Todos Iguais escrita por Mi Freire


Capítulo 50
Natália e Pedro


Notas iniciais do capítulo

Ultimo capítulo do ano. Isso porque essa ultima semana é de festas. E eu quero muito aproveitar esse momento ao lado da minha família. O natal é minha data favorita do ano todo, mesmo quando as coisas são sem graça por aqui. Bom, espero que vocês aproveitem também. Assim nem vão sentir falta da história haha Mas não se preocupem, postarei o próximo capítulo nos primeiros dias do ano, que será narrado pela Maria Eduarda.



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Algumas vezes eu me pegava pensando naquele beije.

Não que eu ainda estivesse loucamente apaixonada pelo Pedro e tivesse me dado conta disso quando ele acidentalmente me beijou. Eu tinha mais do que certeza que era, ou melhor, sou louca pela Luiza. Mas eu também não tinha amnésia, poxa. Não é tudo que a gente esquece com tanta facilidade. E aquele beijo, bom, qualquer coisa vinda do Pedro é significativo pra mim de alguma forma. Mesmo que não tivesse sido um super beijo. Foi tão rápido, que ele nem usou a língua. Eu também não permitiria. E assim que senti os lábios dele colados nos meus, arregalei os olhos de surpresa e com o choque eu me afastei dele no mesmo instante.

Então não é como se eu tivesse traído a Luiza.

Ainda assim, ao pensar naquilo sinto que estou a traindo. Pelo menos sim em pensamentos. Enquanto eu não tirar aquele beijo e todas as sensações que ele me causou, eu sinto um enorme peso nas costas. E o pior de tudo isso é ter que esconder esse segredo, por saber que ela jamais me entenderia. Jamais aceitaria que o beijo foi nada mais nada menos que um acidente. Ela jamais veria as coisas como eu vejo ou como o Pedro vê.

Eu realmente não sei o que fazer.

Passei dos dias pensando sobre isso. Se eu devo ou não optar pela verdade acima de tudo. Bom, parece o mais certo e a coisa mais lógica e sensata a se fazer. Mas aí eu me pergunto: cadê a coragem?

E como se não bastasse a Luiza está mais distante do que nunca. Não que eu esteja com coragem de encara-la depois de tudo. E também entendo o lado dela. Ela não está longe por escolha própria, mas sim porque os pais a obrigaram. Conversamos sobre isso, sobre a briga que eles tiveram e a exigência que eles fizeram. E posso dizer que em parte eu entendo a preocupação deles com os estudos delas. A Luiza não tinha me contado sobre suas notas baixas. Mas admito ter ficado bastante chateada quando ela me disse que eles me culparam por tudo isso.

Se ela tivesse se aberto completamente comigo, eu poderia muito bem ter a ajudado a estudar, a tirar notas melhores ou a recuperar a média. Mas já deu pra perceber – coisa que eu me recusava a enxergar até pouco tempo – que nós, apesar de estarmos juntas e completamente apaixonadas, ainda temos nossas particularidades e não contamos absolutamente tudo uma a outra.

Mas em defesa da Luiza, eu compreendo que talvez ela tivesse ficado com vergonha de admitir que estivesse se saindo mal em algumas matérias e achou que poderia sair dessa sozinha, sem precisar da minha ajuda todo o tempo, pra tudo.

Agora, eu só a vejo no colégio. Fora daqui nunca mais. Pelo menos não até o fim do ano, quando enfim ela conseguir recuperar as notas ruins e passar de ano. Mas o tempo que temos aqui no colégio é muito pouco. Pois estamos a todo tempo ocupada em aulas, tendo que prestar a atenção nas explicações e nas matérias e cercadas por tanta gente que não temos nem privacidade. E Temos apenas meia hora de intervalo. Isso é quase nada.

Não preciso nem dizer que já estou morrendo de saudade da minha namorada, de estar por perto, segurar sua mão, poder abraça-la e ouvir sua voz mais de perto, sem ninguém em volta, apenas nós e nossa sintonia única. Mas acima de tudo, sinto falta do tempo que estávamos juntas e que não fazíamos nada, apenas sorriamos uma para a outra e ficávamos nos olhando como se o tempo tivesse parado.

