What changed your mind escrita por raquelthehobbit


Capítulo 3
Faith equals fate


Notas iniciais do capítulo

Aqui já vai um capítulo grandinho, muito subjetivo e desvendador de Daryl auheahue. Espero que gostem!



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Era fim de tarde nos arredores de Atlanta. Começava a fazer frio por entre as árvores, o qual era agravado pelas sombras, e o ar seco ressecava a garganta.

As florestas perto do subúrbio eram tranquilas; havia um número reduzido de errantes comparando-se às grandes cidades e até mesmo a algumas áreas rurais. Apesar disso, o número de pessoas também era mínimo. Se estivessem percorrendo o caminho seis meses antes, certamente já teriam cruzado, no mínimo, com quatro ou cinco pessoas, porém, até aquele ponto, haviam cruzado apenas com uma, esta em seu último minuto de vida.

Três dias após deixarem Terminus, o grupo ainda possuia uma razoável quantidade de alimentos industrializados trazidos e encontrados pelo caminho. Além disso, haviam passado por leitos e cursos de rios límpidos, o que tornava a sede um problema a menos.

A principal dificuldade era a locomoção. Partir caminhando do sul da Georgia para Washington, DC, não era fácil, e desde o primeiro dia procuravam algum automóvel que ainda estivesse em boas condições, mas não obtiveram sucesso. Concluíram juntos que, nos arredores da capital do estado, seria mais provável encontrar qualquer tipo de condução com alguma serventia.

O grande grupo de sobreviventes andava cansado após um longo dia de caminhada.

— Não acham que é melhor pararmos por hoje? – perguntou Tyreese, dirigindo-se a todos que andavam próximos a ele.

— Ainda é cedo – respondeu Michonne. – Podemos caminhar por mais uma hora, eu acho. E então encontraremos algum lugar para passarmos a noite.

Aqueles que andavam por perto assentiram, concordando com Michonne, embora já ansiassem pelo fim da hora.

A mulher "samurai" dirigiu-se a Rick, que, ao lado de Gareth e Daryl, conduzia o grupo na trilha.

— Achamos que devemos parar em uma hora – avisou aos três. – Estamos ficando cansados.

Rick concordou, sem tirar os olhos do chão.

— Tudo bem por mim. A Judith deve estar com fome. Eu também estou.

Carol, que andava um pouco atrás, ouvindo o diálogo, aproximou-se:

— Em breve teremos de achar mais leite para a bebê. Só há suficiente para dois dias.

— Tudo bem – repetiu Rick. – Eu procurarei pela manhã.

Gareth olhou de Rick para Carol, e depois de volta.

— Desde que nada atrase nossa ida, certo?! – O olhar era frio, severo.

Ninguém respondeu, mas o olhar que Rick lançou a Daryl mostrava um sentimento óbvio: desconfiança.

O grupo continuou andando em silêncio.

Após aproximadamente uma hora, passaram a procurar um lugar para passar a noite, e pouco depois encontraram uma clareira. Fizeram fogueiras, tiraram alguns alimentos das bolsas e capturaram esquilos e coelhos; aquela era a ceia de jantar. Tinham algumas barracas de acampamento, sacos de dormir e camas improvisadas com panos, mochilas e grandes sacos plásticos.

Quando a noite se estabeleceu, muitos foram descansar. Apenas relaxar, fechar os olhos por algumas horas, recuperar a utilidade dos músculos, já que chegar ao estágio de sono profundo era raro naquelas condições. Daryl e Tara decidiram ficar acordados para vigiar o local de possíveis ameaças, fossem elas vivas ou mortas. Bob tentara dormir, o que não deu certo, então se ofereceu para acompanhá-los.

Daryl estava sentado na grama, encostado em um tronco, afastado dos outros dois, que conversavam sobre experiências pré-apocalípticas. Não tinha paciência para esse tipo de conversa. Estava perdido em pensamentos quando Maggie deixou a pequena barraca que dividia com Glenn e sentou-se ao seu lado.

— Ei – ela disse após um minuto.

— Ei – Daryl respondeu.

Permaneceram um tempo calados, ouvindo os murmúrios que vinham da conversa entre Bob e Tara, até que Daryl quebrou o silêncio.

— Não conseguiu dormir?

