Letters to You escrita por Natalie


Capítulo 1
How I Lose After You.


Notas iniciais do capítulo

E a morte começa, esta jornada solitária para o outro lado, deixa tua alma se esvair;Já está fazendo muito tempo desde que você sequer tentou. Abra sua mente. O fim de cada maio, junho, julho... Os sonhos são perdidos na escuridão do esquecimento.



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Louisa Clark.

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[...] Todos os dias eu chegava na Granta House às oito da manhã, avisava que estava lá e, quando Nathan terminava de ajudar Will a se vestir, eu ouvia cuidadosamente ele me dizer o que eu precisava saber a respeito dos medicamentos de Will e, o mais importante, como estava o humor dele [...]

Lembro-me como era quando eu começara a trabalhar lá. Eu contava cada segundo para o final do expediente, ou até mesmo para escapar daquele ambiente na hora do almoço. A única coisa que prendia meus pés ali, era o fato de minha família depender daquele dinheiro, que por sinal era bastante generoso.

Mas os meses foram passando... e com ele vieram a facilidade de lidar com Will Traynor.

Meu relacionamento para com o homem, se tornara agradável, diante dos quatro meses em que convivíamos.

Eu sempre me perguntava o porquê de meu contrato ter um limite de apenas seis meses.

Tudo mudou, no dia em que ouvi as senhoritas Traynor conversando sobre a morte marcada de Will.

[...] — Seis meses, George. Ele prometeu me dar mais seis meses. Não quero que você toque mais nesse assunto, muito menos na frente de outra pessoa. E temos... — A mais velha respirou fundo — Temos de rezar muito para que, nesses seis meses, aconteça algo que o faça mudar de ideia. [...]

Com grande espanto, entendi imediatamente o destino real de Will.

Dignitas, era a palavra.

Clinica Dignitas, que presta o “serviço” hediondo e estúpido de facilitar e assistir o suicídio de pacientes ditos terminais e que desejam tirar a própria vida.

Mas afinal, o que será que Will pensava sobre a frase: “ Deus dá a vida e apenas Deus tem o direito de tirá-la”?

Eu não podia acreditar que cuidava de um homem que já estava com seu destino traçado pela morte.

Nos últimos tempos, eu tenho refletido bastante sobre meus reais sentimentos por Will.

Patrick havia se tornado bastante distante e mal-humorado comigo.

Minha batalha constante de todos os dias, era fazer com que William mudasse de ideia a respeito de acabar com sua vida dali a algum tempo.

Havíamos obtido muito progresso; Saíamos para ir ao teatro, ao clube e a concertos musicais, que até então eu nunca tinha conhecido.

Tínhamos nossos dias ruins, também.

E, ah! Esses eram os piores.

Will adotava um mau humor de dar nos nervos, e resmungava praticamente todo o tempo.

Minha tarefa era ter paciência com o mesmo, até que a tempestade interior passasse.

Nathan nos fazia companhia durante algum tempo, e depois saia do anexo para seu plantão no hospital.

Eu tinha de dar graças a Deus, já que esses dias não se repetiam com frequência.

Mesmo com Will adotando um novo ar de suprema tranquilidade e até certa felicidade quando estava comigo ou Nathan, eu ainda me sentia insegura quanto à escolha do mesmo, quando meu tempo se esgotasse.

Eu tinha saudades de minha antiga vida, trabalhando no café, ouvindo sobre a vida de diferentes tipos de pessoas, quando minha única preocupação era se eu e Frank tínhamos encomendado brownies suficientes.

Agora, eu tinha a missão de dar um motivo para William Traynor continuar vivendo, mesmo em seu estado de tetraplégico.

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Will Traynor.

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Mamãe estava sentada na mesa de jantar, lendo alguns de seus livros de direito, quando me aproximei com a cadeira de rodas.

Ela andava com uma aparência deplorável nesses últimos tempos. Seus cabelos imaculadamente perfeitos e arrumados, agora pendiam sobre os ombros, fracos e sem vida.

O estresse que eu vinha lhe causando desde o acidente, me deixava doente por dentro.

Ninguém era o mesmo, não depois do maldito motoqueiro que tirou a vida perfeita que eu conhecia.

A vida que eu vivia com Alicia e Rupert.