Seu celular também foi confiscado pelos pais. Nem chegar perto do computador ela pode, se não for para fazer pesquisas escolares. Então de fato a comunicação entre nós nunca esteve tão ruim. Mas eu, como uma boa namorada que sou, preciso entender que tudo isso é para o bem dela. Ela precisa desse tempo dedicado para os estudos. Eu não posso simplesmente bater o pé e dizer que não entendo, que não aceito, que não é justo por mais vontade que eu tenha de fazer tudo isso às vezes.

O que eu preciso agora é de paciência e me decidir se devo ou não contar a ela a verdade sobre o beijo quando tivermos uma oportunidade.

***

A Natália me garantiu que nossa amizade ainda seria a mesma, mesmo depois do que aprontei com ela. E garantiu também que não estava chateada, aborrecida comigo e que de fato tinha me desculpado. Eu acreditei nela, claro. Enquanto eu a ouvia falar, olhava diretamente em seus olhos e eles não pareciam estar mentindo para mim. Talvez eu só esteja um pouco paranoico com tudo que tem acontecido na minha vida ou ainda me sentindo muito culpado por minha grande burrada.

— Tá tudo bem com você? – pergunto, sentando-me ao lado dela em nossa aula de Matemática. — Você não está assim por minha causa, não é mesmo?

— Para de bobagem, Pedro. – ela sorriu um pouco, virando-se para mim. — Não vamos mais tocar nesse assunto, ta? Já passou. Eu só estou assim... Por causa da Luiza.

— O que tem a Luiza? – pergunto, surpreso e curioso. — Não me diga que ela descobriu tudo? – comecei a me apavorar. — Não, por favor...

— Esse é o problema. Ela ainda não sabe. – Nati torceu os lábios, desviando o olhar por um momento. — Ela está distante porque os pais a colocaram de castigo por causa das notas vermelhas e com isso eu tive muito tempo sozinha para pensar se devo ou não contar a verdade a ela.

— Olha, eu não sei. – digo, mais relaxado. Não queria que Luiza me matasse por eu ter beijado a namorada dela. — Eu não deveria me meter nisso... Outra vez... Mas, será mesmo que é uma boa contar a ela a verdade logo agora que ela está tão compenetrada nos estudos?

— É, você tem razão. Talvez esse realmente não seja o momento certo. Mas eu sinto que devo contar. Não aguento mais ficar escondendo isso por muito tempo, mesmo sabendo que ela pode não entender.

Engoli em seco.

Talvez nem eu, no lugar da Luiza, entenderia uma coisa assim.

Mas entendia também o lado da Natália em ser aberta e verdadeira com a namorada. E me senti ainda pior ao saber que ela só estava assim por minha causa. Se não fosse por meus deslizes, ela não precisaria ficar entre essa duvida cruel e estaria feliz, apoiando na Luiza nesse momento difícil de total dedicação aos estudos.

— Eu vou te apoiar, Nati. – pousei minha mão sobre a dela. — Vou te apoiar em qualquer decisão que você tomar. Pode contar comigo. No que você precisar, eu estarei com você.

Ela sorriu, parecendo agradecida.

— Obrigada. Mas agora me conta você – seu sorriso rapidamente desapareceu. — como você está com essa “recaída” da Gabi? Quando eu fiquei sabendo... Nem acreditei. Ela estava indo tão bem!

Só de tocar nesse assunto eu senti as costuras do meu coração se rasgarem lentamente.

— Pois é... Eu também achei isso. Mas pelo visto, ela ainda precisa de um tempo para aceitar e entender as coisas. Eu fico muito triste, sabe? Eu realmente queria que ela voltasse pra casa mais cedo. Mas se ela ainda precisa de tempo, eu estarei do lado dela. Sempre.

