A Herança de Espinhos escrita por Hime Illana


Capítulo 7
Capítulo 7




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Minha cabeça latejava e sangue escorria pela minha testa pingando no chão, meu corpo estava dormente e minha visão embaçada, mas meu coração não vacilava, no momento em que me levantei eu era uma nova Elena, não no sentido literal, mas no sentido de ter encontrado uma força que eu não sabia que tinha e isso me deu coragem para enfrentar o que estava por vir.

− Elena, você está bem? Por um momento achei que você estava fora da jogada! – disse Rick ajoelhado um pouco a minha frente, ele estava cheio de aranhões e machucados, sua respiração era ofegante e seu uniforme estava rasgado em algumas partes.

− Eu... vou ficar bem, mas não se preocupe comigo, o que aconteceu enquanto eu estive desacordada? – perguntei tentando limpar o sangue rosto com a manga do meu paletó.

− Bom, para resumir, nós estamos levando uma surra aqui, não sei quanto tempo nós vamos aguentar, Henry tentou chamar reforços, mas as comunicações foram cortadas, essa... coisa esta bloqueado completamente o sinal. – respondeu Rick.

O monstro negro que era a mãe de Lila tinha absorvido inúmeras almas das pessoas que morreram na área, incluindo sua própria filha Lila, e tinha crescido o dobro de tamanho desde que o tinha visto antes de apagar, agora nem parecia mais humano, a criatura tinha vários braços longos como tentáculos, sua boca era como a de um tubarão com vários dentes afiados, em seu corpo podiam-se ver figuras humanoides se contorcendo umas sobre as outras em agonia, e o som que faziam arrepiava até a alma, nem sei se eram gemidos de dor ou de ódio, só sei que o som mais horrível que já tinha ouvido na vida.

Algo passou voando como um borrão por nós e se chocou com o chão alguns metros atrás de mim, quando a poeira baixou vi que o borrão era Henry, que algum momento depois se levantou com muita dificuldade e tossindo muito, ele estava bem machucado, tinha vários cortes nos braços e no rosto, o jaleco que antes era branco agora estava com várias manchas marrons, provavelmente da mistura de sangue e poeira, seu uniforme estava um verdadeiro trapo, muito rasgado, sujo e ensanguentado. Eu corri até ele, que mal conseguia se manter de pé.

− Meu Deus, Henry, você está bem, o que aconteceu? – perguntei quase gritando.

− Ai, eu estou... Bem... Não se preocupe... Ai. – disse ele com dificuldade.

− Assim não vai dar, precisamos fugir daqui ou vamos morrer. – disse Rick que veio logo atrás de mim, ele colocou um dos braços de Henry por cima dos ombros e o carregou até longe da batalha, eu os segui.

− Dessa vez eu concordo, não há como vencermos assim... Estamos muito machucados e fracos, fomos... Completamente pegos de surpresa aqui... Estávamos despreparados... Para uma luta desse nível. – disse Henry, com a voz fraca. Rick o colocou apoiado sobre o que restou de uma parede de pedra, a mansão estava em ruínas e estava em chamas em várias partes, parece que uma bomba tinha caído aqui, destruindo tudo.

− Onde está o Edric? – perguntei.

− Ele ainda está lutando... Eu tentei ajudar como pude, mas aquele monstro é forte demais... Absorveu muitas almas em sofrimento... Magia negra... Não tem como ser impedido agora... – Henry mal conseguiu terminar de falar e desmaiou.

Diante da gravidade da situação eu decidi que era hora de agir.

− Rick, fique aqui e cuide do Henry, eu vou parar essa coisa. – disse eu me levantando e indo para onde Edric e a criatura estavam lutando.

− Espera Elena, aonde você vai? Você não está pensando em lutar né? - Eu não respondi e continuei andando. - Elena, você vai morrer! Você não é páreo pra essa coisa! ELENA!

