– Lass... Você... Vai me ajudar? – Disse Arme triste.

– O que eu não posso fazer é deixar você sozinha. Vai arrumar confusão.

– Eu não ia arrumar problema. – Disse fazendo biquinho. – Não sou tão criança assim.

– Sério? Quantos anos você tem? – Eu disse colocando a mão em cima da cabeça dela.

– Oito... Mas mudando de assunto, podemos começar hoje, ou só amanhã?

– Amanhã, hoje tenho coisas para fazer.

– Tipo...?

– Não é da sua conta.

– Fala Lass. Por favor, fala. – Disse ela segurando sua blusa e o olhando com uma cara triste.

– Você não vai me convencer com essa cara. – Eu disse olhando para o outro lado um pouco corado. Droga! Ela é muito fofa!

– Eu... Achei que fossemos amigos... Acho que depois de tanto tempo você me acha chata, né? – Disse ela soltando minha blusa e se afastando de cabeça baixa.

– Você tá triste só por causa disso?

– É que... Eu sinto como se eu não merecesse mais viver nesse mundo.

– Vem comigo. – Eu disse suspirando um pouco e depois ela sorriu.

– Obrigada Lass! – Por um momento eu fiquei muito feliz em ver seu rosto feliz.

– Nós vamos a um parque onde eu possa treinar... – Ela me cortou.

– Violino? Eu sempre gostei de você tocando! Eu também amo você tocando piano! – Disse ela com os olhos brilhando.

– Mas você não pode me atrapalhar, que nem quando éramos crianças.

– Eu não atrapalhava tanto assim. – Disse ela fazendo biquinho de novo.

– Você ficava pedindo toda hora para eu sorrir enquanto tocava.

– Mas um bom músico tem que sorrir para seus fãs!

– Lá vem você com isso de novo.

– Vamos logo! Quero ver você tocando! – Disse ela indo na frente.

– Você podia ser um pouco mais paciente.

– Mas se eu mudar, mesmo que seja pouco, eu não vou estar sendo eu mesma! – Ela disse sorrindo no final, e eu ri um pouco. – Qual é a graça?

– Se as pessoas pudessem pensar que nem você, eu não estaria assim.

– Hm? Como assim?

– Muita coisa mudou depois de você morrer, isso acabou alterando bastante minha vida. – Disse com um olhar para baixo.

– Lass... Não fica triste não... Mesmo que tenham mudado, tenho certeza que ainda podem fazer as pazes! – Disse ela sorrindo.

– As vezes tenho inveja da sua ingenuidade. – Disse rindo um pouco.

– E eu sinto falta de quando você ri. Você é sempre tão sério... Mas eu gosto do jeito que você é! Ainda bem que você não mudou!

Aquela frase... Alguma coisa aconteceu quando ela disse aquela frase, mas eu não sei o que é. Continuamos um pouco o caminho, mas quietos, então chegamos ao destino, e ela foi para um lugar perigoso, pois era um penhasco, ver ela lá não me deixou confortável.

– Vem Lass! Aqui é um lugar bom! – Disse ela sorrindo.

– Nós temos que ficar aqui?

– Qual é o problema Lass? É que aqui é um lugar bonito e refrescante.

– Se você quer, mas tome cuidado.

– Eu não vou me machucar.

– Ok. – Disse suspirando. Eu peguei o meu violino, mas fui interrompido.

– Lass, toca aquela que eu gosto?

– Você sabe que eu não sou muito boa nela.

– Mas eu quero que você toque e depois toque Swan Lake Waltz .

– Também não sou boa nessa.

– O que eu quero é que você toque! – Ela disse e eu suspirei.

– Está bem, eu toco. – Comecei a tocar Swan Lake de Tchaikovsky era uma música bem calma, eu não gostava dela, mas tocava pela roxinha. Mesmo não sendo boa nela, vi Arme sorrindo de olhos fechados aproveitando a música. Aquilo me deixou muito feliz. A música acabou e ela começou a aplaudir.

– Não sei como consegue dizer que não é bom, está perfeita! Mesmo não carregando os sentimentos da personagem, é o jeito que você toca, é isso que eu gosto! – Eu acabei corando com o que ela disse.

– Não que eu seja apressada, mas eu gostaria que você tocasse a outra.

– Claro. – Esta música ela é um pouco mais rápida que a outra, eu acho que sou melhor nessa do que na outra. Tentava tocar da melhor maneira possível, queria agradar ela. A música finalmente acaba e ela começa a aplaudir.

– Lass você melhorou! Eu estou muito feliz, isso... Me dá nostalgia... Dos tempos antigos... – Disse ela chorando um pouco.

