Todos Iguais escrita por Mi Freire


Capítulo 70
Final


Notas iniciais do capítulo

E aí, meninas? Preparadas para o grande final? Não? É, nem eu. Mas não tem outro jeito. Bom, enfim. A história já estava ficando longa e eu, sinceramente, acho isso muito cansativo. Não sei vocês. O final ficou um pouco mais longo que eu esperava, mas espero que isso não seja um ponto negativo. Assim dá pra vocês aproveitarem mais um pouco esse momento final. Ah, e antes que vocês comecem a ler, queria pedir que vocês tenham paciência comigo, caso houver algum erro ou algum grande esquecimento. E também queria pedir que vocês sejam compreensivas e entenda a mensagem que eu quero passar com esse final - porque eu sempre quero passar alguma coisa - apesar de nem tudo sair perfeito como vocês, ou até mesmo eu, gostaríamos que fosse.



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CINCO ANOS DEPOIS

Gabriela está no segundo ano da faculdade de Psicologia. Naquela manhã, ela acordou cedo, como todas as outras manhãs, e acordou sorrindo. Porque sabia que tinha motivos de sobra para lutar pelos seus sonhos. Gabriela não desanimava por qualquer coisa, não depois de tudo que passou.

Ela tomou um banho rápido e morno, vestiu seu vestidinho preto, nem muito curto nem muito longo com um cintinho marrom em volta da cintura magra e para os pés optou por suas botinhas marrom de cano médio. O cabelo castanho-avermelhado estava mais longo e mais ondulado. Ela continuava com a mania de não pentea-lo, por achar que ficava melhor assim. E ela não era a única a concordar com aquilo.

Gabi contornou os olhos azul-esverdeado com lápis preto de olho, passou uma sombra neutra e realçou os cílios com rímel. Depois pegou sua bolsa, largada em meio à bagunça de seu quarto, desceu para tomar seu café da manhã e encontrou seu pai já acordado, sentado a mesa.

Ela deu um beijinho de leve em sua careca, sentou-se com ele e se serviu de uma xícara de café preto e fresco. Passou manteiga em duas torradas e devorou tudo com calma, pois ainda tinha tempo. Gabi e o pai trocaram algumas palavras, até que ela levantou-se, deu outro beijo no pai – dessa vez na bochecha – e saiu para a aula.

Gabi sempre ia de ônibus para a faculdade, que ficava do outro lado da cidade, um trajeto que demorava pelo menos quarenta minutos dentro do transporte público lotado. Mas ela não se incomodava, pois sempre que conseguia ir sentada, ela pegava um livro da faculdade para ler até chegar ao seu destino final.

Já em frente ao prédio da faculdade, tempos depois, Gabi tirou o celular da bolsa e digitou uma rápida mensagem de texto para o irmão, Pedro. Eles trocavam mensagens o dia todo. Estavam mais ligados do que nunca, mesmo Pedro morando a duas horas e meia de distancia.

Gabi subiu até o terceiro andar, onde teria a sua primeira aula do dia. Entrou na sala e viu que boa parte dos colegas já estavam ali, conversando. Ela cumprimentou todos, mesmo que de longe, com um aceno e foi direto para o canto, perto das janelas, onde Júlio estava sentado.

Júlio era um dos seus amigos mais íntimos dos últimos tempos. Os dois tiveram uma afinidade instantânea assim que se conheceram no primeiro dia de aula após as apresentações para o professor. Além de terem gostos muito parecidos, os dois pensavam iguais e tinham os mesmo objetivos: tornarem-se grandes profissionais e ajudarem a quem mais precisa.

Não é a toa que essa amizade, após cinco meses, logo virou algo mais sério e os dois começaram a se envolver de verdade. Não era bem um namoro, apesar de os dois passarem muito mais tempo juntos do que separados. Nunca nenhum dos dois deu tanta importância às formalidades, mas também não ficavam com mais ninguém além um do outro. E isso era o bastante para os dois, pelo menos por agora.

Depois da aula, ao meio dia, Gabi saia da faculdade com Júlio e ia para o trabalho. Ele havia conseguido um estágio em uma clinica renomada não fazia muito tempo e ela iria fazer três meses que estava trabalhando na mesma clínica em que ficou internada, anos antes, quando se perdeu para as drogas.

Gabi fazia um ótimo trabalho por lá, ajudando os viciados. Colocando em prática tudo que um dia aprendeu com sua própria experiência e que o hoje aprendia na faculdade. Gabi nunca se sentiu tão realizada e satisfeita. Finalmente ela tinha tudo que poderia querer para o seu futuro: um trabalho, estudo, amigos, família e um lar.

Claro que ainda era nova, apenas com 21 anos, e tinha muito que aprender, conhecer e viver. Mas ela sabia que se parasse para olhar pra trás, veria o quanto havia progredido na vida. Já não era tão infantil, inocente, boba e imatura. Agora se sentia uma mulher de verdade, com responsabilidades, metas, objetivo e muitos sonhos a alcançar ainda.

Ela havia decidido crescer, evoluir, aprender mais, buscar, aceitar os desafios e conseguira. Com paciência e calma. Ela sabia que enquanto tivesse calma para esperar, as melhores coisas aconteceriam, uma hora ou outra.

Naquela noite, às dez horas, enquanto voltava pra casa de carona com uma colega de trabalho, Camila, Gabi recebeu uma ligação de um numero desconhecido. Mesmo assim, ela decidiu atender e ver do que se tratava.

