Redenção escrita por MarieMatsuka


Capítulo 4
A Sopa


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Helena abriu os olhos, e percebeu que estava deitada no chão. Porém, este chão era de terra seca, indicando que provavelmente ela estava dormindo. Olhou para o céu, e viu o brilho avermelhado ao qual ela ainda não se acostumara, apesar das diversas vezes que já veio a este mesmo lugar – seja lá onde este lugar seja. Ouviu vozes não muito distantes, e por um momento, temeu ser encontrada. No entanto, quando olhou a sua volta, percebeu que estava em um local cercado por árvores secas, com grossos troncos quebradiços. “Um ótimo esconderijo”, pensou ela.

Levantando-se sorrateiramente do chão, Helena escondeu-se atrás de uma das árvores, escutando atentamente cada palavra dita a distância, o que não era difícil, já que sua audição era fantástica.

– Quais são as notícias, Samael? Preciso voltar logo ao plano físico, estou ocupado. – disse uma voz que Helena reconheceu como sendo a de Lucian, o estranho homem do bar.

– Meu senhor, as notícias são um tanto perturbadoras. Ao que tudo indica, o duque Baal enviou algumas de suas tropas ao plano físico. Cerca de 40 demônios estão a serviço dele lá, e isso causou um desentendimento entre ele e Astar... – de repente, Samael parou de falar. O som de passos parou, e Helena sentiu sua nuca formigar. Algo dizia a ela que deveria correr, mas com medo de seguir sua intuição, apenas se encolheu mais atrás do largo tronco da árvore. No segundo seguinte, Lucian apareceu bem a sua frente, olhando-a com uma expressão mista de curiosidade e raiva. Helena começou a levantar-se para correr, porém Lucian tocou levemente em seu ombro, e ela desfaleceu novamente, sendo amparada por braços que ela não podia enxergar.

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.

Helena acordou em um lugar banhado a meia luz, deitada em uma cama e coberta de forma aconchegante. Algo dizia a ela que teve um sonho importante porém, estranhamente, não conseguia lembrar-se de nada. Olhou a sua volta, e não reconheceu onde estava. Esta não era sua casa, o que fez com que ela imediatamente entrasse em estado de alerta. Ouvia tudo a sua volta, procurando descobrir qualquer pista que indicasse que lugar era aquele, e como ela fora parar ali. Escutou passos e decidiu fingir que estava dormindo, para poder surpreender quem quer que fosse que estava a adentrar no quarto.

Assim que ouviu a porta abrir, escutou passos indo em direção a cama que ela se encontrava, e logo após, uma voz dizendo:

– Você sabe que eu sei que você não está dormindo de verdade, não sabe? – disse Lucian, dirigindo-se a Helena.

Helena permaneceu em silêncio, esperando o momento certo para atacá-lo, ou apenas que ele fosse embora.

– Tudo bem, você pode ficar fingindo dormir o dia inteiro, se quiser. Mas sei que você já deve estar com fome, e a minha sopa quando esfria, fica intragável. – disse Lucian, parecendo estar se divertindo com algo.

Helena tremia levemente. Estava com um pouco de frio, e também temia que Lucian pudesse fazê-la algum mal. Afinal, porque ele a prenderia ali, se não fosse para fazer algo contra ela?

– Não vou fazê-la mal algum, se é isso que você teme. Apenas gostaria de conversar, e não sou muito bom nisso. Por isso a comida. Comidas normalmente acalmam as pessoas. – disse ele.

Helena virou-se na cama, ficando de frente para Lucian. Este segurava um prato fumegante – provavelmente a tal sopa – em umas das mãos, enquanto na outra segurava uma taça com algum líquido escuro.

“Algo envenenado, certamente”, pensou Helena.

– Suco de uva. Infelizmente, eu não tinha veneno de rato na despensa. – disse ele erguendo a taça e depois sorriu, achando graça da própria piada.

Por um breve momento, Helena chegou a pensar que ele podia ler sua mente. Quando olhou para ele, percebeu que ele estava sorrindo novamente, como se estivesse desfrutando de alguma piada interna.

– Eu sei que você acha que eu estou lendo sua mente, mas eu não estou. Nem precisaria. Tudo o que você pensa, fica estampado em suas expressões faciais. Agora mesmo você está franzindo a testa, provavelmente pensando em jogar o prato de sopa quente em mim, e sair correndo. Mas não vai funcionar, acredite. Sou resistente ao calor. – disse Lucian, ainda sorrindo.

– Quem exatamente é você? – perguntou Helena, finalmente criando coragem para falar.

