POV America

Já se passara um ano desde a chegada de Adelaide e seus irmãos. Era perceptível a diferença no humor de Ethan e Katrina. Sempre com Adelaide ao seu lado, Ethan se tornara mais sorridente e exclusivo a ela. Sem as repreensões do irmão, Katrina também andava livremente com Harry. Eu via sempre eles caminhando no jardim e de vez em quando se cruzavam com Ethan e Adelaide. Antes mesmo de começar uma briga Adelaide sempre distraía Ethan e eles se afastavam, sorrindo. Os meus filhos mais jovens já iam pelo mesmo caminho que os mais velhos. Malcolm adorava tocar em sua bateria, ao passo que Amberly adorava ouvir Katrina tocar piano. Amberly já estava com seus cincos, linda, ruiva, vivia correndo pelos jardins. Eu adorava brincar com ela, era como eu brincasse com uma miniatura minha. Malcolm, com seus dez anos, vivia no escritório com Maxon, já que Ethan abandonara seu posto para ficar o dia inteiro com Adelaide. Por falar nisso, os gêmeos já estão com quatorze anos. Era impressionante o quanto eles tinham evoluído. Adelaide completaria quatorze anos em duas semanas, mas ela insistiu em não fazermos nada de especial, por conta da situação de seus pais do outro lado do oceano. Romeu e Pietro são uns amores. Romeu sempre brinca de pega-pega e pique com Amberly e Romeu era um pequeno cientista. Ele coletava flores e folhas do jardim e as estudava. De vez em quando ele brincava com Malcolm, mas ele já se mostrara alguém muito reservado, alguém que escolhe suas amizades a dedo. Porém, eu já tratava os três como meus verdadeiros filhos. Era ótimo ter seis crianças conversando durante o café da manhã, almoço e jantar.

Eu estava no quarto de Amberly, contando uma história a ela e a Romeu, quando a porta se abriu vagarosamente e de trás dela, saiu um Ethan um pouco acanhado. Ele me chamou e eu pedi licença para as crianças. Quando chegamos ao lado de fora do quarto ele desabafou.

– Mãe, eu não aguento mais. – disse ele passando as mãos no cabelo, assim como o pai quando está nervoso.

– O que filho? – perguntei desconcertada.

– Não há como cancelar a Seleção?

– Não, filho. A Seleção foi imposta a nós por terceiros. Eu e seu pai nada podemos fazer. – respondi, passando a mão docemente na lateral de seu rosto.

– Mas... eu e Adelaide...

– Vocês se amam. E eu lhe avisei sobre isso. Não foi o mais sensato com ela. – disse, cortando-o.

– E Katrina? Você acha sensato o que ela faz com aquele imbecil daquele Harry? – perguntou, agora com raiva.

– Com Katrina é diferente. Ela é uma dama feita de porcelana, creio que esse romance faça bem a ela. Por enquanto.

– E quando a Seleção se aproximar? O que faremos?

– Vocês farão o que muito terão que fazer durante a Seleção. Partir corações.

– Não é justo com Adelaide. – disse com a dureza na voz.

– Não é justo com eles e nem com vocês, mas não há nada que possamos fazer.

– Talvez Katrina...

– Não a force a nada, ela aprenderá que tudo tem seu determinado tempo. Imagine a seguinte situação: ambos estão durante a Seleção e tem que eliminar dez concorrentes de uma vez só no café da manhã do primeiro dia. Você verá moças chorando e completamente raivosas, desnorteadas. Como acha que Katrina se sentirá fazendo o mesmo com dez rapazes? Acha que ela aguentará a pressão? No fundo do meu coração, eu espero e oro que sim. Mas na prática, eu ainda fico em dúvida.

– Tem razão. A Seleção dela será pior que a minha. – respondeu de cabeça baixa.

– Só lhe peço que seja mais compreensivo com ela. Entenda o que ela está passando. Ela não é mais fraca que você, apenas mais delicada. Lembre-se disso. – eu lhe disse calmamente. Ele assentiu com a cabeça e fez uma coisa que me impressionou. Ele me abraçou. No momento fiquei estática, ele nunca havia me abraçado antes, mas logo depois retribui o beijei o topo de sua cabeça.

– Obrigado. Eu nunca poderia ter essa conversa com o meu pai. – disse ele, com a cabeça ainda enterrada em meu colo.

– Eu sei. Com o tempo, o seu pai se tornou mais duro. Creio que o cargo tenha feito isso a ele.

– Creio que sim. – disse ele, nos afastando e com um sorriso nos lábios.

– Lembre-se o que eu lhe disse. Seja mais doce com sua irmã. Eu sei que você não gosta do Harry, mas deixe-a ser feliz.