— Gabi? Oi, é o Rafa. – disse a pessoa do outro lado da linha. Gabi ficou calada, pensou por um momento e perguntou-se... Mas que Rafa? Então a ficha caiu segundos depois, imediatamente.

— Rafael? Não acredito! – ela acenou para Camila, agradeceu a carona e desceu do carro com o celular ainda na orelha. — A que devo a honra? Faz tanto tempo que a gente não se fala! Tipo... Seis meses. – ela riu.

— Pois é. – ele soltou um risinho também. — Então, antes de qualquer coisa, queria saber como você está.

Mesmo depois de anos, Gabi e Rafa ainda eram amigos. No começo, quando cada um seguiu seu caminho, ela entrou na faculdade e ele saiu do estado, os dois se telefonavam com mais frequência para saber como estavam as coisas. Pelo menos uma vez por semana. Mas aí o tempo foi passando... E o esquecido foi acontecendo... E as semanas foram se tornando meses.

— Eu estou ótima! – ela respondeu, sorrindo. Ainda estava do lado de fora de sua antiga casa, onde ela cresceu ao lado dos pais e do irmão. — E você?

Elas conversaram por um tempo. Era como se o tempo não tivesse passando e eles nunca tivessem crescido ou se separado. As coisas pareciam iguais, exceto que de alguma forma, agora, os dois tinham muito mais o que falar um para o outro: trabalho, rotina, amigos, relacionamentos...

— Você falou com seu irmão hoje? – perguntou ele, parecendo animado.

Rafael, naquele momento, estava em Salvador, na Bahia, na varanda de uma casa antiga que ficava de frente para o mar, a qual ele dividia com alguns conhecidos e estava passando uma temporada por lá.

Rafa optou por não fazer faculdade, apesar de ter terminado o ensino médio. Ele trabalhava em um mercadinho naquele tempo, juntou dinheiro, até que se presenteou, no final naquele ano, com uma viagem para o Rio de Janeiro. E foi assim que ele seguiu, parava em algum estado, conhecia pessoas, arrumava um trabalho qualquer, juntava mais dinheiro e assim que possível, pulava para outro estado e um novo ciclo recomeçava.

Rafael não tinha namorada e nem filhos, muito menos um lar ou um trabalho fixo. Falava com sua mãe praticamente todos os dias por telefone ou pela internet e nunca, nunca mesmo perguntava pelo pai. Ele simplesmente fingia que o pai não existia. Não conseguia perdoa-lo por tudo que fez e assim, fingir que ele não existia, tornava tudo mais fácil.

Apesar da distancia, Rafael e Pedro ainda eram inseparáveis. Mas não se viam há quatro anos.

— Falei, mas só por mensagem. Por quê? – perguntou Gabi, aflita. — Aconteceu alguma coisa? Ai meu Deus, Rafa. Fala logo!

— Não, boba. – ele riu. — Não aconteceu nada. Quer dizer, nada muito grave. Mas por acaso você se lembra do Felipe? – ele não deu tempo para ela responder. — Então, é que ele está voltando. Falei com ele ontem e achei que seria legal comunicar vocês.

Gabi não sabia de Felipe desde que ele partiu. E não fazia ideia de que ele, mesmo vivendo em outro país, ainda se comunicava com Rafael.

— Não sei, achei que seria legal se nós, mais uma vez, fôssemos recebê-lo no aeroporto, agora que ele está de volta. Sabe, um reencontro com todos nós. Não seria bacana?

— Nossa! Seria demais! Faz tanto tempo que eu não sei do pessoal. Agora que tá todo mundo ocupado vivendo sua própria vida... Mas quando ele chega? Você já ligou para os outros?

— Ele chega ao sábado. – explicou Rafa. Ainda era quinta-feira. — E bom, eu pensei que você pudesse me ajudar a reunir todo mundo. Eu liguei pro Pedro, que contou pra Duda e agora estou ligando pra você e espero que você possa ligar pra alguma das meninas e...

— Claro. Claro! – Gabi estava praticamente dado pulinhos de alegria no meio da calçada. — Eu vou ver se ainda tenho o numero de alguma delas e eu ligo sim. Pode deixar comigo!

Os dois ficaram calados por um momento.

— Rafa, você é genial!

Assim que Gabriela desligou, Rafael enfiou o celular de volta no bolso da bermuda e entrou na casa, foi para o quarto que ele dividia com mais três caras, puxou sua mala de baixo da cama e jogou-a sobre a cama.

Valter, um dos caras, entrou no quarto naquele momento, tinha acabado de sair do banho quando presenciou Rafael retirando suas roupas de dentro do velho guarda-roupa e jogando de qualquer jeito dentro da mala.

— O que tu tá fazendo? – perguntou ele, curioso e achando graça naquilo. Rafael parecia estar com muita pressa.

— Estou voltando pra São Paulo. – Rafael explicou, terminando de fechar a mala com alguma dificuldade. — No sábado, mas já estou me adiantando. Vou me reencontrar com meus amigos depois de cinco anos, isso não é incrível?

— Sim. Fico feliz por você! Mas você não pode ir sem antes comemorarmos. – Valter colocou a cabeça no corredor que dava para a sala, onde o resto do pessoal estava e gritou: — Pessoal, o Rafa está indo embora amanhã. Que tal uma festinha? Agora mesmo.

