Segredos Fatais escrita por DJDCAL


Capítulo 14
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Olá olá meus amores!!!
Entããããão.... u quero agradecer mto mto mto a todas vcs que comentaram meu último cap!!! Amooo saber o que vcs pensam e espero que continuem comentando até o fim hein!!
Quero agradecer IMENSAMENTE a Butterfly por ter me ajudado a terminar esse. Vcs não tem noção de como ela me ajuda.
espero qe gostem desse pq eu AMEI escrevê-lo. Quase chorei acreditam??
bjos bjos e boa leitura!



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POV Alexander

Silêncio.

Foi isso que nos cercou no segundo que a areia cessou de correr pelos meus cabelos. O rosto de Vanessa exibiu felicidade, maldade, realização e culpa em menos de um minuto e assistir aquelas expressões dançarem em seu rosto foi uma visão incrivelmente interessante.

Primeiro ela estava feliz por ter me pego de surpresa. Depois ela estava se vangloriando por ter se vingado de mim, mas quando a ficha caiu sobre o que ela realmente tinha feito, seus olhos castanhos se arregalaram, sua boca abriu um pequeno O e eu pude ver sua mão direita dar uma leve tremida. Foi aí que ela percebeu que tinha acabado de jogar areia na cabeça do chefe dela. E a culpa por esse fato também apareceu em seu rosto.

Foi absolutamente fascinante assistir todos esses pensamentos passarem por sua cabeça e melhor ainda quando, poucos segundos depois, seu olhar me passou a seguinte mensagem: “Sim, eu acabei de jogar areia em você! O que você vai fazer sobre isso?”.

Eu quase gargalhei com o tom debochado que sua expressão corporal me enviou assim que ela cruzou os braços na frente do corpo. Diante de tanta convicção eu simplesmente acenei e comecei a tirar o excesso de areia dos meus cabelos para que voltássemos ao carro e continuássemos nossa viagem. Percebendo a minha rendição, Vanessa abriu um pequeno sorriso de canto, que eu acho que não era para ser visto porque no segundo seguinte ela já estava de cara fechada marchando para o carro.

Essa é uma das características dela que eu mais admiro. A tenacidade. Não importa se Vanessa tomou uma decisão precipitada, ou não muito sábia. Ela não pede desculpas pelas suas vontades e, apesar de reconhecer seus erros e pedir perdão por eles sempre que necessário, ela nunca foge das consequências de seus atos.

Esse tipo de coragem a torna quase incandescente. É impossível não notá-la.

Enquanto entrávamos no carro e ela dirigia pelo caminho de volta eu me deixei divagar sobre os primeiros contatos que tive com Vanessa Miller. Lembro-me que quando a vi nos esperando para jantar, ela não me chamou muito a atenção. Na verdade, meus exatos pensamentos foram: “Ugh, a Alice é mais bonita”.

Mas isso durou só até que Vanessa abriu um sorriso.

Claro que, olhando friamente para a garota morena ao meu lado, ela não aparenta ter muito a oferecer. Ela não tem mais que 1,60 de altura, têm algumas marcas de espinhas no rosto, a silhueta dela não é o que eu, e qualquer outro homem, classificaríamos como gostosa, tem olhos castanhos cor de chocolate e seu cabelo não é claramente especial.

Mas uma capa de revista não pode transmitir a cor do sorriso vibrante dessa minha nova assistente.

Aliás, assim que eu vi aquele sorriso, rapidamente ela não era mais desinteressante para mim, porque mesmo que eu seja muito bom em ler as pessoas, especialmente ela, aquele sorriso tem um milhão de camadas, cada uma com sua própria história. Lá eu li desafio, confiança, força e ousadia.

Como eu disse: incandescente.

Ao final da primeira noite eu classifiquei Vanessa como interessante e tornei o hobbie oficial da minha vida infernizar a dela. Na verdade, durante aqueles primeiros meses eu senti real raiva da garota por uma infinidade de razões diferentes, mas especialmente por aquele magnetismo brilhante que ela parecia ter ao redor de si. Não importa se bem ou mal, eu estava sempre pensando nela.

Nós passamos meses nesse ping pong, brincado com as defesas e limites um do outro e a ousadia dela não cessou em me surpreender. A inteligência sempre prevalecendo quando eu vi que ela permanecia jogando na defensiva, já sabendo das minhas intenções de demiti-la no segundo que desse um passo em falso. Embora eu não ache que ela soubesse as minhas razões. Eu a queria longe porque ela me incomodava. Ela me tirava, e francamente ainda tira do sério de uma forma que ninguém mais consegue desde que as duas mulheres da minha vida morreram.