Quando cheguei à grande área aberta que poderia ter sido o hall, ou o que restou dele, vi um Edric que nunca imaginaria ver, ele tinha uma aura negra ao seu redor que de tão densa parecia fumaça, sua presença parecia completamente diferente de antes, ele parecia um predador diante de sua presa, voraz, compenetrado e mortal. Ele se movia a uma velocidade incrível, mas parecia mais lento do antes, muito mais lento, apesar disso ele manejava sua espada negra com maestria e tinha uma expressão tão séria que me assustava, ele estava pronto para matar e não hesitaria em fazê-lo. Infelizmente ele não estava com a menor vantagem nessa luta, mesmo com suas incríveis habilidades, a mãe de Lila não parecia estar recebendo muito dano, o que não era uma boa coisa, pois Edric parecia estar cansado e poderia ser atingido a qualquer momento.

− Edric eu vim ajudar! – gritei para ele.

Edric se virou quando ouviu minha voz, mas seu olhar me gelou até os ossos.

− Se afaste Elena, eu cuido disso. – disse ele com uma voz grave e penetrante.

Num segundo de descuido um dos braços da criatura acertou Edric que foi jogado alguns metros para trás caindo de joelhos no chão. Ele ofegava e tinha cortes em várias partes do corpo, havia um grande rasgo em sua camisa expondo um pouco o peito definido, mas o sangue escorrendo e tingindo branco da camisa de vermelho escuro não deixava a visão nada sexy, ele mal podia se levantar, nessas condições ele não poderia mais lutar.

− Edric, eu vim ajudar, deixe isso comigo, você precisa descansar.

Edric me puxou pelo braço me impedindo de ir até a criatura.

− Não... Você não pode... É perigoso... – Edric estava tão cansado que mal conseguia terminar a frase.

− Edric, confie em mim, vai ficar tudo bem, eu vou dar um jeito nisso ok? Vai acabar logo.

Eu o deixei lá no chão e fui enfrentar a criatura, enquanto eu me aproximava mais e mais, meu coração batia acelerado, eu não sabia o que fazer, mas sabia que eu tinha que lutar, eu era a única que podia fazer isso.

Eu estava a menos de dez metros da criatura, nada vinha a minha mente, não sabia nenhum método de derrotar essa coisa.

− Elena não, por favor, saia daí! – gritou Edric que sem forças não conseguiu se levantar para me impedir.

Agora eu estava a menos de nove metros... Oito... Sete... Nesse momento eu ouvi a mesma voz feminina que tinha ouvido quando apaguei: “O Rubi e o coração da herdeira estão interligados. Vocês são como um. O Rubi vai te dar a força que precisa. Lute Elena!”.

Lembrei-me do meu colar com o pingente de Rubi Estrela que estava no meu pescoço, ri sem humor, quando percebi que ele estava comigo esse tempo todo sem eu perceber. Eu olhei para ele, belo e reluzente como no dia em que o vi pela primeira vez na loja de Sérgio, menos de cinco metros separavam uma criatura monstruosa e fora de controle de mim, lembrei-me daquele dia, de como o Rubi parecia que me chamava, menos de três metros agora.

− Elena, por favor, me escuta, saia daí! – gritou Edric que tinha se levantado e tentava correr em minha direção.

Lembrei-me da estranha ligação que senti quando toquei essa pedra pela primeira vez, será que foi o destino, será que estava tudo predeterminado? Dois metros... Um metro...

− ELENA!

Instintivamente eu fechei os olhos e pus as mãos em meu coração, onde o Rubi estava pendurado e desejei, com todas as minhas forças, por tudo que eu mais amava, de todo o meu coração, desejei ter o poder para proteger e a força para salvar, eu não me importava com o que iria acontecer comigo, sem ter alternativa, eu aceitei meu destino.

Uma intensa e brilhante luz vermelha e branca saiu do Rubi, ela inundou todo o lugar e me envolveu completamente, vi feixes de luz cobrir todo o meu corpo e deixei ela me transformar, quando a luz diminuiu eu estava diferente, eu não usava mais o uniforme da ordem, mas um vestido belíssimo vermelho da cor do sangue com detalhes em renda preta, a saia era tão longa que arrastava um pouco no chão e uma fenda do lado esquerdo revelando uma saia mais curta e franzida por dentro. A parte de cima do vestido era um corpete decotado que cobria perfeitamente as curvas do meu corpo, ele não tinha uma faixa solta nos ombros, na minha cabeça havia uma tiara de um material metálico escuro que lembravam espinhos se emaranhando na minha cabeça, no meu pescoço estava o meu colar com o Rubi Estrela, que agora era uma gargantilha. Eu usava longas meias pretas que iam até minhas coxas e sapatos de salto alto pretos. Toquei novamente o rubi e dele saiu uma luz dourada, essa luz se transformou num cetro dourado cheio de espinhos que ia do chão até a altura dos meus cotovelos, no topo tinha uma grande rosa vermelha com um ramo de espinhos fazendo uma pequena volta no corpo do cetro, assim que eu o vi um nome veio à minha mente, Rosa Aurea.