— Isso é muito fofo da sua parte, Pedro. Você é um irmão nota dez! Não se preocupe – foi à vez dela de apertar a minha mão. — ela ficará bem logo, você vai ver. Foi só um descuido. Todos nós temos dias difíceis, não é mesmo? A Gabi é forte. Chegou até aqui e vai vencer isso facilmente.

***

Passei a noite em claro quando na verdade deveria ter terminado meus exercícios de Física, os quais o professor daria uma olhada e corrigiria amanhã. Mas a culpa era demais em minha consciência. Eu não conseguia não pensar nessas coisas. Tudo seria tão mais fácil se a Luiza pudesse estar aqui agora comigo ou eu lá com ela. Ou se eu pelo menos pudesse ouvir sua voz nem que fosse por telefone e me acalmar.

Mas tudo isso estava distante demais para nós duas.

Desci para jantar após guardar todo um material de volta na mochila ainda sem ter terminado os exercícios que eu tinha pra fazer. Juntei-me a mesa com a minha mãe e seu futuro marido. Tentei prestar a atenção a tudo que eles diziam, bastante animados para o casamento que aconteceria daqui um pouco mais de um mês e meio.

Depois do jantar, enquanto eles ficaram para limpar a cozinha, eu fui até a sala, onde tentei acalmar o meu irmãozinho Lucas. Mas ele estava muito inquieto e agitado nessa noite calorosa. Com ele ainda em meus braços nós saímos para o quintal dos fundos. Onde estava tudo muito escuro. Mas o céu era um manto brilhante difícil de não olhar.

Cantarolei baixinho para ele uma de suas musiquinhas favoritas, dessas que ele aprende com desenhos animados ou até mesmo na creche, e que faz parte da infância de todos nós. Funcionou, porque pelo menos ele parou de chorar e ficou me olhando com os olhos claros cheios de lágrimas. Eu sorri para ele e continuei cantando.

Tudo que ele tinha era sono. Ele precisava dormir. Já estava ficando tarde.

Deitei-o em meus braços com todo cuidado desse mundo e lentamente vi seus olhinhos se fechando. Virei-me para trás no instante em que ouvi a porta da cozinha se abrindo. Era a minha mãe, procurando por nós. Eu fiz “shhhhhh” para ela antes que ela acordasse o Lucas.

— Nati, querida, porque vocês estão aqui fora nesse escuro? – sussurrou ela ao se aproximar e passar as mãos pelo meu cabelo.

— O Lucas precisava dormir e eu, bem, precisava pensar em umas coisas que estão me incomodando.

— Que coisas? – perguntou ela, curiosa como sempre. Eu ri. Lucas já estava dormindo em meus braços, o que era um alivio e tanto.

— Mãe, em algum momento da sua vida você já teve que optar pelo certo e o errado? – perguntei, com os olhos voltados para ela.

— Claro, querida. Muitas vezes. Isso acontece muito com todos nós, quase o tempo todo. Só que muitas vezes não nos damos conta disso.

— Sim, mas e quando sentimos que devemos fazer uma escolha difícil? Certa ou errada. E que se escolhermos por qualquer uma das duas os danos serão imensos, o que fazemos?

Minha mãe não era a melhor pessoa do mundo para dar conselhos, mas eu resolvi tentar.

— É como dizem por aí: você nunca vai saber se não arriscar. Pense com a cabeça e com o coração. Só você sabe o qual será a melhor escolha. – com o cuidado redobrado ela pegou o Lucas dos meus braços. — Você só precisa ser corajosa o bastante para poder arriscar.

Ela entrou, levando meu irmãozinho junto.

Pensei por um tempo no que ela disse e posso dizer que tomei minha decisão rapidamente. Eu optei pela verdade. Mesmo ela me dando muito medo, achei que seria o certo a se fazer. A Luiza merecia a verdade. Podia ser que talvez, muito talvez, ela me entendesse e me perdoasse. Eu nunca saberia, se eu não me arriscasse.

Nesse caso, era melhor arriscar do que ficar com a dúvida e o peso constante de que estava errando em nosso relacionamento. E como todo mundo está cansado de saber: a verdade sempre acaba aparecendo. Uma hora ou outra. E que nesse caso fosse através de mim.

