. Nunca se zangava comigo, mesmo com as minhas notas baixas, ou o meu comportamento estranho, muito diferente das outras crianças. Ela era a pessoa na qual eu mais amava no mundo. Ou ao menos era, ela morreu quando eu tinha 10 anos.

Ela estava no meio de um temporal, tinha acabado de terminar o turno e estava voltado para casa, estava com pressa de chegar em casa e começar os preparativos da viajem que iriamos fazer no dia seguinte, e quando aquele raio derrubou uma árvore na pista da minha mãe, não deu tempo dela fazer nada e apenas bateu. Foi isso, pelo menos, o que a policia disse.

Fui mandada para a casa de minha avó, ela já é bem velhinha. Passa a maior parte do dia em casa, ou tricotando na sua poltrona ou na cozinha preparando dos mais variados doces, os quais ela faz com todo o amor. Eu a amo, ela sempre fez tudo por mim, sempre cuidou e me protegeu, deu carinho e atenção, nem quando acontecem incidentes estranhos comigo ela desisti de mim. Quando minha mãe morreu, ela foi quem me acolheu de coração aberto, me protegeu do mundo entre seus braços. Minha avó sempre diz que sou tudo o que mais importa para ela, quando perdeu sua filha eu fui tudo o que lhe sobrou. Somos o mundo uma da outra.

Já se passaram cinco anos desde que mudei para a casa da minha avó, finquei raízes aqui. Tenho minha vida agora voltada para este lugar. Frequento um bom colégio (não que eu goste de frequentá-lo), tenho grandes amigos lá (quase nenhum mas tenho), estou conseguindo passar de ano ( não direto, é claro), ou seja, gosto daqui.

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Acordo com o som do despertador, custo a levantar mesmo sabendo que vai me restar pouco tempo para que eu me apronte, e assim que me levanto vou correndo tomar banho. Não posso me atrasar. Lavo os meus cabelos, me ensaboo e saio para me enxugar, penteio os cabelos e os prendo em uma trança. Não me resta muito tempo. Me visto com a primeira roupa que acho no meu armário e saio correndo do meu quarto. Desço as escadas, dois degraus de cada vez, tropeçando a cada três, e chego na cozinha, vasculho a geladeira com olhos de águia até achar alguma coisa que goste, pego um iogurte e dou um beijo de despedida em minha avó ( que só agora percebo que estava ali):

-Maya, querida, não esqueça que hoje à noite eu estarei na casa da minha amiga.

E então saio correndo porta a fora, em direção ao colégio.

Não moro muito longe da minha escola, um trajeto de trinta minutos andando, mas estou com pressa, muita pressa.

Chego em quinze minutos, mas mesmo assim continuo atrasada, passo pela entrada onde encontro minha amiga, Eleonor.

(Eleonor é minha melhor amiga desde que entrei neste colégio. Conhecemo-nos logo nos primeiros dias de aula. Eu a encontrei em dos lugares que normalmente lanchava sozinha, era um lugarzinho afastado do centro dos grupos de pessoas, não gostei das pessoas ali, e pelo que vi, elas também não gostaram de mim, então ficava no lugar mais afastado que podia. Ela estava lá sentada comendo e olhando para o nada, me sentei também e comecei a comer o meu lanche, assim que ela percebeu a minha presença começou a puxar assunto comigo. Dividíamos os mesmos gostos e opiniões, nós duas também achávamos aquele lugar a as pessoas que os frequentavam ridículas, e assim quando o sinal bateu para finalizar a pausa, nós já éramos melhores amigas. Ela não tinha nenhum amigo como eu. Eleonor não é muito do tipo que se enturma facilmente, sim ela é engraçada e tem um ótimo gosto para filmes, mas ela é o tipo de pessoa que você passa e pensa “Esquisita...”. Ela tem um cabelo de cachinhos louros bem volumosos, no qual às vezes parece uma vassoura, no geral ela tem um rosto muito bonito ((Grandes olhos cor de avelã, um nariz perfeito e lábios de uma boneca.)), mas tudo o que se percebe quando olha para ele são os enormes e grossos óculos fundo de garrafa, que deixam seus olhos grandes parecendo bizarros olhos de coruja.)

Ela sempre espera eu chegar, atrasada ou não, eu a encontro sempre na entrada do colégio. Ela diz que não consegue sobreviver à selva que é lá dentro e que eu serviria muito bem como um escudo humano caso fosse necessário. Mas toda vez que apareço, ela deixa escapar um suspiro de alívio, como se não me esperasse ver viva e inteira.

