Todos Iguais escrita por Mi Freire


Capítulo 69
Bianca e Felipe


Notas iniciais do capítulo

Ultimo capítulo antes do epílogo.



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SETE MESES DEPOIS

Eu juro que tentei me manter ocupada o máximo de tempo possível. Agora como líder do comitê de organização da formatura, tinha dias em que eu não tinha nada pra fazer além de ficar correndo atrás das coisas e isso, por um lado, me deixava muito contente. Porque eu me sentia útil e não tinha tempos para pensar em outras coisas.

Quando chegava em casa, por volta das oito da noite, depois do cursinho, ia direto pro meu quarto, tomava um banho, colocava meu pijama e ligava para o Felipe, para saber se ele tinha novidades e para também contar como havia sido o meu dia, sempre tão corrido.

Mas bastava colocar a cabeça no travesseiro, quando tudo estivesse em silencio e escuro, para as lágrimas escorrerem por minhas bochechas. Frias e pesadas. Qualquer sono ou cansaço que eu estivesse sentindo até então, evaporava naquele momento. Que era quando mais um dia terminava e eu lembrava que a viagem do Felipe estava cada vez mais próxima.

Por mais que ele me garantisse que nada iria mudar e que ele continuaria me amando da mesma forma, ou ainda mais, mesmo mantendo nosso relacionamento a distancia eu me entristecia em pensar que talvez – sempre há a possibilidade de um talvez – isso não fosse funcionar por muito tempo, por mais que nós dois quiséssemos.

E por muitas vezes, entre soluços, eu me perguntava como é que iria ser a minha vida – justamente nessa fase de transição para a vida adulta – iria ser sem o suporte do Felipe por perto. Quem eu iria abraçar quando as coisas estivessem difíceis? Quem eu iria beijar quando eu estivesse muito carente? Que outro sorriso seria capaz de animar se não o dele?

Tudo bem, namoros a distancia podem sim funcionar, eu acredito nisso, mesmo nunca tendo uma experiência do tipo. Mas nada se compara a sensação de sentir a pessoa amada por perto, poder toca-la, beija-la. Nada disso será possível para nós dois. Vou precisar me contentar em vê-lo apenas através do Skype e ouvi-lo pelo telefone.

Mas nem em um milhão de anos isso seria o bastante.

E é por isso que eu choro, me lamento e me entristeço, mesmo quando ele ainda está aqui, ao meu lado. Porque eu sei que falta muito pouco para tudo isso acabar. E sim, eu tenho todo o direito de me sentir assim... Porque é muito fácil julgar quando você nunca passou por nada parecido.

Eu tento ser forte, ser sensata e madura quanto a isso. Mas não é fácil! É uma tortura que parece que nunca terá fim. E eu sei que as coisas só tendem a piorar depois que ele se for. E não, pode ter certeza, que eu jamais me acostumarei a algo assim.

***

A última coisa que eu queria agora é vê-la sofrer desse jeito. Na maior parte do tempo, da vontade de desistir tudo, só pra continuar aqui, pertinho dela e nunca mais largar. Mas ela mesma diz que se culparia por toda vida se eu largasse tudo por ela. E nada disso parece justo com a gente.

Eu sei que eu deveria estar feliz, porque é o que todo mundo espera de mim nesse momento. Já que a vida mudou radicalmente, assim, de uma hora pra outra. Eu sei que é uma grande chance, ir estudar em outro país, morar em outro lugar, conhecer novas culturas e novas pessoas.

No começo, quando essa ideia me surgiu, era exatamente isso que eu queria. Viajar tranquilo, porque eu não tinha motivos para me lamentar e olhar pra trás. Afinal, eu não tinha nada. Mas olha só pra mim agora, eu tenho tudo. Tenho amigos, tenho uma nova família, tenho uma vida, uma rotinha e tenho ao meu lado uma pessoa incrível pra chamar de minha.

