Todos Iguais escrita por Mi Freire


Capítulo 48
Pedro e Bianca


Notas iniciais do capítulo

Eu revisei o capítulo sim, mas me perdoem se encontrarem algum errinho. É só avisar, caso não consigam entender alguma coisa e eu concertarei. Sem problemas. Bom, nesse capítulo as coisas continuam pegando fogo. É um capítulo tenso. Espero que gostem.



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Eu poderia muito bem considerar esse domingo o mais entediante de toda minha vida. Não que faltassem coisas para eu fazer, porque elas eu tinha de sobra. Por exemplo, o Rafael já tinha me chamado pra jogar bola ou jogar videogame e eu recusei. O que faltava mesmo era coragem, motivação. Eu me sentia péssimo e sabia bem o motivo de tudo isso.

O problema já não era mais a minha irmã, que poderia estar aqui nesse momento, com toda sua chatice, tentando me reanimar. Ou a separação dos meus pais, que finalmente tinham se tornado bons amigos mesmo depois do divórcio. Ou as duas notas vermelhas piscando no meu boletim escolar. Uma em matemática e outra em química.

O problema de verdade era a Maria Eduarda e enquanto eu não me livrasse dela por completo, sempre seria. Aquela garota é surda, só pode ser. Ou ela tem sérios problemas mentais. Porque desde que eu falei na cara dela que nós nunca iríamos dá certo, ela vem me provocando ainda mais que antes, como se aquele momento nunca tivesse acontecido.

Eu não sei se ela se faz de desentendida, por ser a maior cara de pau do mundo. Ou se ela fazia certa questão de me tirar do sério, só para ver minha reação. Bom, eu acho que as duas opções são validas nesse caso.

Cara, eu sou um garoto. Não é qualquer provocação que eu posso ou consigo evitar. Por exemplo, se eu passar pelo corredor do colégio para a próxima ela e ela soltar qualquer piadinha sem graça, eu posso relevar. Mas se ela usar roupas curtas e usar o corpo de maneira sensual só para chamar a minha atenção... Não é algo que posso deixar passar despercebido. Até porque ela é linda e tem as curvas certas onde os caras mais gostam.

Ontem mesmo fomos a uma festa. Eu mais o pessoal. E pra variar ela estava lá com sua turminha do terceiro ano curtindo esse ultimo momento deles como estudantes irresponsáveis do ensino médio. Eu tentei a todo custo curtir a festa, beber na minha, conversar com a galera e me distrair com a música. Por um momento eu até consegui, até ela vir dançar praticamente com o corpo colado no meu. Todos em volta ficaram surpresos com aquela cena e eu fiquei extremamente sem graça. Não tive nem como fazer com que ela se mandasse dali. Ela me manteve encurralado sobre o seu domínio.

Até agora eu tento tirar a forma como ela dançava sensualmente e de forma tentadora bem diante dos meus olhos.

Sim, ela é uma vaca. Uma vaca incrivelmente linda.

Eu estava usando bermuda jeans, uma camiseta verde e chinelos. O dia estava abafado, nublado, com aquela cara de que poderia chover forte mais tarde. Saí de casa. Eu precisava muito conversar com uma pessoa sobre os meus sentimentos pela Maria Eduarda. Uma pessoa que não me julgasse, não me incriminasse, não risse de mim e que acima de tudo me compreendesse. E essa pessoa não poderia ser o Rafael.

Fui até a casa da Nati, onde ela estava ocupadíssima ajudando a mãe a preparar as lembrancinhas do casamento. Agora com o final do ano cada vez mais perto elas estavam atoladas de afazeres. E eu ali atrapalhando, só porque era um mané e não podia tirar uma garota qualquer da cabeça.

— Pedro, querido, será que você poderia dar uma olhadinha no Lucas por mim? – perguntou a dona Elisa sem tirar os olhos do que ela fazia com a filha sobre a mesa da cozinha.

Pelo que deduzi o bebê, o Lucas, estava no cercadinho, na sala de estar, completamente sozinho, com os olhos voltados para a televisão, onde uma galinha pintada cantarolava sem parar.

Ué, cadê o pai dessa criança?