-Finalmente! Pensei que nunca chegaria, deu uma de Bela Adormecida?-diz ela em tom de implicância, mas com um sorriso na cara.

-Talvez, dormi até tarde, passei a noite inteira acordada por causa dos pesadelos que tive com você.- digo também sorrindo.

Ela me empurra e então entramos para a nossa primeira aula do dia, inglês. Eu particularmente, não gosto de inglês o que dificulta que eu preste atenção, o déficit de atenção também não ajuda. A dislexia então só torna tudo uma tortura. E quando a aula finalmente acaba a minha alegria e satisfação é muito grande, e provavelmente visível, porque a professora me olha com cara feia. Mas aí eu me lembro que tenho matemática em seguida, e volto ao meu estado anterior.

Esta é uma das poucas aulas em que a Eleonor não faz comigo, o que torna tudo incontáveis vezes pior. E de amizade mesmo eu só tenho com a Eleonor, no mínimo foram pessoas com (não por livre e espontânea vontade) fiz trabalhos ou acabei conhecendo por outros meios, no qual eu mal dou um oi. O máximo é um garoto o qual Eleonor conversa, mas sem a minha presença (?). Não o hostilizo, até que me dou bem com o garoto, de vez em quando trocamos algumas palavras, às quando percebo o olhar dele em cima de mim, na verdade, ele é o mais próximo de amigo que eu tenho depois de Eleonor. Mas é o seguinte, Miles é tipo de pessoa popular. O tipo de pessoa que todo mundo ama, personalidade legal e entusiasmada, esperto, loiro de olhos cinzentos. Mas ele anda com o pessoal qual eu mais desprezo aqui. Então eu não falo muito com ele ou fico muito em sua companhia. Para falar a verdade, nem sei da onde Eleonor tirou a ideia de conhece-lo, ela também não vai com acara dessas pessoas que se acham melhores do que todo o resto do mundo.

E nessa aula em especial, ele faz comigo.

-Maya-diz ele na porta da sala, eu nem o tinha visto e parece que ele também não havia me visto.

-Miles-digo indo me sentar.

Passo os primeiros dez minutos rabiscando em uma folha de caderno, de vez em quando troco olhares com o Miles. O tempo custa a passar, não tenho nada para fazer, tentar prestar atenção na aula me dá dor de cabeça. Já estou rabiscando a minha segunda folha, a primeira já esta completamente azul. Ainda estou com sono da noite mal dormida, acho que isso influencia bastante o fato de eu ter acabado de cair no sono, porque acordo com o Miles me cutucando e falando que a aula acabou.

Vou para o banheiro tentar tirar a cara de sono com a qual estou, lavo meu rosto com a água bem gelada da torneira. Acho que isso me despertou um pouco. Depois fico encarando meus olhos azuis por um tempo no espelho. Hoje eles estão quase cinzas. Por fim prendo algumas mechas soltas dos meus cabelos pretos que se soltaram da trança e vou me encontrar na cantina com Eleonor.

-Graças! Já ia ligar para a sua avó dizendo que você tinha ido matar aula.- Diz Eleonor

-Peguei no sono durante a aula de matemática, Miles teve que me acordar. Depois fui ao banheiro lavar o rosto.

-Bem, que bom que ele te acordou, você iria ficar me enchendo atrás de comida depois- Ela brinca, embora seja verdade. Apenas dou de ombros.

-Continuando, você perdeu a Sally brigando com o Will! Sabia que aquele casal não ia durar muito, céus, eles não prestam um para o outro, se eu fosse ela...-Paro de escutar nesse instante, e apenas fico fingindo que estou .Esqueci de falar disso sobre a Eleonor. Muito embora ela seja uma das mais humildes e bondosas pessoas que eu conheço, Eleonor ADORA uma fofoca, principalmente as românticas. Eu normalmente não presto atenção nelas, a não ser que eu ganhe algum privilégio com isso. Mas por enquanto acho inútil saber os casais mais fofos desta semana.

Continuo fingindo ouvir enquanto como o meu lanche, e depois que ele acaba fico encarando o nada. Mas acho que fiquei encarando o Miles porque ele está me encarando de volta. Continuamos com isso até o sinal bater, quando Eleonor finalmente supera o fato de que Sally e Will terem terminado.

