A Raposa & A Fada escrita por Juliana Rizzutinho


Capítulo 3
O Herdeiro das Fadas


Notas iniciais do capítulo

Desta vez, uma história um pouquinho diferente. Espero que goste!
Tema para essa história é a deliciosa I Do de Colbie Caillat
http://www.youtube.com/watch?v=E0oyglKjbFQ



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O céu pronunciava uma chuva forte, e Edgar estava ansioso para chegar em casa. Afinal, Lydia estava no final da gestação do primeiro filho do casal. O maior medo naquele momento era que a carruagem ficasse atolada em algum local. Fim do inverno, época de temporada em Londres. Se fossem em outras circunstâncias, Edgar e Lydia estariam lá, mas com finalzinho da gravidez, eles acharam melhor não. Sendo que ainda existia o estigma de mulher gestante aparecer em público... Coisas da era vitoriana...

Enquanto isso, na mansão dos Ashenbert, Lydia começava a entrar em trabalho de parto. Ela agradeceu aos céus por ter a parteira e a médica em casa. Com a famosa persuasão de Edgar, elas toparam ficar na residência do casal para facilitar o processo. Imagine se elas estivessem longe? Lógico que a fairy doctor estava feliz, mas também tremendamente assustada. Lydia já tinha ouvido relatos que certas mulheres morriam durante o parto. Lotta, a sua melhor amiga, a auxiliou para ir até a cama. Enquanto isso, Kelly, Lucíola e até Raven corriam para baixo e para cima para buscarem tigelas com água fervida, toalhas e sabonetes para o parto.

E a tensão da condessa crescia a cada minuto. Agora era parir ou parir! “Oh, céus, por que as mulheres sofrem tanto?”, se perguntou. Orou para que não precisasse passar por uma cesariana. Arrepiou-se em pensar que poderia ser cortada e precisar de clorofórmio! Pois é, tempos difíceis para as mulheres.

— Lydia, o bebê está na sua posição normal, viu? Fique tranquila! – parecia até que a médica tivesse lido sua mente.

A condessa suspirou aliviada. Mas, conforme ia passando o tempo, deu vontade de chorar e gritar! “E por onde anda o Edgar??”, indagou-se irritada.

Passou-se minutos, horas, ela nem sabia quanto tempo, afinal, tinha perdido a noção. E aí, a médica anunciou:

— Muito bem, Lydia! A dilatação está suficiente! Acompanhe todas as minhas instruções, certo? – avisou-a.

— Mas... Não podemos esperar o Edgar?

— E por onde esse calhorda anda? Bem, isso não importa! O que você tem que fazer, Lydia, é trazer seu filho ao mundo... Ou filha, sabe-se lá... – respondeu a neta do Duque de Cremona, a atrevida garota de cabelos cor de café, Lota.

Quando a médica reparou nos olhos de Lydia o horror e o medo, pegou a mão da condessa e com uma voz gentil, disse:

— Vai dar tudo certo! Você vai ver!

Nesse mesma hora, a carruagem de Edgar estacionava em frente à mansão. Agora, a chuva começou e não demorou a apertar. Ele saiu correndo com um guarda-chuva e a sorte é que Tompkins já esperava na soleira da porta. Assim que ele limpou os sapatos no capacho, logo avistou Raven correndo com uma tigela de água fumegante rumo aos andares superiores. E logo depois, Kelly descia as escadas com algumas toalhas sujas de...

— Sangue?

Milord, sua esposa entrou em trabalho de parto!

Edgar nem pensou duas vezes, simplesmente jogou a sobrecasaca nos braços do mordomo sereiano e subiu rápido o máximo que pôde as escadas. Quando chegou quase sem fôlego na porta do seu quarto, nem deu tempo para colocar a mão na maçaneta...

—Rá! Agora que o senhor chegou, não?

Era Lota que tinha saído do quarto para pegar mais suprimentos para a parteira e a médica.

— Vou entrar aí, agora! – anunciou o conde. – A Lydia precisa de mim!

Mas, mal Edgar falou, Raven estava ao seu lado com outra tigela com água fervida.

— Ah, aí está você! Dei-me isso! – e apontou para tigela.

—Está pesa...

—Sei que está pesada! Agora, vamos, retire o seu senhor para longe daqui!

— Lota! Como ousa...