Minha namorada e meu melhor amigo.

Malditos infelizes.

A sorte me pregara uma peça, fazendo com que umas das poucas pessoas que eu considerava verdadeiras, me enganassem.

O casamento dos dois fora um sucesso, e a dor só não foi maior, porque ela estava comigo.

Louisa Clark.

A mulher que viera como cuidadora, e se tornara uma grande amiga, até... até eu me apaixonar por ela.

Eu me odiava, odiava meu corpo, o estado patético em que me encontrava... e sabia, que jamais seria correspondido com o mesmo amor.

Eu, William, só seria recebido com pena, pelo o resto de minha vida.

— Tudo bem, querido? — Mamãe me tirou de meus devaneios, sentindo minha presença ali. — Está se sentindo bem? Quer algo? — Ela diz, sem olhar para mim.

Ela sempre falava sem olhar em meus olhos. Isso para mim era um lembrete de como ela sentia pena. Como todos sentiam pena.

— Mãe. Eu quero ir à Suíça este fim de semana. — Eu digo, com a voz calma.

Ela paralisa, e olha em meus olhos.

— O prazo é de seis meses. Ainda faltam algumas semanas. — Ela responde com a voz trêmula, mesmo tentando controlá-la.

— Se você não me levar até lá este final de semana, eu mesmo acharei um jeito de acabar com a minha vida, sem sair deste anexo. — Eu digo, não querendo ameaçá-la nem nada do tipo, mas eu já não aguentava mais a vida que eu mesmo levava. — Mãe, eu já suportei demais, por favor, me ajude. Acabe com isso, eu não quero mais viver assim.

Minha mãe, Camila Traynor, está totalmente descontrolada agora, as mãos tremem e seus olhos estão marejados de lágrimas que ameaçam se derramar.

— Will, você não pode...

— Você sabe como é acordar todos os dias, e viver como eu vivo? Sem poder fazer nada sem a ajuda de ninguém, sem poder nem ir ao banheiro sem ajuda? Você sabe como é sonhar à noite com minha antiga vida, quando eu podia andar e correr, e acordar debilitado? Você sabe como é ser viso de maneira diferente em todos os lugares? — Eu a interrompo, falando desenfreadamente, respirando fundo antes de continuar. — Você não sabe como é. Eu cansei de ser um peso para a família.

Mamãe me encara por uns bons minutos antes de continuar. Vejo que ela busca desesperadamente argumentos para discutir comigo.

— O que eu direi à Louisa? — Ela diz, finalmente.

— Ela não sabe que tenho estes planos. — Eu afirmo.

— Sim, ela sabe. Ela sabe de tudo. — Mamãe diz.

Sou pego completamente de surpresa neste momento, mas não me deixo abalar, ainda estou firme quanto à minha decisão.

— Então dê uma desculpa à ela. Dê o fim de semana de folga, invente uma história, mas não a deixe saber que vou partir. — Eu lhe explico, com a cabeça baixa.

— Se você acha que ela vai acreditar em qualquer coisa que eu disser à ela, sem que a mesma não desconfie de nada, você está inegavelmente enganado. — Mamãe diz, se levantando da cadeira.

— Bom, tenho certeza que você dará um jeito. Por favor, mamãe.

Camila Traynor sai pisando firme da sala de jantar, e é possível ouvi-la batendo a porta de seu aposento.

No fundo, eu sabia que ela faria o que eu havia lhe pedido.

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No dia seguinte, aproveitei a oportunidade de ter Nathan e eu sozinhos na casa, antes de Lou chegar, para escrever-lhe uma carta de despedida.

Com a ajuda do computador adaptado, deixei minhas sinceras palavras à ela, bastante emocionado.

Já era quinta-feira, e olhar para ela sabendo o que eu faria dali a dois dias, me deixava estranhamente culpado.

A discussão que eu, minha mãe e meu pai tivemos no dia anterior só havia me dado mais certeza para o que eu queria.

Mamãe fizera um escândalo, chorando e segurando seu colar com um crucifixo no pescoço.

Papai me apoiou, acalmando-a.

Nathan havia ficado ligeiramente surpreso com tudo aquilo, mas me dera sua promessa de que não contaria a Louisa.

