Cartas Para Você escrita por Karin


Capítulo 20
Your Sweet Little Girl- America para Shalom, A Seleção


Notas iniciais do capítulo

Antes que queiram nos matar (se é que já não querem!), pedimos muitas desculpas pela grande demora. Primeiro o desânimo seguido de um feedback não tão bom em uns capítulos, depois a falta de criatividade e uma série de coisas que não nos deixou postar. Mas enfim, sabemos que estamos com uma dívida enorme com vcs mas pretendemos compensar. Mais capítulos virão no final da semana, se acalmem.
Ah, e obrigada a todos que vem acompanhando e favoritando, além dos comentários do último cap.
Essa carta veio como uma inspiração pelo dia dos pais.... Esperamos que gostem!
Nos vemos lá embaixo...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/529266/chapter/20

Um raio de sol sai de uma pequena fresta aberta da cortina da sala. Um único som, que ocupa todo o cômodo, acaba com a alegria de um novo dia: Um pequeno choro. Ela poderia estar sorrindo. Por seu marido, por seus filhos, por seus amigos... Até por ela mesma. Mas não está. A única expressão que se pode perceber em seu rosto é dor, escondida nas sombras de uma sala escura, iluminada somente por aquela pequena fresta. A mulher, ainda de pijamas, tenta secar as lágrimas sob seus olhos, e torce pra que parem de cair. Já bastou que insistissem em molhar o rosto dela desde a madrugada quando, acordada de um pesadelo, resolveu se levantar da cama e caminhar pela grande casa. Já haviam passado alguns anos, ela devia ter superado, até porque é o que se espera de uma rainha. Essa era a imagem que ela passava: uma mulher forte, acima de tudo. Sim, ela era forte, mas a dor também, a saudade... E o sofrimento é insistente, demora pra ir embora. É claro que a essa altura, ela não chorava todas as noites, afinal já era uma mulher feita. Mas essa data... Não havia como sentir pelo menos um aperto no coração nesse dia. E foi por isso que ela decidiu deixar o seu quarto na madrugada, porque sabia que se ficasse, iria chorar e acordar seu marido. Enquanto vagava pelos corredores, poucos guardas que estavam por lá a observavam, mas ao olhar para seu rosto, sabiam que não havia como interferir, ela simplesmente os ignoraria. Não era da ajuda deles que ela precisava e muito menos da companhia. Resolveu então ir para a sala mais afastada, pois as lembranças que rondavam sua cabeça eram muitas, e uma lágrima solitária já aparecera.

Chegando ao cômodo silencioso, sentou-se numa poltrona e inspirou devagar. Ao soltar a respiração, o choro que estava guardado não demorou a aparecer e lá estava ela mais uma vez: triste e desamparada. Mas o amparo que precisava agora já não estava mais ao seu alcance. As palavras doces e consoladoras de seu pai apenas lhe falavam em sua mente, e seus braços só a abraçavam e traziam para seu colo, em memórias distantes dela. E assim continuou durante um bom tempo. Com um choro abafado, buscava velhas lembranças, na esperança de que fossem reais, de que pudesse voltar no tempo.

“Já deve ser de manhã”, ela pensou olhando para o canto da sala. Também percebeu que além de ser a única coisa iluminando o cômodo como um todo, aquele raio de sol iluminava diretamente uma pequena mesinha. Sobre ela, havia alguns papéis de cartas deixados há um tempo lá. No mesmo instante, ela se recordou de uma carta muito especial que recebera de seu pai, a qual ela leu depois de seu funeral. Comovente e reveladora. Aquela foi uma fase muito difícil na vida dela, e ela perdeu também outras pessoas que amava. Foram dias de luta, e estão sendo até hoje, com tantas outras responsabilidades. E com tudo isso, ela percebeu que não tinha respondido a carta. Claro, porque enviaria uma resposta para alguém que não poderia recebê-la? Mas por outro lado, era seu pai. Seu doce e amado pai. Ela se lembra de ter ficado muito abalada por não ter tido a chance de dizer que o amava também. E sofre com isso até hoje. E se ela escrevesse uma carta? Não, ela não estava louca. Tinha consciência de que não receberia uma resposta. Mas talvez, de algum modo, ao passar as palavras guardadas dentro dela para um papel, seu sofrimento aliviasse. Foi à procura de uma caneta, caminhou até a mesinha, pegou um papel e começou a escrever.

