Os dias atrasados serão cobrados... escrita por Beca


Capítulo 1
Introdução: A Nova NO.6


Notas iniciais do capítulo

Espero que curtam o primeiro capítulo. Ele talvez esteja um pouco confuso, não hesitem em criticar.Tentei falar um pouco mais da política da cidade nesse capítulo. Caso queiram que eu continue a estória, irei escrever mais sobre os personagens.



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“Shion.”

“Sim?”

“Você está chorando?”

“Eu não – Meu deus, eu não sou uma garota! - ”

“Estou com medo de você”

“O que?”

“Parece que eu não consigo captar nada do que está dentro de você, por isso. Você é um mistério. Você tinha o poder de colocar todo mundo que estava na Moondrop nas palmas de suas mãos em exatos dois segundos, ainda assim, aqui está você, chorando como uma garota. Você consegue ser completamente cruel, corajoso e nobre , tudo de uma vez só. E isso tudo é apenas uma parte de você, não é? Eu não consigo entender, por isso é assustador para mim. Talvez, alguma hora, no futuro, não seja impossível para mim parar por aqui para ver...sim, para ver no que você se tornou. Os muffins da sua mãe também são difíceis de se resistir. Mas eu não esperava um abraço dela logo depois de ser introduzido.”

“Nezumi.”

Shion apertou o braço de Nezumi, ele sentiu como se não pudesse mais aguentar.

“Não vá, Nezumi. Eu quero estar do seu lado, eu quero que você esteja do meu lado, isso é tudo que eu desejo.”

“Isso não pode acontecer.”

“Porque não?”

“Quantas vezes você vai me obrigar a repetir? Você tem que ficar aqui. Você tem um trabalho para fazer.”

“Eu posso deixar outra pessoa - ”

“Você não pode deixar outra pessoa fazer isso. Shion, você tem que fazer isso. Você esqueceu sua promesa com a Safu? E sobre as últimas palavras do Doutor? Você disse que ia aceitar isso. Shion, não fuja. Você tem uma batalha para lutar. Você tem um trabalho para fazer aqui. Você não pode dar as costas para isso. ”

Shion olhou para seus pés.

Apertou o braço de Nezumi ainda mais forte.

Eu sei. Eu entendo. Mas-

“Nezumi, o mundo não significa nada pra mim sem você. Nada.”

Um dedo se agarrou no seu queixo e o levantou.

Um par de de olhos cinza escuros estavam bem a sua frente .

“Você não vai ouvir, minha criança teimosa? Aja de acordo com sua idade.” Era uma voz de mulher, suavisada com uma risada.

“Nezumi, Estou falando sério - ”

Seus lábios se encontraram. Foi um causticante, mas gentil, beijo apaixonado.

“Isso foi um... beijo de adeus?”

“Um voto.” Nezumi sorriu. “A reunião virá, Shion.”

Nezumi virou as costas para ele. Hamlet e Cravat subiram em seus ombros e chiaram um para o outro.

Cheep-cheep-cheep. Cheep-cheep-cheep.

O vento soprou.

As nuvens se afastaram.

A figura de Nezumi ficou menor e menor.

Ele não se virou nem uma vez.

“Nezumi.” Eu nunca descobri o seu verdadeiro nome. Mas – Eu não preciso sabê-lo.

Para Shion, Nezumi sempre havia sido Nezumi. Seu único alguém que era insubstituível.

Nezumi, eu esperarei. Não importa quantos anos demore, quão velho eu fique, eu esperarei por você bem aqui, nessa terra.

O vagabundo e o estácionario – Seus caminhos estavam destinados a se cruzar de novo. E quando eles se cruzassem, Shion não o deixaria ir tão fácil.

Nezumi, esperarei por você.

O vento soprou.

A luz do sol derramou-se – Em Shion; Na cidade prestes a renascer; No vestígio que era Nezumi.

A luz derramou-se , abrangindo tudo. – Trecho final da light novel NO.6, Vol. 9, Atsuko Asano. Traduzido por mim da light novel em Inglês traduzida do japônes pela Kodansha Comics. Postada aqui com o único propósito de mostrar o final original da estória que ainda não foi traduzido ao português (até agora), de onde começa a minha fanfic.


