Todos Iguais escrita por Mi Freire


Capítulo 41
Natália e Pedro


Notas iniciais do capítulo

Nada melhor que aproveitar o tempo livre que o feriado nos proporciona para escrever.



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A mamãe ia casar somente no final do ano, mas já estávamos cuidando desde já de todos os preparativos. Eu, claro, estava empolgadíssima com tudo isso. Eu sempre gostei de organizar esse tipo de coisa e fazer parte de toda a preparação, incluindo os mínimos detalhes. Minha mãe tinha muita sorte de me ter como filha, já que eu estava praticamente cuidado de toda a organização de seu casamento.

A Luiza que não estava gostando muito disso. Vivia reclamando que eu não tinha mais tempo para ela, porque estava ocupada demais cuidado do casamento da minha mãe. Eu não me importava, afinal eu me via na obrigação de ajudar a minha mãe ou nada disso daria certo e tinha que ser tudo perfeito, do jeito que ela sempre mereceu. Se a minha namorada fosse um pouquinho mais compreensível, estaria ao menos aqui, ajudando-me também, assim passaríamos um tempo juntas cuidando das coisas.

O problema da Luiza é que ela só sabe reclamar e enxergar o lado ruim das coisas. Ela é muito mal agradecida. Não consegue enxergar um pingo do esforço que estou fazendo para conciliar os preparativos do casamento com os estudos e o nosso relacionamento. Deveríamos estar unidas nesse momento e não brigando por qualquer bobagem. Mas eu estou tranquila, porque sei que ela só está assim porque mais uma rodada de provas está se aproximando. E ela está apavorada!

Eu disse a ela que se ela for um pouco mais paciente, eu poderia ajuda-la com os estudos. Ela só precisa ter calma e relaxar. Mas é como se ela não me escutasse ou se não confiasse em minhas promessas. O que só faz mal a ela, claro. Afinal, não é o fim do mundo.

Ao sair do colégio aquela tarde eu saí praticamente correndo direto para casa, pois a mamãe tinha marcado de ir escolher o vestido de noiva hoje. Por sorte ela ainda estava esperando por mim, nem tinha ido trabalhar aquele dia, aproveitando o dia de folga para cuidar da lista de preparativos. Chegando à loja, assim que o Leandro nos levou em seu carro, a mamãe quase me fez ter um troço ao dizer que não queria se casar com um vestido branco e tradicional. Mas que tipo de noiva não se casa de branco? Só a minha mãe mesmo para inventar uma coisa dessas.

Resolvi não discutir com ela. Afinal, ela era a noiva e não eu. Ela tinha todo o direito de escolher tudo de acordo com suas preferências, já que o Leandro, o noivo, deixou tudo nas mãos dela. E lá fomos nós fazer as provas de vestidos que não se pareciam em nada com o que eu tinha imaginado, o que foi uma baita decepção pra mim. Quase não consegui esconder isso. Por outro lado, minha mãe estava feliz da vida. Pois o propósito dela era que seu casamento fosse inesquecível e nenhum pouco parecido com o que vemos por aí. Mas isso eu já notei, eu só queria entender porque ela não podia ser uma noiva normal como qualquer outra.

Após inúmeras provas, por volta das oito da noite, minha mãe resolveu optar por um vestido longo, liso e dourado. Um dourado clarinho e bem delicado e suave. O que foi um alivio e tanto. Estava começando a achar que ela queria se casar de preto ou de vermelho. Imagino o espanto dos convidados.

Como já era tarde e ela ficou o dia todo ocupada com esse tipo de coisa, ela confessou não ter tido tempo para fazer comida em casa. Por isso ao sairmos da loja fomos direto jantar fora. Mamãe estava crente que o Leandro se viraria em casa com um sanduíche e daria a mamadeira do Lucas. Coitado! Não sabe a mulher maluca que escolheu como esposa.

— Você foi fazer a prova do bolo? E os sapatos, você já escolheu um modelo? Já pensou no penteado? Já conversou com alguma amiga sua que seja cabeleira e maquiadora? Pesquisou na internet os preços mais em conta de salão para a festa?

— Nossa, minha filha! Meu Deus do céu, tenha calma. – pediu ela, enquanto comia calmamente.