História é minha próxima aula, finalmente uma matéria na qual eu goste! Eu e Eleonor nos sentamos em dupla, como sempre. Não é tão legal quanto seria sem a dislexia e o déficit de atenção, mas na verdade essa matéria é uma das poucas na qual vou bem, eu realmente gosto dela, então quando vejo o sinal já bateu. E finamente chega a última aula, falta então só essa para eu sair desse buraco infernal de adolescentes fedorentos. Educação física.

Eu até que gosto dessa matéria, não que eu seja boa na maioria dos esportes, mas o problema é o seguinte: panelinhas. Não importa se você é bom ou parece ser uma pessoa esperta ou legal, você só é escolhido se tem algum laço com o capitão ou a sua turminha de idiotas. Aos meus quinze anos, desde que entrei neste colégio, eu nunca fiquei em algum time que ficasse feliz com a minha presença, sempre era uma das últimas a ser escolhida, sempre tratada como subalterna ou levando olhares de cara feia. A não ser que ficasse no time dos desajustados sociais, os intelectuais ou quem quer que não fizesse parte do grupinho. E o pior, se você mostrasse que era bom em algum jogo e fizesse parte do time dos esquisitões, você seria o alvo das perseguições. Teve um caso de um garoto que quase venceu na queimada contra eles, dizem que agora ele só pode respirar pela boca. Embora eu duvide muito que isso realmente tenha acontecido, eu tomo muito cuidado para que o meu desempenho permaneça ruim. Esses riquinhos mimados podem ser bem destrutivos e perigosos quando querem. Hoje, por exemplo, fui eu praticamente que liderei o time para a derrota. Os infelizes sabem que nos intimidam, e usam isso (que surpresa!) para o mau, ou seja, eles transformam o jogo em uma tortura. Quando finalmente pegamos a bola acabamos tendo que devolver para o time oposto só para que nos acertem com ela nos piores lugares possíveis. O meu erro, foi que uma hora eu perdi a paciência depois que começaram a usar a pequenininha e indefesa Marci como alvo principal, e joguei a bola em uma garota do time oposto, bem na cara. Ela me olhou surpresa, e depois ficou me encarando com uma cara, do estilo “Vou te devorar viva, e depois vou regurgitar tudo só para dar de comer ao meu cachorro!”. Acho que recebi alguns olhares de pena, mas não faço nada em relação à isso, pois apenas fico encarando a menina também, enquanto a raiva dela só aumenta. Nesse momento eu pensei “Bem já estou toda ferrada mesmo, vou levar uma surra do outro time quando o sinal bater, então o que eu tenho a perder?”, e isso é exatamente o que eu faço, revido, começo a jogar de verdade. Acho que talvez eu tenha inspirado algumas pessoas do meu time, pois quando vejo, mais ou menos meia dúzia de pessoas estão revidando ao ataque do time oposto. Mas fui eu quem incitei, eu que comecei a guerra, eu que vou pagar. Parabéns Maya, agora você passou de uma ótima posição de joão-ninguém a qual ninguém se importa ou presta atenção, para alvo principal do terrorismo dos idiotas populares.

Quando o sinal bate corro para o vestiário e troco de roupa o mais rápido possível, pego minha mochila e saio na velocidade de um trovão. Mas é só quando eu chego na entrada do colégio que eu me lembro. Eu me esqueci dela, Eleonor. Ah não! Ah não, ah não, ah não, ah não, eu esqueci de Eleonor! Eles logo irão perceber que eu não estou ali, devem pensar que eu fui me esconder, e Eleonor como minha melhor amiga me ajudou a escapar, mas ela não fez nada, não acreditarão nela, mas ela vai continuar a me defender e vai pagar por isso. Essa é uma coisa que Eleonor faria, mas e eu¿ Eu me esqueci dela! Não penso, apenas corro. Corro de volta para o vestiário.

Chego e não vejo ninguém na quadra, vou ver o vestiário. A principio está vazio, mas então percebo, os gritos. Vou até o espaço onde fica o banheiro, de onde o som está vindo. Então a vejo, debruçada sobre uma privada com hematomas no olho e um fiapo contínuo de sangue saindo do lado do seu lábio, enquanto duas garotas monstruosamente maiores do que ela seguram a sua cabeça e empurram em direção para aquela água nojenta do vaso. Ela tenta com toda a sua força resistir, mas a força dela é insignificante comparado à das outras garotas.