Quando me viu o bebê abriu o berreiro, estendendo os bracinhos gordos em minha direção. Fui até ele no canto da sala, abaixei-me e o peguei no colo. Tentei distraí-lo pelos próximos minutos, erguendo-o, fazendo coceguinhas, fazendo caretas e tudo mais. Ele riu bastante, até sua mãe aparecer com a mamadeira e ele chorar para chamar a atenção dela.

Enfim a Nati estava livre para mim. Ajudei-a tirar o resto das coisas que iriam para o lixo de cima da mesa e só então saímos lá para fora, para o seu quintal, sentamos no primeiro degrau diante da porta.

— Vamos lá. Desembucha, Pedro.

Nós rimos.

Ela me conhecia tão bem.

Comecei pelo início de tudo. Quando e como descobri que nutria esse tipo de sentimento pela prima mandona da Bianca. Nati me ouviu atentamente, assentindo em alguns momentos, mostrando compreensão. Eu continuei muito inspirado, não pausava nem para respirar.

Não deixei de fora nenhum detalhe.

— Pedro, você está chorando? – perguntou ela por fim, interrompendo-me por um momento. Com os olhos negros e profundos arregalados.

Toquei meu próprio rosto e vi nos dedos a umidade de minhas lágrimas. Sim, eu estava chorando. Chorando tão silenciosamente que nem tinha notado. Fiquei tão envergonhado naquele momento. Sentindo-me tão tapado. Afinal, porque mesmo eu estava chorando?

Por ter tentado tirar essa garota estúpida da minha cabeça e ter falhado?

— Me desculpe. Eu... Eu... Sou tão idiota.

— Idiota? – ela riu. — Que isso, Pedro. Nem precisa se desculpar por isso. Você só está confuso e perdido. Todo mundo se sente assim em algum momento de suas vidas. Ou até mais de uma vez. É normal, poxa.

Eu sorri.

Como ela conseguia ser sempre tão maravilhosa comigo?

Fiquei olhando para ela por um momento, analisando seu cabelo curto e avermelhado e sua pele branca em contraste com os olhos negros. Estávamos tão pertinho um do outro. Nossos braços se encostando. Eu estava tão sensível e sentimental, sem chão, sem rumo. Sem saber exatamente o que pensar ou o que dizer.

E ali a minha frente eu tinha uma pessoa tão maravilhosa, compreensível, amorosa, doce, sensata, que eu já tinha amado tanto e compartilhando tantos momentos bons, outros nem tanto, e ainda assim continuávamos tão amigos. Como isso era possível?

Inclinei meu rosto em sua direção e a beijei.

***

Graças ao meu namorado mais que maravilhoso eu tinha me superado aquele bimestre. Não fiquei com nenhuma nota vermelha no boletim e meus pais até tinha me dado uma bolsa de grife tamanho o orgulho de mim por mais uma vitoria. Eu ainda tinha um longo caminho a percorrer. Eu sabia disso. Mas sabia também que com o Felipe segurando a minha mão qualquer obstáculo era possível de ser ultrapassado.

Eu estava tranquila, muito confiante de que passaria de ano facilmente se continuasse nesse caminho. É impressionante o fato de nós termos melhorias notáveis quando estamos ao lado da pessoa certa. Não só estava tranquila, como também tinha acordado muito bem aquela manhã para ir ao colégio no primeiro dia de novembro.

Ontem aconteceram duas coisas muito boas no meu dia.

A primeira foi que na parte da manhã tive minha primeira consulta com a nova psicóloga. Além de meus pais terem me levado de carro, eles ficaram o tempo todo esperando por mim do lado de fora. Confesso que gostei muito da doutora Viviane. Ela já é uma senhora, muito sábia e experiência. Conversamos por tanto tempo que eu nem vi a hora passar. Só me lembro de ter falado sobre mim com muita facilidade e ela ter contado um pouco sobre sua vida pessoal e profissional.

Por fim, ela acabou marcando minha primeira consulta com os meus pais para a próximas semana. Eles ficaram bem ansiosos.

Mais tarde em meu quarto eu e o Felipe que estávamos fazendo um trabalho juntos de História para ser entregue hoje, acabamos nos dando conta de que o tempo estava passando muito depressa e logo dezembro estaria aí. E então ele sugeriu que eu fizesse parte do comitê de organização da formatura do terceiro ano, para quebrar um pouco essa tensão e ajudar pelo menos na decoração do baile, já que eu adorava esse tipo de coisa. Eu que nunca tinha pensando a respeito antes, achei a ideia sensacional e ficou decidido que eu iria falar com o orientador do colégio hoje mesmo.

