Picking Myself Back Up escrita por Lucas C


Capítulo 1
Picking myself back up


Notas iniciais do capítulo

Então, eu tive a ideia para essa fiction há um certo tempo. Pra ser mais exato assim que eu ouvi o álbum Prism da Katy Perry. A música By the grace of God me inspirou bastante.

Recomendo que escutem algumas músicas da Katy Perry enquanto leem:

Not Like The Movies, The One That Got Away, By The Grace Of God, I'm Still Breathing, Wide Awake, Part of Me...



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— Liza, você tem noção do que diabos tentou fazer? – minha irmã me perguntou encarando-me com uma expressão mista entre fúria e preocupação.

Eu olhei para a baixo envergonhada pelo o que eu acabara de fazer e não conseguia encarar os grandes olhos verdes e acusadores de Angelina. Fiquei notando o padrão em que a logomarca da clínica aparecia no lençol que cobria o meu corpo.

— Elizabeth Huddleson – ela disse séria e levantou o meu queixo com sua mão macia e tive que encará-la de qualquer jeito. Sabia que a coisa era muito séria por que ela nunca me chamou pelo nome completo antes, sempre fui Liza para ela. — Quero que me prometa que nunca mais vai fazer isso.

— Eu prometo – falei sem convicção. O impulso que me levou a fazer aquilo poderia muito bem voltar e realizar a mesma façanha outra vez. Eu perdi o controle uma vez... Não sei se já o recuperei totalmente.

— Eu quero convicção. – ela disse daquele jeito sério que lidamos com crianças quando elas fazem bagunça e não querem saber ou admitir o que fizeram de errado.

— Eu, Elizabeth Huddleson, prometo... – a voz falhou, eu engoli o excesso de saliva e tentei terminar a frase. Respirei cada vez mais fundo e quando abri a boca foi para chorar de desespero.

As lágrimas desciam como um rio de água quente e salgada, um bolo enorme estava formado em minha garganta, a respiração descompassada, as mãos tremendo. Minha irmã me abraçou com toda a sua doçura e o instinto maternal que ela possuía desde pequena. As memórias do acontecimento vieram à tona

***

Eu estava cansada de toda aquela tristeza me consumia de dentro pra fora com garras afiadas dilacerando a minha alma agora tão frágil. Nunca me senti tão morta em toda a minha vida. Tudo estava se tornando triste, apagado e sem cor. O meu mundo havia ruído há muito tempo e eu só me dava conta disso agora.

Minha vida tinha ido embora e só restou uma feia casca ocupada pelo vazio e pelas cadeias da depressão. Tudo o que eu desejava era me libertar...

***

Lembro-me com exatidão do meu chefe me chamando para a sua sala, o que era visivelmente um mau sinal. Eu estava sendo uma péssima funcionária. Não consegui vender nenhum imóvel nos últimos meses e fui transferida para o setor administrativo por pura caridade do meu patrão e estava exercendo o papel de secretária. O salário era menor por que eu não receberia nenhuma gorda comissão, mas eu não sabia o que era uma boa comissão há um bom tempo. Todas as minhas vendas foram frustradas e eu já poderia ter sido demitida milhares de vezes.

Eu era uma secretária como qualquer outra que havia ali. Só precisava separar papéis, enviar documentos pelo correio, fazer telefonemas e agendar reuniões. Eu não era a única naquela função em nosso setor, então meu trabalho nem era muito difícil. Contudo, a minha inutilidade e falta de talento foi muito maior que isso e nem uma boa secretária eu pude ser. Todas as outras meninas davam de dez a zero em mim.

Nunca fui muito útil... Quero dizer, eu nasci sem talentos. Não me encaixava em nenhum dos grupos do colégio, não participei de nenhuma rodinha de amigos e não cheguei nem perto de cursar a faculdade. Eu sempre fui uma garota comum. Cabelos negros, tez clara, grandes olhos azuis e seios avantajados. Minha única qualidade talvez fosse ser bonita. Um pouco bonita, eu não era linda. Nunca seria uma modelo ou uma miss universo. Não havia essa possibilidade.

Eu saí da casa dos meus pais por que não aguentava mais os comentários maldosos dos vizinhos que diziam que eu era uma imprestável e uma vadia por que não tive nenhum namorado fixo. Naquele tempo, eu gostava de ficar com vários meninos por que eles sempre me faziam sentir especial, mesmo que eu não fosse. Isso era até o sexo, depois eu era mais uma qualquer. Ignóbil... Sem importância alguma.

Cheguei à cidade grande e consegui um emprego bom e uma amiga com quem dividir o apartamento. Achei que a minha vida finalmente fosse mudar. Realmente foi uma ilusão bem doce e agradável. Parecia um sonho adolescente. Era como se eu tivesse me tornado uma adulta linda e bem-sucedida como nos devaneios naquela cidade minúscula. Era uma pena que os meus sonhos eram feitos de uma base tão consistente quanto nuvens e algodões doces que com apenas um sopro ou uma mordida tudo estava acabado.