A minha mãe não entendia que o tempo passava muito depressa e logo o dia do casamento estaria aí. Em cima da hora! E com essa lerdeza nada sairia como o esperado. Seria um caos total!

Até parece que sou eu quem vou casar.

— Estou começando a achar que a Luiza tem razão. Você está exagerando, Nati. A mamãe tem tudo sobre controle. – até parece que eu não conheço a mãe que tenho. — Que tal você dar um tempo de tudo isso? E focar nos estudos, curtir seus amigos, ficar mais com a sua namorada... Não seja tão neurótica! Vai dar tudo certo, você vai ver.

Não adianta ela ou a Luiza dizer tudo isso. Eu estou com os nervos a flor da pele. Eu sempre sonhei com o casamento dos sonhos. E agora que eu tenho a chance de fazer parte disso, não posso deixar passar. Eu me sentiria muito culpada se alguma coisa desse errado durante o processo.

***

Eu tinha acabado de chegar a casa de mais uma visita que fiz a minha irmã naquela manhã de sábado. Não há duvidas que eu sou a pessoa que mais a visita, até mais do que meus pais. Ao entrar em casa encontro a Luiza sentada no sofá da minha sala conversando normalmente com o meu pai. Pisco diversas vezes para ter certeza de que não estou delirando.

— Filho! Que bom que você chegou. – meu pai sorri ao me ver, virando-se para mim ao mesmo tempo que a Luiza. — Sua amiga veio aqui para conversar com você. Ela está esperando há muito tempo!

Com um gesto chamo a Luiza para me acompanhar até a cozinha. Educadamente ela pede licença ao meu pai, diz que foi muito bom conversar com ele e me acompanha. Eu estou faminto. Pego o saco de pão de forma no armário e a maionese na geladeira. Peço para a Luiza se sentar e sentir-se a vontade enquanto preparado algo para comer.

— Eu queria te pedir um favor, Pedro. – ela diz, ajeitando uma mecha do cabelo longo, liso e castanho atrás da orelha parecendo levemente desconfortável diante de mim. Fico surpreso, Luiza nunca me pediu um favor antes. Não assim, tão diretamente.

Termino de passar a maionese em quatro fatias de pão e encho uma xícara com o café morno que meu pai preparou aquela manhã. Sento-me de frente para ela. Faço um sinal, para que ela prossiga, enquanto começo a devorar meu simples café da manhã atrasado.

— Eu sei que você e a Nati não tem mais nada. Mas eu sei também que vocês sempre se deram muito bem. Você tem um jeito especial de conversar com ela e ela parece entender muito bem você quando isso acontece. Tudo bem que isso me deixa um pouco enciumada. Mas o que eu posso fazer? – ela soltou um risinho. — Vocês são como melhores amigos, mesmo depois de não terem dado certo como namorados.

Ela deu uma pequena pausa, aproveitei para oferecer um pouco de café ou pão com maionese, mas ela recusou educadamente. Continuei sem entender aonde ela queria chegar com aquela conversa.

— Você sabe... A mãe dela vai se casar no final do ano. E a Nati simplesmente se envolveu nisso de cabeça, como se ela fosse a própria noiva e estivesse desesperada para ter o casamento perfeito. Eu sei que ela é assim, dedicada, cuidadosa com tudo e todos. Mas eu e a mãe dela concordamos que ela tem pegado pesado, deixando de lado até mesmo os estudos para cuidar dos tais preparativos. – Luiza suspirou, como se tivesse de saco cheio de tudo aquilo. — É o seguinte: será que você poderia conversar com ela por mim? Eu já tentei inúmeras vezes, mas ela não me dá ouvidos. Eu sei que se você tentar, ela vai te ouvir como ninguém. Por favor, Pedro. Você faria isso por mim? Você faria isso por ela?

Eu tive que rir. Não só pela forma como ela me olhava, com aqueles olhos castanhos esverdeados cheios de compaixão ou pela forma como ela praticamente implorou para eu ajuda-la, quando na verdade eu faria isso por qualquer um sem nem precisar pedir.

— Claro! Não se preocupe. É pra isso que os amigos servem, não é mesmo?