– Arme, por que você está chorando?

– Eu... Eu... Só queria voltar naquela época... Queria ter ficado com você... Com os outros... Se eu não tivesse sido idiota... – Disse chorando ainda mais.

– A culpa não é sua Arme! A culpa é minha... Eu devia ter te protegido, foi isso que eu combinei com os seus pais.

– Você não tem culpa... Você tentou... Eu te vi, lá em cima tentando me pegar enquanto chorava, eu estiquei minha mão, mas não adiantou nada... Nada. – Seu rosto estava vermelho de tanto chorar, que acabei abraçando ela.

– Está tudo bem. Não precisa chorar, a culpa não foi sua. – Ela me abraçou também.

– Obrigada Lass... Obrigada.

– Hm... Tem alguma coisa que eu possa fazer para você sorrir?

– Compra sorvete pra mim?

– Como fantasmas sentem gostos?

– Os fantasmas que vocês conhecem são muito diferentes dos reais. Eu posso sentir gosto, sentir as coisas e outras coisas.

– Entendo. Bem, eu vou lá.

– Obrigada. – Ela sorriu.

– Não precisa ficar agradecendo, não somos amigos? – Ela sorriu mais ainda. Aproveitando que tinha um carrinho de sorvete, corri um pouco para comprar. Eu tive sorte, a fila não estava muito grande. – Eu quero um de baunilha e um de chocolate.

– Certo. – Se virou para pegar o sorvete. – Aqui está.

– Obrigado. – Disse entregando o dinheiro. Aproveitando que não tinha ninguém perto da Arme, me apressei e entreguei o sorvete para ela.

– Como sempre, você sabe o sorvete que eu gosto! – Disse ela feliz lambendo o sorvete.

– Como eu não poderia saber? Você todo dia ficava pedindo sorvete de baunilha.

– Mas é o melhor! Baunilha é muito gostoso!

– Ainda prefiro chocolate.

– Me da um pouco do seu?

– Você não tem o seu?

– Mas eu gosto do de chocolate também.

– Você não acabou de dizer que o de baunilha é o melhor.

– Mas... – Depois disso eu comecei a ignorar um pouco. Ela ficou falando por um bom tempo, o que acabou me irritando um pouco. - Se eu der um pouco de baunilha, você me da um pouco de chocolate?

– Aqui. – Disse suspirando, mas ela deu um grande sorriso.

– Obrigada! Aqui Lass! – Disse ela entregando o de baunilha. Eu tomei um pouco do de baunilha e olhei para ela, sua boca estava completamente suja de chocolate. Eu ri um pouco e peguei um pano.

– Sua boca está toda suja. – Disse limpando sua boca.

– Obrigada. – Ela disse com uma risada sem graça.

– Bem, acho melhor voltarmos, já está escurecendo. – Eu disse me levantando.

– Ok! Ah, Lass, podemos visitar a Elesis ou a Lire amanhã?

– Acho melhor não...

– Por quê? Nós fomos sempre tão bons amigos!

– Arme, tudo mudou... Tudo. – Disse com um olhar frio e triste.

– Lass... Para, tá dando medo... – Disse ela quase chorando.

– Não podemos fazer nada, eu mudei também, igual a todos. Arme, não ache que tudo pode voltar a ser como era antes.

– Eu sei... Mas... É tão doloroso, todos mudaram por minha causa... – Ela estava se contendo para não chorar.

– Bem, vamos logo, não quero voltar tarde para casa.

– Ok...

A volta foi completamente silenciosa, Arme estava andando um pouco lento, mas sempre que se afastava corria um pouco para me alcançar. Finalmente tínhamos chegado em casa, guardei o meu violino e fui preparar uma cama separada para Arme.

– Lass, eu posso muito bem dormir no sofá, não precisar pegar colchões.

– E você não precisa dormir no sofá. Mesmo você sendo um fantasma, não posso tratar um visitante assim. – Eu disse entrando no meu quarto.

– Então tá.

Eu arrumei a cama dela rápido, como era noite, ela dormiu rápido. Eu apenas fiquei nos meus pensamentos, não conseguia dormir. Por que eu só sou diferente com ela? Ela é só uma criança, uma amiga de infância morta. Mas qual será o desejo dela? Fazer com que todos estejam juntos novamente? Possivelmente, mas ainda acho que não é isso. E também... Por que ela quis que apenas eu pudesse ver ela? Parece que Deus quer que eu nunca me esqueça do trauma. Bem, acho melhor eu esquecer esses pensamentos e ir dormir, tenho aula na faculdade amanhã. Talvez, eu descubra mais sobre isso ao longo do tempo.