Eu ainda me considerava feliz quando ele apareceu. Era um cliente muito bonito, que estava afim de um grande e caro apartamento e aquela seria uma das minhas primeiras vendas como corretora. A oportunidade era perfeita.

Seu nome era Edward Brams e era um músico muito conhecido na região pelas suas músicas de blues-rock. Eu já o vira tocando num pub bem frequentado da cidade e ele era bom naquilo que fazia. Achei incrível o quanto de talento que ele possuía em contrapartida comigo, mas deixei essas meditações de lado para realizar a venda perfeita. Ele era muito perfeccionista e o processo demorou bastante já que ele parecia trocar de imóvel cada vez que estávamos próximos de fechar o negócio. Depois de um tempo, notei que conversávamos quase todos os dias e às vezes escapávamos do assunto principal e falávamos de nossa vida pessoal.

Ficamos assim até ele fechar o negócio. Eu fiquei muito feliz por que era uma grande venda e eu conseguiria prestígio na firma. Quando estava marcando de sair com a minha amiga, Charlie, eu recebi um telefonema de Edward me chamando para sair para comemorarmos a negociação. Charlotte, que ficou mais animada com o encontro do que eu mesma, disse para eu aceitar e assim o fiz. Ela fez questão de arrumar minuciosamente para que eu estivesse perfeita para o momento.

Eu lembro muito bem que o encontro foi o melhor de toda a minha vida, não era um romance adolescente e bobo, era um encontro de verdade com direito a jantar em um restaurante caro, champanha, buquê de flores e tudo mais. Ed, como gostava de ser chamado, era muito simpático e charmoso. Tinha os cabelos ondulados e negros que davam no ombro, olhos escuros e pequenos, um sorriso lindo. Senti-me muito confortável e feliz em sua presença. No mesmo dia nos beijamos e ele me pediu em namoro. Mesmo sendo tudo muito recente, senti que eu estava fazendo a escolha certa. Algum tempo depois notei que eu tinha um dedo podre para homens.

Vivemos nossa vida de casal feliz e nos casamos numa cerimônia linda no Havaí. Cada momento era mágico e as coisas estavam se encaixando perfeitamente. Erámos só amor o tempo todo e as músicas deles estavam cada vez mais apaixonadas, românticas e emocionantes. Ele atingiu um sucesso inimaginável com sua música Liza, em minha homenagem. Ed alcançou fama nacional e não levou muito tempo para que fosse conhecido também em outros países. Não podíamos estar melhores.

As coisas começaram a mudar bastante quando ele saiu em uma turnê enorme em que ele cruzaria o país inteiro e ainda passaria pelo Canadá e algumas nações da Europa. O sucesso dele tinha vindo tão rápido que não conseguimos acompanhar. Descobrimos que os paparazzi existem de verdade e não são criaturas míticas e sim uma criação bizarra da mídia. Ele passou a cantar em grandes festivais de músicas e conseguiu um Grammy até. Eu continuava com as minhas vendas na firma, mas eu estava muito mais feliz do que antes. Todos comentavam que eu estava rutilante. Eu até comecei a pensar em ter filhos. Eles seriam o fruto do mais belo amor.

Aprendi que ser casada com um cantor famoso não é só ter o que muitas mulheres brigariam para possuir. É ter que suportar ele chegar exausto em casa, termos rotinas trocadas impedindo encontros, viagens longas que atrapalham o seu relacionamento, folgas raras para os dois. Notei que o nosso relacionamento estava começando a ficar chato e a definhar, entretanto eu não podia admitir que isso acontecesse, por isso negava a mim mesma com todas as minhas forças. Fiz de tudo para salvar o meu casamento, embora eu não admitisse que ele estivesse em crise. Para mim mesma, eu dizia que só estava fortalecendo nossa relação. Como eu era tola e mentirosa! E o pior... Eu mentia para mim mesma e ainda acreditava naquilo.

A distância entre nós só aumentava a cada dia, mas o laço foi rompido completamente quando eu peguei Edward e Charlie juntos na cama. Foi uma sensação de traição inexplicável. Duplamente traída pelo meu marido e por aquela que se dizia minha melhor amiga para sempre. O divórcio foi inevitável. Eu já tinha encontrado algumas evidências estranhas como marcas de batom e perfume feminino, mas achei que eram dos ataques das fãs malucas.

Divorciar-me foi uma experiência muito chocante. Como uma verdadeira romântica, achei que o meu casamento seria como nos filmes onde tudo é perfeito e maravilhoso. Aprendi na pele que a perfeição não existe. Sempre terá um lado obscuro e feio em todas as coisas. Admitir que meu relacionamento não deu certo foi muito difícil para mim. Aceitar que todo o amor que dera a alguém foi praticamente em vão também foi muito triste.

