POV Katrina

Estava tudo maravilhoso este ano. Eu acabara de ter meu aniversário de quinze anos e era perceptível a calmaria de Ethan. Após a vinda de Adelaide para Illéa, ele se tornara alguém mais calmo, e ele parara de me azucrinar por conta de Harry. Ele vivia dizendo que Harry era pouco para mim, mas eu não ligava, ou melhor, eu não acreditava em suas palavras. Eu amava Harry e ele me amava, e isso era importante. O resto era resto. Depois de minha conversa com mamãe no ano passado, nos tornamos grandes confidentes. Ela sabia tudo sobre o meu relacionamento com Harry, e eu sabia de seus problemas com meu pai. Eu o achava muito bruto e irracional, mas eu não era louca de contrariar o rei. Pelo menos eu sentia isso quando ele falava comigo. Talvez eu não o odeie, apenas não o amo. Isso partia o meu coração, afinal, qual filha que não ama o próprio pai? Porém, eu e Ethan éramos o mesmo lado da moeda. Ele também não gostava muito de mamãe, achava ela muito inconsequente e teimosa. Teimosa ela realmente era, mas Ethan também era. Por isso que eles batiam tanta cabeça, seria a mesma coisa que colocar dois cães raivosos em um mesmo quarto, veja o que vai acontecer. Pietro e Romeu são muito fofos, mas perdem feio para os meus irmãos mais novos. Malcolm era muito simpático e adorava música, assim como todos nós. Apesar de passar muito tempo no escritório com meu pai, ele não era nada parecido com Ethan. Amberly era tão fofa que dava vontade de apertar suas bochechas até ela não aguentar mais. Apesar de jovem, já tocava violino perfeitamente! Eu era um desastre no violino, gostava mesmo era do piano. Inclusive, eu e meus irmãos estávamos trabalhando em uma música que encontramos na biblioteca. A biblioteca possuía uma quantidade infinita de partituras de diferentes tipos de música, desde clássica até heavy metal. Ethan queria fazer uma surpresa a Adelaide, nós iríamos tocar o fundo musical enquanto ele e Malcolm cantavam. Apesar de tocar piano por anos, a música era pop e exigia um teclado elétrico e uma parte de piano. Aprendi rapidamente e logo estávamos todos treinando. Amberly tocava violão também, então ela tocaria violão durante a apresentação. Eu ficaria no teclado, Amberly no violão, Malcolm na bateria e Ethan no baixo e na voz. Não me pergunte como ele aprendeu a tocar baixo e a cantar, eu realmente não sei.

Estávamos ensaiando no meu quarto, aonde tínhamos várias tomadas a nossa disposição. Ethan nos fez prometer que não contaríamos nada a Adelaide, afinal era uma surpresa. Tentávamos fazer o menor barulho possível, mas era quase impossível não explodir com uma música tão boa quanta aquela! Eu não sei como ele encontrou aquela música, ela basicamente dizia tudo o que ele estava sentindo no momento. Até eu me senti tentava a cantar uma música um tanto ousada, ela dizia tudo o que eu queria dizer, mas não tinha coragem. Estava concentrada demais para notar quando alguém bateu na porta. Minha mãe me chamou e eu obedientemente fui até o corredor. Ela estava com um olhar assustado e triste na face.

– O que houve mamãe? – lhe perguntei.

– Adelaide. Eu preciso que você conte isso a ela. Eu não tenho... coragem. – disse ela, virando o rosto.

– O que houve? – repeti minha pergunta.

– Nicoletta estava desesperada demais por uma aliança, ela precisa de uma ajuda que apenas um povo poderia oferecer. Mas eles pediram um preço muito caro.

– Qual povo? Que preço? – eu mesma já estava com um pouco de receio.

– A Áustria. Eles pediram a mão de Adelaide ao príncipe austríaco, Mozart. Se antes o amor deles era um perigo agora é pior. Mozart quer que Adelaide vá imediatamente para Áustria. – disse minha mãe. Eu estava boquiaberta. Tentava pensar com mais clareza, e logo cheguei a uma conclusão. Eu lutaria por minha amiga, não era justo ela ficar onde não queria. Ela permaneceria aqui até a guerra acabar em seu país. Eu lutaria ao lado de Ethan.