— Oh, conde! Nessas horas, os homens mais atrapalham do que ajudam! E quer saber? – agora fazendo uma careta enquanto segurava a tigela. Afinal, ela estava realmente pesada. – Quem me garante que você não irá desmaiar?

E Edgar só deu um suspiro nervoso como fosse para se controlar. E assim, ele sentiu a mão de Raven em seu ombro, e falando com a maior calma do mundo:

— Acredito que Lady Lota tem razão, milord!

E quando se virou para acompanhar o mordomo, Edgar ouviu a médica falando alto:

— Mais força! Mais força, Lydia! – enquanto a condessa choramingava.

Ele tentou voltar, mas foi impedido mais uma vez por Raven que só fez um sinal negativo com a cabeça.

Do outro lado da porta, Lydia tentava violentamente ser forte, mas estava difícil... Até que... Ela sentiu alguém a apoiando suas costas. E não eram os travesseiros... Foi aí que a fairy doctor viu uma fada. Loura, de cabelos cacheados e olhos da cor do mais puro mel. Ela chegou a pensar que era Tytânia, a Senhora das Fadas. Mas, não batia com a fisionomia. Mas, na verdade era a Rainha Mab, a parteira das fadas!

—Está indo muito bem, minha garota! Esse bebê é uma das nossas esperanças. Sei que você será uma mãe maravilhosa, assim como Edgar será um pai surpreendente. Portanto, tenha fé, estarei aqui e tudo correrá bem!

Lydia, então, sorriu e uma lágrima escorreu pelo seu rosto. Tanto Lota, Kelly, como Lucíola, as duas últimas suas criadas pessoais, sabiam das habilidades da fairy doctor, sendo que uma delas via a cena perfeitamente. Como a parteira e a médica não conheciam todos os detalhes da vida da condessa, ficaram confusas, mas foi por pouco tempo. Isso porque a jovem se empenhava com firmeza para trazer seu bebê ao mundo.

Não muito distante dali, Edgar andava de um lado para o outro. Raven nunca o tinha visto tão agitado e impaciente. Porém, não tinha a mínima ideia de como acalmá-lo. O conde mordia os lábios, com as mãos postas para trás, e de vez em quando, bufava.

Milord...

Edgar o encarou com um olhar irritado.

— De nada adiantará ficar assim! – continuou Raven.

—Assim como? – respondeu com outra pergunta em um tom nada amigável.

Nesse instante, Lota chegou à porta e mesmo ela aberta, deu duas batidinhas.

— E aí, senhor desatento!? Não ouviu o seu filho berrar bem alto para avisar que chegou ao mundo?

Ao longe, Edgar pôde ouvir um choro de nenê. Ele não conseguia conter a alegria e os seus olhos começaram a marejar.

— Posso ir lá? – perguntou como fosse um menino pedindo a permissão ao pai para pegar um doce.

Lota não disse nada, apenas sorriu e fez uma aceno com a cabeça que sim. O jovem conde saiu em disparada em direção ao quarto. Assim que Edgar chegou à porta, viu a médica saindo sorrindo satisfeita.

— Posso entrar? – o rapaz perguntou. Era estranho para quem visse ao longe a cena que tinha um quê de hilária: uma médica obesa e baixinha e o conde alto e magro.

Ela arrumou os óculos e respondeu:

— Sim, senhor, mas antes saiba que...

Quem fosse um pouco mais observador, iria ver que Edgar engoliu seco, assim como fosse um moleque levado que iria levar bronca do pai.

—Não a deixe sair da cama antes do 15º dia depois do parto! O nenê só deve tomar banho com gazes embebecidas em água! Não a permita ficar fazer qualquer esforço! Não abra as janelas até amanhã pela manhã! E só abra se o tempo estiver bom!

Enquanto a doutora passava todas as indicações para Edgar, ele, por sua vez, só balançava a cabeça de forma afirmativa.

—Faça a se alimentar só com comidas nutritivas, como carne, legumes... Pode ser uma sopa! E o mais importante...

E a doutora se aproximou mais do conde e com olhar inquisidor, completou:

— Não faça sexo com ela durante 40 dias! Entendeu bem?

Isso ele já sabia, mas pelos padrões de Edgar até seria um tempo considerável, mas não o mataria, não é? Sem contar, que o próprio ficou fidelíssimo à Lydia, assim que começaram a namorar. Ele até aguentaria sem reclamações, mas devido às circunstâncias, o tempo seria bem maior. Afinal, ele ainda não sabia o quanto um nenê consome o tempo dos pais, mesmo durante a noite.