— Não – Maggie respondeu. – E o Glenn finalmente conseguiu dormir após várias noites em claro, então não quis acordá-lo. Afinal, que tipo de esposa seria eu?! – disse com um sorriso.

Daryl assentiu, apenas confirmando que havia ouvido o que ela disse. Ele sentia os olhos da moça cravados em seu rosto e via, de relance, a boca entreaberta, como se ela tivesse algo para dizer, mas hesitasse.

Ele estava certo. Ela começou a falar:

— Não conversamos muito desde que nos reencontramos, não é mesmo?! Você só me disse que estava com Beth. E que a levaram. Não foi isso?

Sentiu-se vazio.

A cena preenchia sua mente há semanas. Saiu da casa invadida por errantes deixando de lado seu pessimismo e querendo crer, com o coração disparado, que a garota havia saído dali viva e estava do lado de fora, esperando por ele. Mas nunca mais viu seu rosto. Viu apenas sua mochila largada no chão e um carro dando partida; nenhum sinal dela. Correu, gritou, não cansou até o sol surgir no céu. E então desabou.

Aquela madrugada era a única coisa em que pensava. Fora tirada dele a única coisa da qual tinha certeza que era, de alguma forma, sua. Mas não compartilharia seus sentimentos angustiantes com Maggie, se mal os admitia para si mesmo. Então apenas respondeu:

— Sim. Foi isso.

Maggie suspirou e assentiu.

— Eu queria conversar com você sobre isso. Não o fiz antes porque você parecia tão distante... E eu também não queria pensar muito nisso. Não queria descobrir se perdi minha irmã ou não.

— E o que você quer saber? – perguntou Daryl casualmente, tentando não demonstrar o seu receio.

A moça ficou de joelhos ao seu lado, parecendo ansiosa.

— Como aconteceu, Daryl? Como ela foi embora?

Ele claramente não queria conversar sobre o assunto. Fora egoísta, tinha de reconhecer, pois considerava sua angústia maior que a de qualquer outro. Só não queria reconhecer o motivo. Mas ele teria de dizer alguma coisa. Nos últimos dias, havia trocado mínimas palavras com todos daquele grupo, especialmente com Maggie, mas ela não merecia o seu aparente voto de silêncio. Era a irmã da jovem que estava desaparecida e, por isso, precisava de respostas.

— Estávamos em uma casa. Passando a noite, recuperando as energias. – Lembrou do cão e do infeliz erro que cometeu ao abrir aquela porta, mas se sentiu muito cansado para explicar cada acontecimento. – Muitos errantes acabaram invadindo o lugar, então mandei ela correr para o lado de fora enquanto eu também tentava sair. Quando consegui e fui ao seu encontro, não a vi. As coisas dela estavam no chão e um carro estava lá... Eles a levaram.

Parou para engolir em seco. Maggie continuava observando-o atentamente.

— Corri a noite toda. Tentei encontrá-la. Mas acabei no caminho de Terminus, sem volta. E aqui estamos nós.

Ele olhou nos olhos de Maggie. Percebeu que estavam úmidos e trêmulos, encarando-o de volta.

— Eu sei que é impossível dar uma resposta certa, mas, Daryl... Você acha que ela pode estar viva?

E esta era a pergunta a qual Daryl havia ignorado até aquele momento. Pensou muito em tudo que aconteceu, sem parar, incansavelmente, mas não havia pensado naquela pergunta. E não queria pensar. Mas não havia opção.

Hesitou antes de responder, mas quando começou, sentiu-se um pouco melhor do que antes estava:

— Aprendi com seu pai que não se deve perder a fé. Talvez ele estivesse certo.

Surgiu um sorriso nos lábios de Maggie no exato momento em que uma lágrima deslizava pelo seu rosto.

Permaneceram ali, imóveis, silenciosos, por alguns minutos, novamente ouvindo os murmúrios da conversa alheia, até que Maggie se pronunciou:

— Acho que tentarei descansar agora. – Pôs-se em pé, limpando as mãos na calça após tocar na terra. Olhou para o homem. – Obrigada.

Daryl a olhou e assentiu. Também agradeceu, mas apenas em sua mente.


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Notas finais do capítulo

Demorei para publicar este, me desculpem, mas nesse fds já postarei o próximo; prometo de pés juntos!