Já não vai ser tão fácil quando eu achei que seria. Quer dizer, vai ser difícil pra caralho! Não é só a Bianca que sofre com isso. Coloco-se no meu lugar também. Imagine eu, chorando feito um idiota já no avião, por ter deixado tudo pra trás e imagine eu, chegando a um outro país, sozinho, sem saber ao certo pra onde ir e tendo que me virar, falando em outro língua, na esperança de que alguém me compreenda.

E mesmo depois, que eu já estiver habituado a minha nova realidade, como será pra eu ter que lidar com um relacionamento a distancia? Quando o que eu mais queria é tê-la pra sempre ao meu lado. Pra poder morder, beijar, abraçar, sentir. Não, não vai ser fácil. Estou evitando até pensar muito a respeito e tendo me manter forte, não só por mim, mas também pela Bianca.

O bom é que ela não só vive pelos cantos chorando, ela também tem feito muitas coisas para não se deixar desanimar. Sei que ela tem feito um trabalho incrível, organizando antecipadamente a formatura no fim de ano. A qual eu não vou participar. Sei também que ela tem dado um duro danado no cursinho, depois da aula, junto com o Pedro e a Natália.

Sei que ela tem tentando conciliar todas essas responsabilidades com seu tratamento e sei que ela tem se recuperado bem mais de seus transtornos alimentares. Sei que ela não tem vomitado depois de comer desde que começamos a namorar, apesar de ainda se sentir culpada quando achar que foi longe demais na hora das refeições. Sei que esse é um tratamento longo e que leva tempo até ela se sentir totalmente segura, mas eu espero que isso aconteça logo. E sei que isso me dar muito orgulho dela. Eu não me canso de dizer isso a ela, eu não me canso de incentiva-la.

Sei também que elas e os pais estão cada vez mais próximos, como se finalmente eles tivessem conhecendo um ao outro. Eles têm saído mais, conversando mais e passado muito mais tempo juntos. Acho que finalmente eles são uma família de verdade, que apoiam um ao outro em todas as circunstâncias.

Quanto a mim, desde a minha ultima briga com a minha mãe, ela mal olha direito pra mim, como se não me conhecesse. O que eu já estou acostumado, então nem acho tão ruim. Mas também não é como se eu precisasse tanto dos meus pais agora... Já tenho maior idade e posso me responsabilizar pelos meus atos.

Tenho juntado uma boa quantia da minha mesada para arcar com as minhas despesas. E os pais da Bianca também têm me ajudado bastante, com essas coisas dos vistos do passaporte, os últimos detalhes da minha viajem e a inscrição para a nova faculdade. E por mais que eu negue e diga que não precisa, eles têm me ajudado também com um pouco de grana.

Por exemplo ontem, a Bianca disse que tinha uma surpresa pra mim. Ela me levou ao shopping e fez questão de comprar roupas novas pra mim, inclusive as de frios, já para eu me preparar para o inverno de outro continente. Eu relutei no começo, disse que aquilo era bobagem e que eu poderia me virar muito bem quando chegasse lá. Mas ela acabou insistindo e me convencendo, disse que era um grande prazer me ajudar com as roupas, já que ela gostava tanto daquilo.

Eu sei o quanto estava sendo difícil pra ela lidar com tudo isso, mesmo assim ela estava fazendo sacrifícios por mim. E eu amava cada vez mais por isso.

Para não parecer que eu estava abusando muito, eu também dei um presente a ela. Algo que eu fiz em dois meses. Uma coisa boba, mas que arrancou muitos suspiros dela. Era uma cardeneta. Onde eu escrevi diversas frases de atores diversos, uma para cada dia do ano, a partir do dia da minha viagem, que por sinal já estava marcada para as próximas semanas. Assim, ela poderia ler uma por dia. As frases eram diversas. Muitas a motivando continuar, seguir seus sonhos e ter coragem de enfrenta-los, mesmo que ela não achasse ser capaz, porque eu não estaria por perto.