Peguei meu celular do bolso e liguei para o Pedro.

Contei dos meus planos a ele.

— Tudo bem. Se for assim que você quer, eu vou com você. Vamos juntos concertar essa situação. Quem sabe assim, depois ter a certeza que vocês continuarão bem, eu possa me sentir menos culpado.

Na manhã seguinte, no colégio, por diversas vezes eu disse a Luiza que precisava falar com ela e que era urgente. Mas ela sempre dizia que estava ocupada demais, correndo atrás do prejuízo que ela mesma causou.

Aquilo estava começando a me irritar. Afinal, não custava muito me dar dois segundinhos do seu tempo. Ou custava?

Foi no intervalo que eu resolvi agir pra valer. Puxei o Pedro pelo braço e fui atrás da Luiza. Ela olhou para nós dois intrigada, imediatamente eu soltei o braço do Pedro. Ele deu um passo pra trás. Luiza voltou me olhar, como se perguntasse o que aquilo significava.

— Luiza, precisamos conversar com você. – eu a levei para um lugar mais reservado. Onde eu não precisava ficar gritando para ela poder me ouvir em meio àquela multidão de alunos famintos e animados.

— Tá, então fala logo. Eu estou com fome, Nati. Esse é um dos únicos momentos em que temos uma pausa para descansar.

Tentei me manter segura e controlada. Mas por dentro eu estava totalmente desesperada. Morrendo de dor de barriga por conta do nervosismo e sem saber por onde começar. A presença do Pedro também não estava ajudando muito como eu achei que aconteceria.

— O.k. Então eu vou falar sem rodeios. – suspirei fundo e continuei olhando nos olhos dela. — Luiza, Pedro e eu nos beijamos.

Dizer aquilo bastou para seus olhos sobressaltarem, horrorizados.

***

Meu coração também batia depressa, totalmente desconfortável com aquela situação. Eu suava frio e minhas pernas estavam bambas. Mas eu devia aquilo a Nati, já que fui o único responsável por aquilo.

Vi os olhos castanho-esverdeados da Luiza se transformarem de curiosos para furiosos quando a Natália, sem rodeios, disse a ela o que tinha acontecido. Mas acho que ela não se expressou muito bem. Porque aquela frase soou muito mal e agressiva. Então eu achei que era o momento certo de agir e concertar as coisas antes que se agravassem.

— Na verdade Luiza, a culpa é minha. Eu beijei a Nati em um momento de total descontrole.

Coloquei-me entre elas.

— Eu estava muito mal aquele dia e procurei a Nati para conversar e me abrir. Estava confuso e totalmente perdido e, bem, ela estava ali, na minha frente, me ouvindo, sendo uma boa amiga, carinhosa e compreensível e eu... Sem pensar direito a beijei por impulso. – digo, muito depressa. Quase sem fôlego. — Mas não se preocupe. Foi uma coisa que durou... Dois segundos? Não envolveu sentimentos de nenhuma das partes. Eu me arrependi logo depois e me desculpei. Sabe, porque eu realmente sinto muito. Eu não sei onde estava com a cabeça! Não foi intencional, não foi de propósito, eu não queria tirar a Nati de você ou me vingar.

Meus olhos se encheram de lágrimas. Eu estava tremendo todo, completamente nervoso. Enquanto a Luiza me olhava de volta como se fosse me matar a qualquer momento. Os olhos transbordando de desgosto, fúria, um misto de desprezo e decepção.

— Luiza, eu sinto muito, meu amor. – a Nati voltou a falar, a voz embargada. Ela já estava desabando em lágrimas. Meu coração se apertou. Eu não queria ser o responsável por aquilo tudo. — Não culpe o Pedro por isso. Foi sem querer... Ele agiu por impulso. Nem sabia o que estava fazendo. Olha, eu sei que nada justifica e que é muito difícil de você entender, mas o que eu e ele tivemos um dia foi superado, ficou para trás... Isso não tem nada a ver com o passado, nem nada....

Luiza ainda não tinha dito nada até então. Apesar de sua expressão esboçar vários tipos de emoções.