Enfim, eu já havia me rendido ao seu charme desconcertante e desistido de demiti-la. Aliás, já estava me acostumando a depender dela no escritório enquanto trocávamos nossas farpas habituais, a vida finalmente tinha alcançado uma normalidade constante.

Até que a maldita festa beneficente chegou para me confundir um pouco mais.

Esperando ao pé das escadas eu ouvi quando ela pôs os saltos no meio do corredor e sorri, involuntariamente, mas sorri de leve com o cuidado claro que tinha ao pisar no chão para que não tropeçasse na barra do vestido. Um dos problemas de sua altura, eu imagino. Eu já estava com uma piada sobre sua altura na ponta dos lábios quando ergui os olhos para o topo das escadas e minha mente ficou em branco. O oxigênio na sala me traiu se tornando escasso e eu não podia respirar.

“Cacete, ela está linda!” eu acredito que foram as palavras que se passaram por minha cabeça durante todo o tempo que ela demorou pra descer as escadas.

A sua pele escura brilhava em contraste com o vestido meio dourado e foi aí que eu percebi o quão fudidamente linda Vanessa Miller realmente é. A sua confiança foi traduzida em raios de luz e naquele segundo ela era o meu sol.

Foi aí que eu percebi que estava com problemas.

Sérios problemas, problemas enormes que eu precisava urgentemente resolver. Eu estava me distraindo novamente e isso era inaceitável.

Naquela noite eu fiz o possível para me esquecer dela. Mas essa foi uma tarefa imensamente difícil considerando que ela nunca estava a mais de dois passos atrás de mim sussurrando os nomes dos convidados no meu ouvido. Eu podia sentir o calor de seu corpo e eu me tornei quase dependente químico do perfume que Vanessa usou naquela noite. Tanto que quando terminei de rodear o salão e cumprimentar as pessoas não pude deixa-la ir. Contra todos os meus princípios a segurei pela mão e a puxei para uma dança.

Ela não pareceu perceber o quão impossivelmente intrigado por ela eu estava e fiz o possível para esconder, tanto dela quanto de mim, as emoções que me atingiam toda vez que ela abria um de seus sorrisos deslumbrantes.

“É só uma quedinha de nada Alexander, você já esteve deslumbrado por outras mulheres antes. É puramente físico. Você só quer transar com ela, é só isso.”

E eu consegui me enganar por mais um bom tempo. Eu disse a mim mesmo que era só amizade quando ela me ensinou o significado da palavra saudade. Eu me convenci de que era só atração física quando ela sorria pra mim pelas portas de vidro do meu escritório. Eu tentei ao máximo ignorar o sorriso bobo que invadia seu rosto toda vez que Matt era sequer mencionado em uma conversa e o ódio irracional que tingia minha visão de vermelho como consequência. Eu tentei substituí-la por outras mulheres.

Eu tentei.

Entretanto, como o destino me odeia, justamente no único sábado do ano em que eu chegava em casa antes das dez da noite ela estava distraidamente dançando pela cozinha. E eu pude perceber o quão em vão foram as minhas tentativas de ignorá-la. Ela estava de moletons velhos se movendo de forma ridícula ao redor do balcão. Isso não deveria ter me atraído certo?

Errado. Porque, como eu já disse, os padrões normais de beleza não se aplicam a ela. A alegria que ela exalava com cada movimento era absurdamente hipnotizante. Aquela chama que sempre queimava por trás do marrom de seus olhos estava dez vezes mais quente, e só de assisti-la, a dor pela qual eu estava passando naquela noite já foi diminuída.

Novamente meu subconsciente me convenceu de que era puramente físico, nada mais do que a necessidade irracional que todo homem tem de conquistar quem não o quer e especialmente quem não pode ser conquistada.

E enquanto eu tentava, como sempre, silenciar todos os meus instintos não autorizados, Vanessa soube que havia algo errado comigo. Ela me distraiu como pode, me armou uma armadilha disfarçada de pôquer e no momento oportuno me fez soltar a história que vem me atormentando há o que parece ser uma eternidade. Ela me ouviu, me entendeu, sofreu comigo e não questionou quando tudo o que eu queria fazer era destruir pratos de porcelana.

E agora, de volta no avião, olhando seus sorrisos enquanto ela troca mensagens com meu melhor amigo eu me pergunto:

Se toda a minha atração por ela é puramente física... Porque quando penso nela, a ideia de um relacionamento, se é que posso chamar assim, puramente sexual não parece nem de perto tão apelativo quanto deveria?

* * *

Assistir Vanessa, e o que eu gosto de chamar de sua Horda de Amigas, foi um dos momentos mais confusos e fascinantes da minha visita ao Brasil. Claro que eu não entendi nem uma palavra dita, mas assistir a relação entre elas não deixou de ser incrível.

