Redenção escrita por MarieMatsuka


Capítulo 1
Sr. Poça de Sangue


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Apesar da visão embaçada, Helena podia distinguir que o ambiente em que ela estava, não era seu quarto. Sentiu a terra seca sob seus pés descalços, indicando que provavelmente estava a céu aberto. Porém, não sentia nenhum vento ou brisa, o que fazia com que este lugar fosse estranhamente quente e úmido. Tudo em seu campo de visão tinha um estranho brilho avermelhado, desde as árvores secas, de troncos pretos, até o céu. Não conseguiu distinguir ponto algum no mesmo que indicasse se era dia, ou noite. Tudo o que ela podia ouvir, era o silêncio, o que não deixava de ser uma ironia.

De repente, ela ouviu gritos. Não conseguiu distinguir de onde vinham, mas os mesmos pareciam com milhares de pessoas sendo torturadas. "Preciso sair daqui logo", pensou ela. Passos. Não muito longe, e pareciam pesados, então provavelmente era um homem grande. Ou assim ela esperava. De repente, Helena sentiu-se afundando no chão, enquanto o mesmo se abria em uma enorme fenda. Ela tentou se segurar, porém, tarde demais. Despencou pela fenda recém aberta, descobrindo que, na verdade, os gritos não vinham de algum lugar distante, e sim de debaixo dos seus pés. Milhares de corpos contorcendo-se em agonia, sofrendo sobre o peso de toneladas de terra. O cheiro dos corpos putrefatos invadiu seu nariz, porém nenhum deles estavam parados. Em sua queda, sentiu mãos tentando agarrá-la, clamando por ajuda, ou simplesmente gemendo de dor. Apesar de não conseguir enxergar direito, ela estava em pânico. Imaginava se a queda teria um fim, ou se permaneceria caindo por toda a eternidade.

Quando achou que teria uma de suas crises em plena queda livre, Helena ouviu alguém chamando-a, distante.

– Helena, acorda! Acorda! - Helena escutava sua irmã gritando e sacudindo-a - Já são mais de 10:30, você está atrasada pro curso! - dizia ela.

Helena despertou para a realidade. "Um sonho", pensou Helena. "Parecido com os sonhos das outras noites, mas nunca o mesmo", pensou, ainda assustada com o que havia visto.

– Bom dia pra você também, maninha. - disse Helena, já se levantando. - Pensei que você fosse me acordar, já que foi o que você disse ontem.

– E eu ia, linda. Mas o Jesse apareceu aqui do nada ontem a noite, e bem, você sabe como as coisas são com o Jesse... Eu simplesmente não resisto a ele. - disse ela, soltando um longo suspiro.

– Sim, Karin. Eu sei como as coisas são com o Jesse. E também com o Tyler. E com o Spencer. E com o Matt. E com o porteiro de nosso prédio, e com o carteiro, com o guarda noturno... - disse Helena, rindo. Apesar da brincadeira, ainda estava assustada.

– Está dizendo o que, senhorita? Que sou promíscua? Para o Inferno com isso, eu apenas aproveito a vida! - disse ela, bufando, e depois riu. - Agora é sério, pequena. Você precisa se arrumar, venha. - Karin levantou-se da cama, para dar espaço para que Helena conseguisse se levantar.

Através de sua visão embaçada, Helena percebeu que a claridade da manhã estava um tanto diferente, um tom próximo do cinza, o que indicava que a temperatura la fora deveria estar abaixo dos 20°C. Com dificuldade, Helena colocou-se de pé e aceitou a ajuda de sua irmã, que já era de praxe. Juntas, foram até o armário, pegaram algumas peças de roupa, e voltaram para a cama. Depois de vestida, Helena pediu que Karin fosse com ela até o espelho, para que pudesse ver o resultado final.

Helena não podia enxergar quase nada, mas gostava da sensação de se olhar no espelho. Tudo o que ela via eram vultos embaçados, com cores opacas, apenas distinguíveis com os anos de treino. Parada em frente ao espelho, Helena reparou em sua aparência mais uma vez. Baixa, 1,60 no máximo. Era magra, mas possuía curvas, o que não era de todo ruim. Longos cabelos loiros ondulados, pele alva e olhos de um intenso azul. Nariz fino, e lábios de um tom de cereja natural. "O padrão de beleza que muitas garotas pediram a Deus", pensou ela. "Mas de que adianta tudo isso, se sequer posso enxergar o mundo como ele realmente é? Se sou incapaz de dar alguns poucos passos sozinha?", continuou ela.

O mesmo não acontecia com Karin. Bem, em partes. Karin tinha a mesma beleza da irmã mais nova, porém era mais alta que a mesma, e seus cabelos eram de um tom mais escuro de loiro. Karin era extremamente sedutora, o que fazia com que ela arranjasse amigos e pretendentes com muito mais facilidade que Helena. Apesar de ambas terem apenas 4 anos de diferença de idade - Helena com 17, e Karin com 21 - Karin já havia namorada algumas vezes, enquanto Helena se mantinha isolada, tendo apenas alguns poucos amigos. Não que ela fosse de fato anti-social, apenas tomava o cuidado de não confiar em qualquer um que se dizia amigo.

15 minutos depois, e Karin já estava ao volante, com Helena no banco de passageiro, levando-na até o curso.

– Como anda o curso, linda? - perguntou Karin.

"Uma merda", pensou Helena.

– Ah, está indo bem, Kah.