– Tudo bem. Acho que posso fazer isso. – disse ele de cabeça baixa. Logo em seguida me lançou um sorriso e saiu de minha vista pelos corredores. Sorri com o que acabara de acontecer e voltei para dentro do quarto de Amberly.

–(uma semana depois)-

Eu estava andando calmamente pelos corredores do palácio, isso sempre me acalmava e me confortava, quando ouvi um som de risadas de um corredor próximo. Por conta da minha curiosidade sem tamanho, me aproximei. Não entrei completamente no corredor, apenas observei. E lá estavam eles, Ethan e Adelaide. Eles estavam rindo, mas de repente, pararam. Ethan olhava apaixonadamente para os olhos de Adelaide enquanto ela sustentava o olhar. Ele tocou nos cabelos dela e ela se aproximou. Antes que me desse conta, eles estavam se beijando. Fiquei boquiaberta. Estava feliz por eles e ao mesmo tempo triste. Imagino a separação destes dois no futuro. Era um beijo doce, ela estava com suas mãos nos ombros dele e ele estava com as suas na cintura dela. Senti-me tentada a invadir o corredor, mas me mantive em meu lugar. Depois de se beijarem, ele acariciou o rosto dela e me seguida ela o abraçou. Era perceptível a paixão exalando dos dois. Ele a amava e era correspondido. Tratei de logo sair dali, antes que eles me vissem. Fui até o quarto de Katrina, e para minha sorte, ela estava lá.

– Tudo bem, mamãe? – sorri ao saber que ela ainda me chamava assim.

– Você sabe sobre Ethan e Adelaide? – perguntei.

– O que exatamente? – rebateu-me preocupada.

– Não sei. Romance, beijos, talvez.

– Bem...eu prometi a Ethan que não iria contar. – disse ela.

– Saiba que seu irmão deveria ser mais cuidadoso. Ele não pode ficar beijando uma garota no meio de um corredor. – eu disse, impressionando-a.

– Você...viu? – ela me perguntou.

– Querida, eu sou a rainha. Nada deste palácio ocorre sem que eu saiba.

– Então por que veio me perguntar?

– Queria saber sua resposta. Não sei como me sinto sabendo de tamanha lealdade a seu irmão. Creio que isso seja bom. Mas agora me fale sobre você e Harry. Não hesite em me contar nada. – eu disse. Ela mordeu o lábio inferior, foi até a porta e a trancou.

– Bem, nós estamos bem. Mas as vezes, eu sinto que quero mais. Mais do que alguns passeios, risadas e beijos no rosto. Eu quero... – disse ela, pausando. – não sei me expressar muito bem.

– Talvez, se você conversasse com ele. Poderia ajudar em algo. Quem sabe ele não deseja o mesmo? – disse sorrindo.

– Talvez sim. Mas, chega de falar de nós. Como estão você e papai? – perguntou ela, com a curiosidade e diversão no olhar.

– O próprio casamento não é algo que se deva perguntar a rainha. – disse, tentando parecer dura.

– Não estou perguntando sobre o casamento da rainha. Estou perguntando sobre o casamento de minha mãe. – disse ela sorrindo. Eu não aguentei e sorri também. Abracei-a fortemente, estava muito orgulhosa de minha filha.

– Não brigamos a certo tempo. Mas prevejo brigas em breve. Seu irmão e você ainda terão muitos conflitos e eu e seu pai sempre brigamos quanto a isso.

– Como assim? – ela me perguntou curiosa.

– Eu quase sempre a defendo e seu pai quase sempre defende seu irmão. Nas outras vezes somos mais passivos.

– Entendendo. – disse ela. Notei que ela tentou olhar pela fresta da porta. Foi até a porta, a destrancou e a abriu abruptamente. Dois corpos caíram de cara no chão. Ao me aproximar, notei que meu marido e meu filho mais velho estavam ouvindo nossa conversa atrás da porta.

– Ora ora, veja quem faltou as aulas de etiqueta. – disse brava aos dois. Katrina tinha um olhar divertido no rosto.

– Quanto você ouviram? – ela perguntou.

– Bem...eu ouvi o começo e o nosso pai ouviu o final. – disse Ethan, com a mão na cabeça.

– Vejamos...- disse, tentando parecer pensativa. – você ouviu sobre você e seu pai ouviu sobre nós? – perguntei a Ethan.

– Exatamente.

– E o que o senhor tem a dizer em sua defesa, Maxon? – eu lhe perguntei.

– Bem, eu....eu te amo? – perguntou ele. Não suportei e desatei em gargalhar. Logo todos nós estávamos gargalhando.

– Da próxima vez que pegarmos vocês dois espiando atrás da porta, eu castro os dois. – eu disse, tentando parecer dura.

– Sim, senhora. Nunca mais. – respondeu Ethan.

Todos voltamos a rir. Eu ainda imagino o que eles pensaram sobre o que ouviram. Espero que nada.