– Já me apresentei para você. Meu nome é Lucian. – disse ele, erguendo uma das sobrancelhas.

– Não perguntei seu nome, perguntei quem você é. – disse Helena, sentando-se na cama o mais longe possível de Lucian.

– Você é sempre mal educada assim, ou só quando homens bonitos tentam cuidar de você após você desmaiar?

– Cale a boca! – disse Helena, verdadeiramente irritada. Imprudente, mas ela já não aguentava mais aquilo. – O que você quer de mim?

– Eu apenas gostaria de perguntar algumas coisas a você. É realmente importante para mim. Não vou machucá-la, de forma alguma. Se eu fosse fazer isso, já o teria feito, ou simplesmente não a teria salvado daquele demônio no beco. Mas não farei. – disse ele, em tom calmo. – Por favor, coma. Você está pálida, precisa disso. Se quiser, eu posso provar da sopa e do suco primeiro, para que você acredite que não há veneno algum em nenhum deles.

– Tudo bem, então prove. – disse Helena, ainda desconfiada.

Lucian sentou-se na beirada da cama, e apoiou a taça na mesa de cabeceira ao lado da cama. Proveu uma colherada da sopa, e em seguida, um gole do suco.

– Viu só? – disse ele.

Helena aceitou o prato que ele estendia em direção a ela. Recostou-se na cabeceira da cama, e provou da sopa. Creme de batata com pedacinhos de bacon. Curiosamente, era sua preferida.

– O que você quer tanto perguntar a mim? – perguntou Helena, após tomar boa parte da sopa, e sorver um grande gole do suco de uva.

– Primeiro, gostaria de saber a quanto tempo aquele demônio a persegue. – perguntou ele.

– Não muito tempo. Três a quatro dias. Por quê? – perguntou Helena

– Entendo. E você já sabia que ele era um demônio, ou apenas fugia dele porque ele a assustava? O que ele fazia, exatamente, com você?

Helena começou a ficar intrigada com tantas perguntas.

– Não sabia o que ele era, mas imaginava que ele não era meu anjo da guarda. – disse ela. – Eu fugia dele, porque meu instinto me dizia para ficar o mais longe possível, e também porque ele me assustava. – continuou. – Ele apenas me seguia, e me dava alguns sustos, pregava algumas peças. Até aquele maldito dia no bar. A propósito, a quanto tempo estou dormindo? – perguntou Helena, de repente preocupada com sua irmã e com Joseph.

– Apenas a algumas horas. Você desmaiou por volta de 19:00, e agora são 03:40. – disse ele. Sua voz era de quem estava preocupado com algo.

Helena havia acabado a sopa, então tomou o último gole de suco, colocando o prato e a taça de volta a mesa de cabeceira. Agora que havia saciado sua sede e sua fome, sentiu uma leve sonolência.

– Você parece cansada. – disse Lucian, franzindo a testa.

– Desmaiar me deixa cansada. – disse Helena, bocejando.

– Se você quiser, pode ficar aqui o quanto precisar. Só eu moro nesta casa, e mesmo assim, não fico muito por aqui. – disse Lucian.

– Eu nem conheço você, como sei que não vai me matar enquanto durmo? – perguntou Helena. Por algum motivo, ela não se sentia mais amedrontada na presença de Lucian, apenas receosa.

– Porque eu poderia já ter feito isso. Eu a trouxe para cá para que ficasse segura, não para fazê-la mal. Pode confiar em mim, pelo menos por hora? – disse ele.

– Acho que posso... – respondeu Helena. Ela voltou a deitar-se na cama, puxando o cobertor até a altura do queixo. Lucian apagou o pequeno abajur na mesa de cabeceira, a única fonte de luz no quarto. Helena não enxergava mais nada, mas ouviu Lucian dizer, próximo a porta:

– Quando acordar sinta-se a vontade para fazer o que quiser. O banheiro fica aqui ao lado do quarto, e a cozinha um pouco mais a frente. Preciso sair para resolver alguns problemas... – disse ele, abaixando o tom de voz. – Realmente gostaria de encontrá-la aqui quando voltasse, mas a escolha é sua. Tem uma estação de metrô atravessando a rua. Tenha bons sonhos, Helena. – sussurrou Lucian quase inaudível, e então fechou a porta.

Helena sentia-se estranha. Não sabia se era o cansaço ou a exaustão mental, mas sentia que podia confiar em Lucian. E pelo menos por hora, ela seguiria sua intuição. Virou-se de lado na cama e fechou os olhos, dormindo logo em seguida.


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Notas finais do capítulo

Hey, folks... Espero que tenham gostado, já que estou adorando escrever!



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