Assim que minha assistente entrou no campo de visão das pessoas a minha frente foi como se um sinal imperceptível tivesse sido dado. Lágrimas começaram a cair imediatamente acompanhadas de gritos esganiçados se misturando com soluços e sorrisos numa confusão de emoções que fizeram a minha cabeça girar.

Fui pego de surpresa novamente com a minha falta de conhecimento sobre ela quando percebi que: sempre classifiquei Vanessa como uma pessoa mais solitária, o tipo de pessoa com um, talvez dois amigos próximos no máximo, mas no aeroporto ela foi simplesmente engolida por uma pequena multidão.

No mínimo 10 pessoas estavam esperando por ela, com direito a placas com o seu nome e buques de flores. Havia um milhão de conversas ao mesmo tempo, que eu duvido que teria sido capaz de entender mesmo que estivessem sendo conduzidas em inglês. Mas eu não passei mais do que poucos segundos olhando aquela bagunça, inevitavelmente meus olhos se dirigiram ao verdadeiro show que estava na alegria impressa no rosto de Vanessa.

Os seus sorrisos, gestos e o brilho de seus olhos novamente me fizeram questionar todos os pensamentos que eu admitia ter. Esqueci que não deveria admirar a garota do meu melhor amigo tão intensamente, mesmo que não tivesse nenhum interesse romântico por ela. E eu não tinha, não mesmo, mas é claro que não. Esqueci-me da baderna ao meu redor, deixei o bom senso de lado e durante poucos segundo me permiti apreciar o sorriso brilhante de Vanessa Miller por completo.

Cinco segundos de sinceridade que foram brutalmente encerrados com a agradável sensação ardente de um tapa no lado esquerdo do meu rosto.

“Isso é por ter feito da vida dela um inferno” disse uma garota de cabelo castanho escuro com uma expressão de puro ódio acompanhando seu sotaque forte.

Antes mesmo que eu pudesse retrucar ou sequer me recuperar da surpresa fui novamente atacado por outra mão, dessa vez do lado direito do rosto. Essa não disse nada, mas o anel que com certeza deixaria uma marca, falou tudo que eu precisava saber. Olhei em direção a Vanessa por apoio ou explicação, mas não pude me concentrar nela porque vi o rosto dos únicos três homens do grupo me encarando com um ódio quase tão grande quanto o da garota que me bateu primeiro.

Eu abri minha boca para perguntar a ela o que estava acontecendo e antes que pudesse sequer articular algo mais inteligente que “hum...?” ela respondeu a pergunta que eu não me dei ao trabalho de retirar do meu rosto.

“Eu conto tudo pra elas” o sorriso debochado dela era quase revoltante. Quase, porque, pra ser justo, eu mereci pelo menos um daqueles tapas.

E por último, mas não menos importante, eu recebi um abraço de uma garota de cabelos cacheados suspeitosamente parecida com Vanessa e isso me surpreendeu mais do que tudo que aconteceu naquela noite.

“E isso é por trazê-la de volta” ela disse com lágrimas nos olhos antes de me fuzilar ferozmente acrescentar: “Maltrate-a de novo e você morre” sorriu radiante e voltou para o lado de Vanessa.

* * *

O resto daquela noite foi absolutamente diferente para mim. Pela primeira vez em anos eu fui total e completamente ignorado. Ninguém se importou em me agradar, impressionar ou sequer falar comigo. Ok, provavelmente nem toda a Horda de Amigas sabia falar inglês, mas ainda assim foi uma das sensações mais estranhas que já experimentei.

Nem mesmo Vanessa se deu ao trabalho de reconhecer a minha presença a não ser para me mostrar a um quarto na casa do noivo da tal Stephanie. Um quarto que eu ia ter que dividir com os outros três produtores de testosterona naquela casa. Dormindo em colchões de solteiro. No chão.

Tem algo mais desumano que isso?

Fora de seu comportamento normal, Vanessa não sem preocupou em ouvir minhas reclamações, ela simplesmente me mostrou onde ficava o banheiro, qual colchão seria o meu e foi embora participar do alvoroço de risadas que tomava lugar na sala de estar.

Desconcertado eu simplesmente fui para o monte de espuma que se passava por minha cama naquela noite e dormi.

Na verdade, talvez dormir seja um termo muito forte. Minha noite se resumiu a cochilos e pesadelos. Pesadelos estes que não faziam sentido nenhum. Eu estava simplesmente sozinho neles. Triste e sozinho mesmo estando cercado de pessoas em algum lugar enquanto a frase “Seja corajoso” ressoava, ou melhor, martelava em meus ouvidos.