— A parteira está terminando de limpar o bebê. Ele é perfeito e é...

— Um menino, não é?

— Hum, talvez Lota já tenha contado! Pois bem, se precisar de algo me chame, sim?

Feito os cumprimentos, a médica tomou o rumo para seus aposentos. Nisso, Edgar girou a maçaneta, ansioso e abriu a porta. Quando ele adentrou ao aposento, Lydia encontrava-se exaurida, afundada entre os travesseiros, com a camisola grudada no suor do seu corpo. Os cabelos estavam soltos, mas emaranhados e a franja molhada colada à testa. Mas, parecia bem, mesmo que estivesse extremamente cansada. Enquanto isso, a parteira limpava o bebê de forma tão delicada como fosse a própria mãe. O menininho tinha parado de chorar, mas se mexia com tal vivacidade querendo descobrir cada movimento que podia realizar.

Quando Lydia viu o marido, sorriu com tal intensidade e só pôde falar quase num sussurro:

—Edgar!

Ele com os olhos marejando chegou perto dela, tirou os sapatos, subiu na cama, mesmo que estivesse desarrumada, mas não tão suja por conta da troca de lençóis que Kelly e Lucíola tinham feito, a abraçou como não houvesse o amanhã. E com a voz embargada falou:

— Minha pequena e forte guerreira.

Eles só se soltaram porque a parteira chegou mais perto, até enternecida com a cena, mas com um bebezinho aflito pelo colo da mãe.

— Posso entregar o pequeno? – indagou a parteira.

E ambos responderam:

— Sim!

Um olhou para o outro e deram um sorriso.

— Bem, agora vou me retirar e curtam o bebê. E qualquer coisa é só nos chamar.

Assim que a parteira saiu, o menininho começou a encarar Lydia e Edgar. Era tão pequenino, mas não tinha como negar que era o filho dos dois. Seus cabelos louros como os do pai, que pareciam uma plumagem e balançavam a qualquer movimento.

Convencido, o jovem conde se pronunciou:

— É tão lindo como o pai...

— Se não o estivesse o segurando, iria dar um belo tapa em você – provocou Lydia de forma divertida.

Ele riu da provocação e encostou sua cabeça junto dela.

— Ele não é fofo? Mas, só iremos saber a cor dos olhos depois de um mês por aí, não? – perguntou a fairy doctor, enquanto o garotinho a encarava com olhos ligeiramente estrábicos.

— Eu torço para que sejam verdes, assim como os seus – quando terminou, o conde se aproximou mais um pouco para beijá-la, mas aí ele escutou:

Lord Edgar!

Quando o rapaz olhou para frente, viu uma mulher alta e de longos cabelos louros cacheados. A habilidade de ver fadas e elementais em Edgar estava desabrochando. Nem sempre era tudo claro para ele. Às vezes, ele só ouvia, às vezes, conseguia se comunicar com o elemental como fosse um humano.

A mulher, então, pronunciou-se:

— Senhor, permita-me apresentar. Sou Mab, a parteira das fadas. – e fez uma reverência. Edgar tentou se levantar para retribuir o gesto, mas ela disse:

— Por favor, conde! Não se incomode.

Por sua vez, Lydia virou-se para o marido e confessou:

— Foi graças a ela que consegui trazer nosso filho ao mundo.

— Exatamente – e continuou – Talvez pelo fato do lord ainda não estar acostumado com a sua habilidade de comunicar conosco, não tenha percebido que estou acompanhada dos meus servos que me auxiliaram a cuidar tanto de Lydia como o bebê durante o parto. E não poderíamos deixar de agraciar o herdeiro da Espada Merrow. Mas, fique sabendo que estamos muito felizes pela sua garra, esforço e responsabilidade diante aos povos.

Ele, logo ele, que tinha sido o herdeiro dos poderes do Príncipe da Calamidade, tinha sido manipulador, e por algumas vezes, odioso, mostrou-se o quanto de gentileza e doçura estavam guardadas em seu coração. E sorriu, embevecido e de forma tão sincera, que muitos que os conheceram em outras circunstâncias, ficariam admirados pela honestidade e compaixão. E com humildade, declarou:

— Mas consegui isso, justamente, porque ela esteve sempre ao meu lado. – E passou o braço pelos ombros de Lydia. – Ela que foi meu refúgio, minha fortaleza. E tudo que sou e tenho hoje, devo a ela.