– Isso é muito bom, maninha! Pelo menos você se distrai um pouco, e você sabe que é bom para estimular sua mente. Os médicos ainda não fazem ideia do que você tem, mas como acreditam que é algo no seu cérebro que vai deteriorando-o com o tempo, acham adequado que você faça atividades que diminuam a velocidade de qualquer coisa que possa estar atacando-o. - dizia Karin.

– Eu sei, eu sei. Você já disse isso algumas vezes, maninha. Muitas vezes. - disse Helena, e riu.

– Bem, já chegamos, senhorita chata. Quer que eu te leve até lá dentro? - ela perguntou.

– Não, não precisa, Kah. Eu consigo. - disse, Helena, e foi descendo do carro. Karin abriu o vidro e gritou:

– Te pego as 15:00 hrs hoje, linda! Não se atrase, e não deixe de almoçar! - disse Karin. Ela deu dois toques de buzina, e acelerou o carro, deixando Helena sozinha em frente ao curso.

O curso, na verdade, não passava de algumas aulas de arte chatas, nas quais incluía pinturas a dedo, modelagem com argila, desenho - que era quase impossível para Helena - e alguns exercícios físicos básicos, como polichinelo e alongamento.

A sede do curso ficava em uma rua cheia de árvores, então o cheiro era extremamente agradável. Ao lado do prédio - que tinha 5 andares - localizava-se uma lanchonete McDonald's, de onde vinha o aroma delicioso de batatas fritas. "Ah, se pelo menos eu pudesse comer algumas porcarias de vez em quando..." pensou ela, já que Karin sempre insistia em que ela levasse uma "vida saudável", o que fazia com que a garota as vezes acordasse e se lembrasse que havia sonhado que estava fazendo um anjo com os braços, em uma montanha de batata frita.

– Sonhando acordada, princesa? - disse uma voz masculina melodiosa, logo atrás dela. Se a voz não lhe fosse tão conhecida, teria provavelmente levado um susto e tentado socar o amigo, que curiosamente era também "professor" em seu curso.

– Sim. Com batatas fritas, muitas batatas fritas, todas cheias de catchup e maionese. Isso que você está segurando, por acaso, são batatas? - perguntou ela, sentindo o cheiro e rindo da própria piada.

– São sim, mas eu não as trafico, sou apenas usuário. Mas se você quiser, posso dividir com você. Afinal, todos temos dias bondosos. - disse Joseph, e riu.

Helena aceitou a batata, e enquanto se deliciava com a mesma, pensou em como era próxima de Joseph.

Desde que havia entrado em seu curso, ela sempre tentara isolar-se, mas sem muito sucesso. Em sua primeira aula de pintura, Helena entrou em crise no meio da sala, e desmaiou. Em seguida, acordou nos braços de um rapaz alto e forte, que a carregava até a enfermaria do prédio. Depois de algum tempo, descobriu que seu nome era Joseph, e que ele era seu professor de pintura. Se não fosse por ele, Helena tentaria matar as duas primeiras aulas do curso de segunda-feira.

– Vamos entrar? Está frio aqui fora. - disse Joseph.

Helena não respondeu, apenas acompanhou-o, tomando cuidado ao subir as escadas para o prédio. Joseph percebeu e a ajudou, como sempre.

Chegando dentro do prédio, Joseph disse a Helena que precisava ir até a sala dos professores pegar alguns materiais, e disse que a encontrava na sala, já que a menina precisava usar o banheiro.

Assim que entrou no banheiro, Helena sentiu-se estranha. Pensou estar tendo uma crise, mas o que sentia agora era diferente de tudo que já sentiu. Não estava sentindo todas as suas forças a deixarem repentinamente. Sentia um estranho formigamento na nuca, como se alguém a observasse. De repente, sentiu uma leve pressão na parte de trás da cabeça, algo quase doloroso. Virou-se rapidamente, tentando enxergar qualquer coisa que pudesse estar observando-a, mas não encontrou nada. Porém, a sensação não passou, e ela foi lavar o rosto para tentar se acalmar. Quando levantou a cabeça, o rosto ainda pingando, viu uma sombra no espelho, posicionada bem atrás dela. Alta e larga, a sombra emanava uma aura sombria, negra. Não era possível identificar nenhum feição em seu rosto, talvez porque Helena enxergasse um pouco pior quando estava nervosa, ou talvez porque a sombra não possuía feições. Helena congelou no lugar em que estava, com medo de que a sombra se mexesse ao menor sinal de movimento de sua parte. De repente, a sombra antes sem feições, abriu-lhe um sorriso, expondo dentes brancos pontiagudos, manchados de sangue. Helena fechou os olhos, preparando-se para atacar a sombra ao estilo futebol americano, para poder conseguir alguns segundos de vantagem, quando de repente, sumiu. Helena abriu os olhos, amedrontada, e viu que no lugar da sombra, havia uma poça de sangue, com um rastro que seguia até o espelho atrás de si. Com medo, Helena se virou, e o que viu escrito ali foi demais para que seu corpo se mantesse acordado.

Aproximadamente 15 minutos depois, Joseph, junto com mais alguns funcionários do curso, arrombaram a porta, e encontraram Helena caída sobre a poça de sangue. Quando os funcionários olharam para o espelho, viram que nele estava escrito com sangue a seguinte frase:

"Bem vinda ao Inferno, querida."


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Notas finais do capítulo

Hey Folks, espero que tenham gostado. Pretendo postar o próximo capítulo logo.



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