Foi então que a minha não tão promissora carreira como uma pequena corretora de imóveis desceu pelo ralo do banheiro. Minha tristeza e o meu ódio me impediam de trabalhar. Qualquer coisa que eu fazia era feita sem nenhum capricho ou esforço para tornar as coisas melhores. Eu não sentia mais nenhum prazer no meu trabalho. Fui trocada de cargo, mas isso continuou da mesma maneira. Na verdade, ainda pior por que eu me preocupava menos com a comissão e passei a não me preocupar com nada.

Ouvi o telefone de minha mesa tocar e eu atendo assustada com o som irritante do aparelho. Escuto a voz do senhor May do outro lado da linha pedindo que eu vá ao seu escritório. Sua voz não parecia muito feliz ou animada. Assemelhava-se ao tom de alguém que tem que dar uma má notícia. Naquele momento, eu tinha absoluta certeza que eu iria ser demitida.

Passei a mão pela saia e ajeitei o meu blazer que estava meio torto. Suspirei pesadamente e me levantei. Juntei o que restava de orgulho e dignidade e caminhei com o queixo erguido para a sala do chefe. Ouvi os sussurros das colegas de trabalho fofoqueiras, mas não tive nenhuma curiosidade de saber o que falavam. Provavelmente da minha futura demissão. Aquele lugar estava infestado de serpentes peçonhentas que só queriam engolir a outra, entre elas Charlie com quem eu era obrigada a encontrar no serviço e a quem eu ignorava e lançava olhares de desprezos. Ela até tentou se explicar e reconciliar a nossa amizade, mas eu não voltaria a confiar nela. Talvez eu a perdoasse algum dia, mas com certeza nunca voltaria a confiar nela. É difícil conseguir a confiança de alguém, mas quebrá-la é uma tarefa muito fácil. Não dá pra passar cola nos cacos e dizer que está tudo bem.

Abri a pesada porta de ébano que tinha uma placa metálica escrita: Presidente Clayton May. Ao contrário do que eu imaginava quando ouvi apenas o seu nome, Clayton não era um velho chato e ranzinza; na verdade, ele era bem novo. Herdou a empresa do pai falecido e fez a firma ressurgir das cinzas como uma fênix. Praticamente todas as mulheres da firma queriam transar com ele... Não só por que ele é bonito e sexy, mas também por causa de uma promoção no emprego. Quase todas queriam subir de cargo e não medem meios para consegui-lo. Qual cargo melhor do que ser a mulher do patrão? É bem costumeiro ver alguma garota abrindo o decote quando ele passa ou se jogando para cima dele com caretas que deveriam ser sensuais. Eu não ligava para nada disso. Há um bom tempo que eu não ligava mais pra nada.

— Senhorita Huddleson! – ele me cumprimentou. A primeira coisa que eu cuidei após o divórcio foi o retorno do meu nome de solteira. Não queria nenhuma relação com Edward nem a sua família.

— Olá, senhor May – eu sempre falava o mínimo possível com o patrão, pois me sentia muito envergonhada em saber que eu ainda estava lá só por causa da boa vontade dele. Estendi a mão para ele, o meu chefe se levantou e apertou a minha mão com firmeza e leveza simultaneamente. Lembrei-me do motivo do assanhamento das minhas colegas de trabalho. Ele era alto, com um metro e oitenta e oito aproximadamente, cabelos castanhos escuros e lisos, olhos castanhos claros, a expressão séria, porte elegante e charmoso, corpo levemente trabalhado valorizado pelo sua blusa social branca e o colete justo, além dos lábios tentadores.

— Sente-se, por favor – ele pediu apontando uma cadeira de couro negro e detalhes metálicos posta em frente à mesa de ébano dele coberta por algumas pastas e papéis, uma pequena escultura pós-modernista e o computador moderno. Percebi também que o cheiro amadeirado de seu perfume era bem forte.

— Por que me chamou aqui, senhor May? – fui direta ao assunto. Não queria mais delongas sobre aquilo. Se fosse me demitir, que demitisse de uma vez por todas.

— Por favor, me chame de Clayton, Elizabeth. – ele pareceu mais cordial e tentou estabelecer alguma relação de amizade comigo. Não que eu achei que isso fosse dar muito certo.

— Se assim prefere, Clayton – dei de ombros.

Ele entrelaçou os dedos de ambas as mãos e depois as separou. Parecia um pouco nervoso pelo que notei como ele trocava de posição constantemente, não me olhava nos olhos e tentava folgar a gravata. Parecia que ia falar alguma coisa e desistia no caminho.

— Algum problema? – perguntei arqueando uma das sobrancelhas.

— Não – ele disse rapidamente. Eu tive certeza que ele estava nervoso por algum motivo que eu ainda não tinha conhecimento.

— Você vai me demitir, Sr. May? Por que se for fazer isso, acho melhor que me demita de uma vez e pare de procrastinar. – fui direta. Embora eu não demonstrasse muito, eu também estava muito nervosa com aquela conversa.

— Não! – disse outra vez. Esperava que ele parasse de me responder com uma única palavra

Suspirei profundamente e cruzei os braços em cima do meu busto, também cruzei as pernas e comecei a balançar o pé. Eu estava ficando cada vez mais irritada com aquele momento tenso.