***

A Luiza estava agindo muito estranho comigo aquele domingo, quase como ela se estivesse aprontando e não quisesse me contar do que aquilo se tratava. Mas talvez fosse só uma paranoia minha. Talvez ela ainda só estivesse chateada comigo por eu estar dado muito pouco tempo a ela. Mas como eu sou uma namorada incrível, eu resolvi tirar uma folga aquele dia e a convidei para irmos tomar um sorvete na pracinha mais próxima.

O dia não estava muito quente e nem muito ensolarado. Havia muitas nuvens no céu e no noticiário dizia poderia chover nos próximos dias. O que era ótimo! Estávamos mesmo precisando de chuva com toda essa secura.

A pracinha aquele domingo estava normalmente bem movimentada. Um pessoal fazendo caminhada, outros passeando com seus cachorros e algumas crianças correndo de um lado para o outro. Sentamos em um dos bancos vazios e ficamos conversando normalmente enquanto tomávamos nosso sundae. Eu juro que tentei ao máximo evitar o assunto sobre o casamento da minha mãe e pouco a pouco a Luiza parecia melhor.

Fomos interrompidas por uma voz muito familiar que se aproximava acompanhada de outra figura desconhecida. E lá estava a Aline, a ex-namorada da Luiza, de mãos dadas com um garoto que tinha pelo menos um metro e noventa. E olha que é bem baixinha. Mas isso não era a única coisa estranha. Estranho mesmo era ela sempre aparecer de surpresa em todos os lugares que estávamos juntas em busca de paz.

— Olha só quem eu encontrei nessa tarde bonita. – Aline alfinetou com um sorriso debochado. Eu sempre tinha umas sensações ruins quando ela se aproximava assim tão diabólica. — Vocês ainda estão juntas? Eu pensei que esse namorico não ia durar nem uma semana.

Luiza apertou forte a minha mão, como se quisesse dizer que estava tudo bem. Eu resolvi não dizer nada, só para não dar o gostinho para a Aline. Garota insuportável! Parece que faz questão de ser desagradável. Nem parece aquele docinho de pessoa que um dia eu conheci.

— Vamos embora daqui, Nati. – Luiza se levantou, puxando-me junto. Pelo susto quase derrubei meu sorvete na calça. — Antes que eu resolva esmagar a cabeça de alguém com os meus próprios pés.

O engraçado foi que o suposto namorado, irmão, primo ou sei lá o que da Aline ficou com a maior cara de paisagem, sem entender nada.

Foi só virarmos a esquina para darmos de cara com outra pessoa familiar, só que mil vezes mais agradável que a bruxa da Aline.

— Pedro! – fiquei pasma quando a Luiza praticamente se jogou nos braços dele para abraça-lo. Eu pensei que ela ainda morresse de ciúmes dele. Mas pelo visto me enganei. — Que bom que você apareceu. Eu estava mesmo precisando correr até em casa e não queria deixar a Nati aqui sozinha.

Não sei por que mas algo me diz que esse encontro repentino e essa desculpinha esfarrapada da minha namorada foi algo planejado não só por ela, como pelo Pedro também.

Eles estavam de complô contra mim, é isso mesmo?

***

Luiza nos deixou sozinhos para conversar, exatamente como ela disse que faria no dia anterior. Custou muito, mas eu consegui convencer a Nati de ir dar uma volta comigo, para conversarmos de amigo pra amigo. Eu sinceramente estava adorando essa nova relação. Parecia-me muito melhor, mais forte, sincera e intima de quando éramos um casal de verdade.

— Nem precisa dizer, eu já sei. – ela sorriu bem humorada. — A Luiza te procurou para você tentar me convencer a deixar um pouco de lado os preparativos do casamento da minha mãe, porque todos acham que eu estou exagerando. Acertei?

— Sim, acertou em cheio. – eu admiti, sorrindo também. — Mas não fique com raiva dela. Ela só fez isso porque de te ama e quer o seu bem. Caso contrário, ela nem teria deixado toda a marra de lado e me procurado mesmo sabendo que um dia fomos namorados.

Eu não sei se eu, no lugar da Luiza, teria coragem de ter feito o mesmo. Imagine só você procurar o ex da sua namorada para te ajudar em coisas que você não sabe muito bem como resolver.