“Papai,

Lembro-me de que quando li sua carta, iniciava dizendo que era difícil começar a escrever, porque sentia que havia muito a dizer pra mim. Hoje sinto o mesmo. Mas o estranho é que tenho tantas coisas guardadas, mas na hora de escrever as palavras simplesmente desaparecem. Uma coisa que a Seleção me ajudou foi no amadurecimento. Ao longo da caminhada, mais decisões me apareciam e eu tinha que tomá-las da maneira correta. E essa mulher madura que agora me diz “Não seja tola, America! Pra que essa carta afinal? Não há motivos para isso”. Tento repetir a mim mesma que isso é inútil, e me convenço do mesmo. Mas aquela menina teimosa continua dentro de mim, e não vai desistir tão fácil.

Recordando dos meus tempos de criança, me lembro de que realmente sempre fui mais apegada ao senhor. Desde pequenos machucados até as aflições e dúvidas mais profundas. Seus braços era sempre o meu refúgio. Quando ninguém mais me compreendia, quando nem eu mesma acreditava em mim, lá estava o senhor para me acalmar. Às vezes eu ainda ouço o senhor me chamando de Meri, ou dizendo “Calma, gatinha, vai ficar tudo bem”.

Todo o meu esforço na música, seja tocando ou cantando, foi para que ficasse orgulhoso de mim. Quando li que me dizia que desejava ter um palco maior, eu tive que sorrir com essa ideia absurda. Não consigo imaginar maior satisfação que um sorriso estampado em teu rosto depois que a última nota soava. O que meus olhos procuravam ao final de cada apresentação naquelas festinhas nunca foi brilho nos olhos das outras pessoas, mas sim nos seus. Não imagina o quanto eu fiquei feliz ao saber que tinha orgulho de mim. Que valeu a pena cada calo no dedo, cada noite em claro, cada manhã sem voz.

O senhor sempre foi bom com todos, se dedicou a família, e amou sua mulher e seus filhos incondicionalmente, disso tenho certeza. Se esforçava pra que nós tivéssemos o melhor do seu pouco, e sei que todos somos gratos por isso. Nos mostrava com sabedoria que devíamos enfrentar as dificuldades da vida e lutar pelo que queríamos, não importa o que fosse. Que fossemos felizes. E eu entendi isso.

Pai, essa tua doce menina cresceu. E lutou, se esforçou conseguiu o que queria. E é feliz. Como eu queria que pudesse ver isso, ter orgulho de mim outra vez. Ah, como eu gostaria de uns conselhos. Ser rainha, esposa e mãe não é fácil. Eu tento trazer todos ao meu colo, mas e quando eu precisar de um?

Coração de pai é grande, e percebo que o seu realmente era enorme. Guardou tudo que era meu e que eu não aguentava, aceitando dividir um pouco comigo. É um pouco egoísta pensar que foste embora cedo demais, deixando tanto pra trás. Mas não foram somente lágrimas. A perda é tão difícil e dolorosa. Mas a gente esquece que se a gente perdeu, então é porque um dia já teve. E foi isso que ficou pra trás: sorrisos, boas lembranças, momentos eternizados pra sempre em nossos corações. É por isso que tem uma hora que o choro não faz mais sentido. Tenho umas recaídas, mas dessa vez me levanto sozinha.

Para terminar, só preciso dizer que te amo muito pai! E se hoje eu sou feliz, é por causa do senhor. E eu vou sentir esse amor pra sempre e como disse na carta, mesmo não estando perto pra dizer.

Com amor,

America”.

A manhã já chegara, e se podia ver isso naquela sala. As cortinas, até então fechadas, foram abertas. Não por uma criada ou por um guarda que passava. Mas por uma mulher que já não chorava mas, pelo contrário, trazia consigo um grande sorriso de felicidade.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí o que acharam? Merecemos reviews mesmo com a demora?
Então é isso, próximo capítulo chegando, sugestões podem falar, estamos a disposição.
Bjss e até o próximo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Cartas Para Você" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.