Lydia ficou meio sem-jeito, ainda aninhando o bebê com todo cuidado do mundo. Enquanto isso, Edgar disse:

— Muito obrigado por tudo, Senhora...

— Mab, lord! Apenas me chame de Mab. – e a fada virou-se para Lydia - Bem, vou indo, e de vez em quando um ou outro serviçal virá até aqui para verificar se está tudo bem com você e o nenê. E quando se dirigia à janela, voltou-se para anunciar:

— Acredito que logo as senhoras e o senhor dos elementais virão aqui para prestar homenagens ao nosso herdeiro! E vou andando antes que por minha causa, Lydia pegue um resfriado.

A janela abriu-se e fechou sozinha. Mab partiu junto com a sua comitiva. Assim, que a parteira das fadas saiu, o bebê começou a choramingar. E Lydia percebeu:

— Acho que ele está com fome!

— Quer que a ajude?

— Por favor, amorzinho!

A condessa pediu para o marido trazer mais uma tigela de água para lavar as mãos. E assim, ele o fez. Depois, Lydia, ainda desajeitada, tentava procurar algum meio para deixar seus seios livres para amamentar seu filho. Edgar, por sua vez, estava ajoelhado em frente a ela e segurava inseguro, o pequenino que começou a aumentar o choro como quem dissesse: “Estou com fome! Estou com fome!”. Mesmo em meio a toda confusão, os dois encontraram meios de rir da situação. Afinal, a falta de jeito nada mais era a evidência de serem pais de “primeira viagem”.

Ela não tinha palavras para descrever a sensação maravilhosa de estar vivendo aquele momento. Assim como ele que nunca esperaria por vivenciar algo que perdeu tão cedo, uma família. Mas, eles sabiam que aquilo era apenas uma das paradas da caminhada que decidiram seguir juntos. E só isso que importava!

Fim!


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Notas finais do capítulo

E aí, gostou? Espero que sinceramente que sim! Nunca em todas as fanfics que já li sobre Hakushaku to Yousei, inclusive, as estrangeiras, foi abordado o tópico parto. Mas espera lá, estamos em uma era toda cheia de pudores, que é a Vitoriana, com regras como mulheres gestantes não poderiam aparecer em público. Outro caso é que, naquela época, já existia a cesariana. Mas naturalmente não havia uma anestesia como nós conhecemos hoje. O que eles usavam era clorofórmio. Mesmo com todos os aparatos e cuidados, as chances de mortalidade nesses casos era altíssima, infelizmente. Minha intenção foi passar esse apuro pela pele da Lydia, tadinha. Mas como sempre, ela supera a situação!
Aqui é bacana ressaltar duas personagens que você não conheceu se só assistiu ao anime. São elas: Kelly e Lota. Kelly aparece no volume 19 do light novel, e se torna criada pessoal de Lydia. É uma moça sincera, doce e bastante humana. E vira uma grande amiga da nossa fairy doctor. No início, ela tem receio do nosso garoto-fada, Raven, por acha-lo sinistro. Mas conforme o desenvolvimento,há certa aproximação de ambos. Já Lota, aparece no volume 6 do light novel. Ela a princípio era uma pirata e conhecia o lado pervo e nada decente de Edgar. Lota se torna a verdadeira e primeira amiga de Lydia em vida, digo humana. Porque até então, a fairy doctor foi meio que jogada do lado pela sua habilidade de ouvir e falar com as fadas. Lota, na verdade, é neta do Duque de Cremona. Mas por uma série de fatos, ela foi dada como morta, mesmo que o Duque acreditasse piamente que ainda ela continuava viva. Ela é desbocada (como você pôde perceber pela história), sincera ao extremo, mas é de um coração enorme.
Outro detalhe que quero deixar aqui é uma pequena homenagem a Shakespeare, na pele de Mab, a Rainha Parteira das Fadas. Ela é mencionada em Romeu & Julieta ;) A próxima one é a 4ª e última :( E aqui, Edgar e Lydia já estão bem mais maduros^^ Então, espero você na semana que vem! Beijos e ... Não se esqueça de deixar seu review ;)



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