-Vocês não tem honra?!- Elas se assustam com o som da minha vós, não tinham me percebido até agora-Realmente, vocês não acham que é covardia implicar com uma pessoa que nem tem a metade do seu tamanho? Isso é repugnante! Covardia, é isso que é, covardia! Que chances ela tem afinal? Os senhores tem tanta honra quanto uma mosca! Uma mosca! E olhe lá, talvez a mosca tenha mais honra que os dois juntos. Por favor! Se querem brigar, que briguem com alguém do seu tamanho!

Elas realmente ficaram bravas, não, bravas não, a cara que elas fazem eu nem sabia que era possível fazer, repugnância com ódio e mais uma coisa que não sei identificar. Acho que chama-las de meninos não ajudou.

-Quer que briguemos com você então? Afinal, só estávamos querendo que ela provasse a nossa nova sopa enquanto você não chegava-Disse a monstruosidade da direita, e quando percebo, acho que elas urinaram na privada antes.

-Oh não senhores! Claro que não, vamos resolver isso pacificamente certo?-Elas me olham com nojo-Meu pai com toda certeza ficaria furioso se eu chegasse em casa com um mínimo arranhão! Imagine só se eu contasse que me meti em uma briga com garotos bem maiores do que eu e por motivos tão banais! Ele não gosta de usar o que aprendeu com as aulas de muay thai em pessoas, mas como eu havia dito quando ele souber que a filhinha dele brigou no colégio...-Passo um dedo na garganta e faço uma careta.- Só digo boa sorte.

A informação atinge as duas trogloditas do jeito que eu queria, a cor some de seus rostos e a expressão de nojo é substituída por pavor. Eleonor continua sem expressão. Eu nunca conheci o meu pai, e ela sabe disso. E quando ela olha nos meus olhos nos entendemos como muitas vezes já aconteceu antes. Meu pai falso serve como uma ótima distração, pois quando eu chuto a canela de uma enquanto Eleonor passa por baixo da perna de outra e logo a chuta também elas não tem tempo de assimilar nada, e quando finalmente percebem o acabou de acontecer, já estamos em disparada no final do quarteirão.

Não ousamos parar em minuto algum, lá sabe-se se as trogloditas nos seguiram ou não, elas são muito maiores do que nós e podem correr bem mais rápido, e mesmo com alguns quarteirões de diferença podem não ser suficientes.

Finalmente chego na casa de minha avó, pego a chave com a mão tremendo, a pressa na ajuda muito, e quando consigo abro a porta com um estrondo, empurro Eleonor para dentro e fecho a com um estrondo ainda maior e então tranco-a com as mãos ainda tremendo. E só então ouso tomar fôlego, mas sem nunca abaixar a guarda, não sei do que aquelas trogloditas são capazes de fazer.

Me sento no sofá e grito para a minha avó avisando que cheguei, mas não recebo nada em troca. Me esqueci é claro, hoje seria a noite do bingo na casa de uma amiga dela. Estou sozinha em casa com Eleonor e vai demorar para vovó chegar.

Já faz tempo que estamos aqui, mas ainda não baixei a guarda, de minuto em minuto olho para trás do ombro só para ver o nada. Não, tem alguma coisa errada. Algo não está certo. E o pior, eu não sei o que é, e isso é angustiante.

Eleonor vai usar o telefone do meu quarto para fazer uma ligação à seu pai. Enquanto ouço a sua vós como trilha sonora vou para a cozinha comer alguma coisa. Direciono toda a minha atenção para o sanduíche que estou fazendo. Pão, manteiga, geleia e requeijão, é tudo o que acho e é tudo o que eu uso. Vou me sentar e começo a comer o meu sanduíche. Estou dando a segunda mordida quando percebo. Silencio. O silencio é tudo o que eu ouço. Olho para a sala, não tem ninguém lá. Eleonor não tem nada para fazer lá em cima, se ela terminou sua ligação teria que ter decido. Alguma coisa pode tê-la prendido lá em cima, impossibilitando de descer. Tenho uma sensação horrível, um tremor desce pela a minha espinha. Não acho que sejam aquelas garotas do banheiro.