É para lá que eu estou indo nesse momento.

— Fico muito feliz em saber que você quer contribuir conosco, Bianca. Poucos alunos se submetem a isso por vontade própria. – dizia ele, com seu bigode movendo-se conforme ele abria a boca. O orientador chamava-se Antônio Carlos. — Mas nós já temos um comitê de organização formado desde o meio do ano. Mesmo assim se você tiver disposta a fazer parte... Posso dizer que você será muito bem-vinda ao time.

Eu sorri, agradecida.

Mais que metade do colégio gostava de mim desde que pisei meus pés nesse colégio no ano passado, eu também não tinha problemas ou desavença com ninguém, certamente adorariam que eu pudesse ajudar e eu estava muito empolgada para fazer parte disso e expor minhas ideias e opiniões.

Na quarta-feira teríamos nossa primeira reunião juntos, onde eu seria apresentada aos demais e conheceria o pessoal.

O que eu não sabia e só fiquei sabendo na quarta-feira depois da ultima aula, é que minha prima fazia parte daquele comitê também e pela forma que ela me olhou assim que entrei no auditório eu já podia deduzir que ela faria de tudo para me atrapalhar ou me tirar do grupo.

***

Natália estava me evitando, com toda razão. Eu tinha a beijada, sabe-se lá Deus porque e todo aquele clima bom entre nós de um casal que não tinha dado certo como namorados, mas que ainda se mantinham firmes e fortes como amigos, foi totalmente arruinado.

Por minha culpa.

Não é que eu ainda gostasse dela. Sim, eu gostava, mas não desse jeito todo errado. Já a amei muito sim, fomos felizes enquanto duramos, mas funcionávamos melhor somente como amigos. E isso era tudo. O que me levou a beija-la foram as circunstancias. Por um momento eu tinha me esquecido completamente que ela tinha uma namorada, que éramos amigos, e que eu muito provavelmente estava caído de amores pela Duda.

Eu daria tudo para voltar no tempo agora e evitar aquela asneira, mas como isso ainda não era possível, eu tinha que falar com ela urgentemente e me desculpar por causar todo esse transtorno. Mas ela não permitia que eu me aproximasse, o que nunca tinha acontecido antes desde que nos conhecemos. Ela fugia de mim como se eu fosse ataca-la de novo a qualquer momento.

Eu era um animal.

— O que foi, gatinho? Está me procurando? – levei um baita susto ao ouvir aquela voz que arrepiava até os pelos do meu dedão do pé.

— Sai fora, Duda. Eu estou muito ocupado agora. – e como sempre eu saia correndo dela, o mais rápido que podia.

Avistei o avermelhado dos cabelos da Nati atravessando o pátio central em direção aos banheiros. Corri tentando alcança-la e com todo meu esforço eu consegui segurá-la pelo braço, fazendo com que ela se virasse de frente para mim. Dessa vez não havia muito que ela pudesse fazer.

— Nós precisamos conversar, Nati. Por favor, só me escuta.

Ela me olhava como se não me reconhecesse.

— Não posso, Pedro. Eu estou ocupadíssima.

Ela se soltou de mim com facilidade e entrou as pressas no banheiro feminino, o único lugar no mundo em que eu não podia entrar.

Quer dizer... Sim, eu podia. Mas não iria. Se ela já parecia estar morrendo de mim agora, imagine só se eu entrasse naquele banheiro e a puxasse pelos cabelos para poder conversar?

***

Pra variar, eu estava fervendo de raiva de Maria Eduarda.

Ia fazer uma semana que eu tinha entrado para a droga do comitê de organização da formatura do terceiro ano, onde eu gostaria de poder contribuir de todas as formas possíveis. Mas então acabei percebendo que todos ali presentes - mesmo nas poucas reuniões que tivemos - eram bonequinhos manipuláveis da minha querida prima.