Eu, mais que qualquer outra pessoa, confiava nela. Acreditava em seu potencial. Sabia que ela era maravilhosa, forte e capaz.

E não importa onde eu estivesse, eu sempre estaria torcendo por ela.

***

O Felipe viajaria daqui três dias. Mas isso não me impossibilitou de preparar uma festinha surpresa para de despedida.

Com ajuda dos meus amigos e dos meus pais, organizei tudo em um recorde de tempo. Estava tudo planejado para acontecer naquela noite, lá em baixo, no salão do prédio.

Não convidei muita gente. Apenas nossos amigos e um pessoalzinho do colégio, que era mais próximo do Felipe e que estavam torcendo por ele. Convidei a professora Adriana, a de História, a preferida do Felipe e que tinha também ele como seu aluno preferido. Aliás, ela o ajudou sempre, desde o inicio com esse negocio de estudar de fora.

Convidei seus pais também, mas duvidava que eles aparecessem em algum momento. O papai e a mamãe, claro, não ficariam de fora. Eles amavam o Felipe como se ele fosse um filho. E eu os amava muito por isso, por ter o tratado de maneira tão paternal desde o inicio.

O Fê merecia tudo de melhor, então contratei um DJ e um pessoal que ficou responsável pela decoração. O resultado ficou impressionante, tudo muito colorido e alegre. Muita comida e bebida. A piscina estava muito convidativa também, com uns balões grandes flutuando na água.

A noite estava fresca e o céu estava repleto de nuvens. Sem contar a lua, que tinha um tom amarelado, quase dourado.

Coloquei um vestidinho com um laço na cintura meio marronzinho com dourado e uma sandália alta cor creme. Com a chapinha fiz umas ondas nos cabelos e os deixei solto. Caprichei na maquiagem, ressaltando o verde dos meus olhos.

A aquela altura, ele ainda não estava sabendo de nada, provavelmente estava em seu quarto se arrumando, porque eu disse que iríamos sair, só nós dois. Ainda assim eu desci, para receber o pessoal.

Todos chegaram na hora exata, às oito horas. Todos de uma só vez e foram se espalhando pela área de lazer do prédio.

A Nati subiu, para chamar a Luiza. O Rafael arrastou o Pedro direto para o freezer onde estavam as bebidas. A Gabi levou o namoradinho novo, tal de Daniel, para conhecer melhor a área. A Duda me ajudou a receber o pessoal do colégio, matando a saudade de alguns conhecidos.

Naquele exato momento o DJ colocou Calvin Harris e Ellie Goulding para tocar, animando o pessoal e fazendo algumas meninas soltarem alguns gritinhos. Pedi para que todos se sentissem em casa.

Senti meu celular vibrando em minhas mãos. Era o Felipe perguntando se eu já estava pronta. Respondi que sim e pedi para ele me encontrar aqui em baixo. Coisa que ele deve ter achado estranho, mas não protestou, apenas disse que desceria logo.

Anunciei o pessoal que ele já estava a caminho.

Quando o Fê aparece na porta de entrada do prédio, já estávamos todos ali aglomerados, e gritamos, deixando o surpreso e assustado. Mas logo a ficha dele caiu e ele começou a sorrir, todo bobo e envergonhado. Eu me aproximei, dei um rápido beijo nele e sussurrei em seu ouvido:

— Isso é pra você, meu amor.

Ele beijou a ponta do meu nariz e sussurrou de volta.

— Obrigado.

Bastou eu dar um passinho pra trás para todo mundo se aproximar, abraça-lo e desejar tudo de bom a ele.

Fiquei de lado, apenas observando. E sorrindo, feliz por ele. Felipe estava usando uma calça cáqui, uma camiseta azul e seu velho All Star preto.

O DJ colocou musica eletrônica pra tocar e foi então que a festa começou pra valer. Todos em volta da piscina, comendo, dançando, bebendo, se pegando, rindo e conversando. Tudo ao mesmo tempo e o Fê no meio, sendo arrastando por todos, mais feliz do que nunca.