De vagar, nas pontas dos pés vou andando até as gavetas, procuro até achar uma faca com aparência ideal ao meu desejo. Então subo as escadas, em direção ao perigo. Eu não estou com medo de quem ou o quê posso encontra lá, mas sim o quê pode ter acontecido com Eleonor. Ela não é uma pessoa medrosa que foge do perigo quando esse lhe vem, o que aconteceu no banheiro é um exemplo de sua coragem, ela continuou lutando mesmo quando não vai mais fazer diferença alguma. Mas o que quer que seja que eu encontre lá em cima, se mostrou ser mais poderoso do que ela, no banheiro ela não parava de gritar como último esforço em busca de ajuda. Tudo o que estou escutando é o silencio.

Chego ao segundo andar, vou andando pelo corredor até encontra a porta do meu quarto e a abro. A principio não enxergo nada, está muito escuro, então vejo o contorno de um corpo no chão. Eleonor. Corro e me ajoelho ao lado dela, ela está desacordada e a correntinha de sangue que saia de sua boa aumentou e o nariz sangra assustadoramente, uma pocinha está se formando e tem um galo enorme na lateral de sua cabeça. Vejo seu pulso com dedos trêmulos, e alegria se expande por todo o meu ser, ela está viva.

Não há vi, apenas senti. Quando vejo estou deitada ao lado de Eleonor em busca de ar, alguma coisa bateu em meu tórax, está difícil e doloroso respirar. Tento olhar ao redor, meus olhos ainda não se acostumaram totalmente, mas então eu a vejo. Uma menina mais ou menos da minha idade, não, espere, eu reconheço ela. Ela foi a menina na qual eu acertei a cara com uma bola. Ela provavelmente veio cobrar a sua vingança. Mas, não sei por que, mas não estou convencida dessa tese.

-Me desculpe se eu te acertei com aquela bola, era o jogo, você deve ter ficado muito furiosa, mas tenho certeza que podemos resolver isso pacificamente e de forma racional. Você poderia trazer os seus pais eu falo com minha avó. Não sei se você sabe, mas invasão é crime...

-Por favor! –Ela me interrompe bruscamente- Chega de enrolação, seria bem mais fácil se não mentíssemos uma para a outra. Reconheço semideuses quando os vejo, principalmente se é cria de um dos três grandes. Devo dizer, seu cheiro é...formidável. –Do que ela está falando? Semideuses? O que são semideuses? Ela não falou semideus, falou semideuses. No plural. Será que Eleonor também faz parte dessa maluquice? E três grandes, o que ela quer dizer com isso? Espere, quem é ela? O que ela é?

-Não sei do que você está falando. Olha se você sair agora eu não dou queixa na polícia, vamos fingir que isso nunca aconteceu, certo? Eleonor e eu simplesmente caímos da escada, ok?- Digo tentando me levantar, mas ela pisa em cima de mim, o que faz as minhas costelas pegarem fogo, e me prende de volta para o chão.

-Acho que não. A polícia dos mortais não tem nada a ver com isso. Afinal, acho que você nem conseguiria chegar até eles mesmo.- Isso foi uma ameaça. Começo a tentar alcançar a faca que trouxe sem que ela perceba, ficou em baixo do braço inerte de Eleonor. E pelo mínimo momento em que olhei para Eleonor, a coisa percebeu.- Ah, essa daí. Apenas nocauteei ela, tomara que tenha morrido, não gosto dos filhos de Afrodite. Nunca fui com a cara deles, e seu sangue é muito doce. Hergh!

Mortais. Filhos. Afrodite. Sangue. Ela disse que Eleonor é filha de Afrodite, ela não é a deusa grega do amor ou coisa do tipo? Eu não entendi direito a relação dela com sangue, se é o que eu estou pensando...

-O que é você?-Ela faz uma cara de cansaço mas responde.

-Se você quer continuar com esse joguinho semideus, que assim seja, então iremos jogar.- Ela faz uma pose que combine com seu lindo rosto o qual eu começo a encarar.- Coitadinha, não sabe o que vai te acontecer, eu sou uma empousai.- Ela de repente começa a se transformar. A cor se esvai de sua pele que fica pálida como papel, seus olhos, antes verdes mar se tornaram totalmente vermelhos e de sua boca cresceram afiadas presas. Mas são suas pernas que me chocam . A direita tinha um formato humano só que feita de bronze, e a esquerda que está sobre mim, pressionando minhas costelas, é peluda e marrom com um casco de burro.- E você, minha querida-fala a empousa- é minha comida.