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Shion ficou ali até o sol se por, a lua surgir e Nezumi desaparecer. Somente então fraquejou, seus joelhos foram de encontro ao chão. Roçou o polegar nos lábios há muito secos. A calidez, no entanto, perdurava.

O menino sabia que não poderia ficar ali pra sempre. Chorar não ia trazer Nezumi de volta e ele agora tinha um lugar para onde voltar, uma missão.

Reconstruirei NO.6, sem mais muros ou preconceitos, uma cidade onde todos poderão ser felizes sem estar às custas dos outros, um lugar para onde Nez – Um lugar para onde el – Seus olhos marejaram.

Mas que idiota, me deixando assim, sem mais nem menos– Levantou-se e limpou a terra dos joelhos, olhou mais uma vez para o ponto onde viu a figura de nezumi uma última vez antes de ela desaparecer. Talvez, se desejasse muito, ele voltaria, diria que mudou de ideia, que iria ficar junto com ele para sempre. Shion sabia como estava sento idiota. Segurou o olhar por mais uma batida de seu coração, se virou e retornou para casa.


Cinco anos depois

“Mãe, estou saindo.” Shion gritou para a mãe, que estava conversando com um cliente, enquanto abria a porta e saia para o dia fria de inverno, sem esperar a resposta de Karan. O sol estava escondido pelas nuvens e o vento fustigante o atacou no momento que colocou o rosto para fora de casa. Seus cabelos brancos, agora roçando seus ombros, chicoteavam violentamente ao redor do seu rosto. Uma garoa fina e fria não demorou a cair deixando-o ensopado.

Mas que droga, devia ter trazido um guarda-chuva.

Shion continuou andando, indo em direção ao centro da cidade, em direção à Moondrop. O Consilium Novi requisitava sua presença.

Novi, huh? Mas que piada*, aqueles velhos fizeram nada mais além de trazer a desigualdade de volta.

O Conselho havia sido criado poucos dias após a queda dos muros. Faziam parte dele quatro homens e quatro mulheres que haviam chegado ao encargo por meio do “voto popular”. O que parecia ser uma promessa de um governo transparente e justo, que olhava por todos, mostrou ser, na verdade, uma oligarquia mesquinha que trouxe de volta a desigualdade dos tempos antigos. O cenário atual não podia ser pior. Os moradores do Distrito Oeste foram rapidamente restritos apenas a uma parte da cidade, formando um uma área relativamente pobre e hiperpopulada. Sem ter para onde voltar após a destruição de suas antigas casas, coube aos antigos moradores do distrito aceitar o lugar que lhes era oferecido ou sair da cidade, Recentemente lhes foi negado o direito ao voto e, como se não pudesse ficar pior, foram dados aos antigos moradores de NO.6 um cartão que os indentificava como tal. A nova NO.6 era portanto uma mistura com duas fases, a oprimida e a privilegiada. O sonho que Shion tinha de uma cidade homogênea e igualitária estava longe de ser concretizado.

Diante desse cenário, Shion rapidamente se tornou uma figura importante, era carismático, bonito e, acima de tudo, tinha um objetivo. Sem demora juntou-se a Inukashi e ao Rikiga e juntos criaram a Frente de Libertação da Nova NO.6 (FLNN6) , um grupo que tinha por objetivo responder às ações do conselho.

Shion apressou o passo e finalmente chegou na fronteira. A fronteira era uma grande cerca de metal, aproximadamente 3 metros de altura, em formato circular, era ela que mantinha separada as duas fases da nova NO.6. Shion correu até a guarita para se protejer da chuva.

“Boa tarde.” Disse cumprimentando os guardas. Era quatro e meia da tarde. Responderam-no com olhares ameaçadores, talvez estivessem pensando que ele viera implorar por passagem. No entanto, Shion se apressou e mostrou seu cartão de indentificação.

“Você é um morador?” Perguntou um dos guardas, o mais alto, se referindo a fase privilegiada da nova NO.6. Ele era moreno e usava o cabelo curto no estilo militar. Assim como os outros, usava o uniforme da polícia da cidade.