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Louisa Clark

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Cheguei ao anexo quinze minutos mais cedo, na sexta-feira.

A senhorita Camila disse-me que queria ter uma conversa em particular.

Quando entrei, ela andava de um lado para o outro, à minha espera.

— Louisa. — Ela disse, simplesmente.

Estendi-lhe a mão.

— Camila.

— Lhe darei o fim de semana de folga. Aproveite bem. Nathan ficará aqui por algum tempo, então não precisaremos de você. — Ela diz, nervosa com minha reação.

— Mas eu... — Tentei argumentar.

— Lou, é sério. Aproveite, fique com seu namorado, passe um tempo com sua família e deixe que nos resolvemos por aqui, tudo bem?

Olho atentamente para a mulher a minha frente.

Por que ela está tão nervosa?

— Eu insisto em ficar. — Respondo, teimosamente.

— Não precisaremos de você, eu já disse.

Dito isto, Camila sai pisando firme, indo em direção ao seu carro.

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Durante toda a sexta- feira, as palavras da Sra. Traynor ecoam em minha mente.

Penso afinal, que não é nada de mais ela querer me dar uma folga no fim de semana.

Conto a William, e ele apenas assente com a cabeça, mas não diz nada.

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No final do dia, me despeço de Will, levando um dos livros que ele encomendara pela internet para mim: O Preço do Alvorecer.

Não havia mais o embrulho da compra, ele simplesmente me entregara, retirando-o da estante.

Provavelmente já deve ter dado uma olhada, antes de me entregar.

Ri comigo mesma.

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No sábado e domingo, passamos noites em claro, pois Thomaz havia pegado uma forte gripe.

Com tantos afazeres, como cuidar da casa e de meu avô, não tive muito tempo para desfrutar de meu livro, mas estava ansiosa para poder contar a Will, que eu também havia comprado um para ele.

A condição social de minha família havia melhorado bastante.

Mesmo com Treena na faculdade, meu pai arranjara um bom emprego, e meu salário e o dele juntos, davam uma boa quantia. Não passávamos mais apuros.

No domingo à noite, finalmente com tudo se normalizando em casa, subi para meu quarto, e me entreguei à leitura e às músicas.

Comecei a ler, e surpreendentemente, o livro era bastante interessante.

Ao virar de páginas, notei que havia algo entre elas: um fino envelope endereçado à mim, numa caligrafia digital.

Abri-a com um sorriso no rosto, e me assustei com o que havia dentro:

William John Traynor, 07/04/2009;

Eu costumava pensar, que estava sozinho para sempre... Até te conhecer.

Primeiro tentei lutar contra o sentimento que se apossava de meu interior...

Mas não pude manter-me afastado de teus esforços.

Eu devia sempre ficar por perto;

Devia ajudá-la; protegê-la... Mantê-la afastada do perigo...

Mas quem fazia isso, era você, Lou.

Eu odiava vê-la e não poder tocá-la, como o maldito Patrick a tocava... Odiava o fato de estar condenado a ficar nesta cadeira de rodas terrível, para sempre.

Nos momentos em que eu sentia seu breve toque... Nos momentos em que saíamos, eu me sentia um homem feliz novamente.

Você, com suas roupas estranhas, tão foras de moda e berrantes... Me faziam rir e lembrar como a vida podia ser agradável, até certo ponto.

Com você, Louisa Clark... Eu podia sentir novamente o calor... O calor de um sentimento belo, na pedra fria que tenho no lugar de meu coração.

Quando olho em seu rosto, vejo uma maneira estranha de amar;

Eu queria poder olhar em seus olhos e dizer que sempre estarei lá quando acordares, assim como eu estava antes de dormires...

Queria poder te amar de verdade, do jeito que um homem de verdade ama uma mulher.

Porém meu estado condicional não permite.

O que me restava mais nesse mundo podre? Eu não suporto mais.

Eu quero partir. Tentar ir embora deste lugar novamente.

Me perdoa, Lou, mas estou partindo...

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Tais palavras me atingiram como uma série de bofetadas em minha face.

Não podia ser.

Não, não, não, não!

Então era isso.

Todo o entendimento me veio à mente.

“— Lou, é sério. Aproveite, fique com seu namorado, passe um tempo com sua família e deixe que nos resolvemos por aqui, tudo bem?”