Nesse momento eu me estico até a faca e esfaqueio o seu tornozelo, ela grita de dor e sai de cima de mim. Eu me levanto, suportando a dor excruciante das minhas costelas. Ela se recompõe do ataque que fiz, que infelizmente não causou tantos danos.

- Semideusa! Você vai se arrepender disso!

Ela então se joga em cima de mim, me fazendo cair no chão, o que faz todo o meu ser gritar de dor. Tento manter com o meu antebraço a sua cabeça longe de mim enquanto aranha meu rosto com as suas garras afiadas, sinto gosto de sangue na boca e o rosto quente e molhado. Quando a empousa se jogou em cima de mim a faca foi para longe, não alcanço ela. Solto a sua cabeça enquanto dou uma joelhada em sua barriga, e ela acaba mordendo o chão enquanto eu rastejo para alcançar a faca, a pego e me ponho de pé. O demônio já está de pé também.

-Vamos ver se você tem o mesmo gosto daquela outra- Que outra, ela disse que só nocauteou a Eleonor. A não ser, minha avó. Mas isso não pode ter acontecido, ela foi para a casa de sua amiga. Mas muitas coisas que antes eram impossíveis estão se realizando...

Desfiro ataques inúteis no ar tentando acerta-la, mas a criatura é muito rápida. Ela sabe o que conseguiu fazer comigo pois continua:

-Aquela era velha, o gosto não era tão bom quanto o de jovens guerreiros, mas estala delicioso.- Eu poderia pensar que é mentira, ela eta apenas tentando me distrair, mas tudo indica que é verdade. Como mais ela saberia disso, se nos conhecemos esta tarde.

Ela tenta me atacar eu a esfaqueio no braço ela então me dá um soco na barriga, fico desorientada por poucos segundos, mas é suficiente para a empousa. Ela me joga no chão e pisa em cima de mim de novo.

-Pobre criança, chegou a hora de morrer!- Então ela se joga em cima de mim.

Tenho a faca bem firme em minha mão, que antes estava escondidas, não recuo, fico firme em minha posição. Quando ela cai, sua boca com as presas prontas para morder meu pescoço e suas garras apontadas para meu rosto, giro para o lado e quando ela cai de cara no chão, afundo a minha faca em suas costas. Tenho que fazer o maior dano possível. Afundo mais ainda a minha faca e faço um rasgo enorme por toda a extensão de suas cotas, realmente, já estou farta dela e não quero que sobreviva. E só paro quando ela sem mais nem menos desaparece em uma nuvem de pó dourado.

Concedo a mim mesma um momento de descanso e alívio, o monstro se foi. Estou gradativamente caindo no sono, estou com muito cansada, só uns cinco minutinhos...não. Tenho que ver os danos que aquele troço me causou, com toda certeza quebrei algumas costelas, e ainda tenho muita dificuldade em respirar, sem falar em todos estes cortes em meu rosto. Tenho também que ver Eleonor, não sei a gravidade daquele ferimento em sua cabeça, mas estou com medo da possível hemorragia que ela possa ter, preciso estancar o sangue.

Saio deste estado de torpor e começo a cuidar dos ferimentos. Vou até a cozinha e pego dois paninhos, depois vou a banheiro e com um deles lavo os ferimentos no meu rosto, mal conseguia enxergar com o sangue de um corte acima de minha sobrancelha. Faço curativos rápidos nos piores e vou ver Eleonor.

Limpo um pouco o sangue, não ouso move-la de lugar com medo de agravar os ferimentos dela, e tenho medo de sufoca-la ao tapar o sangue que escorre de seu nariz. Eu não nasci para fazer esse tipo de coisa.

Então eu acordo ela da forma mais gentil que posso. Falo para ela não se mexer, mas isso é inútil pois ela se vira e vomita no meu lado. Uma concussão. Agora eu enrolo o paninho e coloco em seu nariz.

-Maya, pegue a minha moch...- Ela é interrompida por outro vomito-Pegue a minha mochila lá embaixo. Tem uma coisa que preciso, agora.

Desço pego amochila e subo de volta. Ajudo ela a se levantar e coloco-a em minha cama. Ela fica mexericando até achar o que procurava, um potinho cheio de...

-Oque que é isso? Que troço é esse?- Ela coloca um pedaço na boca, e pela cara que faz deve ser maravilhoso, sua careta de dor se desfaz, a cor volta para seu rosto, ela parece bem melhor. Até seu ferimento na cabeça está melhor, o galo diminuiu bastante. Mas não entendi os efeitos desse troço. Será que é algum tipo de remédio?