“Não.” Respondeu o jovem, sincero. Perdeu o título de morador de NO.6 no momento em que decidiu ficar contra o conselho. Após a queda dos muros Shion pensou que talvez as coisas pudessem mudar, mas a rápida instalação do conselho quebrou seu plano em pedaços. Os conselheiros foram precisos e coordenados, em um mês a cidade já estava da maneira que era no presente. Por ser um fugitivo da antiga NO.6 e também ter sido relacionado ao caso Elyurias o conselho pensou em prender Shion como traídor. A veradade porém era que o conselho também queria deixar esses tempos para trás, não desejavam a cidade idílica de volta assim como não viam o caso Elyurias como de todo ruim, afinal eles, os cidadões da antiga NO.6, foram os que mais se sentiram traídos quando descobriram as atrocidades cometidas no passado e eles também sofreram imensamente devido a elas. O que o conselho realmente não queria era se misturar, estavam felizes enquanto pudessem viver separados das pessoas do Distrito Oeste. Foi deixado claro que qualquer um que tivesse qualquer problema com isso seria cordialmente convidado a se juntar a outra fase, a menos abastada. Shion e sua mãe, que tinham ambos conseguido o direito de morar na fase central da cidade, o abdicaram prontamente e se juntaram a população do Distrito Oeste nos subúrbios . Porém, por ser um dos líderes da FLNN6 lhe fora concedido uma indentidade para que pudesse transitar livremente.

“Me deram um cartão para que pudesse comparecer a uma reunião na Moondrop” Completou Shion.

O guarda assentiu e lhe concedeu passagem.

Passou-se uma hora inteira para ele chegar à Moondrop, sua grande estrutura continuava impressionante como sempre e, naquele dia, a Moondrop estava uivando. O som era bonito, mas também era triste, trouxe recordações de um passado longíquo, um dia parecido como aquele. Chovia forte, a Moondrop também uivava. Mas aquilo... Fazia tanto tempo. Havia vezes que Shion se perguntava se aquilo realmente acontecera, se tudo não passara de um sonho. Mas bastava um olhar e ele voltava a se dar conta da verdade. NO.6 era uma cidade ferida, cheia de desigualdades. Era seu dever mudar isso, essa é a única verdade que ele precisava. O que levou a aquilo? Não importa, ele não importa. Devia se manter resoluto e manter a promessa que fizera a Safu. Ou morrer tentando.

Shion entrou no prédio e foi imediatamente questionado sobre seu destino, respondeu que dali quinze minutos tinha uma reunião com o conselho. Uma moça bonita que se indentificou como Sasha o levou até o banheiro para que Shion pudesse se secar. Feito isso ele entrou no elevador e subiu para o último andar da Moondrop, no qual ficava o Consilium Novi.



“Boa tarde, Shion.” A conselheira chefa, Marian, o comprimentou afetada como sempre.

“Boa tarde.” Respondeu o jovem, sorrindo inocentemente, o sorriso não chegou aos olhos, no entanto.

Shion comprimentou os outros presentes e se sentou na única cadeira vazia ao redor da lustrosa mesa quadrada que ocupava o centro da sala. As enormes janelas de vidro transmitiam um filme silencioso do que acontecia em seu exterior, eram a prova de som.

“Bem Shion, deve estar se perguntando o porque de ter sido chamado aqui não é mesmo?” Na verdade não, já sei o porque. “Bem, a situação é bastante alarmante.”

Shion, cansado desse jogo que jogavam havia muito tempo, encurtou a conversa:

“Vamos logo com isso Marian, me chamou aqui para negociar o boicote não é mesmo? Pois bem, sou todo ouvidos.” Marian contorceu o rosto.

Já havia quase três meses que a FLNN6 e o conselho discutiam essa situação, Shion já estava cansado. Cinco meses atrás a liderança da FLNN6 surgiu com uma nova ideia. Após a queda dos muros e a busca da população do recém destruído Distrito Oeste por auxílio, o conselho enxergou uma oportunidade bastante propícia surgindo. Com uma grande quantidade de pessoas surgindo, empregou a maior parte dos novos moradores em trabalhos relacionados a agricultura, pecuária e indústrias. Desde então esses trabalhadores passaram a ser o principal ponto de sustentação da cidade, responsáveis por mais de 50% da economia da nova NO.6. Diante disso foi decidido pela FLNN6 que haveria uma espécie de auto-boicote, era como se o subúrbio estivesse boicotando a si mesmo, ou seja, se fechando e cortando qualquer tipo de relação que tivesse com a parte central da cidade. Isso foi um golpe pesado para a fase privilegiada. Após o boicote, o subúrbio consolidou um comércio interno estável e auto-suficiente, não muito diferente dos tempos antigos, e o centro se decaiu cada vez mais.