— Por favor, diga alguma coisa. – Natália insistiu, tentando se reaproximar da namorada. Com um gesto rude, Luiza a afastou. — Por favor, entenda. Diga qualquer coisa... Eu vou aceitar.

— Se é assim – Luiza deu de ombros, indiferente. — Está tudo acabado, Natália. Agora vê se me esquece, por favor.

Dito isso ela se foi, virando as costas.

A Nati permaneceu imóvel, ainda de costas para mim, seu corpo se dissolvendo em lágrimas. Ela soluçava muito. Parecia não acreditar no que tinha acabado de acontecer ali. Eu também estava muito chocado. Não podia crer que a Luiza tinha dito aquelas palavras tão friamente.

— Nati... – eu me aproximei, sem saber ao certo o que dizer para compensá-la. Eu sabia muito bem o que ela sentia. Nada do que eu fizesse ou dissesse faria com que ela se sentisse melhor.

Tentei ao menos abraça-la, para se mostrar um bom amigo. Mas ela não permitiu e me afastou. Depois saiu correndo, escondendo o rosto molhado de lágrimas entre as duas mãos.

O peso que eu tinha nas minhas costas só tinha aumentado. Agora eu podia oficialmente me culpar por tudo. E não havia nada que eu pudesse fazer para reverter àquela situação. Até porque eu já tinha apresentado a minha versão para a Luiza e ela fez a escolha dela, de forma muito compreensível, claro. Ela e nem ninguém entenderia.

Passei o resto do dia assim... Atordoado e desolado. Não tinha mais visto a Luiza ou a Natália. Não sabia como elas estavam.

Na saída, fui pego de surpresa pela Maria Eduarda. Na certa ela já estava com a língua afiada, pronta para curtir comigo como ela adora fazer. Mas quando ela viu minha expressão, deve ter percebido que eu não estava com saco para aquilo. Não que eu já estivesse estado, mas hoje eu só... Não sabia o que fazer ou para onde ir.

— Você não está nada bem, não é mesmo? – perguntou ela, olhando diretamente em meus olhos com uma expressão de preocupada que me parecia bem verdadeira. Ou era naquilo que eu gostava de acreditar, na esperança que no fundo ela tivesse um bom coração.

Ela me agarrou pela mão, entrelaçando nossos dedos.

— Vem, eu vou te levar para longe daqui. – ela me puxou, me ajudando a atravessar aquela multidão de gente.

Eu não estava em condições de protestar e dizer que o a ultima pessoa que eu queria ir a algum lugar era ela.

Não sei bem para onde ela estava me levando. Não parecia ser o caminho de sua casa ou da minha. Chegamos em frente a um prédio luxuoso, mas de pouco andares. Subimos pelo elevador até o quinto andar. Da mochila, Maria Eduarda tirou um miolo de chaves com um chaveiro um pouco extravagante. Abriu a porta e me puxou para dentro.

Primeiro ela acendeu as luzes.

Um lugar não era lá essas coisas, nem grande e nem pequeno. Perfeito para uma pessoa morar sozinha. Mas nem se quer tinha móveis. Quer dizer... Tinha um colchão em meio ao que deduzi ser uma sala. Fora isso estava tudo vazio, calmo e tranquilo. Um lugar bom para eu estar nesse momento.

Exceto pela parte de que era ela ali do meu lado.

— Quer conversar? – perguntou ela, com uma voz serena. Ainda segurando minhas mãos ela nem esperou pela minha resposta, apenas me puxou para o tal colchão, onde nos sentamos muito próximos.

Suspirei fundo. Em parte me odiando por estar ali na companhia dela e também por ser um monstro terrível. Por outro lado aliviado por não ter mais ninguém em volta. Éramos só nós e o peso da minha consciência falando muito alto.

— Pedro – ela inclinou-se em minha direção, sussurrando. — O que foi? Fala comigo! Você sabe que pode se abrir comigo.

— É... Eu sei. – novamente eu estava prestes a chorar... Por toda culpa que eu sentia. — Mas sei também que você não é a pessoa mais indicada nesse mundo para me ouvir.