— Eu estive notando que você teve uma queda significativa no seu rendimento e isso preocupa a empresa...

— Por isso, decidiu me demitir – era uma afirmativa saída da minha boca.

— Agora, quem está atrapalhando é você – comentou indignado e eu me calei assim que percebi o meu erro. — Percebi que você anda muito estressada e por isso estou lhe dando as suas férias agora.

— Férias? – não acreditei no que tinha ouvido.

— Sim. Você precisa relaxar e assim vai poder voltar renovada para o emprego e ser a boa funcionária que eu sei que você é. – achei aquele comentário até um pouco cômico, mas me contive para não rir de minha própria desgraça.

— Obrigado – eu disse para ele enquanto me levantava. Arrumei minhas coisas e saí da empresa. É claro que eu fiz questão de sair com um sorriso falso para as jararacas não ficarem se vangloriando da minha saída da empresa.

Embora, eu tivesse recebido férias, tinha quase certeza que seria demitida. Provavelmente, ele estava me dando férias por causa de legislação trabalhista ou algo do tipo. Não poderia ser demitida se eu estivesse com férias atrasadas. Tinha quase certeza que assim que voltasse entraria no mês de aviso e então seria despejada no meu emprego.

***

Eu estava desnorteada. Não sabia para onde eu iria até por que eu não queria essas férias primeiramente. Peguei um táxi e fui para casa. E assim foi a primeira semana... Eu fiquei em casa, assistindo televisão, tomando sorvete e chorando da minha desgraça. Chorar era algo que me aliviava imensamente, embora eu ficasse com dor de cabeça às vezes. Eu achava que chorar iria levar nas lágrimas toda a minha tristeza e sofrimento.

Até que um dia, Charlotte resolveu me visitar. Eu ouvi a campainha tocar, falei para esperarem e fui lavar o rosto na tentativa de disfarçar os meus olhos inchados. Quando eu abri a porta e apareceu Charlie, uma fúria se apoderou de mim e eu tentei fechar a porta com toda a força, mas ela se colocou entre a porta e o batente e usou suas habilidades de carateca para forçar a porta e entrar.

— Sua vadia! Não te quero na minha casa!

Soltei um grunhido e perguntei o que ela estava fazendo ali.

— Eu só quero pedir desculpas.

— Certo. Já pode ir – falei rude.

— Estou falando sério, Liza. – ela suspirou — Eu... Eu não queria fazer aquilo.

— Não foi o que pareceu. Você parecia bem satisfeita transando com o meu homem.

— Ele não é mais seu de qualquer maneira. Foi uma sequência de fatos.

Eu comecei a rir da cara dela. Ela só podia estar brincando. Resolvi sentar no banco alto do balcão da cozinha.

— Depois do seu casamento, eu e Ed ficamos mais próximos nos tornamos amigos mesmo. E então aconteceu toda aquela explosão de fama na carreira dele e você passou a ser uma das melhores vendedoras de toda a firma. O relacionamento de vocês estava ficando cada vez pior e Ed conversava bastante comigo como ele estava triste por vocês não passarem muito tempo juntos e falou da vida íntima de vocês...

— Cachorro! Um dia eu ainda mato ele! – falei com raiva socando o granito do balcão.

— Continuando... Ele estava se solitário e sentia falta de ser amado. Eu sempre o achei muito bonito desde que vocês começaram a namorar e acabou acontecendo.

Eu esperei ela terminar, mas ela já tinha terminado sua fala. Encarei-a com raiva.

— Como assim aconteceu?! Você era minha melhor amiga! Deveria ser fiel a mim – eu levantei e o meu tom de raiva só ia aumentando.

— Liza, foi sem querer. Quando eu percebi, já estava na cama com ele e...

— Por favor, me poupe de detalhes, sua vadia! – falei esbofeteando a face dela.

Charlotte não acreditou no que eu havia feito. Ela nunca tinha me visto tão furiosa.

— Eu não acredito que você fez isso. O que está acontecendo com você, Liza?

— Saia daqui! – eu gritei a empurrando para a porta. Abri a porta e joguei-a para fora.

— Espero que você me perdoe um dia.

— Eu odeio você! E odeio o Edward também!

***

Depois de Charlotte ter saído, eu fiquei chorando na cama agarrada a um travesseiro que eu espancava e abraçava às vezes. Lembrei-me do que minha mãe dizia... Que o oposto do amor não é o ódio e sim a indiferença, porque mesmo odiando ainda nos importamos com a pessoa. E isso me magoou ainda mais.

Notei que a minha vida era uma droga e que ninguém mais se importava comigo. A minha vida era algo insignificante e eu nunca fui tão importante assim. Eu era completamente descartável. Por que uma pessoa sem talentos deixaria grandes marcas no mundo?

Eu sempre me apoiei em outras pessoas. Sempre fui a sombra, aquela pessoa que só serve para dar volume a um grupo... Um figurante. Eu era uma casca vazia. Eu tinha certeza que ninguém sentiria a minha falta, por que continuar neste mundo cruel? Eu não deveria ter nascido.

