Scream For Me escrita por Camila


Capítulo 4
Não muito simpático


Notas iniciais do capítulo

Hoje é segunda-feira! E a única coisa boa na segunda, já que eu sou do time #HateMonday, é que tem capítulo novo de Scream For Me!
Bora lá?



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Nunca me imaginei segurando um bebê recém nascido nos braços em pleno apocalipse zumbi. Na verdade, nunca me imaginei em um apocalipse zumbi, mas isso não vem ao caso. Gabe, a garota que trouxe a bacia d'água, agora está com ela dentro de um dos carros nos chamando para limparmos o bebê, vou até lá.

– Meu nome é Gabe, oi. Obrigada por ter nos ajudado com... Bem, você sabe. Qual é o seu nome? - a garota pergunta me estendendo os braços para pegar o bebê. Eu o entrego a ela.

– America. - digo a observando. Seus cabelos são escuros e ondulados estão presos num rabo de cavalo simples, seus olhos azuis estão olhando carinhosamente para a criança. Ela deve ter uns vinte anos, talvez menos.

– Bom, prazer. Foi muito legal da sua parte ajudar com a Ana. Sabe, as pessoas não queriam chegar muito perto dela depois de tudo o que aconteceu, morriam de medo dela surtar ou alguma coisa assim. Idiotisse, é claro. - Gabe dizia enquanto passava um pano molhado pela criança, limpando-a. - Mas se não fosse por você e a Nora, não sei o que seria desse bebê. Quer dizer, eu sei, mas... Enfim...

Me encosto na porta aberta do carro observando Gabe. Hoje com certeza foi um dos dias mais loucos desde que o mundo foi a merda, talvez até um dos dias mais loucos de toda a minha vida. Não sei o que fazer agora. Ir em frente para lugar nenhum? Ou continuar aqui para ajudar essas pessoas a cuidarem de uma criança sem mãe? Maldita consciência.

– Não foi nada Gabe. Agi por instinto. - passo a mão em meu cabelo pensando. - Mas o que você quis dizer quando disse que as pessoas não queriam chegar perto de Ana? O que aconteceu? - encaro Gabe que para de limpar o bebê e me encara de volta. Ela arregala os olhos. Franzo o cenho. O que diabos está acontecendo aqui? Antes que ela possa responder, o cara militar aparece com Nora ao seu lado. Eles conversam baixinho sobre alguma coisa e param quando chegam até nós. Nora sorri para mim e entra no banco de trás do carro, sentando-se ao lado de Gabe. Ela passa uma toalha nas perninhas da criança e todos ficam em silêncio por um tempo. Povo estranho. O cara militar está com as costas encostadas no lado de fora do carro passando a mão em sua nuca, ele está tão pensativo encarando seus próprios pés que me deixa inquieta. Olho ao redor. Todos estão quietos, não sei o que pensar. Eu entendo que eles acabaram de perder uma mulher de seu grupo e tal, mas, eles pretendiam ficar aqui no meio da estrada totalmente desprotegidos até quando? Fecho os olhos. Isso é loucura. Não quero nem ver quando o bebê começar a chorar. O choro de uma criança é praticamente uma sirene, um sinalizador para walkers.

– Eu vou indo então Nora. Não temos tempo a perder. - diz o cara militar andando para longe do carro. Vou atrás dele.

– Aonde você vai? - pergunto correndo para alcançá-lo.

– A criança precisa daquelas fórmulas de bebê, vai servir para substituir o leite materno. Vou na cidade mais próxima para pegar algumas latas.

– Eu vou junto. - digo, ao mesmo tempo ele pára de andar e me encara sério.

– Não, não vai.

– Sim, eu vou. Ajudei a trazer aquela criaturinha ao mundo, é minha responsabilidade ajudar a cuidar dela também. Eu vou com você. Não vou atrapalhar, eu juro. Além do mais, você vai precisar de mim, ou pretende carregar tudo sozinho? Não é homem o suficiente para isso. - provoco com um sorriso torto. O cara militar se aproxima ameaçadoramente de mim e pára seu rosto a centimetros do meu. Meu sorriso se apaga. Quando o cara fala, sua voz sai rouca e me causa arrepios.

– Não sabe do que eu sou capaz, não me provoque. - ele começa a andar novamente e eu vou em direção ao meu carro. Ele me olha com os olhos semicerrados. - Por que tem que ser no seu carro?

– Por que não pode ser no meu carro? - levanto uma sobrancelha. Ele revira os olhos e se senta no banco do passageiro.

– Espero que você saiba dirigir decentemente. - o cara militar diz. Idiota.

– Você é sempre assim? - pergunto quando dou partida no carro e começo a dar ré.

– Assim como?

– Grosso.

– Grosso e grande.

– Ai meu Deus! Eu não acredito que você disse isso! - exclamo enquanto o cara militar ri. Já estamos de volta a estrada principal. - Eu juro que pensei que o Craig era o mais babaca, mas acho que você ganhou dele depois dessa.

– Craig? Sério? Ele com certeza é mais babaca do que eu, é só que estou tentando descontrair depois de tudo o que aconteceu lá. Não esperava que a Nora fosse cortar a barriga da Ana daquele jeito. - pronto, o clima pesou de novo.

– São assim que são feitas os partos a cesariana sabia? Bem, mais ou menos assim, o principio é quase o mesmo.

– Ainda assim foi doidera. - ele diz olhando pela janela do carro. - Você, pelo menos, sabe para onde estamos indo? - pergunta mudando de assunto.

– É claro que sim. Quando eu estava dirigindo a pouco mais de uma hora atras, passei brevemente por uma cidade. Deve ter algum bersário ou creche lá. Podemos achar alguma coisa.