Odiei as últimas palavras da minha mãe naquela noite mais do que odiava Serguei. O que eu sentia por ele era muito fácil de identificar. Ódio puro e irracional... Ou talvez esse ódio seja racional considerando que o cara matou metade da minha família. O que eu queria dele era muito simples: vingança. Eu queria fazê-lo sofrer e eu queria assistir o circo pegar fogo. Eu queria impedir que ele e qualquer um parecido com ele sequer tocassem na minha empresa novamente.

E isso era fácil de entender.

Agora, Seja corajoso? O que isso deveria significar? Eu tentava convencer meu subconsciente de que já tinha deixado meus dias de covardia para trás. Eu tomei controle de mais da metade da empresa que antes me assustava tanto, eu me recusei a fazer negócios com qualquer um que tivesse algum tipo de filiação com Serguei e suas práticas e isso poderia, e ainda pode, me matar algum dia. Além do fato de que fugir de tais acordos quase fez com que meus investidores desistissem da Monroe Enterprises um milhão de vezes. Isso me custou coragem. Mas ainda assim as últimas palavras de Sara Monroe insistiam em me tirar o sono.

Assim que amanheceu eu desisti de fingir dormir e fui ao banheiro me preparar para o dia. Fiz minha higiene pessoal básica e coloquei uma roupa mais quente. A manhã estava bem fria e eu já tinha visto o branco da geada na grama dos jardins pela janela. Pensando nisso, me dirigi até a cozinha e fiz uma xícara de chá bem quente tentando ao máximo não acordar ninguém enquanto procurava pelos ingredientes, já que ainda era 5 da manhã.

Subi as escadas novamente com um livro e minha xícara em mãos para passar o tempo enquanto esperava os outros acordarem na sacada da sala do segundo andar e a visão que tive lá quase me fez gargalhar em voz alta. Um dos sofás que antes formava um angulo reto com seu par foi encostado na parede a direita da escada e o espaço extra foi quase que totalmente coberto por colchões. E em cima desses colchões estavam quase todas as garotas que eu tinha conhecido na noite anterior. Todas elas, incluindo Vanessa, dormindo em ângulos estranhos, esparramadas entre os cobertores sem nenhuma ordem aparente formavam um quadro cômico.

Tentando desesperadamente manter o equilíbrio das coisas que tinha em mãos e não acordar ninguém no processo eu fiz meu caminho por entre as garotas adormecidas aos meus pés e consegui alcançar a sacada. Abri as portas de vidro rezando para que o repentino ataque do vento frio não acordasse ninguém e suspirei aliviado quando finalmente estava do lado de fora, sem ter perturbado o sono delas.

“Se você veio ver o sol nascer, está atrasado!” disse uma voz ao meu lado e foi pura sorte que minha xícara de chá escaldante não se espatifou no chão no momento que ouvi sua voz.

A garota sentada na poltrona mais distante da sacada retirou os fones de ouvido e sorriu calmamente para mim. Tentei retirar o susto de minhas feições o mais rápido possível, mas era cedo demais e eu não fui rápido o suficiente. A garota deu uma gargalhada baixa e balançou seus cachos dourados que refletiram os primeiros raios de sol do dia. Ela se endireitou na poltrona e gesticulou para que eu viesse me sentar ao seu lado.

Ainda em choque, sem questionar eu obedeci, posicionei meu livro na pequena mesinha entre nós e bebi um pouco do meu agora não tão quente chá de camomila.

“O que faz acordado a essa hora da madrugada? Eu achei que todos os playboys bilionários eram incapazes de acordar antes das 9 da manhã.” Ela brincou com um sorriso travesso em seus lábios. Um sorriso que me lembrou muito o que Vanessa me deu após jogar areia em meu cabelo.

“É isso que ela disse pra vocês? Que eu sou um playboy?” eu disse levemente ultrajado o que só fez o sorriso da garota de cachos dourados crescer ainda mais.

“Não, ela não fala tanto assim de você na verdade. Mas ela me disse sobre a quantidade de garotas que ela suspeita que você já pegou só nesses poucos meses que esteve lá então...” Ela me provocou e a ideia de não ser mencionado por Vanessa para suas amigas a não ser como um exemplo de mal comportamento me machucou muito mais do que deveria.

Não respondi a esse comentário e durante algum tempo tudo o que fizemos foi encarar a cidade ao nosso redor.

“Diga-me então, o que tirou o seu sono Alexander?” a garota perguntou ainda encarando o horizonte.

“Pesadelos...” disse sem querer elaborar e ela me deu um sorriso de entendimento.

“É, eu sei o que você quer dizer... Há muito tempo eu não tinha uma noite tão difícil quanto esta.” Ela se virou para mim e estendeu a mão em minha direção. “Aliás, meu nome é Adriana.”