Minha mente me bombardeou com memórias que eu tinha da minha infância. Lembro-me de ouvir a minha conversando com minha tia sobre mim. Ela falava coisas que naquela idade eu não entendia, mas agora que estava adulta tudo vez sentido. Ela não me queria. Já tinha uma filha e um filho perfeito como ela sempre sonhou. A renda da casa era curta e não poderiam sustentar outra criança. Mamãe tinha mentido para o meu pai dizendo que tinha ligado as trompas impedindo-a de ter filhos também. Minha mãe tentou me abortar. Eu não deveria ter nascido. Ninguém nunca me quis.

Decepcionada demais com a condição deprimente e horrível em que me encontrava, eu decidi acabar com a garrafa de uísque que Edward esquecera no nosso apartamento e que ele não voltou para buscar. Eu não tinha muito costume de beber, mas eu queria esquecer tudo aquilo.

Tomei a garrafa sozinha de goles em goles e eu fiquei ainda mais louca. Peguei um pote de remédio calmante controlado e o abri. Liguei para alguém e falei uma série de coisa das quais não me recordo e virei todo o vidro, engolindo todos os comprimidos. Não levou muito para que eu apagasse.

***

Eu estava finalmente me acalmando nos braços da minha irmã e a minha respiração estava voltando ao normal. Eu encharquei a blusa dela de lágrimas, mas ela não pareceu se importar. Ela me deu o copo de água que estava na bancada e eu bebi devagar tomando cuidado para não engasgar.

Um médico acompanhado de uma enfermeira surgiu e conversou com a minha irmã. Ele disse que eu precisei passar por um processo de lavagem e desintoxicação e que eu precisaria fazer consultas semanais com um psicólogo. Angelina assinou alguns papéis e logo eu estava no carro da minha irmã indo para a casa.

— Estamos indo para casa, certo? – perguntei a minha irmã

— Sim. Vamos para a nossa casa.

— Nossa casa? Você está falando de mamãe e papai?

— Claro. Não posso mais te deixar sozinha.

Eu fiquei olhando a paisagem pela janela do carro e vi o clarão de um relâmpago. Depois ouvi estrondos de trovões e a tempestade começou.

— Liza, por que você não está usando o cinto de segurança?

— Desculpa – eu me desculpei colocando o cinto.

Angelina passou a viagem quieta e eu fiquei olhando as gotas descerem pelo vidro enquanto eu chorava silenciosamente. Eu nem sei se eu queria estar viva ainda. Acho que se meu plano tivesse dado certo, tudo estaria melhor. Provavelmente liguei para minha irmã ou para algum parente e deve ter sido assim que eu fui parar no hospital.

Após uma hora e meia de viagem eu vi o letreiro indicando que a minha cidade era logo à esquerda. Desde que eu fui para a capital nunca mais visitei minha antiga casa. Ou meus pais iam me visitar ou a gente se encontrava na casa de Angelina nas datas festivas ou então na casa do Damon.

Minha irmã estacionou o carro em frente a nossa antiga casa e descemos do carro rapidamente para a varanda para não pegarmos muita chuva. A última coisa que queríamos era ficar resfriada. Mesmo que eu tenha ouvido falar que se você correr na chuva molha mais do que andar normalmente, corremos ainda assim por impulso.

Angelina tocou a campainha e o meu pai veio atender a porta. A careca dele brilhava mais do que nunca.

— Ana, Lina e Liza estão aqui! – gritou meu pai para dentro da cozinha e nos abraçou.

— Oi, pai. – dissemos simultaneamente, mas com entonações diferentes. Não estava muito feliz em revê-lo porque estava com vergonha do que eu havia feito.

Ele abriu um guarda-chuva e pegou as minhas malas no fundo do carro enquanto mamãe vinha nos cumprimentar e tirar nossos casacos molhados.

— O que aconteceu? – meus pais perguntaram em uníssono. Não era normal fazermos visitas a eles, principalmente nessa época do ano, ainda mais numa quinta-feira.

— Liza, por que você não tira essa roupa molhada e toma um banho? – minha irmã estava me tratando como uma criança, mas eu não discuti.

Subi as escadas com as minhas bagagens e entrei no quarto em que eu e Lina costumávamos dormir. Abri a mala e peguei os itens necessários para o meu banho. A água estava quente e agradável e acabei demorando bastante. Angelina bateu com força da porta se estava tudo bem e eu disse que já estava saindo. Quase caí ao sair da banheira por causa do excesso de vapor dentro do banheiro. Coloquei um roupão e enrolei uma toalha nos cabelos molhados.

— ‘Tá tudo bem – eu disse assim que abri a porta — A água estava muito agradável

Eu me vesti e desci para jantar. Pela conversa percebi que meus pais já sabiam do que havia acontecido e eles também estavam bem receosos. Depois do jantar e depois de me dar um milhão de advertências, Angelina foi embora.