Foi a vez de ela suspirar.

— Eu acho que você está meio sem opções agora. Que tal se você pelo menos tentar? – ela abriu um meio sorriso. — Vamos lá. Eu não sou tão ruim assim.

Só é pior, pensei.

Não sei o que deu em minha. Eu realmente não era o mesmo há muito tempo. Quando dei por mim, em poucos segundos, eu estava chorando e falando de todos meus problemas pra ela. Meus problemas mais recentes, claro. Deixando de lado o fato de eu estar apaixonado por ela e estar preocupada com a minha irmã na reabilitação.

Pelo menos ela me ouviu calada. Não disse nenhuma asneira, não fez brincadeirinhas de mal gosto e nem riu da minha cara. Confesso que por um momento eu realmente pensei que ela faria exatamente isso. Mas me surpreendeu por não fazer, o que só me fez continuar a descarregar tudo nela, como se fossemos os melhores amigos desse mundo.

Por fim eu me senti muito envergonhada por tudo. Não só por tudo que causei, mas por estar chorando diante dela e também por ter falado sobre as minhas particularidades assim tão abertamente.

Aquela garota tinha o dom de me confundir facilmente.

— Você não é um monstro. Longe disso! – disse ela, secando minhas lágrimas cuidadosamente. — Sim, eu estou furiosa por você ter beijado aquela... aquela... coisinha. E sim, concordo, você agiu muito mal. Mas tá na cara que confiança era o que faltava no namoro daquelas duas. Algumas coisas precisam acontecer pra gente poder enxergar certas coisas.

Não sei porque... Mas ouvir aquilo me fez me sentir um pouquinho melhor.

— Agora olha pra mim. – ela me puxou pelo queixo, me fazendo voltar a olhar em seus olhos azuis acinzentados. — Se elas se amam de verdade, elas vão encontrar um jeito de superar isso. Você não tem que se sentir tão mal. Você é maravilhoso, Pedro. Mas também comete erros como qualquer outra pessoa. E você é tão lindo e doce que eu nem consigo dar importância a isso. Continuo a gostar de você do mesmo jeito, mesmo sabendo que você também tem defeitos. Eu sei que sou capaz de amar todos eles da mesma forma que amo suas qualidades.

Sim, ela estava me seduzindo com facilidade. Mas dessa vez eu nem liguei muito pra isso. Não achei ruim. Achei... Bom.

— Agora, por favor, não chore mais.

Ela beijou meu rosto, mesmo banhado por lágrimas. Beijinhos suaves e carinhosos por toda minha face. Depois – eu já ofegante e de olhos fechados pronto para me entregar ao momento – ela foi descendo com os lábios até encontrar meus lábios.

Eu a puxei pela nuca, encaixando nossas bocas com facilidade. Elas pareciam perfeitas uma para a outra. Diferentemente de nós dois. Maria Eduarda caiu sobre mim, fazendo com que nosso beijo mudasse de carinhoso para algo mais intenso e caloroso.

Apertei-a firme pela cintura, com ela ainda em cima de mim. Enquanto ela me agarrava forte pelos cabelos, a língua explorando a minha boca. As coisas estavam acontecendo tão rapidamente. Que quando dei por mim, já tinha a ajudado a se livrar da minha camiseta.

Ela beijou meu peito magro, depois a minha barriga e um pouco acima do cós da minha calça jeans. Sem eu nem precisar pedir ela tirou o vestidinho que estava usando e sorriu lindamente – de um jeito bem safado também – ficando apenas de lingerie cor azul bebê.

Joguei-a de costas no colchão, fazendo-a rir e mudando nossas posições, para ficar por cima dessa vez. Onde foi a minha fez de beijar e lamber cada pedacinho de seu corpo nu após me livrar das ultimas peças de roupa que ela vestia.

Maria Eduarda gemia baixinho, arranhando minhas costas ou enterrando as mãos nos meus cabeços, agora totalmente bagunçados. Ela se contorcia, pedia por mais e não me deixava parar por nada.