– Mamãe, você sabe que Ethan enlouquecerá! Eu não permitirei que levem minha amiga daqui, não até a guerra da Itália acabar.

– Fico feliz em saber que você lutará por sua amiga. Agora, é melhor você avisá-la e começarem a bolar um plano. Estarei no escritório de seu pai. – disse minha mãe, sorrindo e me abraçando. Eu assenti e comecei a caminhar em direção ao quarto de Adelaide. Ao adentrar a porta, ela logo notou o meu desconforto.

– O que aconteceu? – perguntou ela.

– Desculpe, Laide. Venha aqui, vamos conversar. – eu disse, puxando-a até a cama. Nós nos sentamos e eu comecei. – Seus pais estavam desesperados demais por uma aliança e necessitaram da Áustria. O rei aceitou o acordo desde que...

– Desde o quê? – perguntou-me desesperada.

– Que eles concedessem sua mão ao príncipe da Áustria, Mozart.

No momento em que terminei de falar, ela congelou. Parecia fora de si, mas de repente, acordou e começou a chorar. Eu a puxei para um abraço. Ficamos abraçadas até seus soluços diminuírem a frequência.

– E há mais.

– A não. – disse ela tristonha.

– O príncipe pediu que você ficasse em asilo em seu país, eu seu palácio. – dizendo isso, ela levantou abruptamente e em olhou com raiva.

– Isso não! Eu me recuso a mover um passo para fora deste palácio! Eu quero ficar com você até a guerra acabar! – disse ela, que agora estava andando em círculos. – Que idiota pervertido! Como ele ousa pedir para eu ficar na Áustria?

– Bem, minha mãe disse que podíamos tentar abrir um acordo. Falar com meu pai seria bom, ele poderia entrar em contato com as Majestades e a Alteza real da Áustria para tentarmos negociar.

– Isso, isso poderia me ajudar. – disse ela. Levantei-me rapidamente e a puxei pelo braço a te o escritório de meu pai. Começamos a correr no meio do caminho. Correr de salto alto era difícil, mas não impossível. Quando chegamos, esqueci totalmente as minhas aulas de etiqueta e entramos abruptamente no escritório, assustando meu pai e minha mãe.

– Adelaide, querida. Você está bem? – perguntou meu pai. Notei que os olhos dela estavam vermelhos e inchados por conta do choro, toda descabelada e com a maquiagem escorrendo-lhe a face.

– Não. – disse ela, duramente. Meu pai se impressionou e fez um gesto para que nos aproximássemos.

– O que posso fazer por vocês? – ele nos perguntou. Adelaide apertou minha mão fortemente e olhou fixamente para a mesa de meu pai, dando a entender que era minha vez de falar.

– Bem, o senhor já deve saber do acordo entre Áustria e Itália, sobre Adelaide.

– Sim, prossiga. – disse ele, fazendo um gesto com a mão.

– Então, queríamos lhe perguntar se seria possível o senhor conseguir um acordo com a Áustria.

– Que tipo de acordo? – ele perguntou curioso.

– Um acordo para mantermos Adelaide e os irmãos aqui, em Illéa, até o fim da guerra na Itália.

– Bem, eu posso até contatar a Áustria, mas serão vocês duas que pediram em meio ao conselho o acordo. – disse ele, sorrindo levemente.

– Aceitamos. – disse Adelaide, antes mesmo de eu poder protestar.

– Pediremos aos austríacos que nos façam uma visita, e então vocês poderão falar com eles.

– Obrigado, rei Maxon. O senhor é o melhor rei depois do meu pai! – disse Adelaide, que agora estava animada.

– É o mínimo que posso fazer. Mas eu lhe pergunto Katrina. O que a levou a vir até mim, pedir esse acordo com a Áustria? – disse ele, sorrindo maliciosamente. Ele queria me deixar sem jeito.

– Bem...eu....Adelaide é minha amiga. Ela não quer ficar em um lugar com completos desconhecidos, ainda mais se um desses desconhecidos for seu futuro noivo. Eu procuro sempre ajudar os meus amigos, é o mínimo que eu posso fazer por todo o apoio e amor que eles me dão. – eu disse, olhando para o chão.

– Oh, Kat! Eu também te amo! – disse Adelaide, me abraçando. Eu sorri e finalmente nos levantamos e nos dirigimos até a porta. Minha mãe, que até agora estava calada me seu assento ao lado do de meu pai, me lançou um sorriso e piscou para mim. Sorri de volta e saímos do escritório. – Bem, creio que terei que contar a Ethan. – disse Adelaide.