— Olha, eu sei que você está super empolgada e tudo mais. E que você quer que tudo seja perfeito e do jeitinho que sua mãe merece. Eu sei que você se preocupa com todos os detalhes e não quer perder por nada esse momento, quer que tudo dê certo. Mas você não pode se esquecer de que tem um vida por trás de tudo isso. Que você tem seus deveres do colégio, as provas se aproximando, uma namorada para amar e amigos para curtir.

Ela fez mencionou abrir a boca para se justificar. Pois se tem uma coisa que a Natália detesta é ser contrariada. Mas eu não permiti, porque era a minha vez de falar e eu ainda não tinha terminado meu discurso.

— Vamos fazer um acordo? Que tal você deixar um pouquinho essa história de lado, deixar sua mãe tomar conta do próprio casamento e quando ela tiver dificuldade em alguma coisa deixar que ela te procure? Tudo bem que ela seja um pouco doidinha e irresponsável, mas poxa, ela ainda é sua mãe, uma adulta e sabe muito bem se virar. Tente confiar nela. Eu, você, todos nós sabemos que esse casamento será incrível de qualquer forma.

Ela só esperou eu terminar para me abraçar bem apertado e sussurrar no meu ouvido:

— Obrigada, Pedro. Você é o melhor amigo que eu poderia ter! Você tem razão. Obrigada por me entender melhor do que ninguém.

Pronto: a minha missão do dia tinha sido realizada com sucesso.

Ao chegarmos a frente ao portão da casa dela, A Nati virou-se de frente para mim, até me convidou para entrar, mas eu já tinha outros planos e recusei o convite educadamente.

— Você tem tido novidades do mais novo casal do momento? - ela perguntou alegre. — Não se fala em outra coisa!

Pelos meus cálculos ela estava se referindo ao Felipe e a Bianca.

— Eles são tão fofos! Nunca pensei que eles um dia pudessem estar juntos. Agora, vendo eles assim, tão juntinhos, cheios de amor... Vejo que eles se completam de uma forma que é notável. Não dá pra negar.

Eu concordava com ela e também com a grande maioria. Bianca e Felipe se mereciam. Todo o colégio só falava disso. Eles meio que eram o casal sensação do momento por lá. Eu só espero e realmente acredito que não seja algo temporário e sim durável. E que eles sejam felizes por muito tempo, de uma forma que eu não pude ser.

Nati e eu ficamos conversando por mais uns dez minutos, ali mesmo na calçada, até nos despedimos e cada um seguir para o seu lado.

O Rafael pediu que eu me encontrasse com ele em um barzinho não muito longe dali, mas a caminho de lá, com o céu já escuro, ele me mandou uma mensagem de texto dizendo que não poderia ir, pois teve um imprevisto. Não deu muito detalhes. Mas na certa deve estar por aí com uma garota qualquer que ele acabou de conhecer.

Eu não queria ir pra casa, até porque por lá não tinha muito que se fazer alem de dormir e ficar pensando na Gabriela ou em tudo que eu achava que sentia pela Maria Eduarda. Então, continuei caminhando até o tal barzinho, onde o meu melhor amigo deveria estar aqui, me fazendo companhia, como ele me prometeu que faria para eu poder esquecer tudo que senti quando beijei a Duda.

Chegando lá, logo notei que o ambiente pequeno estava terrivelmente cheio. Algo de muito bom estava acontecendo por ali para estar naquela situação. E olha que nem era um bar muito extraordinário. Era um lugar simples, apertado e sem muita decoração. Talvez a cerveja estivesse em promoção, então eu fui lá dar uma olhada. E com toda dificuldade do mundo tentei passar por aquele mar de gente até chegar ao balcão nos fundos.

De fato todas as bebidas estavam em promoção, pois o bar estava sob nova direção. E o novo dono queria atrair a clientela. Ao sentar-me no banco alto do balcão quase exprimindo por outras pessoas consegui enfim pedir uma Budweiser. Dei uma rápida olhada em volta, vendo que havia muitas garotas bonitas por ali, porém a maioria acompanhada e nenhuma que me chamasse tanta a atenção. Não que eu estivesse à procura, mas eu realmente precisava de alguma distração, pois estava sozinho.

Bom, eu não encontrei exatamente o que procurava. Mas encontrei o que não procurava. Ela é como um carrapato. Parece estar em todo lugar que estou. É quase uma perseguição. Basta olhar para o lado e lá esta a Maria Eduarda – a ultima pessoa que quero ver no mundo nesse momento – dançando com a Tatiana ao lado em meio a grupo de garotos famintos.