Todos vibraram e Rafael sorriu, divertido.

Gabi entrou em casa, viu que seu pai estava cochilando no sofá, com a tevê ligada. Ela foi direto para a cozinha, encheu um copo com água, pegou o celular e deu uma olhada em sua agenda telefônica.

E lá estava o numero da Bianca.

Gabi ligou, ligou e nada. Bianca não atendeu. Talvez tivesse mudado de numero, pensou ela. Na lista Gabi continuou procurando por algum numero conhecido quando avistou o nome da Luiza. Ela resolveu arriscar.

Luiza que havia acabado de descer do elevador sentiu o celular vibrando dentro da bolsa. Com pressa, ela abriu a bolsa e vasculhou tudo lá dentro antes de encontrar o aparelho. Quando o encontrou, viu que era uma ligação de um numero desconhecido.

Luiza resolveu atender, mas ninguém disse nada a principio. E com o celular entre a orelha e um dos ombros, ela abriu a porta do apartamento com dificuldade. Largou a bolsa na mesinha ao lado do sofá, acendeu as luzes e foi direto para o seu quarto, no andar de cima.

— Alô? Luiza? É você, Luiza? – perguntou uma voz familiar. Luiza logo a conheceu. Era a mesma voz de cinco anos atrás.

— Gabi? Você ainda tem o meu numero? – Luiza se surpreendeu e não conseguiu deixar de sorrir.

— Oi, sou eu, Luiza. – Gabi voltou a responder. A ligação estava cortando. Então ela resolveu sair lá fora, para o quintal. — E sim, eu ainda tenho o seu numero. Enfim... Como vão as coisas?

Por onde Luiza poderia começar?

As coisas estavam maravilhosas!

Ela estava trabalhando como assistente pessoal de sua melhor amiga, Bianca. A mesma com quem ela dividia um duplex no centro da cidade. No qual ela estava nesse instante. E ainda namorava Natália, há quase cinco anos, apesar de ela está estudando em Santa Cantarina há três anos.

Era um namoro a distancia. Algumas vezes aquilo era terrível. Luiza sentia-se solitária e carente. Mas nem isso, nem mesmo a distancia e as dificuldade eram capazes de fazê-la desistir desse relacionamento tão durador.

E bom, elas tinha planos. Muitos planos. Quando Nati terminasse a faculdade, as duas pensavam em se casar. E essa ideia, enchia o coração de Luiza de expectativa. Viver com o amor de sua vida de baixo do mesmo teto era tudo que faltava para sua vida ficar perfeita.

Luiza poderia passar horas e horas contando a Gabi o quanto a vida dela tinha mudado, sempre para a melhor. Mas como estava tarde e ela não sabia do que aquela ligação repentina se tratava, então ela apenas resumiu:

— Eu estou muito bem! E você? – Luiza sentou-se na cama e tirou os sapatos de salto alto que estiveram apertando seus pés o dia todo.

— Bem também. – Gabi respondeu, sorrindo. — Por acaso, você e a Bianca ainda são amigas?

— Você tá brincando, né? – Luiza riu. — Nós moramos juntas e trabalhamos juntas! Somos praticamente irmãs. Nada mudou.

— Ótimo! Então, por acaso, ela está aí com você?

— Oh, não. Eu acabei de chegar. Mas a Bianca ficou na empresa, no meio de uma reunião com alguns sócios.

— E ela está com o mesmo numero? Quero dizer, do celular.

— Não, ela mudou já faz um tempinho. Você não quer anotar o numero do escritório dela? Você pode ligar a qualquer momento.

— Sim! Seria ótimo! – Gabi correu para dentro de casa. — Espera aí, só um instante, vou procurar uma caneta e um papel...

Enquanto isso, Luiza começou a se despir. Tudo que ela queria agora, após um longo dia de trabalho, era um banho quente.

Gabi encontrou um pedaço de papel cheio de anotações e uma caneta na mesinha, perto do sofá, onde ficava o telefone de casa.

— Luiza, você ainda está aí? Olha, pode falar o numero agora...

Luiza passou o numero e Gabi anotou tudo com atenção.

— Eu não queria adiantar nada... Mas caso eu não consiga falar com a Bianca, só queria que você soubesse, que estamos organizado um reencontro, sabe, entre nós, no sábado, lá no aeroporto internacional de Guarulhos no mesmo dia em que o Felipe vai voltar. Então eu pensei em avisar a...

— Ai meu Deus! Espera aí, não sei se entendi direito. – Luiza praticamente deu um salto ao ouvir aquele nome... Felipe... — O Felipe está voltando? A Bianca vai surtar quando souber!

— Foi o que eu pensei. – Gabi caiu na gargalhada. — Bom, já que você a conhece melhor que ninguém, então acho melhor você ficar encarregada de dar essa noticia a ela, tudo bem? Qualquer coisa você pode me ligar nesse número.

Elas se despediram e desligaram ao mesmo tempo.

Luiza foi direto para o banho e enquanto a água escorriam por todo seu corpo, ela ficou pensando em mil maneiras diferentes de contar a novidade a Bianca.

Depois de vestir algo mais leve para dormir, Luiza foi desceu até a cozinha, onde esquentou no micro-ondas um sanduíche que estava na geladeira e encheu um copo com suco de laranja.

Ela sentou-se a mesa para comer, ao mesmo tempo em que tentava telefonar para Natália.