Apertei sua mão e preenchi o silêncio que se seguiu com a brilhante colocação:

“Que pena que seus pesadelos te mantiveram acordada esta noite Adriana.”

“Quem me dera fossem apenas pesadelos...” seu sorriso entristeceu e ela acrescentou. “Pesadelos são frutos totais da nossa imaginação... Pesadelos não me perturbam Alexander, já as memórias...”

“Porque hoje então? Você disse que a tempos não tinha uma noite tão difícil” eu não pude me parar de fazer essa pergunta. Provavelmente porque o mesmo tinha acontecido comigo. Há muito tempo a memória das últimas palavras de minha mãe não me impediam de dormir.

“Por causa da Vanessa.” Ela respondeu como se fosse óbvio e eu deixei a confusão invadir minhas expressões. “Ah! Você não sabe...” ela exclamou em surpresa enquanto cobria sua boca com as duas mãos, obviamente arrependida de ter me contado o que aparentemente era um grande segredo.

“Porque Vanessa te daria pesadelos? Só faltava vocês estenderem o tapete vermelho pra ela ontem, vocês a amam!” eu murmurei confuso tentando resolver esse enigma.

“Não é questão de amar ela ou não Alexander. Eu a amo como a uma irmã e ela sente o mesmo sobre mim... E é isso que me leva de volta as más lembranças de vez em quando. Nada de mais, eu já estou acostumada.” A garota tentou desesperadamente reparar seu erro, mas agora eu não podia mais deixar o assunto de lado. Quebra cabeças sempre foram uma paixão minha e a perspectiva de entender um pouco mais do mistério que Vanessa Miller e suas amigas eram pra mim foi simplesmente irresistível então forcei a barra um pouco mais.

“Que tipo de lembranças?”

“Porque eu te contaria? Eu mal te conheço!” ela retrucou levantando a voz e rapidamente percebi que tentar forçá-la a me contar não tinha sido uma boa ideia. Meu único recurso agora era a desprezível verdade nua e crua.

“Porque eu quero... Entendê-la” sussurrei derrotado e um flash de surpresa preencheu os olhos cor de mel de Adriana. Logo após a surpresa ter deixado suas feições ela deu um sorriso esperto, como se soubesse algo que eu não sabia e se acomodou de volta no encosto da poltrona.

“Ok então, mas eu só posso te contar a parte que me envolve também” ela suspirou num misto de derrota e divertimento.

“De acordo.” Respondi simplesmente e esperei que ela começasse a história.

“Há três anos, Vanessa, eu e Stephanie fomos para uma viagem pela Europa. Nós deveríamos passar 20 dias por lá passeando e tirando fotos e foi o que fizemos pelos primeiros 15. Nós fomos aos museus do Vaticano e de Paris, vimos a torre Eiffel, comemos macarrão italiano e beijamos garotos desconhecidos em Amsterdã. Os últimos cinco dias eram para que visitássemos a Inglaterra e nós tínhamos acabado de pousar em Londres.” Ela me deu um sorriso triste.

“Nós precisávamos de dinheiro e fomos até um banco internacional que tem dentro do aeroporto pra sacar alguma coisa...” ela tropeçou sobre as palavras e eu não pude descobrir se era por falta de prática no inglês ou se isso era simplesmente uma reação normal a contar os preliminares de um acontecimento traumático.

“Quando estávamos pra sair do banco... Dois homens armados entraram atirando pra cima e dizendo que era um assalto. Stephanie nos empurrou para que ficássemos atrás de um caixa eletrônico, mas não adiantou muita coisa, rapidamente os homens estavam separando homens de mulheres na sala e nos acharam escondidas.” As mãos dela tremeram levemente por um segundo, mas após uma inspirada profunda ela estava no controle novamente.

“Eles tinham um sotaque estranho, e falavam algumas palavras em outra língua e ninguém estava entendendo muita coisa, mas dava pra ver que estávamos todos com medo. Eles raparam tudo que tinha nos caixas normais e explodiram pelo menos dois caixas eletrônicos antes de pegarem o que tinham vindo em busca...” Ela engoliu em seco.

“As mulheres...” eu sussurrei tristemente, já começando a ter uma ideia de como essa história se desenrolaria. Adriana acenou.