Virei-me para o lado oposto antes que ela pudesse me ver, mas acho que não fui rápido o bastante. Pois não demorou nem cinco segundos, para eu sentir a presença dela ao meu lado. E como se isso não bastasse, para completar ela me abraçou por trás, depositando um beijinho molhado no meu pescoço como se fossemos muito íntimos.

Quando ela desgrudou de mim, eu virei-me para ela intrigado. O que diabos ela tinha na cabeça? O beijo que eu dei nela não significa que eu tenha dado liberdade a ela de fazer o que quisesse comigo. Mas bastou olhar bem pra ela, com um vestido preto soltinho e sandálias altas, cabelos dourados com cachos volumoso nas pontas e olhos azuis acinzentados bem maquiados para eu perceber o quanto ela parecia bêbada.

Uma presa fácil para qualquer garoto.

Essa garota pode ser tudo, mas eu não sou do tipo de garoto que deixa uma garota bêbada ser um brinquedinho para outros. Isso não. Isso eu não posso deixar passar despercebido. Eu não teria coragem de voltar pra casa e ignorar o fato de que qualquer espertinho com uma boa desculpa poderia leva-la para casa e acabar se aproveitando de seu estado fragilizado.

Olhei em direção a Tatiana na esperança que ela tivesse um pingo de juízo, mas aquela ali também estava na pior. Tão soltinha e livre ao ponto de ficar se esfregando em um dos garotos do grupo com um sorriso provocativo e o vestido descobrindo metade da bunda. Eu poderia muito bem bancar o super-herói agora e tira-la de lá pelos cabelos. Mas eu não era nem louco a esse ponto. O tal garoto estava feliz da vida, olhando para ela como um verdadeiro lobo mal. Se eu fosse até lá e a pegasse pelo braço, ele na certa, junto de seus amigos, me dariam uma surra aqui mesmo.

Tatiana já não era mais problema meu.

Na verdade, nunca foi.

Mas essa loirinha aqui do meu lado tagarelando sobre qualquer coisa incompreensível e rindo de qualquer bobagem ainda tinha salvação. Sendo assim, terminei minha cerveja em um só gole. Eu precisava ser ágil, antes que ela tivesse a ousadia de voltar para seus novos amiguinhos e eu não pudesse mais fazer nada por ela por medo de apanhar feio.

Ela nem se quer protestou a maneira rude como a puxei pelo braço em direção a saída do bar – para vocês verem o quanto ela estava mal - após pagar a minha cerveja. Ao chegarmos à calçada razoavelmente mais vazia, eu simplesmente parei, pois não fazia ideia de para onde iríamos agora. Eu não poderia leva-la para casa nesse estado e a minha casa, com o meu pai lá dentro, também estava fora de questão.

Conclusão: Fodeu.

— E agora, o que eu faço com você? – perguntei preocupado, olhando fixamente para ela. Eu não esperava bem que ela me respondesse ou me desse uma luz.

Ainda sim ela resolveu me responder, mas não exatamente em palavras.

— E agora? Agora você me beija. – não, ela não esperou que eu a beijasse, até porque eu nem a beijaria nesse estado.

Ou melhor: em nenhum outro estado. Não mais.

Mas ela achou que poderia agir por nós dois. E bem, ela podia. Então ela praticamente se jogou em meus braços de uma maneiram muito melodramática. Não tive tempo nem de reagir. Rapidamente seus lábios molhados estavam nos meus e sua língua tentando abrir a minha boca.

Foi um beijo bem esquisito. Imagine a cena. Além de esquisito, foi bem molhado, lambuzado e com um gosto terrível de álcool.

A garota estava tão fora de si, que até ousou a apertar a minha bunda, ali mesmo, no meio da rua. Como se não bastasse o beijo obsceno, como se não soubéssemos beijar e fosse nossa primeira experiência, após apertar a minha bunda ela jogou a cabeça pra trás e de uma alta gargalhada.

— Pedro, você está muito gostoso hoje.

***

Na segunda-feira de manhã aproveitei que a Luiza estava distraída na aula de Natação e passei a xeretar o celular dela. Não sei bem porque, mas ela ainda tinha o numero da Aline salvo em seus contatos. Naquele momento eu tive uma grande ideia. Assim, peguei também o meu celular e salvei aquele numero na minha agenda.