Natália já estava deitada, lendo um livro grosso da faculdade em sua cama. O pequeno apartamento que ela dividia com uma colega de faculdade estava completamente silencioso e escuro, apenas o abajur ao lado da cama estava ligado. Ingrid, sua colega, havia saído com o namorado. E ela preferiu ficar em casa, estudando para as provas finais de mais um longo semestre.

Nati estava cursando Pediatria.

E havia conseguido uma vaga para a federal de Santa Catarina assim que concluiu o ensino médio. Foi difícil no começo, ela não queria se separar de sua família, muito menos dos amigos e da namorada. Mas não tinha muitas escolhas. Era uma oportunidade única. Medicina era um curso muito concorrido e extenso, ela não queria perder tempo e nem a chance.

— Luiza, aconteceu alguma coisa? – perguntou ela, já meio sonolenta. Como tinha aula de manhã, Nati costumava dormir muito cedo. — Você nunca me liga assim tão tarde.

Rapidamente, e um tanto eufórica, Luiza explicou a situação a ela. Sobre a volta de Felipe, que de uma hora pra outra, havia abalado tudo. Luiza perguntou à namorada se deveria ou não contar a Bianca. E de que forma ela poderia contar. Natália pediu que ela ficasse calma e achou à ideia incrível, a do reencontro, seria maravilhoso ver todos depois de tanto tempo, isso se ela conseguisse uma passagem para São Paulo a tempo.

— Conte a ela amanhã. Não sei, talvez na hora do almoço, quando estiverem só vocês duas. E fique calma ou ela irá desmaiar. Você conhece bem a Bianca e, se possível, grave a cena. – Natalia riu com a ideia absurda. — Imagine só a carinha dela quando souber que o amor de sua vida está voltando.

— Mas você sabe que eles não estão mais juntos, não sabe? – Luiza lembrou. — Isso acabou há muito tempo. E se ela não ficar feliz em saber? E se ela ficar triste, tipo, pra sempre? E se ela não quiser saber? E se ela não quiser participar desse reencontro? Ela tem todo o direito, mas se ela não for, todos nós sabemos que sempre ficará faltando uma parte...

Luiza desligou. Nati precisava dormir. Luiza terminou de comer e foi direto para o seu quarto, após apagar todas as luzes do apartamento. Ela não queria ver Bianca agora, mesmo imaginando que muito provavelmente ela chegaria tarde. Luiza ainda não sabia com que cara iria tocar no assunto com a melhor amiga. Não sabia, há muito tempo, o que ela sentia em relação a isso tudo. Sobre o relacionamento dela com Felipe não ter dado certo e agora, tudo mudara, ele estava de volta e ela tinha receio de que Bianca se machucasse com a notícia.

No dia seguinte, Pedro acordou com o grito das crianças pulando em sua cama. Mais precisamente, em cima dele.

Maria Eduarda e Pedro estavam casados há quatro anos. Duda não havia concluído a faculdade de Administração por conta da gravidez, mas Pedro sim conseguiu concluir a de Direito no ano passado.

Eles têm dois filhos. Gêmeos de três anos. Tiago é o mais velho e o mais sapeca também. Com a pele branquinha, olhos verdes e os cabelos lisos e castanhos. Laura é a mais nova, é idêntica ao irmão. Porém, é mais calma e mais tímida. Mas quando estão juntos, não há ninguém que os segure.

Pedro nunca amou nada tanto quanto ama os filhos. Por isso, ao invés de ficar irritado porque as crianças o acordaram, ele fingiu ser o monstro das cobertas e arrancou risos delas, enquanto saiam do quarto as pressas, como se morrerem de medo.

Duda estava na sala principal, amparando Tatiana, sua melhor amiga, que havia chegado ali repentinamente naquela manhã, com o rosto coberto de lágrimas. Tatiana havia se separado no marido noite passada, pois o flagrou com outra mulher em um bar que ele costumava frequentar com os amigos depois do trabalho.

Tatiana está desolada e Duda tenta apara-la.

Pedro faz toda sua higiene pessoal, antes de descer para o café da manhã. A babá, Antônia, já está colocando as crianças para tomar banho, para irem para a escolinha em seguida.

Pedro e Duda se mudaram recentemente para a mansão, no interior, após o falecimento do pai de Duda, há oito meses. Apesar de Duda está familiarizada com tanta luxúria, pois nasceu e cresceu ali. Pedro ainda tenta se acostumar com a presença de tantos empregados e da variedade de cômodos disponíveis na casa.

Após o café da manhã, Pedro vai até a outra sala e assiste um pouco de tevê com os filhos, antes de irem para a creche. Não demora muito para a perua escolar chegar, ele dá um beijo no topo da cabeça de cada um dos filhos e eles se vão, correndo e animados para mais um dia de aula na creche.

A uma hora da tarde, Pedro toma um banho e se arruma para o trabalho. Duda entra no quarto naquele instante, parece exausta, mas sorri ao vê-lo tentar fazer o nó na gravata. Pedro odeia usar termos, mas Duda acha que ele fica perfeito usando um.

Ela se aproxima e o ajuda com a gravata.

— E a Tatiana, como está? – pergunta ele, observando os gestos dela.

— Não sei. Acho que ela vai ficar bem. – Duda explicou, voltando a olhar dentro dos olhos do marido. — Ela foi dar uma volta pela fazenda para colocar os pensamentos no lugar.