– Eu também. – eu disse. Adelaide ficou corada um pouco e logo em seguida apontou para as minhas costas.

– Vossa Alteza. – disse uma voz que eu já conhecia muito bem.

– Pois não, guarda? – eu lhe perguntei.

– Poderia me acompanhar por um momento? Por favor?

– Claro! Laide te encontro depois, certo? – disse, me virando para ela.

– Ok. Até mais! – disse ela, que saiu saltitante.

Comecei a andar vagarosamente ao lado do guarda. Ele era moreno e muito musculoso, mas tinha um bom coração e era muito carinhoso. Após nos afastarmos um pouco e entrarmos em um corredor pouco transitado, ele finalmente começou a falar.

– Como você está? – ele me perguntou docemente.

– Estou bem Harry, e você? – lhe rebati com um sorriso.

– Bem. Espero que não tenha atrapalhado nada com Adelaide. – disse ele, um pouco tímido.

– Imagina! Ela já estava indo falar com Ethan.

– Ah, ok. – ele disse e começou a olhar fixamente para mim.

Eu olhei em seus olhos cor de mel. Ele estava completamente apaixonado por mim, e eu achava incrível que alguém pudesse sentir isso por mim. Ele foi se aproximando e tocou minha bochecha com a costa de sua mão levemente. Meus pelos na nuca se eriçaram e meu coração começou a bater um pouco mais rápido. Eu me aproximei e coloquei minha mão sutilmente sobre seu peito. Ele me puxou um pouco mais para si e eu me rendi. Estávamos com as testas coladas uma na outra. Eu podia ouvir sua respiração acelerada em meu nariz e tinha certeza que ele podia ouvir a minha. E finalmente, ele selou nosso momento com um beijo. Meu primeiro beijo. Eu não sabia como reagir então apenas acompanhei os movimentos de seus lábios. Relaxei um pouco mais e coloquei meus braços em seu pescoço. Ele desceu os seus até a minha cintura. Eu podia sentir seu hálito de menta indo e vindo de sua boca. Até que sua língua bateu em meus lábios e instintivamente eu abri minha boca um pouco mais. Ele começou a explorar cada centímetro de minha boca com sua língua. Até que a minha se encontrou com a dele e começamos a travar uma batalha. Estava me sentindo com falta de ar e me afastei rapidamente. Ambos estávamos ofegantes, escorados na parede. Ele me olhou, me perguntando silenciosamente se estava tudo bem. Eu lhe lancei um sorriso e o abracei. Ele afagou meus cabelos e pude sentir seu sorriso sobre a pele de minha nuca.

– Como ousa? – perguntou uma voz embravecida atrás de mim. Virei-me calmamente e notei um Ethan, vermelho da cor de seu cabelo de raiva.

– Onde está Adelaide? – eu lhe perguntei.

– Estou aqui! – gritou ela, que vinha correndo em nossa direção.

– Apresse-se Laide!- eu gritei desesperada.

– Você estava beijando a minha irmã? – perguntou Ethan a Harry.

– Bem, eu...

–Laide! – eu gritei novamente.

Adelaide chegou neste instante e ela logo foi para frente de Ethan. Ela o abraçou fortemente.

– Pare Ethan, você não precisa fazer isso. É loucura! – ela disse tentando pará-lo.

– Loucura é o que esse cara tem! – disse ele apontando para Harry.

– Pare Ethan! – gritou Adelaide. Ethan hesitou por um momento e parou.

– Quer saber? Eu não vou surrá-lo nem nada do tipo. – disse ele, direção a Harry. Então, ele se virou para mim. – Eu vou contar ao nosso pai. – disse ele duramente e começou a caminhar em direção ao escritório de meu pai, comigo chorando e o implorando e Adelaide fazendo de tudo para interrompê-lo.

Eu não acredito que meu irmão vá fazer isso. Ainda tenho esperanças nele, tenho esperança de que ele vá parar em frente a porta do escritório de meu pai e dar meia volta. Por favor Ethan, não faça isso, não estrague o meu romance. Não conte.

(Imagem dos quatro no link nas notas finais do capítulo, se este link não funcionar)