Sempre que eu abria minha boca para expor minhas ideias ou opiniões ela fazia questão de me cortar e dizer o inverso. E todos, claro, ouviam mais a ela do que a mim e concordavam absolutamente com tudo que ela dizia, por mais idiota que fosse. E com isso, as pessoas não davam nenhum pouco de credibilidade a minha ajuda. Era basicamente como se eu fosse invisível ali.

Comecei a ficar muito irada com essa situação. E para piorar, ela fazia questão de me humilhar na frente de todos. Como se eu fosse um ser inútil que estava ali apenas para as pessoas debocharem de mim. Mesmo mantendo a pose de uma garota intacta perante todos, todas as vezes que as reuniões terminavam eu queria pular no pescoço dela e arrancar um por um dos fios dourados de sua cabeça até ela implorar por perdão.

Coitadinho do Felipe, que ficaram esperando por mim por pelo menos meia hora no pátio enquanto terminavam de ler suas revistinhas e livros, e tinha que me ouvir reclamar, chorar, resmungar, gritar o quanto eu odiava minha prima e faria questão de passar com um caminhão sobre ela.

Ele não dizia nada. Ele preferia não se manter no meio desse fogo cruzado. E eu entendia o perfeitamente e não o julgava por isso. Mas ao menos ele estava ali por mim, me escutando, tentando me acalmar, secando minhas lágrimas, me abraçando e dizendo que tudo ficaria bem. E por um momento, enquanto ele me olhava daquele jeito único como se eu fosse a coisa mais linda e incrível do mundo, eu acreditava em cada palavra dele e achava que sim, tudo ficaria bem. Só que essa ilusão sempre acabava quando eu cruzava com a Duda dentro da minha própria casa.

— Papai, mamãe... Eu quero essa garota fora daqui! – gritei, perdendo a paciência de vez. Meus olhos se encheram de lágrimas de ódio quando ela surgiu para o jantar aquela noite. — Eu a odeio! Nós nos odiamos. E não posso mais conviver com a presença dela nesse lugar e em nenhum outro.

Os meus pais me olhavam como se eu tivesse ficando maluca. Não entendiam porque de uma hora pra outra eu tinha resolvido me descabelar, gritar e chorar ao mesmo tempo enquanto fitava minha prima com ódio. Ela por sua vez, estava fazendo sua típica ceninha de coitada e desentendida. E minha vontade de arrancar a cabeça dela fora só aumentava.

— Filha, por favor, tenha calma. – pediu minha mãe, levantando-se e indo em minha direção parecendo bastante preocupada. — Nós não estamos entendendo nada, querida.

— Mãe, eu cansei. Juro que eu tentei. Tentei levar isso numa boa, mas eu cheguei ao meu limite. Eu não aguento mais essa garota.

Meu pai me ajudou a me sentar e se dispôs a massagear meus ombros. Nós tínhamos tido a nossa primeira terapia em família ontem à noite logo depois que cheguei do colégio e digamos assim que ter tido uma conversinha agradável com minha mais nova psicóloga tenha feito com que meus pais entendessem melhor o meu lado e eu o deles.

Alguns pontos do nosso passado foram resolvidos. Mas não todos. Pelo menos não por enquanto.

Lídia me trouxe um copo d’ água com açúcar.

Bebi tudo em um só gole, tentando controlar as lágrimas.

Não muito longe dali pude escutar minha mãe em um canto, conversando em particular com a minha prima.

— Você tem certeza que não sabe do que se trata isso? – perguntou minha mãe, muito ingênua e paciente.

— Eu juro, tia. Eu não sei do que a Bianca está falando. – respondeu Maria Eduarda, fingindo-se de inocente. — Acho que ela pirou. Sério.

Ouvir aquilo só fez com que o meu descontrole voltasse à tona.

— Ah, você não sabe do que estou falando? – me virei bruscamente para trás após entregar o copo vazio que eu tinha em mãos para o meu pai. Fuzilei minha prima com os olhos. — Desde que você chegou aqui você tem feito da minha vida um inferno, garota. E tudo isso por pura inveja. Mas agora chega. Eu cansei de assistir ao seu teatrinho. Chegou a hora de você enfim ser desmascarada.

— Do que você está falando, Bianca? – mamãe estava horrorizada, com os olhos verdes arregalados esperando que eu continuasse o que tinha começado. Meu pai também não estava muito diferente.