“Vocês revogam o boicote e voltam a trabalhar como antes” Começou Marian “Em troca podem usar dos nossos serviços.” Como sempre, ela sua oferta beirava ao obsceno.

“Nós revogamos o boicote, voltamos a trabalhar, a cerca é derrubada, recebemos direito de voto e total acesso a política, nos tornamos cidadões dessa cidadade e podemos usufruir do que bem entendermos como qualquer um aqui dentro, essa é minha proposta, vocês a conhecem muito bem. Desejo o fim da cerca e o desmebramento desse conselho, o surgimento de um novo com pelo menos metade dos conselheiros sendo dos subúrbios, desejo igualdade entre todos, afinal também somos cidadões da nova NO.6 . Agora, com licença, tenho mais o que fazer.” Shion se levantou, toda cordialidade havia sumido, estava se dirigindo a porta quando Marion levantou a voz.

“Você é corajoso Shion, acha que estão no direito de fazer tal proposta? Com uma ordem do conselho podemos dizimar toda a população suburbana, não fizemos isso por que decidimos deixar esses tempos para trás, queremos violência tanto quanto você, mas se você não quiser cooperar, teremos que tomar atitudes mais drásticas.”

Shion sorriu, escarnioso.

“Não fale besteira Marian, de que adianta se o centro tem dinheiro, vão comê-lo por um acaso? Contratá-lo para realizar seus serviços? Nos oprima mais um pouco e qualquer solução se tornará impossível, nos sobreviveremos, estamos nos sustentando e você sabe disso, enquanto o centro decai cada vez mais, nós prosperamos. Já disse antes e repito. Vocês tem uma escolha, se salvar ou não. Escolha.” Dizendo isso, alcançou a porta e saiu.



“Maldita, tomara que se encha de pulgas”

Inukashi, Shion e Rikiga estavam sentados à mesa de jantar da casa de Shion, a sede oficial da FLNN6 para a alegria de Karan. O jovem tinha acabado de contar aos dois como havia se passado a reunião.

“Aquela galinha teimosa e fedida, como se tivesse poder pra alguma coisa. O centro tá uma ruína, não é como se eles tivessem uma opção.” Inukashi estava inconformada. Shion não conseguiu deixar de sorrir. Ver Inukashi tão determinada nessa batalha pela igualdade da nova NO.6 era realmente supreendente.

Rikiga, no entanto, parecia preocupado.

“E se ela fizer isso mesmo, digo, se ela usar a violência?”

“Fazemos o mesmo, agente destrói aquele grupinho de merda.”

“Isso não é tão simples Inukashi, se tem alguma coisa que eles ainda tem sobre o seu poder isso é a tecnologia. Nunca venceríamos uma luta direta contra eles. Se eles agirem rapidamente poderam nos dizimar antes mesmo de ruírem.

Shion ouviu atento, talvez Rikiga tivesse um ponto, mas... se o centro realmente atacasse, poderia sim sair vitorioso mas, como disse a Marian, isso seria a sua ruína, sem um suporte no qual se apoiar, a cidade acabaria.

Inukashi e Rikiga continuaram discutindo, Shion estava cansado, sua cabeça doía um pouco. A chuva havia piorado e agora era uma tempestade impiedosa. Pediu licença aos dois e disse que iria se retirar.

“Hey, Shion.” Inukashi o chamou antes que ele se fosse.

“Sim?”

“Podemos dormir aqui embaixo hoje? Essa chuva...você sabe.”

Shion sorriu, estranhamente tranquilo. “É claro que sim. ”

Subiu as escadas até o seu quarto e se atirou na cama, exausto. Mesmo assim tinha medo de dormir, ele sabia com o que, ou melhor, com quem, iria sonhar.

Cravat e Hamlet chiavam uma conversa acalorada.

Seus olhos se fecharam contra sua vontade.

Como todas as noites nos últimos cinco anos, sonhou com Nezumi.

Como todas as manhãs nos últimos cinco anos, acordou com os olhos marejados.

Mas, que idiota -


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Notas finais do capítulo

Novi: Novo em latim


Comentem, continuo, ou não?



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