− Elena, como... O que você... O que aconteceu com você? – perguntou Edric completamente perplexo e boquiaberto no chão onde eu havia o deixado. Eu me virei para olha-lo e ao invés de responder eu simplesmente sorri, como se estivesse dizendo para ele se acalmar, que tudo logo ficaria bem.

Virei-me novamente para encarar a criatura, institivamente eu sabia como usar Rosa Aurea, era como se eu a tivesse por muitos anos ao invés de poucos minutos, como era o caso. Orgulhosamente a apontei para ela e com a voz firme disse:

− Ser feito de escuridão e morte, eu, a décima Rainha do Caos Elena, portadora da Herdeira da Joia de Sangue, te ordeno, volte para as profundezas sombrias de onde veio e deixe esse plano material imediatamente!

Assim que terminei de dizer essas palavras, Rosa Aurea brilhou, essa luz dourada feriu o monstro fazendo-o gritar e ficar mais violento e mais feroz. Continuei a ataca-lo com a luz, mas toda a vez que eu causava algum dano à criatura rapidamente se recuperava e tentava me matar com mais afinco, nesse momento eu ouvi a fraca voz de Lila vindo de dentro da criatura:

Moça, por favor, acabe com essa dor, eu não quero mais ver minha mãe sofrer, eu não quero mais ver ninguém sofrer, por favor! Ajude-nos!

− Lila! Não se preocupe, eu irei acabar com a sua dor!

Comovida com o pedido de Lila e com o coração apertado, respirei fundo e aceitei o que viria a fazer, eu teria que destruí-lo para por um fim nisso, peguei Rosa Aurea e puxei a rosa vermelha do topo, de dentro do cetro saiu uma espada de lamina fina, comprida e prateada, um florete. Corri para pegar impulso, subi numa pedra em forma de rampa e pulei na direção do monstro.

Por favor, ajude-nos!

Cheia de coragem e convicção enfiei a lamina de prata com toda a força na criatura, a luz dourada começou a enchê-lo de dentro para fora, a criatura urrava de dor enquanto era engolido pela luz e se despedaçou, Lila e todas as outras almas ficaram completamente banhadas pela luz dourada e morna e aos poucos foram desaparecendo, vi o rosto sorridente de Lila ao lado de sua mãe em seus últimos momentos antes de desaparecer para sempre, “Senhorita, muito obrigada por me livrar de toda aquela escuridão, eu estava tão devastada pela morte da minha filha que acabei perdendo a razão e ferindo muitas pessoas inocentes, tudo o que eu queria era trazer minha filhinha de volta não importando os meios, eu estou profundamente arrependida do que fiz, obrigada por me fazer ver a luz novamente.”, “ Obrigada moça, obrigada por tudo!”, ambas foram ficando cada vez mais transparentes, até que desapareceram completamente. Com o rosto coberto em lágrimas em sorri para elas e disse “de nada”, mas elas já não estavam mais ali para me ouvir, não sei se elas vão para o céu ou se vão para outro lugar, só espero que agora elas e todas as pessoas que sofreram finalmente tenham o descaso que merecem.

Limpei meu rosto e guardei o florete de volta em sua bainha, transformando Rosa Aurea em um cetro novamente, toquei no rubi que brilhou me fazendo voltar ao normal, com meu uniforme surrado e sujo.

Edric estava de pé ao longe, com as mãos nos bolsos da calça jeans rasgada, imóvel como uma estátua de mármore, sua espada havia sumido e ele me olhava com um olhar que não sabia descrever o que era. Eu fui andando receosa para ele.

− Você está bem? – perguntei nervosa.

Ele continuou me olhando, mas não respondeu.