— Isso parece ótimo. – Pedro se aproximou ainda mais da mulher, enlaçou a pela cintura e puxou para junto de si. — Eu tenho que ir agora. Você promete que vai ficar bem?

— Prometo. – ela sorri, sem jeito. Pedro é o melhor homem do mundo. O mais carinho e atencioso entre todos os homens. — E você promete se cuidar?

— Prometo. – ele também sorri, antes de pressionar seus lábios contra os dela. Os dois se beijaram apaixonadamente.

Pedro se vai. Ele trabalha em um escritório não muito longe dali, junto de mais dois sócios. Pedro só volta para casa às oito da noite. Ele sempre aparece bem a tempo de jantar com a família e ajudar os filhos com o dever de casa antes de coloca-los para dormir.

Duda passa o dia em casa, sem ter muito que fazer. Ela cuida da casa junto aos empregados, administra a fazenda, cuida dos filhos, sai para fazer compras, visita as amigas, vai até a cidade para tratar das contas, lê livros na varanda, aproveita a piscina. Enfim, ela faz tudo que está ao seu alcance até Pedro chegar para fazê-la companhia.

Eles também viajam muito nos feriados e saem nos finais de semana. Ocupar a cabeça faz com Duda não pense tanto na falta que seu pai lhe faz.

Depois do almoço, Duda vai até lá fora, onde avista seu celular largado na varanda. Ela se aproxima e senta-se. Duda lembra-se da noite passada, quando Rafael ligou para dizer que Felipe voltará em breve. Pedro ficou animado e ela mais ainda.

A aquela altura, Duda imagina que Bianca já saiba da noticia e que deve estar feliz da vida. Por isso, ela não pensa duas vezes em ligar para a prima, que acabou se tornando uma de suas amigas mais próximas, em todos os momentos, inclusive quando estava de luto pela morte do pai.

— Então você já está sabendo. – dispara Duda, sem ao menos cumprimentar Bianca.

— Sabendo do quê? – pergunta Bianca, surpresa. Ela deixa a caneta que assinava uns papéis de lado e volta sua atenção ao telefonema inesperado de sua prima.

— Não se faça de boba. – brincou Duda, inocente. — Sei que você não vê a hora de reencontra-lo no sábado.

Bianca ficou muda, pensando a quê exatamente Duda se referia.

— Você está animada para reencontrá-lo? Aposto que você não vê a hora de estarem juntos novamente!

Bianca ia perguntar de quem Maria Eduarda estava falando, quando a ficha caiu no mesmo instante. Ela ficou atônita. Há muito tempo ninguém falava com ela a respeito de Felipe, sabendo o quanto era triste para ela lembrar que por mais que tivessem tentando, o namoro dos dois não foi muito longe, devido a distancia e a diferença de fuso horário.

E também porque os dois estavam passando por situações muito diferentes. Ele ocupado na adaptação de outro país, a um novo colégio e a convivência com novas pessoas. E ela prestando vestibulares um atrás do outro e organizando a festa e a viagem de formatura. Os dois mal tinham tempo de conversar, nem mesmo pela internet como tinham combinado.

No começo os telefonemas foram constantes, apesar da diferença de horários. Os dois sempre davam um jeitinho de se falar, perguntar como estavam as coisas e contar as novas experiências. Mas depois as coisas foram ficando apertadas. Felipe precisava estudar muito, estava cursando História. E Bianca estava tentando se decidir se passava um ano estagiando na empresa dos pais ou se começava de uma vez a faculdade de Moda.

Acabou que ela preferiu aprender mais com os pais na empresa que um dia seria sua e adiou os estudos. O tempo ficou corrido e cada vez mais curto. Felipe conheceu novos amigos, até mesmo outras garotas e os dois se separam de vez, sem ao menos terem tempo para dizer adeus.

Três anos depois, Felipe já não tinha planos de voltar para o Brasil. Bianca havia ido estudar moda em outros países. Felipe ficou com outras garotas, assim como Bianca conheceu outros caras. Mas nenhum dos dois se sentiu completo, tanto quanto estavam juntos. E já estavam sem se falar há dois anos. Não tinham nenhuma noticia um do outro.

Bianca ainda pensava muito nele, especialmente quando estava sozinha ou quando nenhum relacionamento com outro cara dava certo. Felipe sempre se pegava pensando em Bianca quando beijava outra garota ou quando dormia com elas. Bianca já não usava mais o colar com o nome de Felipe e havia guardado tudo que ele lhe dera em uma caixa no fundo de seu closet. Felipe deixou de escrever e-mails para ela e apagou seu numero da lista de contatos.

Não sabia ao certo porque.

Parecia que os dois queriam se esquecer de vez, mas sabiam, no fundo de seus corações, que isso era algo impossível. Nenhum deles jamais amaria outra pessoa tanto quanto ainda se amavam.

Luiza entrou na sala de Bianca naquele momento. A porta estava aberta, como sempre. Bianca tinha sua própria sala na parte mais alta do prédio da empresa que agora lhe pertencia. Seus pais haviam lhe dado a empresa e foram morar em Paris de vez. Bianca agora era dona de um grande império.

Luiza estava disposta a contar a novidade a melhor amiga antes mesmo de entrar em sua sala, mas bastou ver a carinha de espanto e tristeza de Bianca, que na certa, imaginou que ela já sabia de tudo. Por outra pessoa, claro.