-Isso aqui, minha cara, esse “troço”, é a nossa salvação.- Ela me oferece um pouco, eu aceito mas hesito em comer- Se chama ambrosia.- Ela responde, quando viu que fiquei brava- Prove, você vai se sentir melhor- E então enfio tudo na boca.

Imediatamente um gosto de torta de chocolate inunda a minha boca. Aquilo era delicioso. E meus machucados já estão bem melhores, meus cortes sararam, só restaram alguns aranhões nos piores, minhas costelas já não doem tanto e posso movimentar meus braços sem que uma dor aguda me venha.

Peço mais, mas Eleonor se recusa a me dar, diz que posso pegar fogo ou coisa do tipo. Então vou ao banheiro me limpar de verdade. Lavo meus cabelos e tiro o sangue que ficou grudado em minha pele. Depois troco de roupa, uma calça jeans meio grande em mim, uma camisa branca, e um all star. Eleonor já consegue ficar de pé, e insiste em se lavar também, ajudo ela a chegar ao banheiro, então fico esperando na porta caso aconteça algum acidente. Tive que emprestar algumas roupas para ela, as suas estão cheias de sangue. As roupas nela ficaram meio grandes, uma camisa azul e uma bermuda, seus sapatos estão limpos o suficiente para que ela possa usar.

- Maya, não podemos continuar aqui. Se aquela dracanai sabia que estávamos ali, outros podem vir para terminar o trabalho. Outros muito piores.

Não discuto. Nem mesmo pergunto como ela sabia que aquele monstro era uma dracanai, se ela estava desacordada quando aquilo se revelou. Apenas pego a minha mochila e coloco dentro tudo o que me poderia ser necessário, dinheiro, um guarda chuva pequenininho, uma roupa extra, um casaco extra, uma manta, uma lanterna, curativos caso aconteça alguma e coisa comida. Subo para o meu quarto, tenho a sensação que nunca mais voltarei para este lugar. Pego um pequeno urso de pelúcia, um presente de minha mãe que ganhei à muitos anos, foi uma das poucas coisas que trouce na mudança, e um colar de estrelinhas dado por minha avó, que a muito não me serve mais. Minhas duas pessoas favoritas, mortas.

A adrenalina passou a algum tempo. A realidade veio à tona. Querendo ou não, voltei a ser um ser humano, e o sentimentalismo também voltou. A perda começa a fazer efeito, e vem como uma tempestade, cruel, forte e nenhum lugar para onde fugir. A sensação vem com tudo. Perdi a minha avó, acabo de ser atacada por um mostro querendo me matar, a qual não parava de me chamar de semideusa (sendo isso, segundo ela, uma coisa importante), e agora tenho que fugir para a minha própria segurança. Minha vida acabou de virar de cabeça para baixo. Prometo à mim mesma que não vou chorar. Eu não vou, tenho que ser uma pessoa forte, enfrentar tudo pelo o que estou passando de cabeça erguida sem medo! Eu não irei chorar. Eu não irei chorar. Eu não irei chorar. Eu não irei chorar. Caio no choro nesse momento.

Eu tenho que me recompor, limpo meus olhos e nariz na manga do casaco, estabeleço uma postura que indique tudo, menos que estive chorando. Espero um pouco para que o meu nariz perca essa cor vermelha, e então desço com as minhas coisas.

Eleonor finge que não percebe em meus olhos inchados, o que é bom. Parece que ela também pegou alguns suprimentos de seu interesse e colocou com as coisas que trouce. Descansamos alguns minutinhos e então saímos.

Andamos por alguns quarteirões, sem nem mesmo olhar para trás, com medo de lembranças que podem aflorar com isso. Mas eu percebo então, estou sendo guiada por Eleonor.

-Eleonor, para onde estamos indo?-pergunto

-Estamos indo ver Miles, depois vamos para um seguro, o único lugar onde é seguro para pessoas como nós- diz ela

Na verdade não quero saber que lugar é esse ou o que Miles tem a ver com essa história toda, do modo como as coisas estão andando ultimamente, tenho medo da resposta que vou receber. Apenas fico calada enquanto ando.


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Notas finais do capítulo

Voltei, tomara que vcs tenham gostado da história e continuem acompanhando. Até o próximo capítulo meu lindos!

Kara Mel



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