− Olha Edric, eu sei que tudo o que aconteceu foi muito repentino, acredite em mim, eu sou a mais surpresa aqui, eu nem sei por onde começar a te explicar!

Edric finalmente se mexeu, tirou as mãos dos bolsos e veio andando na minha direção com uma expressão que não sabia como definir, eu não sabia se ele iria brigar comigo, me xingar, ou se iria me bombardear de perguntas, qualquer que fosse eu estava nervosa e com medo de sua reação.

− Edric, por favor, me escuta, eu vou te explicar tudo ok? Só me escuta, por favor, eu...

Edric me puxou para o seu peito e me abraçou com tanta força que achei que minhas costelas fossem quebrar, ficamos os dois ali por um momento, abraçados, eu estava tão chocada que nem conseguia pensar no que dizer, simplesmente paralisei. Foi ele quem quebrou o silêncio, falando bem baixinho no meu ouvido.

− Nunca mais me assuste dessa maneira, está me ouvindo? Droga, eu achei que você fosse morrer, tem ideia do quão preocupado eu fiquei? Quer me matar do coração?

− D-Desculpa? E-Eu não sei...

− Me prometa que nunca mais vai se arriscar assim, está me ouvindo? Prometa, é uma ordem!

− Eu... Prometo... Eu acho.

Edric me apertou ainda mais e um segundo depois me soltou.

− Depois eu quero que você me explique em detalhes o que raios foi que aconteceu aqui, estamos entendidos? Quero saber de tudo.

Eu olhei para ele e aliviada por ele não ter me rejeitado, eu sorri.

− Tudo bem!

Enquanto saíamos das ruínas, por trás de uma cortina de fumaça vimos Rick e Henry completamente paralisados, parece que eles viram a luta de longe, envergonhada eu acenei para eles.

− O-oi gente... tudo bem? – perguntei acanhada.

− Mas o que foi aquilo que você fez? Num segundo estávamos todos acabados e sem forças pra lutar contra aquela coisa, eu já estava até achando que ia bater as botas e quando tudo parecia sem esperanças... Bam! Flash! Super Elena chutadora de bundas aparece para salvar o dia! Como foi que você fez pra ficar tão forte assim? Quero saber seu segredo! – disse Rick animado com seu largo sorriso brilhante.

−E-eu posso explicar...

− Fascinate! Que poder incrível! Preciso examina-la imediatamente! – disse Henry com os olhos brilhando, ele parecia uma criança quando abre os presentes de natal.

− Calma gente, estamos todos exaustos e feridos, primeiro vamos voltar para a base, descansar, tratar nossos ferimentos e aí sim interrogar a Elena até ela contar até os seus segredos mais íntimos e sombrios, ok? – disse Edric com o tom metido e brincalhão de sempre.

− Qual é Edric, eu estou super curioso, não posso esperar, eu preciso saber! – reclamou Rick.

− Eu preciso... fazer um estudo completo...– Henry se engasgou com a fumaça, começou a cuspir sangue e a tossir sem parar.

− Ok, precisamos voltar imediatamente, sem brincadeiras agora. – disse Edric que colocou o braço livre de Henry nos ombros e ajudou Rick a carrega-lo para fora das ruínas.

− Como vamos fazer para voltar para a Ordem daqui? - perguntei.

− Ah, para voltar para a Ordem é só apertar esse botão que fica ao lado do seu relógio comunicador, ele vai enviar o sinal e o pessoal do outro lado vai abrir o portal para nós. – disse Rick.

− Entendi.

Os rapazes foram na frente e apertaram seus relógios, um círculo de luz branca caiu sobre eles e em poucos segundos eles tinha desaparecido completamente como se fosse mágica.

− Ah, então foi assim que chegamos aqui! – exclamei sozinha.

Dei uma ultima olhada para o que tinha restado da mansão, que tinha virado cinzas e ruínas tanto pelas lutas como pelo incêndio que a criatura deve ter provocado quando nos atacou na cozinha, senti uma tristeza em meu peito, mas ela logo foi tomada por alívio, todas as coisas ruins que aconteceram estão no passado, Lila e sua mãe finalmente se reencontraram e o mal foi expurgado.

− Espero que descansem em paz.

Apertei o botão do meu relógio e tranquilamente me deixei ser levada pela luz branca.


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