Bianca não conseguiu dizer nada, apenas deixou o celular cair com tudo sobre a mesa, junto à papelada. Luiza se aproximou rapidamente, pediu para que ela ficasse calma. Bianca continuou imóvel, calada e com o olhar distante. Preocupada Luiza discou o numero do ramal da secretaria e pediu que trouxesse água.

Ivone, a secretaria, veio correndo. Mas logo se foi, porque odiava se meter nas coisas de sua patroa.

— Você já sabe, não sabe? – perguntou Luiza, próxima a Bianca. Enquanto ela bebia a água calmamente. — Eu sinto muito. Eu ia ter contar...

— Tudo bem. Não estou assim porque você não me contou. Estou assim porque não sei o que exatamente pensar sobre isso.

— Olha, eu entendo. Você nem precisa ir a esse reencontro. Você não tem que vê-lo de novo. Não se não quiser e não estiver preparada.

Bianca suspirou e deu um meio sorriso a amiga.

— Sabe de uma coisa? Acho que eu nunca estarei preparada para esse reencontro. Mas eu vou. Vou sim. Eu tenho que ir. Não devo isso a mim ou a ele. Devo isso a vocês, a nós.

Luiza estava muito orgulhosa de Bianca. Ela não sabia muito sobre o termino dela e de Felipe, Bianca nunca falava a respeito. Mas sabia que era doloroso e difícil para ela, apesar de não demonstrar. Seria doloroso pra qualquer um, se estivesse em se lugar.

— E quando vai ser? Digo, o reencontro. – apesar da ideia de reencontrar todos parecer fantástica, Bianca não conseguia tirar a imagem de Felipe, no dia da sua partida, da cabeça naquele momento.

— No sábado. Às seis da tarde. – explicou Luiza, que já havia ligado para Gabi naquela manhã e perguntando mais a respeito.

Rafael era o único que sabia de todas as informações e quem havia planejado tudo. Felipe havia ligado apenas pra ele e não estava esperando por nada disso.

Bianca tentou ao máximo se concentrar no trabalho pelo resto do dia. Afinal, sempre tinha muito o que fazer. No almoço ela e Luiza foram para o restaurante de sempre. Luiza tagarelava sem parar, como sempre, falando sobre diversos assuntos. Inclusive sobre Natália. Bianca ao se importava, mas naquele dia em especial, estava com a cabeça nos ares.

Mais tarde ela ligou para prima, mas se desculpar pela ligação que ela não completou. Explicou que ainda não sabia de nada, até ela lhe ligar e contar tudo, meio sem querer. Duda deu um riso sem graça e também se desculpou, pois não sabia. As duas conversaram um pouco sobre as crianças e logo desligaram, voltando para suas tarefas habituais.

Bianca mal conseguiu dormir aquela noite de sexta-feira. Estava ansiosa e agitada. Ansiosa porque não sabia o que esperar daquele reencontro e agitada por poder rever Felipe mesmo depois de tanto tempo. Ela se perguntava como será que ele estava, se ainda era o mesmo ou se gostava das mesmas coisas. E o mais importante: será que ele ainda sentia o mesmo por ela?

Ela não sabia responder a nenhuma dessas perguntas. Mas sabia que por mais que tivesse tentando esconder seus sentimentos nesses cinco anos, deixando-os em um canto isolado de seu coração, agora eles tinham voltado com tudo, como uma enxurrada, preenchendo seu coração novamente.

Claro, que muita coisa tinha mudado. Ela havia crescido, estudado, se formado e agora era dona da empresa da família... Mas, de alguma forma, ela ainda se sentia uma garotinha, a mesma de cinco atrás, que passava no psicólogo pelo menos uma vez por semana para tratar de seus distúrbios alimentares – que não mais existiam, graças a Deus – e que amava perdidamente um garoto chamado Felipe, que esteve presente em praticamente todos os momentos de sua vida, seja eles ruins ou bons.

Bianca conseguiu dormir por pelo menos três horinhas e acordou muito cedo. Tentou ocupar a mente pelo resto da manhã, ao ver assistir alguns canais de moda no Youtube. Depois ela tomou seu café da manhã com frutas e leite. Às dez horas Luiza acordou e fez companhia a ela. As duas conversam normalmente como faziam toda manhã e assistiram um pouco de tevê.

Natália chegou às duas da tarde. Abraçou as duas e foi logo entrado. Ela já era de casa. Luiza levou suas bolsas até o seu quarto, no pavimento superior. Enquanto Natália contava a Bianca a tensão que havia sofrido na ultima semana, devido às provas finais de um longo semestre.

Minutos depois, as três saíram para almoçar fora. Deram uma volta no shopping e compraram algumas coisas. Nada de mais. Quando voltaram para casa, Luiza e Natália foram direto para o quarto, onde as duas teriam mais privacidade para matar a saudade. Bianca olhou para o relógio e viu que já era quatro e meia da tarde. Resolveu ir se arrumar.

Após o seu banho, já estava dentro de seu closet, pensando no que iria vestir. Mudou de roupa pelo menos uns trinta vezes. Insatisfeita com todas as peças. Normalmente isso nunca acontecia. Ela era sempre muito decidida quanto ao que vestir quando fosse sair. Mas nessa tarde em especial, as coisas não estavam sendo fáceis.