Camila Traynor sabia de tudo.

Era tudo uma grande armação.

Eu não havia conseguido fazer com que Will mudasse de ideia.

Ele se fora.

A esta hora ele já deve estar morto.

Com lágrimas nos olhos se derramando sem piedade, castiguei à mim mesma por não ter lido a maldita carta antes.

Corri, descendo as escadas, ansiosa por ligar para a Granta House, e perguntar de Will.

Após o telefone do destinatário tocar seis vezes, a chamada caiu para a secretária eletrônica.

A família Traynor saiu para uma viagem. Qualquer contato, ir ao Castelo na segunda-feira, para tratar com o Sr. Traynor.— Foi o que disse a mulher da caixa postal.

Eu não podia acreditar.

Por sorte, eu tinha o telefone celular de Camila, então, imediatamente liguei, com o coração aos pulos.

— Alô? — Disse uma voz profundamente abatida.

— Onde vocês estão? — Eu disse, sem rodeios, com a voz soluçante.

— Lou... — Camila tentou explicar, mas eu a interrompi.

— Por que vocês não me contaram? Sua maldita infeliz. Por que não me disse a verdade? — Eu disse, furiosa, incapaz de medir minhas palavras. — Ele já...?

— Sim, Louisa. Ontem à noite. — Ela responde.

A ligação cai.

Meus pés não me sustentam mais.

Caio de joelhos no chão, sem forças. As lágrimas e os soluços intermináveis enchendo minha mente de imagens terríveis de Will tomando os coquetéis da morte.

#

Prólogo.

Nos dias seguintes à morte de Will, eu me tornara uma pessoa vazia, sem vida.

Sentia muita falta das ironias do mesmo no meu dia-a-dia.

Rompi com Patrick, briguei com Treena e com mamãe. Minha vida havia se tornado um verdadeiro inferno.

À noite, a lembrança da voz e do riso de William me assombravam como fantasmas que jamais iam embora.

A carta em que ele declara seu amor por mim, estava sempre colada a meu corpo, sendo molhada por minhas lágrimas todos os dias.

Eu não queria sair para procurar outro emprego. Não queria sair de casa. Não queria fazer nada mais além de chorar. Não queria ver nem sombra da família Traynor.

Perdi as contas de quantas vezes li a carta que ele me deixara, antes de eu mesma escrever a minha.

#

Louisa Clark, 15/05/2009;

Mãe, pai, Treena, Thomaz e vovô.

Recebi a notícia de que William Traynor faleceu por vontade própria na noite de sábado.

Minhas ambições na vida não eram muitas, meus hobbies não eram nada extraordinários, e estou cansada de ouvir de todos que Katrina é melhor do que eu.

O homem que morreu, mudou minha vida de uma forma que ninguém jamais entenderia.

Hoje, vejo o mundo de uma forma diferente.

Me desculpem, mas não serei capaz de viver com a saudade do homem por quem me apaixonei nesses últimos meses.

Sei que se sairão bem sem mim daqui para frente.

Thomaz, meu pequeno menino, quando tiver idade suficiente para me entender, espero que me perdoe.

Mamãe, papai e Treena, peço que me perdoem e não deixem de me amar por meu ato inconsequente.

Não serei capaz de dormir a noite, com os soluços cruéis me assombrando. Não mais.

William...

Todo dia tua ausência me persegue onde quer que eu vá.

Feche a porta, jogue a chave fora;

Não quero ser lembrada, não quero ser vista;

Não quero ficar sem você minha opinião nesta vida, está nublada, como o céu de hoje à noite

Suas mãos silenciosas... sua voz entorpecida...

Tento gritar para fora os meus pulmões, mas isso torna as coisas mais difíceis.

As lágrimas escorrem pelo meu rosto

Eu apenas queria que nós pudéssemos ter nossa antiga vida por mais um dia. Eu cuidando de você, e você de mim.

Eu queria apenas, que pudéssemos voltar no tempo...

Me perdoem...

#

Louisa Clark foi encontrada morta em seu quarto por sua irmã Katrina, no dia dezesseis de maio de dois mil e nove.


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Notas finais do capítulo

Não há economia de lágrimas em uma hora dessas.