“Todas nós, desde uma garota de 13 anos até a sua avó com 60. Nós saímos por um caminho esquisito, meio que por debaixo do aeroporto sei lá... Eu não me lembro direito, mas provavelmente alguém ajudou a limpar o caminho porque se não eles não conseguiriam ter saído de lá com todas nós. Éramos no mínimo 15.” Ela explicou com olhos desfocados, revivendo cada segundo. “Fomos todas colocadas na carroceria de um caminhão e lá dentro...” ela fechou os olhos e respirou fundo novamente, como que se para restringir as lágrimas e de repente a minha ideia de pressionar Adriana não me pareceu assim tão brilhante. Ela provavelmente imaginou o que eu estava pensando, pois antes que eu pudesse dizer qualquer coisa ela levantou um dedo em minha direção num sinal para que eu aguardasse e suportou sua cabeça com a outra mão. Os dedos indicador e polegar segurando a base de seu nariz alvo. Respirou fundo novamente e continuou:

“Eu não tenho certeza de quanto tempo ficamos todas naquele caminhão. Com certeza mais que dois dias. Era um caminhão baú e estava sempre numa escuridão absoluta...” Ela balançou a cabeça como se para afastar a memória, mas analisando a careta que fez depois disso, eu duvido que tenha funcionado.

“Vanessa...” um pequeno sorriso surgiu e seu rosto. Um sorriso de admiração. “Ela sempre foi muito boa com línguas... Ela ouviu a conversa dos caras em uma das paradas para o banheiro e instantaneamente soube que eles estavam falando russo... Algo haver com os nomes deles eu acho, sei lá...”

“Então, depois de sabe lá Deus quanto tempo passados naquela escuridão, finalmente paramos, eles nos colocaram todas dentro de um armazém, nos deram algo pra comer e nós dormimos. No dia seguinte nós fomos acordadas com o barulho de pessoas conversando do lado de fora da salinha que nos colocaram... Logo eles entraram e eles tinham nas mãos um carimbo... Sabe daqueles que se usa pra marcar gado?” Eu congelei no lugar em choque enquanto ela se virava levemente de costas pra e tirava seu cabelo dourado para fora do caminho. Logo abaixo de sua nuca, na divisa entre o pescoço e as costas havia uma cicatriz de queimadura. Eram duas letras B juntas formando um desenho que lembrava uma borboleta tudo isso dentro de um círculo. A coisa toda tinha mais ou menos 5 cm de diâmetro.

Quando Adriana se voltou para mim novamente eu vi uma única lágrima escorrer por seu rosto e subconscientemente esperei que ela a limpasse imediatamente, mas essa garota me surpreendeu. Ela simplesmente deu um sorriso sem dentes e deixou que a lágrima fosse aonde precisava ir, sem vergonha nenhuma do sofrimento que as memórias traziam a ela. Embora de um jeito diferente, eu percebi que essa Adriana tinha a personalidade tão forte quanto a de Vanessa... Se não mais.

“A partir daí todo dia aparecia um cafetão novo e levava uma ou duas das garotas. Felizmente nenhum deles se interessou especialmente por nenhuma de nós então não fomos separadas. Se bem que... se alguém tentasse, eu acho q a Stephanie iria acabar matando alguém.” Ela deu um pequena gargalhada e eu a acompanhei quando me lembrei que Stephanie tinha sido a segunda garota a me estapear.

“Quando sobramos só nós três os sequestradores iniciais decidiram pegar a estrada de novo agora nós estávamos em uma van. Ficamos dentro do carro o dia todo e paramos para dormir num motelzinho barato. E foi aí que eu finalmente quebrei. O tempo todo eu tentei ser forte e consegui manter uma calma relativa, mas naquele dia eu vi como os cara estavam nos olhando... Aquela fome me assustou muito e eu tive um ataque de pânico dentro do banheiro enquanto nós três nos ajeitávamos para dormir.” Ela estava totalmente compenetrada na história novamente. Seus olhos fechados se apertaram com força e eu não estaria surpreso se ela tivesse completamente esquecido da minha existência.

“O meu desespero não ajudou Stephanie a manter o controle e eu acho que até Vanessa esteve perto de pirar naquela noite. Nós ficamos sentadas no chão imundo daquele banheiro fedido e choramos tudo o que não tínhamos chorado durante os dias anteriores. Eu estava completamente sem esperança... até que, do nada, Vanessa se levantou com tudo e ligou o chuveiro e a torneira no máximo. Ela tinha um olhar determinado no rosto que eu nunca tinha visto antes e isso me assustou um pouco.” Sorriu de leve antes de continuar.

“Ok, eis o que nós vamos fazer!” Ela tentou imitar a voz de Vanessa falando um pouco mais grave e um sorriso invadiu os meus lábios enquanto eu tentava imaginar essa cena.

“A Nessa explicou um plano meio louco, naquela hora e eu acho que nós só aceitamos por causa do desespero, porque... Pensando bem, o que fizemos foi provavelmente mais perigoso do que o que quer que nos encarava no futuro.” Ela balançou sua cabeça em sinal de negação.