Estava tocando I Need Your Love quando o Rafael jogou o Felipe na piscina, pulando logo depois, praticamente em cima do meu namorado. Coitado. Mas não tive nem tempo de lamentar ou xingar o retardado do Rafael, pois a Luiza me puxou também e eu só tive tempo de fechar os olhos e dar adeus a minha produção para aquela noite.

Pronto.

Aquilo foi o suficiente para todos se jogarem na piscina também, enchendo a rapidamente. Jogando água pra todo lado.

Eu estava ali no meio de todo mundo, sorrindo pra todo lado, procurando uma única pessoa em meio a toda aquela bagunça, quando sinto alguém nadando perto de mim e emergindo da água e se projetando na minha frente. Era o Felipe, a quem estive procurando todo esse tempo.

Ele abriu aquele sorriso que eu adoro. O cabelo molhado grudado na testa molhada. O cílios molhado, dando a ele um ar mais angelical. A camiseta grudando no corpo magro. E os olhos claros olhando diretamente nos meus. Perfeito. Do jeito que eu amo.

Coloquei meus braços em volta do seu pescoço e ficamos assim, sorrindo um para o outro, como se o resto do mundo não mais importasse. Ele colocou as mãos na minha cintura, sim, por baixo da água mesmo e me segurou com firmeza.

O DJ colocou Just The You Are do Bruno Mars na hora certa para tocar.

Foi então que a explosão aconteceu, nós nos beijamos ali mesmo, no meio de todo mundo, na água e nada parecia mais completo. Ouvi o pessoal gritando, incentivando. Outros pedindo para que parássemos com a putaria e outros batendo palmas, dizendo que éramos lindos juntos.

***

A festa teve que parar a meia noite, devido às normas do prédio. E o pessoal foi pra casa molhados mesmo, porém, satisfeitos. Apenas os nossos amigos ficaram e nós acabamos nos sentando em um meio circulo, perto da piscina, esperando nossos corpos secassem por conta própria, mesmo que não estivesse de dia e não tivesse sol.

Os pais da Bianca, que tinham levado o DJ até a saída, aproximaram-se e colocaram uma toalha limpa e seca sobre seus ombros. Ela agradeceu com um sorriso gracioso e não só eu, mais acho que todos, acharam aquilo meio fofo da parte deles.

— Tem mais toalhas ali – eles apontaram, para dentro do salão de festas que acabou nem sendo utilizado pra muita coisa, apenas para tirarmos fotos. — Se vocês quiserem, podem pegar quantas forem necessárias.

Mas ninguém se importou tanto ao ponto de se levantar e ir lá. Acho que ninguém estava com tanto frio assim. Mas agradecemos mesmo assim e eles se foram, deixando a gente mais a vontade.

Terminávamos de beber o restinho das bebidas e o som estava tocando musicas aleatórias em um volume razoavelmente baixo.

Abracei a Bia por trás, sentando-me mais perto dela para protegê-la.

— Cara, eu nem acredito que meu nerd favorito vai embora. – começou o Rafael, fazendo beicinho e fazendo o pessoal rir. — Lembra quando tu me passava as colas na hora das provas e ninguém via ou fingia não ver?

Eu assenti, sorrindo.

Como eu poderia esquecer isso?

— Naquela época, o Fê mal falava. – completou a Nati, do lado da Luiza. Elas estavam com os dedos entrelaçadas.

Naquele momento eu entendi que estávamos relembrando todos os bons e não tão bons assim acontecimentos da nossa amizade.

— Lembram-se daquele dia em que a Gabi espalhou vários cartazes pelo banheiro feminino sobre a Bia ser virgem? Elas nunca tinham se dado muito bem. – Luiza perguntou e todos assentiram.

— E isso só porque as duas me amavam muito. – completou o Rafael, se gabando muito, como sempre e fazendo todos rirem.

