Ela acha que eu não sei. Pietra me observa do topo de uma árvore. Era só o que me faltava: espionagem e perseguição da parte dela. Eu não sei o que ei fiz para merecer isso, meu Deus!

— Vamos? — oferece-me a loira.

— Tá. Vamos.

Kiara me arrasta para trás do colégio com a finalidade de... eu sei lá! Eu sei que eu devia saber, mas ela me disse que era segredo e que mais ninguém podia escutar ou ver.

Será que ela queria me matar em um ritual de magia negra? Vai saber...

Ela segue me arrastando por entre algumas árvores atrás do colégio, seguindo por uma trilha. Eu estava desconfiado, mas seguia a onda de animação da garota. Talvez eu me arrependesse depois, mas eu vou deixar o depois para me preocupar mais tarde.

— Feche os olhos.

— Mas o quê....?

— Só fecha! — ela ordena — Vai, anda logo!

Fecho os olhos como ela me pediu enquanto ela entrelaça nossos dedos enquanto me guia em direção a algum lugar. Ando devagar e não deixo de imaginar aquelas cenas de filme onde o rapaz guia a garota que tem os olhos fechados antes de mostrar alguma surpresa que deixasse a menina de queixos caídos e o casalzinho ficasse feliz da vida e blá blá blá... Que gay. Talvez ela gostasse de ser o macho da relação. Uma relação que a gente não tinha, mas que do jeito que ela estava, não me importaria em ter.

— Pode abrir.

Abro os olhos, e, como nos filmes, me surpreendo. Um lago, grama verde, árvores em volta, pássaros, paz. Uma amostra gratuita do paraíso, em minha vista, é claro. O silêncio que se instalava no local, a tranquilidade, esse lugar faz você esquecer dos seus problemas em um piscar de olhos. Mágico.

— U-a-u!

Ela dá um sorriso vitorioso.

— Magnífico, não?

Eu estava sem palavras. Era realmente maravilhoso, minto, era perfeito. Uma dúvida se instala em minha cabeça. Por que eu estou aqui? Será que ela me trouxe para um lugar isolado para me estuprar e me matar? Não. E mesmo que fosse eu não me importaria de ser estuprado por ela, porque meu Deus!, ela está muito gata! Morrer que seria a grande questão. Eu e os meus pensamentos positivos e animadores. As vezes eu fico com raiva de mim mesmo.

— Por que me trouxe aqui?

Ela dá um longo suspiro. Deus, esse é o melhor primeiro dia de toda a minha vida.

— Gosto de você, e além de tudo somos amigos, não somos?

— Não eramos. Você se lembra disso. Não que eu não queira ser seu amigo nem nada, é só estranho para mim. Mas estou adorando ser seu amigo. Como descobriu esse lugar?

Pelo seu rosto posso ver que sua mente viaja em um monte de memórias, e pela sua feição nem todas são boas e maravilhosas como vejo-a tentar parecer.

— Meu ex. Ele era guitarrista, e ele me trazia aqui e toca violão enquanto dedicava músicas para mim.

Espero ela continuar, mas ao ver que a mesma não leva a conversa adiante tento descobrir um pouco mais sobre isso.

— Quem terminou, ele ou você?

Vejo-a ficar tensa e para disfarçar, senta-se na grama e me convida a me sentar ao seu lado. Impossível recusar.

— Eu.

— Por quê?

— Por que sim.

— E por que sim?

— Por que eu quis, porra. Deixa de ser chato.

Finjo me de ofendido e ela me dá um tapa fraco no braço.

— Você consegue ser mais irritante que a Pietra. — esse comentário dela me deixa muito curioso. Talvez curiosidade seja meu sobrenome, mas e daí?

— Por que não gosta dela?

— Suas perguntas me dão náuseas.

— Responde logo.

Ela faz uma careta engraçada.

— Não gosto dela por que não gosto. É ódio gratuito, bati o olho e não fui com a cara dela, algum problema com isso? Ou vai defender a estranha de cabelo azul?

Levando as mãos para o alto.

— Nada contra. Não gosto muito dela também.

Seus olhos contém uma chama de curiosidade. Será que meus olhos estavam assim enquanto ela falava. Eu tenho que para de ficar analisando as pessoas. Isso é tão mulherzinha, tão gay.

— Por quê?

Dou uma risada fraca.

— Essa frase é minha, dona.

Ela dá um sorriso que, tenho que afirmar, é muito sexy.

— Responde logo.

— Não gosto dela por que a cinco anos atrás ajudei ela em um acidente de bicicleta, onde eu acho que ela danificou o cérebro, e sei lá, acho que ela começou a ficar obcecada por mim, e cá entre nós, ela é muito estranha. Meu pai fala que a mãe dela usava drogas enquanto estava grávida da menina.

— Vai ver por isso que ela é tão estranha.

Concordo. Começo então a olhar em volta.

— Chris. — viro me para Kiara — Não conte para ninguém deste lugar, por favor.

— Tudo bem.

Ela está realmente séria, com um olhar do tipo se contar para alguém, bato sua cabeça no chão até crânio abrir e eu beber seu sangue com canudinho. Pensamento positivo sempre.

— É sério, Chris. Para ninguém mesmo.

— Calma, gata. Esse segredo vai ficar entre eu, você, Deus e minha stalker.

— O quê?

Seus olhos estavam esbugalhados em busca de qualquer um que pudesse estar nos vendo. Sua busca foi em vão.

— Pietra vive me seguindo, não vai ser surpresa se ela estiver nos observando agora. Tudo que eu faço ela dá um jeito de descobrir o que é.

— Tão detestável.

Afirmo com a cabeça.

— Tenho que concordar.

Kiara sorri. A primeira vez que a vi, quando ela ainda era a nerd recatada, ela parecia realmente não ir com a minha cara. Tudo bem que eu sempre fui um pegador que ignorou os sentimentos que ela tinha por mim, mas puxa, ela era tão estranha. Agora, ela ainda parece gostar de mim, e ela está tão magnífica. Tão gata. Nunca passou pela minha cabeça que um dia isso pudesse acontecer, e se rolar algo entre nós, vai ser uma história e tanto.

Espero que Pietra não esteja ouvindo isso, vai que ela escuta, fica possessa e decide dar um fim em minha pobre vida! É, pensamento positivo sempre.