“Toda noite os dois filhos da puta dividiam uma garrafa de vodka durante o jantar, e cada vez mais eles chegavam mais perto de nos... atacarem” ódio escorreu de suas palavras. Ódio que eu compartilhava. “Vanessa achou então que a melhor forma de escapar seria dar a eles o que eles queriam... Ou pelo menos fazê-los achar que fosse isso o que faríamos. Stephanie sempre teve uma tolerância a álcool incrível e sempre foi a melhor dentre nós na arte do flerte então Nessa disse a ela pra seduzir os caras enquanto embebedava eles. Embebedar russos!” ela repetiu em descrença.

“Mas na hora que saímos do banheiro a Steph congelou. Eu congelei. E então Vanessa foi no nosso lugar.” Ela riu maravilhada como se a cena estivesse se repetindo a sua frente. “Ela olhou para nós duas, deu um sorriso calmo e foi a luta.”

“Essa foi uma das maiores surpresas da minha vida. A Nessa simplesmente foi até a mesa aonde um dos caras tinha acabado de colocar uma dose de vodka para o outro, pegou a dose e tomou como se fosse dona do lugar.” Ela gargalhou um pouco mais alto agora ainda meio em choque e eu me juntei a ela.

“Mas ela me disse que nunca nem tinha provado bebida alcólica antes.” Eu consegui dizer.

“Bom, ela não mentiu, porque seja lá quem for a pessoas que manteve os dois bastardos entretidos a noite toda, não era Vanessa Miller.” Brincou. “Ela flertou com os caras e lá pela terceira dose Nessa já tinha tanto controle sobre eles que parou de beber e começou a jogar as doses no carpete do chão. Esse era o nosso sinal de que em pouco tempo nós teríamos que correr então Steph e eu começamos a nos preparar.” Ela cessou o riso e voltou para a parte séria da história, mas eu ainda estava tentando montar um cenário em minha mente em que Vanessa seduzia dois russos de uma vez.

“Quando a fala deles começou a ficar bem arrastada eles começaram a disputá-la com mais intensidade. Até parece que eles tinham esquecido que tecnicamente, nós éramos propriedade deles. Ela se sentou no colo de um deles e pegou a garrafa de vodka em mãos, como se fosse beber direto do gargalo. A essa altura do campeonato os dois estavam olhando ela como se ela fosse a última mulher da Terra, e com certeza o álcool não os fez mais inteligentes.” Ela sorriu satisfeita.

“Quando Vanessa levantou garrafa aos lábios a cabeça do cafajeste que a tinha no colo acompanhou o movimento, então em vez de beber o conteúdo da garrafa ela o derrubou nos olhos esbugalhados do safado o desnorteando e antes que ele ou o outro pudessem reagir ela estava de pé e atacou nosso outro agressor na cabeça com a garrafa. Isso só os deixou meio desnorteados, mas nos deu o tempo necessário porque Steph pegou um abajur e jogou na cabeça de um deles enquanto eu joguei a cadeira na cabeça do outro.” Meus olhos se arregalaram em surpresa a cada fato que essa garota me contava e logo eu já estava tentando imaginar como uma garota magrinha daquele jeito encontrou a força para jogar uma cadeira em alguém. Eis os milagres da adrenalina.

“Nós começamos a procurar as chaves da van, mas não conseguíamos achar em lugar nenhum e um deles estava começando a acordar então nó simplesmente saímos correndo do motel. Ficava bem na beira da estrada e nós podíamos ver as luzes da cidade a tipo, 1 km na frente. Eu tive essa ideia de corrermos pela mata ao lado direito da estrada, assim, se eles viessem atrás de nós, pelo menos seria mais difícil de nos enxergar... Só que eu não pensei no fato de que a minha amiga Vanessa que nunca tinha sequer provado álcool direito acabara de tomar três doses de vodka russa. Mesmo que a adrenalina estivesse afastando a maior parte do efeito a coordenação motora dela foi bem afetada e quando estávamos lá pela metade do caminho ela tropeçou em uma raiz mais alta.” Meu coração parou com essa declaração. Eu já tinha visto a falta de coordenação motora de Vanessa logo no seu primeiro dia de trabalho com todo o incidente do café. Eu nem queria imaginar o que ela faria se estivesse bêbada.

Além, é claro, do fato de que, só de imaginar a minha assistente em uma situação tão perigosa dessas deixava meu instinto protetor em alerta máximo. Como se minha preocupação agora fosse mudar o passado, mas ainda assim não pude evitar me sentir ansioso ouvindo tal conto.

“Ela gritou e nós congelamos no lugar... Você não tem ideia da quantidade de nós de medo no meu estômago quando eu vi o pé dela virado naquele ângulo Alexander...” Ela me olhou fundo nos olhos para que eu completamente entendesse a seriedade daquele relato. Não era como nos filmes ou nos livros em que a heroína faz uma tala com uma vareta e ainda consegue correr até a cidade bem em tempo de ser salva. Aquilo era uma história real, e a vida não é uma boa roteirista.