Confesso que eu não queria estar em casa com os meus pais. Principalmente depois de entender que eu sofri uma tentativa de aborto. As minhas férias estavam seguindo do mesmo jeito que antes. Eu continuava inútil, assistindo televisão, comendo bastante e chorando no meu quarto. A diferença era que agora eu tinha que lavar os pratos e regar as plantas porque minha mãe se incomodava com o fato de estar parada. Eu passava bom tempo com a minha mãe, mas eu não conseguia falar com ela. Não sei se eu poderia perdoá-la depois do que ela me fizera. A única vantagem de estar em casa novamente era poder conversar mais com o meu pai.

Era final de tarde do sábado e os meus pais queriam sair para dançar como eles fazem quase toda semana no sábado à noite, mas não queriam me deixar sozinha. Eu não queria atrapalhá-los então resolvi sair antes. Tomei meu banho e vesti um vestido folgado e sapatilhas. Eu só fiz aquilo por causa dos meus pais já que eu não tinha vontade nenhuma de sair de casa. Avisei para eles que ia dar uma volta.

Fiquei andando a esmo pela cidade e de cabeça baixa. Eu não tinha saudades daquele lugar. Percebi que muitos estavam me encarando e cochichando sobre mim. Provavelmente o boato já tinha se espalhado sobre a filha divorciada e suicida dos Huddleson.

Acabei entrando num parque e me encaminhei para o playground. Sentei no balanço e comecei a balançar devagarzinho. Lágrimas caíam do meu rosto ao me lembrar da minha doce infância. Uma garotinha apareceu do nada e sentou ao meu lado.

— Oi! – ela falou sorridente.

— Oi, garotinha! Onde estão os seus pais?

— Eles estão ali atrás. Disseram que eu podia vir na frente. Qual o seu nome?

— Eu sou Elizabeth, mas quase todo mundo me chama de Liza.

— Meu nome é Alice, mas todo mundo me chama de Alice mesmo.

Eu ri com a graça da garotinha de cabelos loiro-acobreados e olhos verdes.

— Você estava chorando? – ela perguntou com inocência

— Não é nada – eu disse enxugando os olhos marejados.

— Por quê?

— Eu estou um pouco triste.

— Por quê? – eu já tinha esquecido como as crianças gostam de fazer perguntas.

— Eu tinha um marido, mas ele me deixou. Eu gostava muito dele... Acho que é por isso que estou chorando.

— Nossa! Quantos anos você tem? – ela indagou com os olhos arregalados.

— 27. Por quê? – eu perguntei dessa vez.

— Você não parece alguém que já se casou.

— Obrigada... Eu acho – ri com o comentário dela.

— Mamãe vive me dizendo que chorar não é muito legal. Ela disse que sorrir é muito melhor. Por que a gente não brinca no balanço. Eu adoro brincar no balanço – a menina disse sorridente.

— Eu também gostava de brincar quando era mais nova.

— Legal! Você pode me empurrar? – ela pediu graciosamente.

Eu me levantei e comecei a empurrar com leveza para o brinquedo fazer seus movimentos de vai e vem. Ela dava gargalhadas de prazer e não pude evitar rir também.

— Mais forte! – ela pedia

— Não! Você vai cair desse jeito.

Um casal apareceu e pelo rosto pude notar as semelhanças de Alice com o rosto deles. Parei de empurrar e o brinquedo foi perdendo força até parar.

— Alice, vamos! – gritou o pai dela.

— Já vou! – ela respondeu de volta.

Ela abriu os braços, eu me abaixei e a abracei com força.

— Tchau, Liza! Fica com Deus! – ela disse acenando para mim enquanto ia embora.

Olhei para o meu relógio e vi que estava na hora de eu ir embora também. Voltei pelo mesmo caminho, mas de cabeça erguida. Alice tem razão. Sorrir é bem melhor que chorar. A última fala dela ficou ecoando na minha mente. “Fica com Deus”. Eu costumava ir sempre à igreja com os meus quando era mais jovem, mas quando eu me mudei eu meio que deixei Deus de lado. Será que isso tudo foi um castigo? Ou só foram as coisas acontecendo naturalmente? Assim que cheguei a minha casa e subi para o meu quarto e peguei a bíblia que ficava dentro da primeira gaveta do criado mudo. Tentei ler alguma coisa, mas minha mente estava turbulenta demais para isso. Desci as escadas, tomei um chá, escovei os dentes e deitei. Tentei fazer uma daquelas orações pomposas que eu ouvia na igreja quando era pequena, mas não deu muito certo. Resolvi então só conversar com Deus.

***

Acordei bem cedo no domingo pela manhã, tomei um banho e fui para a cozinha. Eu tinha acordado com vontade de cozinhar panquecas e eu sentia saudade de cozinhar mesmo que para mim mesma. Eu não sou nenhum mestre-cuca, mas o que eu faço também não é uma gororoba. É comestível. Aproveitei que já estava na cozinha e preparei o café da manhã dos meus pais. Não levou muito para que eles descessem e ficassem animados com o cheiro de comida.

