Dor.

Tudo que eu sentia era a dor do impacto daquele ponto azul em cima de mim. Pois bem, mas valeu a pena. Afinal, eu tive a chance de ser o herói desta vez. Minhas costas eram o que mais doía já que eu caí com as costas na grama com o pontinho em bem em cima do meu peito, dificultando a minha respiração. Mas logo em seguida, a garota rolou para o lado e se levantou como se nada tivesse acontecido, afinal, eu amorteci a sua queda.

— Ai meu Deus! — ela exclama finalmente olhando para mim — Você está bem? Eu te matei? Ai meu Deus, eu matei um homem?

Dou uma risada, e logo me arrependo graças à dor que ela me causa.

— Calma... Eu ainda estou... Vivo... — digo com dificuldade enquanto sento-me na grama.

Ela ajoelha-se na minha frente.

— Você está bem? Quer alguma ajuda?

Acho graça da situação já que há anos atrás fui eu quem ajudou. Jamais esqueceria, foi o dia em que eu ganhei a minha stalker.

— Ai. Meu. Deus! — ela exclama — Essa camisa é do BVB?

Olho surpreso para ela.

— Sim. Conhece? — Ignore essa minha pergunta. Que idiota. Óbvio que conhece.

— Não está óbvio? — o sorriso que brota de seu rosto é o mais lindo sorriso que já vi na face de alguém. Não que eu ache bonita, e não que ela não seja... Ah, quer saber? Foda-se, quem se importa?

Levanto-me da grama, em seguida limpando a minha calça que a esta altura estava cheia de grama, assim como minha blusa.

— Afinal, quem não conhece aqueles pedaços de mau caminho? — ela diz.

Não acredito que ela vai falar disso comigo. Comigo! Que absurdo.

— Por favor, não fale de homens perto de mim. E tem bastante gente que não os conhece.

Ela revira os olhos.

— Tipo quem?

— Hum, que tal pessoa de nacionalidade diferente?

Ela revira os olhos novamente.

— Existe uma coisa nova que inventaram que é muito bacana por sinal, que se chama internet. Você não deve conhecer, sabe, é tão recente. — ironiza a garota de cabelos azuis.

Desta vez eu é que reviro os olhos. Começamos a andar, sem rumo, só andar enquanto conversávamos. Essa é a conversa mais longo que já tive com ela. Ou melhor, essa é a primeira conversa de verdade.

— Okay, você está certa. Mas e as pessoas que não gostam desse tipo de música? Ah, e não revire os olhos! — digo rindo.

Ela revira-os propositalmente.

— Essas não contam.

— Contam sim. — digo com uma risada leve.

— Não, não contam. É quase como fazer um gráfico de pessoas que se recuperaram de uma doença “x”. As pessoas não-doentes não irão entrar no gráfico.

Nossa.

— Tudo bem, você tem razão.

Ficamos em silêncio.

Ficamos em silêncio por mais tempo.

Ficamos em silêncio mais tempo ainda. Isso é desconfortável.

— É... Machucou muito? — pergunto tentando preencher o vazio incômodo.

— O quê?

— Quando você caiu do céu, sua linda. — faço uma careta na tentativa fracassada e proposital de ser sexy.

Ela cai em uma risada que chega a ser fofa de tal engraçada e escandalosa. Minha careta foi tão feia assim? Só falta ela rolar no chão. Acabo por rir da reação dela.

— Falando sério agora. Machucou quando você caiu da árvore?

Ela lentamente recupera o fôlego.

— Não... Você amorteceu a queda.

— Que bom... — digo.

E então vejo um pedaço de grama em seu rosto, abaixo de seu olho esquerdo. Involuntariamente, aproximo-me para tirar. Quando finalmente me dou conta do que eu fiz, eu já estou cara a cara com uma garota com as bochechas mais vermelhas que tomate.

Involuntariamente novamente, aproximo-me mais. Sei onde isso vai dar. E apesar de tudo, eu... Quero isso.

Ela fecha seus olhos e eu fecho o meu enquanto eu vou diminuindo a distancia entre nós.

É então que escuto um pigarreio atrás de nós e então Pietra me empurra com tanta força para longe que quase caio no chão. Quase.

Ela tem a cara fechada para mim e está vermelha também de vergonha. Viro-me para ver quem estava atrás de nós. E então o vejo. Um garoto de cabelos escuros e olhos impenetráveis.

Craig.