— Mãe, papai, você não acreditam no quanto essa bruxa aprontou desde que veio morar aqui em casa. Primeiro ela tentou de todas as formas destruir meus amigos, um a um. Descobriu segredos e espalhou para todo o colégio. – pausei, para recuperar o fôlego. Eu estava sentindo muitas coisas ao mesmo tempo. — Como vocês acham que ela “acidentalmente” acabou descobrindo sobre a minha doença e contou “sem querer" a vocês? Não, ela nunca se preocupou comigo. O que ela queria era me ferrar, porque sabia que eu tinha uma vida perfeita demais. Ela sempre quis me ver por baixo e tentou de todas as formas pisar em mim. Só que nunca nada do que ela tenha feito deu certo e é por isso que ela continuar tentando destruir a minha vida.

Desde que meus pais descobriram que eu estava namorando o Felipe, fizeram dele mais um de seus filhos. O tratavam bem, o convidavam para fazer refeições aqui em casa, perguntavam dele todo o tempo, se preocupavam com o nosso relacionamento e o inseriram na família.

Mesmo vendo que a minha prima parecia perdida com todas as minhas revelações, como quem quer enterrar a cabeça em um buraco de tanta vergonha ou sair correndo por aí com o rabinho entre as pernas, eu sabia que o que ia dizer a seguir seria o fim para ela.

— E vocês não sabem do pior. – desviei meu olhar dela, sem sentir um pingo de dó e voltei a encarar meus pais. — Ela tentou seduzir o meu namorado, porque não suporta que eu seja mais feliz que ela, que eu tenha uma família e uma vida perfeita, que eu tenha pessoas que me amam, diferentemente dela, que tudo que toca ela destrói e afasta.

Meus pais reagiram da mesma forma com aquela ultima revelação: o queixo de ambos praticamente caiu no chão. Eles desviaram os olhos de mim e passaram a olhar para Maria Eduarda, que por sua vez, olhava para o chão, o rosto todo vermelho de raiva de mim ou vergonha de si mesma.

Eu nunca me senti tão vitoriosa. E olha que não sou do tipo que se contenta em arruinar a minha das outros. Eu bem que tentei suporta-la por todo esse tempo, mas eu estava exausta e não aguentava mais olhar para a cara dela sempre que eu chegasse furiosa e abatida do colégio, só para ficar rindo de mim em seu quarto.

Minha verdadeira intenção não era massacra-la, por mais tentadora que fosse a ideia. Eu só queria que ela e toda sua energia negativa, suas maldades, seu olhar diabólico e seu sorriso perturbador fossem embora dessa casa o quanto antes. Eu não conseguia e nem queria mais conviver com uma pessoa que atraia tanta coisa ruim para todos a sua volta.

— Isso é verdade, Duda? – minha mãe que estava mais perto dela quis saber, fitando-a com atenção.

Como ela não respondeu absolutamente nada, mamãe continuou:

— Pra mim chega. – disse ela, parecendo desapontada e furiosa ao mesmo tempo. — Eu vou ligar para o seu pai agora mesmo.

E ela desapareceu.

E olha que eu os poupei dos detalhes mais sórdidos.

— Não se preocupe, querida. – papai abaixou-se diante de mim e direcionou meu rosto em sua direção para que eu pudesse olhar dentro de seus olhos acalentadores. — Nós vamos resolver essa situação. Vai ficar tudo bem, ouviu bem?

Dito isso ele beijou minha testa, voltou a ficar em pé e foi atrás da minha mãe, passando por minha prima e olhando para ela com certo desprezo.

Ao menos eles acreditaram em mim dessa vez, ficaram do meu lado e me apoiaram. E mais do que isso: eu finalmente senti que eles me amavam de verdade e que eu não era só mais um erro na vida agitada dos dois. A terapia em família tinha feito com que eles me colocassem em prioridade em suas vidas. Não por pena por eu ser doente, mas sim por amor. O amor puro e verdadeiro capaz de tudo entre pais e filha.

***

O dia tinha amanhecido ensolarado e bonito, mas isso mudou drasticamente por volta das dez da manhã. De repente o céu ganhou nuvens densas e acinzentadas, o vento ficou gelado e forte e estava trovejando também.