— Você cozinhando? Achei que nunca mais fosse ver isso em minha vida! – minha mãe ironizou. Ela ficou abismada quando um dia disse que eu não cozinhava para Ed e que nós comíamos em restaurantes ou o que nossa antiga empregada fazia o almoço.

— Filha, não ouça a sua mãe. Está muito bom. – papai falou de boca cheia.

A campainha tocou, eu tirei o avental e fui atender a porta. Obviamente estranhei o horário da visita, mas abri a porta de qualquer maneira.

— É aqui que estão comendo panquecas? – minha irmã perguntou enquanto me abraçava.

Eu não esperava pela visita dela, mas eu fiquei feliz com isso. Era bom ter uma amiga por perto.

— Você está muito melhor do que quando eu te deixei aqui. Está até cozinhando – ela comentou pegando um pedaço da panqueca do meu pai. — Gostoso.

— Não vão se acostumando. Não vou virar a cozinheira da casa. – brinquei.

— Nem vai precisar, Liza. Falta uma semana para as suas férias acabarem.

— Já?! O tempo passou e eu não fiz nada.

— Claro! Você só ficava chorando e assistindo televisão o dia todo. – minha mãe criticou.

Meu pai lançou um olhar sinistro repreendendo minha mãe e esta se calou. Ele gentilmente pegou a minha mão e a acariciou.

— Obrigado, papai.

— Não há de quê. Você precisa de um tempo para colocar sua cabeça no lugar

— Eu vou para o meu quarto – disse e deixei a mesa.

Subi as escadas e voltei a ficar deprimida. Não que a minha mãe tenha dito algo muito rude. Na verdade, ela até usou um tom cômico. O problema está em mim... Eu acho. Digo, ela me fez lembrar que eu sou uma inútil. Que eu não fazia nada antes e nem nada agora. Eu estava me sentindo cada vez pior por causa disso. Não bastavam todas as coisas que o divórcio trouxe, agora eu tinha que lidar com isso também.

Eu voltei a chorar. Aquilo estava se tornando algo tão comum que minha cabeça nem doía mais. Na verdade, só duas gotas desceram de meus olhos. Estive chorando tanto que não tinha mais nada para chorar. Eu nem sabia o que eu tinha vontade de fazer, mas eu não queria mais ficar em casa. Troquei o meu pijama por uma calça jeans e um suéter cor de rosa. Calcei meus tênis que eu nem sabia que Angelina tinha colocado nas minhas coisas e saí sem avisar a ninguém, mas tenho certeza que ouviram a porta bater ruidosamente.

Eu caminhei pela cidade em que eu cresci, admirando aquelas ruas tão conhecidas. Uma nostalgia me dominou lembrando-me dos meus momentos infantis e doces. Eles pareciam tão distantes agora. Andei pelas ruas pouco movimentadas até ouvir o som de um piano sendo tocado de forma linda. Segui o som e notei que vinha da igreja em que papai e mamãe me traziam quando eu era pequena. Nós não éramos membros da igreja, apenas a visitávamos com pouca frequência, normalmente em datas especiais.

Adentrei no local e me surpreendi com a pessoa que tocava a música. Era Alice, a garotinha do parque. Ela tocava com tanta graça e com talento que excedia o esperado para a sua jovem idade. Muitas pessoas notaram quando eu entrei na igreja e notei os mexericos começarem. Escolhi o lugar mais próximo do piano e me sentei lá.

Eu sabia que não estava vestida da maneira mais apropriada para aquela igreja tradicional, mas eu não liguei. Só fiquei prestando atenção nos sons que saíam cada vez que a garota abaixava uma das teclas de marfim. Quando ela encerrou sua apresentação, foi aplaudida por um bom tempo. O sorriso meigo e sincero que ela trazia no rosto me fez sorrir também.

Assim que terminou sua música, ela saiu do piano e em vez de sentar com seus pais que estavam no terceiro do banco da outra fileira, se sentou ao meu lado e me cumprimentou. Elogiei a apresentação dela imediatamente e ela agradeceu do jeito mais doce possível. Depois ficamos caladas ouvindo a pregação. Alice parecia bastante concentrada nas palavras do reverendo. Tentei fazer o mesmo.

Fiquei impressionada com a retórica do reverendo. Ele realmente era muito bom. Falava de forma suave e muito persuasiva. Ele falou sobre paciência, fé e superação usando a história de Jó.

Quando terminou o culto, eu e Alice conversamos por um tempo até recebermos olhares estranhos do pai dela. Lembrei-me que minha vizinha fofoqueira tinha fala com ele. Provavelmente, ele ficou sabendo da minha antiga fama. Despedi-me de Alice e fui para casa triste com isso. Não queria me separar de Alice. Uma amizade pura estava nascendo entre nós.