Mais tarde, naquele mesmo dia, enquanto estavam todos almoçando na hora do intervalo, eu me levantei para ir até o banheiro e de dentro de uma das cabines mandei uma mensagem de texto para a Aline.

“Oi, sou eu, a Natália. A namorada da Luiza.

Será que podemos nos encontrar hoje mais tarde depois do colégio?”

A resposta dela veio um minuto depois enquanto eu lavava minhas mãos após ter feito toda minha higiene pessoal.

Claro! É só falar onde e eu estarei lá.”

Não preciso nem dizer que fiquei ansiosa para esse encontro o resto do dia. A parte mais difícil foi esconder isso da Luiza. Bom, se ela acabasse descobrindo de alguma forma, ela teria que entender que isso só aconteceria pelo nosso bem. Aline e eu precisávamos ter uma conversinha.

Pedi a Aline que me encontrasse na padaria há dois quarteirões do colégio. Na saída, as quatro da tarde, Luiza me questionou. Perguntando porque eu não ia com ela para sua casa depois da aula. Então eu tive que dizer que precisava ir pegar o Lucas na creche hoje, pois o Leandro e minha mãe estariam muito ocupados vendo alguns preparativos do casamento que deixei nas mãos deles. Mas prometi estar lá mais tarde. Ela pareceu entender muito bem e acreditar em mim. Deu-me um selinho de despedida e se foi, para o lado oposto que eu.

Após me certificar que ela não me seguia – nunca se sabe não é mesmo? – eu fui me encontrar com a Aline. Cheguei lá, ela ainda não tinha chegado, mas logo mandou uma mensagem dizendo que não demoraria, pois já estava a caminho. Escolhi uma mesa no canto, discreta. E aproveitei para pedir um café e um misto-quente, estava faminta.

Observei a Aline se aproximar calmamente de onde eu estava, a essa altura eu já tinha terminado o meu misto-quente. Ela se sentou a minha frente com um sorriso que nada me agradou. Ela se parecia muito uma vilã dos filmes querendo se passar por uma boa pessoa, só para poder atacar quando estivesse em vantagem.

Na certa eu não poderia confiar muito nela.

Pelo menos não ainda.

— E então, porque você chamou aqui? – ela foi logo perguntando, após se acomodar. Ofereci o meu café, ela recusou. Aproveitei para dar um ultimo gole e termina-lo. E só assim pude olhar melhor para ela.

— Eu achei que precisávamos ter uma conversinha bem séria. – apesar do olhar e o sorriso diabólico dela, eu não me deixaria me intimidar e a encarei. — Eu só queria saber por que você ainda implica com a Luiza quando vê que ela está comigo?

Eu tinha muito o que dizer, mas achei melhor ir com calma.

— E simples: eu não consigo aceitar que ela terminou comigo, de uma hora pra outra, quando o que eu mais queria era que déssemos certo, só porque ela era loucamente apaixonada por você.

— Então você ainda gosta dela, é isso? Por isso te incomoda tanto?

— Não, não é bem assim. – ela se remexeu sobre a cadeira, sinal de que ela estava levemente desconfortável. — Não é que eu ainda goste muito dela, mas eu já gostei muito, claro. Nunca antes eu tinha conhecido outra garota que eu me identificasse tanto. Eu queria muito que déssemos certo, eu lutei muito por isso, fiz de tudo por ela e por fim ela terminou comigo, como se eu não significasse nada. E tudo isso por sua culpa!

— Minha culpa?

— Sim, claro. Você estava muito bem com o seu namoradinho. Ou pelo menos era isso que queria fazer parecer. Mesmo sabendo que no fundo você tinha uma queda por sua amiga, mas doía ter que admitir. Porque no fundo você é uma medrosa do caralho. Aí bastou a Luiza seguir em frente para você resolver admitir que na verdade gostava mais dela, a ponto de deixar tudo de lado, para ficarem juntas. E o que isso resultou? A Luiza me deixou pra trás e saiu correndo atrás de você.

Eu não queria me ofender com tudo que ela disse, mas no fundo admito ter ficado bem ofendida, chateada e irritada também.