Ela sempre ficava preocupada com o que Felipe iria pensar. E principalmente, se ele iria gostar. Mas por fim achou que isso era uma besteira. Talvez ele nem desse tanta importância assim ao que ela vestia, como a maioria dos homens. Ou talvez ele nem estivesse disponível e estivesse voltando casado e pai de quatro filhos. Ou até mesmo poderia estar namorando uma garota linda, alta e super inteligente que ele conheceu na faculdade. Bom, ela não sabia.

Tudo poderia acontecer nesse reencontro.

Por fim, Bianca optou por um vestidinho leve, por conta do calor que estava fazendo lá fora, de cor branca. Para os pés sapatilhas floral em tons de verde. Uma jaquetinha jeans, caso esfriasse ao anoitecer. Deixou os cabelos longos e loiros soltos. Fez uma maquiagem leve, apenas destacando os lábios com um batom rosa.

Luiza decidiu que ela iria dirigindo.

Foram as três no mesmo carro.

A aquela altura, às cinco e vinte da tarde, já estavam todos a caminho do aeroporto. Tinham combinado de se encontrarem no primeiro portão de desembarque, onde Felipe acreditava que iria descer.

Gabi foi a primeira a chegar. Ficou mexendo no celular, até a primeira alma viva resolver aparecer. Rafael que estava vindo direto de Salvador foi o primeiro a aparecer. E aquele momento não poderia ter sido melhor. Ele vendeu seus olhos com as duas mãos, pegando-a desprevenida. Gabi poderia ter chutado o nome de qualquer um, mas conhecia bem as aspereza daquela mão e o cheiro daquele perfume masculino.

— Para de gracinha, Rafael. – disse ela, entre risos.

Ele se virou no mesmo instante, também rindo e levemente chateado por ela ter acertado que era ele. Ao se verem pela primeira vez em anos, foi instantâneo, ele a pegou no colo e girou no ar. Gabi ainda era leve e pequena.

Quando ele enfim a colocou no chão de volta, ela pode olhar melhor para ele. Rafael estava muito maior, muito mais forte. E estava muito bronzeado. Mas ainda tinha o mesmo os olhos castanho-claros e os cabelos ondulados. Ah, e aquele sorriso de tirar qualquer uma do sério.

Não deu nem tempo de eles conversarem direito, para Maria Eduarda e Pedro chegarem. Os gêmeos foram correndo para abraçar a tia. Que se abaixou no mesmo instante e estendeu os dois braços.

Pedro, feliz da vida, cumprimentou Rafael com abraços, socos e muitos sorrisos. Tinha sentido muita falta do amigo ao longo dos anos. Enquanto isso, Duda cumprimentava Gabi. Assim que os gêmeos a deixaram em paz. Gabi e Duda não havia se tornado grandes amigas. Mas também não havia mais intrigas entre as duas. Gabi sabia reconhecer que Duda havia feito um belo trabalho fazendo Pedro um cara feliz e criado as crianças muito bem por sinal.

— Bom, pelo visto só faltava a gente. – disse Natália com um sorriso largo, quando já se aproximava do grupo.

Luiza e Bianca vinha logo atrás.

E quando enfim estavam todos juntos, forma abraços e beijos para todos os lados. O grupo rapidamente chamou atenção do pessoal que andava de um lado para o outro no aeroporto. Mas não era como se eles se importasse, estavam muito felizes com aquele reencontro.

As seis em ponto, Rafael tirou uma folha sulfite que ele tinha deixado dobrada dentro do bolso da calça jeans. Na folha, com canetão preto, estava escrito:

MEU NERD PREFERIDO

O grupo aguardava ansiosamente pela chegada no ultimo membro.

Pedro segurava Laura nos braços, Duda estava ao lado, sorrindo muito, e com a mão no braço do marido. Gabi estava do outro lado, com Tiago no colo, que não parava de falar, contando sobre o que ele fazia na creche, todo animado. Natália e Luiza não estavam muito atrás, de mãos dadas e com os olhos cheios de expectativas. Rafael havia tomado a frente, com seu cartaz improvisado nas mãos. E por fim, Bianca estava atrás do grupo, meio receosa, com os braços cruzados. Sem conseguir olhar para o portão de desembarque, onde saia pessoas de segundos em segundos.

As seis e dez um sorriso familiar surgiu em meio a tantos sorrisos estranhos. Era Felipe. Um Felipe um pouco mais alto, mais adulto, com uma barba por fazer. Usando jeans, uma camiseta preta e um All Star azul marinho. Cheio de bolsas e malas. Que ele largou no chão, ali mesmo.

Rafael foi o primeiro a recebê-lo e logo em seguida todos os outros, como um exército, atacando o amigo todos de uma vez. Os sete o abraçaram em conjunto. Por muito pouco, Felipe não deixou uma lágrima de emoção escapar dos olhos amendoados.

Há um ano ele não tinha interesse algum em voltar para o Brasil, tinha acabado de terminar os estudos, estava vivendo uma fase boa ao lado dos novos amigos, rodeados de garotas interessantes e sem nenhum compromisso com nenhuma delas. Mas, no fundo, só ele sabia o quanto sentia falta de alguma coisa. Parecia sempre faltar alguma coisa. Não sabia dizer se ela o contato com os pais, se era falta dos amigos de longa data ou se era a falta que sentia de ter alguém que pudesse chamar de sua. Ah, além de não ter conseguido encontrar uma trabalho.

Então, da noite para o dia, em meio a algumas dificuldades que ele havia passando em pagar o aluguel de seu loft, ele havia tomado uma decisão: voltaria para sua terra natal.