Aparentemente, meus pais tinham saído, mas Angelina estava em casa. Aproveitei que estávamos sozinhas e desabafei. Falei tudo o que eu quis, tudo o que me angustiava e principalmente sobre eu ser fruto de uma tentativa de aborto falha. Minha irmã ouviu tudo calada, mas as suas expressões faciais denunciavam tudo o que ela pensava e sentia. Ficamos caladas por algum tempo num silêncio perturbador até ela finalmente juntar forças e palavras para voltar à conversa.

— Liza, eu não fazia ideia disso. Quer dizer, eu sei que sua separação não foi nada fácil e que você passou por muuuuuuita coisa nesses últimos meses, mas eu não imaginei que tivesse chegado a esse ponto. Eu me sinto culpada por não estar sempre ao seu lado e por não ter te apoiado tanto quanto eu deveria. – minha irmã disse com a voz embargada

— Angelina, moramos em cidades diferentes. Não é tão simples assim estarmos juntas o tempo todo.

— Mas, eu deveria te ligar mais pelo menos...

— Não precisa se desculpar. Você também tem uma vida. Tem marido, casa, emprego, cachorro e planeja ter filhos em breve. Contudo, confesso que não me importaria se você ligasse mais.

— Quero muito voltar a ser sua amiga. Acho que ser só sua irmã não basta mais.

Nós começamos a rir e nos abraçamos com força.

— Mas, Liza, o que a mamãe fez com você não significa que ela não te ama. Tenho certeza que assim que você nasceu ela passou a te amar. Éramos pobres e passamos por dificuldades sim, porém isso não era nada quando comparamos as felicidades que você nos deu.

— Ela tentou me abortar! E eu a ouvi dizer que queria que o procedimento desse certo. Um aborto é algo muito sério! – gritei a última parte.

Ouço a porta ser aberta e os meus pais aparecem na cozinha. Minha mãe estava envergonhada e o meu pai não estava entendendo nada.

— O que está acontecendo aqui? Aborto? Que história é essa, gente? – papai estava desnorteado

— Vai lá, mãe! Explique para o meu pai como eu sou uma tentativa falha de aborto.

Minha mãe contou a história para o meu pai, na verdade, com muitos detalhes que nem eu fazia ideia. Todos estavam em prantos com a história. Minha mãe chorava de vergonha, eu e minha irmã de tristeza e o meu pai de nervosismo. Com certeza, não era um momento em família que eu desejaria. O choque nos dominava e o meu pai simplesmente rompeu pela porta e saiu correndo de casa. Talvez eu adicionasse mais um divórcio no histórico da família, mas ver a minha mãe confessando tudo aquilo foi gratificante de uma maneira sinistra.

— Filha, me perdoa. Eu... Eu não sabia o que estava fazendo naquela época. Eu estava desesperada e eu...

— Mãe. Chega de explicações, ok? Eu preciso esfriar a cabeça.

Então, assim como o meu pai, eu resolvi correr. Eu precisava tirar tudo aquilo da minha mente. Correr bastante pelo parque estava me ajudando a respirar melhor, a sentir todo aquele bolo que estava formado em minha garganta sumir. O ar puro e a brisa fria tinham efeitos calmantes em meu corpo e a visão do pôr-do-sol também ajudava.

Voltei ao balanço onde eu brinquei boa parte da minha infância e onde eu conheci Alice. Fiquei balançando por lá até ser tarde da noite. Talvez minha família estivesse me procurando. Talvez não. De qualquer forma, já estava tarde e estava suada, fedida e com frio. Assim que cheguei a minha casa, fui tirando o meu suéter e os tênis. Subi as escadas rapidamente e entrei no banheiro e tomei um longo banho. Fui para o meu quarto e vi que Angelina já dormia. Tomei o maior cuidado para não acordá-la e deitei também. Foi um dia cheio.

***

Foi uma tarefa árdua convencer a minha irmã a me levar de volta pra casa. É claro que a casa dos meus pais sempre seria um lar para mim, mas estava com uma aura tão desagradável que eu tinha que sair daquele lugar o mais rápido possível.

Despedi-me dos meus pais sem muita emoção e fomos direto para o carro. No trajeto de volta para casa, eu e Angelina conversamos sobre a vida dela e como estava seu marido entre outros assuntos, mas o papo acabou rapidamente. Um silêncio esquisito reinava e eu lembrei de tudo o que passei nesses últimos meses e em como eu estive fugindo de todos os meus problemas. Pensei no que eu estava fazendo neste exato momento. Eu estava fugindo de minha própria família, meu único porto seguro. Não podia continuar brigando com as pessoas que mais amo no mundo.

- Volte - falei para minha irmã.

- O quê? - ela estava confusa

- Volte para a nossa casa. -recebi um olhar zangado de Lina - Por favor, não estamos tão longe assim

- Voltar por quê?

- Não posso voltar pra minha vida do mesmo jeito que eu estava. Preciso resolver alguns problemas, isso inclui resolver os meus problemas com mamãe.

Angelina suspirou, mas voltou rumo a nossa cidade natal. Sorri durante todo o caminho. Eu sabia que teria muitos desafios pela frente, mas eu podia sentir que finalmente minha vida estava se acertando.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!
Até mais :D



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