A Bia colocou a mão sobre a da Gabi naquele momento, a Gabi que estava ao nosso lado com o novo namorado. As duas trocaram sorrisos cúmplices, deixando claro pra todo mundo que aquela fase elas já haviam superado há muito tempo.

— E quando eu, mais uma vez, com a minha mente diabólica, tranquei esse dois aqui – a Gabi apontou para nós. – no colégio até mais tarde?

Todos riram, relembrando o momento.

Aquele dia, trancados no colégio, acredito eu, foi quando as coisas entre eu e a Bianca começaram a mudar de verdade.

— E quando o Felipe ficou bêbado na festa que fizemos pra ele de aniversário lá em casa? – relembrou a Nati, mais uma fez arrancando risos do pessoal.

Daquela noite eu me lembro muito pouco.

— Não se vocês repararam tanto quanto eu, mas quando ele olhava pra Bianca, que estava no colo daquele seu namoradinho fortão, um tal de... Como era mesmo o nome dele? – a Gabi quis saber. - — Danilo! Ah sim, o Danilo, o Fê se mordia de ciúmes? Acho que naquele época ele já gostava um pouquinho dela, por mais difícil que fosse de assumir.

Ela tinha razão.

Eu odiava aquele Danilo e acho que o odeio até hoje.

— E quando a Bia apareceu no colégio, uma vez, toda diferente, toda roqueira, só pra chamar a atenção? – lembrou o Pedro, mais uma vez fazendo o pessoal rir. Até mesmo a Bia.

Se ao menos eles soubessem o porquê de ela ter feito aquilo, após eu ter tido que gostava da Gabi, eles iriam rir ainda mais.

A verdade é que a gente não sabia tudo um sobre o outro.

Mesmo assim éramos amigos de verdade.

— E quando eu terminei com a Nati e gritei com o Pedro no parque, fazendo maior ceninha, só porque estava morrendo de recalque por ele estar com a Duda? – Luiza relembrou, rindo de si mesma.

— E todas as vezes que eu aprontei com vocês por pura inveja? – a Duda emendou. — E quando eu namorei de mentirinha o Rafael?

Todos riram, achando graça naquilo. Inclusive eu, apesar de na época não ter sido muito engraçada.

Pelo jeito, superamos bem alguns momentos da nossa amizade.

— E quantas vezes já não fomos embora das festas porque esse camarada aqui – Pedro colocou a mão na cabeça do Rafael, arrancando risos. — arrumou briga com todo mundo?

Aproveitamos a pausa para bebermos mais um pouco.

— Isso porque vocês não viram a cara de espanto que a Bianca vez quando eu apareci pela minha vez na casa dela. – a Duda comentou, fazendo a Bia rir e revirar os olhos ao mesmo tempo.

Foram tantos momentos. Tantas confusões. Tantos desentendimentos. Tantos conflitos e brigas. E agora são tantas lembranças. Tantas recordações. Tantos risos. Tanta paz. Superamos tanta coisa. Somos tão amigos, apesar de todas as diferenças. Sabe, é exatamente isso que quero levar comigo.

Sei que eu nunca vou encontrar nada parecido com isso em qualquer outro lugar.

Esses são meus amigos de verdade, os que vou levar pra vida toda.

A noite não terminou ali, ficamos pelo menos até às cinco da manhã, conversando e rindo, relembrando muitas outras historias. Até que o sono bateu e cada um seguiu seu rumo.

***

O dia chegou. E eu já não tinha acordado muito bem, por não conseguir dormir nada. Apesar de o Felipe estar bem ali, ao meu lado e ter passado a noite toda tentando me distrair. Ele até se saiu bem, mas bastou ele pegar no sono pra eu começar a chorar, olhando pra ele e fazendo o máximo de esforço para não fazer barulho e acorda-lo.

Acordei-o às nove da manhã. Tomei um banho, fui tomar meu café da manhã com o papai e a mamãe, depois subi pra me arrumar. O Fê já tinha ido pra casa, para terminar de arrumar suas coisas.