“Com o grito que ela deu os nossos perseguidores tiveram uma ideia de onde procurar e apressaram o passo. Nós podíamos os ouvir chegando cada vez mais perto e eu e Steph tentamos carregar a Nessa, mas não estava dando certo.” As lágrimas fluíam de seu rosto livremente agora, mas sua voz não vacilou nem por um segundo. A cada palavra eu admirava mais o gosto de Vanessa para escolher amizades. “Quando eles estavam perto o suficiente para que ouvíssemos suas vozes claramente, Vanessa empacou. Ela olhou nos nossos olhos durante meio segundo e nós já sabíamos que era inevitável. Seríamos pegas e provavelmente severamente punidas por nosso escape.” De repente minha respiração ficou entrecortada. Eu não conhecia Vanessa há muito tempo, mas uma conversa que tive com ela meses atrás me deu uma boa ideia de como essa história acabaria.

“Hum... Elas são muito suas amigas não é mesmo?” eu tinha perguntado a ela na sacada.

“Família.” Ela respirou fundo antes de elaborar. “Bom, tecnicamente elas são minhas amigas, mas eu as amo tanto quanto qualquer membro da minha família. Eu morreria por elas.” Ela me encarou diretamente nos olhos com uma confiança calma.

“Sabe o que é estranho? Se qualquer outra pessoa me dissesse que morreria pelos amigos eu diria que é só uma forma de dizer ou que todo mundo fala isso até que seja realmente a hora. Mas quando você fala... Eu sei que você está dizendo a verdade.” Eu disse depois de alguns segundos. Da forma que eu sempre podia ler seus pensamentos eu sabia que ela estava sendo verdadeira.

“Bom, eu morreria, mas o que te faz pensar isso?” Ela disse com curiosidade brilhando em seus olhos castanhos, mas havia algo mais... Algum segredo escondido em sua expressão que na época não fez muito sentido pra mim e agora passava a ser o último capítulo daquela história.

Adriana viu o entendimento em me olhar e deu um pequeno sorriso antes de completar sua história:

“Eu comecei a chorar e querer protestar na hora e Steph pareça pronta pra nocautear Vanessa e carregá-la nas costas, mas você sabe a autoridade que Vanessa tem...” Eu concordei com a cabeça. Mesmo sendo tão pequena e aparentemente inocente eu duvido que haja alguém no mundo que consiga dizer não para minha nova assistente. Não se ela estiver usando o seu poder total de persuasão pelo menos. “Pois é... Ela simplesmente nos abraçou e eu sussurrei que a amava, Steph provavelmente fez o mesmo, mas eu não me lembro. Nessa sorriu radiante. De uma forma que ninguém naquela situação deveria ser capaz de sorrir e disse: ‘Eu te amo mais, agora deem o fora daqui! ’.” Nós dois gargalhamos de leve com a frase. De alguma forma eu podia imaginar com detalhes o rosto de Vanessa dizendo aquilo.

“E então ela voltou pros caras?” Eu já sabia a resposta, mas perguntei mesmo assim.

“Yep. Ela distraiu eles e nós corremos pra longe.” Ela acenou. “Nós ouvimos um tiro e alguns gritos...” mais lágrimas desceram por seu rosto bonito.

“E como ela voltou pra casa?” perguntei curioso afastando desesperadamente a ideia de ouvir Vanessa gritar. Esse era um pensamento que me lembrava de mais da morte de metade da minha família.

“Isso não faz parte do nosso acordo. Eu disse que só te contaria o que aconteceu comigo. Além do mais ela nunca me deu muitos detalhes também. Tudo o que eu sei é que durante um ano eu e Steph acreditamos que uma das nossas melhores amigas estava morta por nossa causa. Por um ano eu tive pesadelos com aquela noite e mesmo agora que eu sei que ela está bem... de vez em quando eles voltam pra me assombrar.” Ela respondeu simplesmente se levantando e indo em direção à porta da sacada. “Agora você entende porque todo mundo a protege tanto?” ela me perguntou com um sorriso.

“Sim” sussurrei, mas ela já tinha ido embora.


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Notas finais do capítulo

Vamos brincar um pouco? Ki tal assim, quando vcs forem comentar (e eu sei que vcs vão pq vcs são lindas epessoas lindas comentam) que tal vcs me dizerem a frase que mais gostou do cap e o pq se não for muito incomodo?? eu quero muito saber o que vcs acham da minha escrita e acho que esse e bom bom jeito neh?
vejos vcs nos comentários. bjos