Assim que todos se afastaram, foi automático, os olhos de Felipe foram direto se encontrar com a única pessoa que não se aproximou, nem por um momento. Bianca. Que continuava ali, sem conseguir olhar aquela cena. Sem saber ao certo o que estava sentindo ou como deveria agir.

Antes de se aproximar dela, sabendo que deveria dar o primeiro passo, Felipe pegou uma rosa branca de dentro de uma das malas. Uma rosa com um bilhete. Exatamente como no dia em que se despediram. Os demais ficaram de longe, apenas observando a cena.

Felipe se aproximou lentamente de Bianca, que além de estar morta de vergonha, não sabia ao certo para onde olhar.

— Oi. – disse ele, meio sem jeito. Também muito acanhado.

Felipe comprou a rosa ainda nos Estados Unidos, segundos antes de embarcar. Foi uma ideia repentina, que surgiu assim que ele bateu os olhos em um quiosque que vendia flores. Durante o voo ficou pensando naquele momento. Um momento que tinha esperando por tanto tempo. E foi quando outra ideia lhe veio a cabeça: escrever um bilhete, apesar de não saber o que esperar quando a encontrasse.

Seu maior medo, enquanto pensava em tudo isso, era que Bianca não comparecesse ao encontro ou se ela já estivesse com outro. Claro, ela tinha todo o direito de ter superado aquele amor adolescente. Mas ele esperava, desejava com todo seu coração que não e que talvez, se os dois concordassem, pudessem recomeçar ou se dar uma segunda chance.

— Oi. – respondeu ela, quando enfim conseguiu olhar diretamente para ele.

Felipe entregou a rosa para ela, notando que ela não usava aliança nem nada. Nem mesmo na outra mão.

Bianca sorriu, um sorriso fraco, agradecendo pela rosa. Cuidadosamente ela abriu o bilhete que dizia:

Quando você está longe, os pedaços do meu coração sentem sua falta.”

Ao terminar de ler, Bianca sorriu. Dessa vez um sorriso de verdade. Ela reconhecia aquela frase. A frase pertencia a um trecho de uma música de uma de suas cantoras favorita, Avril Lavigne.

Ela não aguentou por muito tempo segurar os impulsos de seu corpo e se jogou com tudo nos braços de Felipe. Felipe a segurou com força, deixando lágrimas escaparem de seus olhos. Tudo estava acontecendo exatamente como ele desejou.

Ainda abraçados, ambos sentia que o mundo em volta parecia estar em pausa, e nada mais importava. Nenhuma palavra conseguia ser dita. E quando se afastaram, mas não muito, se olharem por mais tempo, os dois sorrindo, satisfeitos. Felipe se inclinou e beijou a ponta do nariz dela, como nos velhos tempos. E o que já estava reacendido em seus corações, ardeu em chamas naquele momento.

— Chega de drama, pessoal. – Rafael chamou a atenção de todos, interrompendo aquele momento mágico. — É hora de comemorar. Então, porque a gente não sai pra beber? Tipo, agora.

Foi então que todos riram.


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Notas finais do capítulo

Esse é o fim. Infelizmente. Gostaram ou não? Não deixem de comentar. Sei que não foi um fim extraordinário e sei que nem tudo que vocês queriam aconteceu. Mas a verdade é que eu já tinha essa história praticamente toda elaborada na minha mente, do inicio ao fim, e conforme eu ia escrevendo só ia acrescentando alguns detalhes. Fora isso, eu fui fiel a minha ideia desde o inicio até o fim. Bom, pelo menos, espero que tenham gostado.
Agora eu queria agradecer a todas vocês que chegaram até aqui. Eu poderia citar vários nomes, mas se eu esquecesse algum seria injusto. Então, você, que está lendo isso agora, sinta-se abraçado por mim. Recebi comentários incríveis de vocês desde o começo e isso me motivou muito a continuar, sempre tentando buscar o melhor. Sem vocês, nada disso acontece. Então sim, pode parecer clichê, mas vocês são sim minha maior fonte de inspiração. Obrigada de coração.
E quanto a mensagem que eu quis passar com essa história e com esse final, é que - pra quem não entendeu, porque nem sempre eu consigo ser muito clara - é que o amor é sim real, ele existe e você não pode parar de acreditar, mesmo que um babaca qualquer tenha ferido seus sentimentos de todas as formas possíveis... Continue acreditando que um dia você encontrará um alguém que terá mil defeitos, mas que você aprenderá a gostar de todos eles. Outro coisa é que, nunca, em hipótese alguma, desista dos seus sonhos. A fé, a esperança, são fundamentais, em todos os momentos da nossa vida. E preserve e valorize seus amigos, mesmo eles sendo diferentes, mesmo com as brigas, as dificuldade e as distancias... Tenha amigos, muito amigos e sinta-se privilegiado por tê-los por perto, sempre.
E por fim, eu disse que ia escrever uma continuação para a história do Felipe e da Bianca, não que os outros não tenha sido importantes para o contexto, mas é que eu também tenho minhas preferencias e me apaixonei muito por eles, desde o inicio, assim como a maioria de vocês. E muito provavelmente, o primeiro capítulo da nova história será postado ainda hoje, então deem uma olhadinha no meu perfil. Bom, acho que já falei demais e isso é tudo. Um grande beijo a todos! E quem sabe, até a próxima. Fiquem com Deus.