Seu voo estava marcado para as três da tarde. Combinamos de todos, todos mesmo, nos encontrarmos no aeroporto dez pra duas da tarde para nos despedimos dele pela ultima vez. Afinal, não fazíamos ideia de quando ele voltaria e se é que voltaria algum dia.

Passei o resto do dia segurando as lágrimas, olhando para nada, sem saber ao certo no que pensar e passando a mão no colar que estava no meu pescoço, o colar que ele tinha me dado e que estava escrito seu nome.

Felipe foi com a gente no carro. Passamos o tempo todo calados, como se nenhuma palavra no mundo fosse capaz de expressar o que sentíamos naquele momento. Mas estávamos de mãos dadas. Eu segurando as lágrimas e ele olhando para além das janelas do carro, pensando em sabe-se lá Deus o quê.

Quando chegamos ao aeroporto o pessoal já estava lá antes mesmo do horário marcado e acabamos nos surpreendendo

O pessoal aproveitou para ir se despedindo dele. Foram abraços, beijos e palavras de conforto para todo lado. Enquanto isso, eu estava abraçada ao papai, com as lágrimas já escorrendo dos meus olhos.

Quando o Felipe se aproximou, com aquele sorrisinho murcho e me pegou pelas duas mãos, foi que eu desabei pra valer. O abracei forte, enterrando meu rosto em seu ombro. E ele retribuiu ao meu abraço, passando a mão no meu cabelo.

Não demorou muito para ele começar a soluçar também.

Imagino que todos ficam ali, de lado, sentindo pena da gente.

Ficamos grudados até se voo se anunciando nos altos falantes.

Foi quando uma mulher chegou correndo e o tirou de mim, abraçando e chorando muito mais que nós dois juntos. Eu reconheci os cabelos claros, era a mãe dele. Se lamentando, pedindo perdão e dizendo que o amava muito. Ela praticamente implorava pra que ele ficasse e continuasse com ela, pois ela não suportaria perde-lo.

Naquele momento, não consegui mais olhar para eles.

Sabia o quão duro estava sendo para todos nós.

Quando sua mãe deu espaço para ele respirar, o pai do Felipe se aproximou e deu um rápido abraço no filho e um beijo em seus cabelos.

Sua mãe se aproximou novamente, se unindo também a eles.

Foi quando rapidamente peguei meu celular no bolso do jeans e tirei uma foto dos três para marcar o momento.

Chamaram o voo do Felipe pela ultima vez.

Era agora ou nunca.

Fui até ele devagar e o beijei com delicadeza.

Com pressa, ele tirou algo de dentro da bolsa de rodinha que estava aos seus pé e de lá tirou uma rosa branca com um bilhetinho.

O bilhete tem um trecho de uma música de suas bandas nacionais favoritas: CPM 22.

“E só de pensar em te perder, eu sei que isso é o fim do mundo.”

— Eu amo você. E estarei aqui, te esperando. – digo, pela ultima vez. Nos abraçamos de novo.

Ele beija a ponta do meu nariz, acena para todos e se vai, com lágrimas nos olhos. Nesse momento, sinto que há um vazio dentro de mim. Uma parte do meu coração se foi junto com ele. Sinto-me franca e prestes a cair, mas a minha melhor amiga, a Luiza, se aproxima a tempo e me abraça, tentando de alguma forma me reconfortar mesmo sabendo que isso não é possível.


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Notas finais do capítulo

Gente, confesso que QUASE chorei ao escrever esse capítulo. Quase. Mas bom, não é o fim. Não tecnicamente. Bom, o próximo capítulo será o epílogo e se passará daqui algum tempo, quando eles já estiverem mais adultos. Então essa é a hora de se despedir desse grupo de adolescentes, que eu espero, tenha marcado vocês. Triste, não é? Eu sei, sempre é pra mim também. Comentem!



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