Eu dispensei a aula de Natação, porque de jeito nenhum queria entrar naquela água gelada e dei um jeito de escapar da aula logo após a chamada. O treinador nem sentiria a minha falta, disso eu tenho certeza. Ele nem sabia o meu nome. Então matar aquela aula não era um problema.

Atravessei o jardim do colégio e antes mesmo de chegar ao pátio central eu vi a Maria Eduarda em um canto completamente sozinha. Sentada no chão e encostada em uma árvore, sem nem se importar com a chuva que não demoraria muito para cair. Ela estava com a cabeça enterrada entre as pernas e mesmo de longe pude perceber que ela chorava.

Ah, então quer dizer que ela também tem sentimentos?

Tendo ou não, isso não era da minha volta.

Voltei a andar, deixando-a pra lá. Mas confesso que bem lá no fundo eu fiquei bem preocupada com ela. Ela não era do tipo de garota que se isola do grupo para chorar pelos cantos. Muito pelo contrário. E se ela parecia tão mal, só poderia significar que estava passando por um problema difícil e eu bem que poderia ir até lá saber se ela precisava de algo. Um ombro amigo, uma palavra de conforto ou um carinho.

Não, Pedro. Não seja tão tolo!

Concentrei-me no meu objetivo: procurar o Rafael para me fazer companhia enquanto eu matava aula. Todos nós sabemos o quanto ele é bom nisso e, bom, eu não quero ser pego por nenhum inspetor.

Foi então que eu vi a Natália bebendo água em um bebedouro não muito longe dali. Ainda não tínhamos conversando sobre o... Beijo. Apesar de toda minha insistência, ela ainda corria de mim. Mas eu já estava começando a ficar muito irado com isso e não deixaria que acontecesse de novo.

Antes de seguir a diante eu olhei para trás, na direção da Maria Eduarda, e dessa vez ela também estava olhando pra mim. Com os olhos vermelhos e cheios de lágrimas. Meu coração deu aquela apertada. Desviei o olhar antes que fosse tarde demais, voltando-me para a Nati.

Eu tinha uma questão a ser resolvida: ir falar com a Duda e saber o que ela tinha ou ir falar com a Nati para resolvermos nosso probleminha.

Eu não precisava ser muito esperto para saber qual dessas opções eu deveria escolher sem pensar duas vezes.

Fui até a Nati, com passos rápidos e firmes.

— Precisamos conversar. – digo. Ela se vira pra mim, completamente pega desprevenida. E eu não dou espaço para que ela tenha a opção de fugir dessa vez ou desconversar. — Nati, eu queria me desculpar pelo que fiz aquele dia. Olha, foi um momento de fraqueza, eu não estava com a cabeça no lugar, não raciocinava direito e estava muito sensível e perdido. Sei que isso não justifica e também nem espero que nossa amizade seja a mesma. Eu só queria mesmo que você me perdoasse por ter estragado tudo. Eu sinto muito, de verdade. E prometo, não voltarei a cometer o mesmo erro.

Para minha surpresa ela sorriu.

— Eu te perdoo, Pedro. E me desculpe por ter fugido de você antes. Eu só queria espaço e um tempo para pensar a respeito. Eu não estava preparada para tocarmos nesse assunto. Mas foi bom você ter aparecido nesse momento. – ela ainda sorria e eu voltei a respirar de alívio, sem nem perceber que tinha prendido a respiração por tanto tempo. — Eu sei que não foi intencional e nem de propósito, por isso eu te desculpo. Mas isso só porque é você, porque se fosse qualquer outro eu o mataria. – ela riu e eu tive que rir também. — E, por favor, tente se controlar da próxima vez. Eu amo a Luiza, você gosta da Duda e eu não quero que as coisas fiquem estranhas entre nós de novo.

Eu assenti, relaxado e mais feliz por termos resolvido aquilo.

— Obrigado. – sussurro ao abraça-la.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? O que vocês sugerem que os pais da Bianca façam com a Maria Eduarda? Parece que ela finalmente foi desmascarada. E quanto a amizade do Pedro e da Natália, vocês acreditam que depois de tudo que aconteceu entre eles as coisas consigam voltar a ser como antes? Comentem! Postarei o próximo capítulo na sexta.