– Temos que achar alguma coisa. - diz o cara militar me cortando rudemente. Argh! Como ele consegue ser chato assim? Jesus! Decido mudar de assunto.

– Então, qual é o seu nome?

– John. - ele responde ainda olhando pela janela. E é só. Ele só diz isso. Incrível.

– Só isso? - pergunto levantando as sobrancelhas e olhando rapidamente para ele.

– Só isso o quê?

– Só vai dizer isso? Só John?

– É o meu nome. Foi isso que você perguntou, não foi? - John diz olhando em minha direção desta vez.

– Sim, mas você deve ter um sobrenome, não?

– Maddox. - ele se limita a dizer e se vira para a janela novamente. A cada segundo que passa, percebo como John Maddox é um homem seco... insuportável e estranhamente seco. Que desperdício, ele até que é bonito. Em silêncio, olho pelo canto do olho para John. Seu cabelo tem um corte curto, bem tipico de caras do exercito. Seus olhos, antes pude perceber que são de um verde escuro intrigante, e ele tem uma cicatriz que começa perto da orelha esquerda e desce pegando uma parte do pescoço, provavelmente uma cicatriz feita por uma faca. Eu classificaria como sexy. Afasto o pensamento. É melhor parar de fantasiar indecências antes mesmo de começar.

Continuamos o nosso percurso até a cidade em silêncio. John não fala e isso me irrita. Eu passei tanto tempo longe de pessoas vivas, que agora que tenho a oportunidade, só quero conversar como se tudo fosse normal de novo. Mas ele não fala. Nadinha. John, definitivamente, não é um homem muito simpático.

Não demoramos para enfim chegar a cidade. Alguns walkers estão nas ruas, mas nada preocupante demais. Isso é normal em uma cidade fantasma onde a população virou zumbi. É quase poético uma merda dessa. Digno de Stephen King. Dirijo pelas ruas enquanto John observa tudo pela janela a procura de alguma creche ou bersário. Quando ele enfim diz que achou alguma coisa, paro o carro em frente a uma escola infantil. Uma creche ao que parece.

– Acha que pode ter algo aqui? - John pergunta me olhando.

– Espero sinceramente que sim.

Descemos do carro e vamos em direção a creche. John está com uma arma em sua mão e um facão na outra. Duplamente armado. Exibido. Seguro minha arma e carrego as duas mochilas. John que ia um pouco na frente especionando com cuidado o lugar, se vira e vem até mim pegando uma das mochilas e colocando em suas costas. Entramos em silêncio e seguimos pelo corredor principal. Não há mais energia elétrica. O chão está sujo e há objetos jogados pelos cantos. Está tudo abandonado. Continuamos juntos e entramos em uma sala. Nada. Entramos em outra sala. Nada. Tentamos mais uma vez. Nada. Aponto para uma outra sala a direita e ele assente com a cabeça. Entramos prestando atenção ao redor. Vejo um armário na parede e vou até ele, abro as portas e suspiro aliviada. Na minha frente estão latas e mais latas de fórmulas. Começo a encher a mochila e pego o suficiente para um bom tempo, enquanto o faço, John está olhando ao redor desconfiado. Parece que essa é uma de suas inúmeras características, ele é bem desconfiado, de tudo. Olho para a sala e vejo outros armários, vou até eles. Roupas. Roupas de bebê. Maravilha. Vou até John que está parado na porta vigiando e peço a outra mochila que está em suas costas, ele me entrega e continua observando o corredor. Vou até o armário, e quando estou colocando o máximo de roupinhas e fraldas que acho ali, ouço um grande barulho de algo sendo destruído. Algo se quebrando. Merda! Fecho o zíper da mochila. Temos o bastante. Podemos ir embora. Corro em direção a John e agarro seu braço, ele se vira e olha para mim.

– O que foi isso? - pergunto assustada. - Que barulho foi esse John?

– Eu não sei, pouca coisa não foi, mas não quero ficar aqui para descobrir. Isso tá muito estranho. Vamos cair fora daqui agora. - John diz pegando uma mochila dá minha mão e a colocando nas costas, faço o mesmo, ergo minha arma.

Seguimos pelo corredor, sempre olhando tudo com muita atenção. Escuto barulhos agora. Paramos na frente da porta dupla de vidro por onde entramos. Walkers. Meia dúzia de walkers estão do lado de fora da creche, na rua, batendo na porta e bloqueando completamente nossa passagem.

– Merda! - John exclama e se vira para mim. - Por aqui não dá pra passar, vamos ter que dar a volta ok? Saimos por trás e depois corremos o mais rápido possivel para o carro. Você não o trancou, não é?

– Não, não é como se os walkers fossem nos roubar.

– Tá. Vamos.

Damos meia volta e nos dirigimos para as saídas dos fundos da creche. Há uma porta dupla de metal aqui, e John logo abre apenas uma das portas. Não posso acreditar no que meus olhos veem. Walkers. Muitos deles. Dezenas deles. Uma horda enorme está parada inerte na rua que a porta dos fundos dá. Algumas daquelas coisas viram a cabeça em nossa direção ao ouvir o barulho da porta se abrindo, começam a gemer e andar se arrastando para nos alcançar.

– Puta merda! - John exclama, fechando a porta rapidamente e puxando a alavanca da tranca sobre ela. Arregalo os olhos e ponho a mão sobre a boca.

– Puta merda! Puta merda! Puta merda! - digo olhando para John, que me olha de volta. Ah droga, esse dia não podia ficar melhor.


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo é bem grande galera, mas nele eu desenvolvi melhor a personalidade da America e do John, como deu para vocês perceberem. E aí? O que acharam? Comentem please ;)
Beijocas e até quarta!