— Eu sou louca por você, Pedro. – sussurrou ela, com os olhos fechados. Sentindo meus beijos e carícias e adorando tudo aquilo. — Você tem que acreditar nisso.

Eu não queria ouvir nada, apenas sentir o calor da emoção. Então a calei com um beijo ainda mais intenso. Mordendo seus lábios e os puxando com forças. Ela protestou um pouquinho, mas não queria que eu parasse. Pelo contrário, ela queria que eu fosse mais agressivo, mais rude, que a maltratasse mais, que fizesse dela o que bem entendesse. E eu, bem, eu queria descontar em algo todas as minhas frustrações.

Alcancei minha carteira do bolso de trás do jeans jogado no chão e peguei lá de dentro uma camisinha. O que era essencial, claro. Eu não seria nem louco de esquecer uma coisa dessas. Coloquei-a e voltei a puxa-la para mim, fazendo nossos corpos se fundirem finalmente.

Nossos movimentos eram rápidos, nossas respirações estavam entrecortadas, gemíamos na mesma sintonia e chegamos ao orgasmo ao mesmo tempo.

Foi como se o céu tivesse se enchido de fogos de artifícios.

Segundos depois caí ao lado dela, completamente morto, tentando controlar o que eu estava sentindo e que ainda queimava a minha pele, fazendo-a arder. Ela se virou para mim, envolveu meu peito com um dos braços, depositou um beijinho no meu queixo e sorriu.

Lá fora o sol já estava se pondo.

— Quer pedir alguma coisa pra comer? – ela perguntou, com cabelos dourados e ondulados cobrindo-lhe o rosto suado.

Eu assenti.

É, nós tínhamos transado pela primeira vez. Não sei descrever o que fato eu senti com isso. Mas confesso que foi algo bom, foi maravilhoso de todas as formas, foi prazerosos e me fez muito bem. Por um momento esqueci tudo e estive completamente entregue ao momento. Tudo que eu via a minha frente foi a Maria Eduarda reluzente como um anjo, em domínios dos meus beijos e apoderada de minhas caricias.

Naquele momento, em meus braços, ela era a coisa mais bonita que eu já vi em toda a vida. Brilhante, sorridente, à vontade, carinhosa e parecia sentir por mim algo muito parecido com o que eu sentia por ela. E isso estava longe de ser ódio ou raiva. Ia muito, mais muito além disso.

Sem um pingo de vergonha de mim – mesmo com tudo que tínhamos acabado de fazer – ela se levantou complete nua, pegou seu celular em sua bolsa jogada em um canto e se afastou para fazer uma ligação.

— Amor, vou pedir comida tailandesa, tudo bem? – gritou ela de longe com o telefone já no ouvido

Amor?

Ouvir aquilo me assustou bastante. Pra falar à verdade, o que tínhamos acabado de fazer ainda era novo pra mim e assustador. Eu não estava pronto para admitir e nem oficializar nada disso, seja lá o que estivesse acontecendo entre nós dois agora. Muito menos encarar um compromisso e rotular alguma coisa.

De repente me bateu aquele arrependimento. Eu não deveria ter me deitado com ela. Porque sabia que algo de muito ruim poderia sair disso. Pensei em pegar minhas roupas, vesti-las, pegar minha mochila e sair correndo dali. Mas não seria bonito da minha parte e eu estava cansado de cometer burradas. Também não seria justo com ela.

Rapidamente eu me esqueci dessa ideia, quando ela voltou correndo pra junto de mim, pulou no colchão, deixou o celular de lado no chão e encheu meu rosto de beijos que rapidamente voltaram a me excitar.


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Notas finais do capítulo

As coisas esquentaram nesse capítulo. Como vocês leitores têm opiniões diversas, para alguns serão coisas positivas, já para outros negativas. Bom, mas pra isso eu preciso que vocês me contem tudo que acharam pelos comentários. Estarei aguardando ansiosamente. Ah, e já desejo um Feliz Natal e um Próspero Ano novo para todos! Um milhão de beijos.