Ela não tinha esse direito! Mas foi pra isso que eu a chamei aqui. Queria que ela se abrisse comigo, queria que ela fosse direta e dissesse o que tanto a incomodava e do porque de ela ser tão megera.

— Vendo por esse lado, eu admito, eu fui muito estúpida por ter demorado tanto tempo para perceber que era dela que eu gostava. Mas você não acha que isso já passou e agora é hora de seguir em frente e simplesmente aceitar as coisas como elas são? Imagine se nada disso tivesse acontecido, você acha que seria feliz estando com a Luiza mesmo sabendo que ela gostava de mim? Não seria um relacionamento muito saudável...

— Não importa! Não importava. – ela meio que gritou, mas como estávamos em um estabelecimento, cercadas por pessoas estranhas e mais velhas, ela logo abaixou o tom. — Eu daria um jeito nisso. Faria ela gostar de mim e esquecer de você. O tempo seria o remédio. Mas você não permitiu que tivéssemos tempo.

Engoli em seco, me sentindo muito mal por dentro.

— Olha, tudo bem. Eu entendo perfeitamente seu lado. E sinto muito, muito mesmo por isso. Desculpe-me. Mas se você não a ama mais, saiba que eu a amo mais que qualquer outra coisa e a farei muito feliz por muito tempo. Você não tem que entender, eu só quero que você aceite isso e pare de nos alfinetar sempre que pode. Se liberte desse rancor, permita que ela seja feliz, afinal, de um jeito ou de outro ela foi uma parte muito bonita da sua vida, mesmo que por pouco tempo. Poderíamos ser amigas... Não sei. Eu aceito qualquer coisa, desde que você pare de ser tão cruel. Isso não combina com você.

Como se reavaliasse minhas palavras, Aline parou para pensar por um momento.

— Você tem razão. – ela voltou a me olhar, agora parecia mais normal, até mais amigável. — Eu não costumo ser assim. Mas sempre que via vocês juntas, felizes e unidas eu sentia uma coisa... Rancor talvez, por não ter tido a mesma sorte. Mas no fundo eu admito, acho que vocês duas têm muita sorte terem uma a outra. Eu sei que vocês se merecem, só que ainda é muito difícil aceitar isso, sabe? Eu não quero fazer o papel de vilã. Eu realmente quero aceitar isso, mas ainda é muito difícil, entende? – assenti. — Como eu disse: o tempo é o remédio.

Suspirei.

Acho que estamos chegando a algum lugar.

— Ficar perto de vocês, como amiga, será muito doloroso pra mim. Mesmo eu certa de que estou seguindo em frente. Na pratica isso é bem diferente. – ela soltou um risinho sem humor. — Então, obrigada de qualquer forma por me oferecer a amizade de vocês. Mas eu recuso. E, me desculpe por ter chamar de medrosa. Acho que depois de hoje, depois dessa nova conversinha, eu mudei o conceito que tinha de você. Na verdade, acho que você é muito corajosa por ter me chamado até aqui para resolvermos as coisas. – e então ela se levantou como quem está pronta para ir embora. — Eu realmente espero que vocês sejam felizes e que você cuide muito bem. E me desculpe por ter sido tão má. Não era eu.

Tive que sorrir.

— Mas depois de ouvir você falar tantas coisas, acho que a ficha caiu. – ela se aproximou, pegando-me de surpresa. E inclinou-se para beijar meu rosto. — Bom, até mais. Acho que terminamos aqui. E não se preocupe: se eu voltar a ver vocês não vou bancar a bruxa má novamente. Eu vou superar isso!

Sorri novamente para ela e assenti.

Não sei. Não foi bem o que eu esperava. Foi melhor que isso. Eu até consegui confiar nela ao olhar dentro de seus olhos cor caramelo. No fundo, ela era uma fofa, só estava muito ressentida e acho que pedir desculpas foi como dar uma grande passo a trégua.

Nada melhor que uma boa conversa sincera.

Voltei para casa aquele fim de tarde me sentindo muito leve, certa de que as coisas daqui em diante seriam melhores. A Aline já não era mais um problema. Eu e a Luiza tínhamos muito que comemorar hoje a noite.


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram do capítulo? A Aline já não é mais um problema para o casal NaLu. Mas a Duda continua sendo um problemão para o Pedro. Digam o que acharam!



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