Dezesseis Anos e Meio escrita por Lady Padackles


Capítulo 50
Capítulo 49


Notas iniciais do capítulo

Queridíssimos leitores. Desculpa, desculpa, desculpa!!!! Eu sei que fui um pessoa muito crual deixando a minha fic de lado por tanto tempo, mas aqui estou eu, na véspera de Natal, para deixar esse presentinho para vocês. "Dezesseis anos e meio" está na reta final! Aproveito para desejar um Feliz Natal e um próspero Ano Novo a todos!



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Dean titubeou. Não sabia o que deveria responder àquela velha.

– Sou-irmão-da-namorada-do-sobrinho-da-senhora-que-trabalha-aqui... - disse, em um fio de voz, e atropelando as palavras.

A velhinha provavelmente não acompanhara o raciocínio. Ficou calada, deixando o menino ainda mais constrangido. O louro então permaneceu de pé, muito trêmulo e quieto, até que a tia de Saul, dona Nanete, chegasse. A mulher foi logo se precipitando e apresentando Dean à velhinha, Dona Francisca, porém chamou-o de William. Pelo jeito, por algum motivo, queriam esconder sua verdadeiro nome.

– Senta, garoto! E me mostra o cotovelo machucado. - ordenou ela, que já tinha pego o que parecia ser uma caixinha de primeiros socorros bastante completa. Em seguida, ascendeu a luz, deixando o garoto um pouco mais aliviado. Preferia encarar seu inimigos na claridade, e aquelas duas pareciam perigosas.

Dean então obedeceu a tia de Saul. A dor era grande, e o garoto suou frio quando a enfermeira puxou, sem muita paciência, seu braço para mais perto de si.

– Deixa de ser frouxo. Não devia ter deixado esse machucado infeccionar desse jeito! Agora sofra as consequências... - resmungou Nanete ao mesmo tempo que lavava o machucado com algum produto qualquer. Dean mordia a língua pra não gritar, mas era impossível não lacrimejar diante de tanta dor. Ele imaginara que a tia de Saul fosse melhor que o sobrinho, mas agora não tinha tanta certeza.

O louro então fechou os olhos com força. Quem sabe assim o tempo passasse mais depressa... Apesar do esforço que fazia para permanecer quieto, entretanto, acabou soltando um gemidinho baixo e agoniado. Foi então que sentiu um carinho ligeiro em seu braço. Não no braço machucado, mas no bom. Um ato de solidariedade, talvez? Nanete parecia tão rude que aquilo surpreendeu o garoto. O louro então abriu os olhos, mas, para seu espanto, não era a enfermeira que o confortava, e sim a velhinha que antes o metera medo em meio a penumbra.

– A vovó vai te dar a mão, e a dor vai passar mais depressa. Já vai acabar... - disse ela, de maneira doce, e apertando a mão de Dean em seguida.

Tia Nanete olhou para a mulher com ar de desaprovação. Resmungou em seguida “Meu sobrinho disse que ele é muito malcriado”, mas foi ignorada.

Mais um remédio ardido e um algodão maldito sendo friccionado contra a ferida. Dean prendeu a respiração e apertou a mão de Dona Francisca que parecia ser mesmo o único conforto que haveria de ter. Sua presença, agora, magicamente, deixava o garoto um pouco mais tranquilo. Prestando atenção em seu rosto, ele lembrou-se de alguém. Conhecia a velha de algum lugar, mas não conseguia se recordar de onde...

– Você é forte, meu querido... Eu sei que está doendo, mas você não reclama de nada. Quantos anos você tem?

– Dezesseis – respondeu Dean, juntando as forças que ainda tinha para falar.

– Já é um rapazinho... – disse ela. Dean reparou que seu olhar era doce, porém perdido. Dona Francisca não olhava nos olhos. Talvez já estivesse ficando gagá... Depois o menino percebeu a verdade: a pobre era completamente cega.

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– Você quer um pedaço de bolo, querido? Tem bolo de chocolate... - ofereceu a dona da casa assim que Nanete acabou de fazer o curativo no cotovelo de Dean.

– Não, obrigado, Dona Francisca... - respondeu o louro envergonhado.

– Me chame de vovó! - pediu a senhora – Eu tenho idade para ser sua avó. E o bolo está uma delícia... Você não gosta?

Dean sentiu uma onda de carinho invadir seu coração. Ele não tinha mais pai nem mãe. Adoraria, de fato, te uma avó viva. Alguém que se importasse com ele de verdade. Seus avós, tanto paternos quanto maternos, haviam morrido antes dele nascer. Dona Francisca parecia tão bondosa...

– Eu gosto, vovó... – respondeu, com docilidade.

Francisca pediu, e Nanete, com muita má vontade, foi buscar um pedaço de bolo com coca-cola para o garoto comer enquanto esperava por sua irmã e Saul.

Estranhamente, quando o casal chegou, e a enfermeira avisou-os que deveriam trazer o menino para vê-la novamente dali a três dias, Dean sentiu-se radiante. Pouco importava que aquela mulher rude fosse machucá-lo de novo. Ele ansiava por segurar a mão da vovó novamente e por ouvir sua voz lhe chamando “querido”.

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Sam passou toda a quinta-feira pensando na possibilidade de ir para Nova York. Por mais que pudesse parecer um ideia interessante, ele sentia que jamais poderia largar sua vida para trás e abandonar o Castelo de vez. E Dean? E se ele mudasse de ideia? O professor sabia que ele e seu bebê tinham sido feitos um para o outro, e essa informação não podia ser desconsiderada. Já tinha novamente tirado Nova York da cabeça, quando chegou em casa. Mas lá, encontrou Garth, que não parava de discursar sobre a Big Apple e sobre a incrível oportunidade que o amigo tinha de começar uma nova vida por lá.

– Sam, se muda daqui. Você precisa tentar ser feliz. Longe desse lugar... - insistia ele, convicto.

Na sexta-feira a tardinha, até Ben já parecia convencido.

– Ben, você que passear no Central Park? - perguntou Garth com entusiasmo. O cãozinho latiu e pulou deixando seu dono surpreso.

– Como conseguiu que ele fizesse isso? - perguntou Sam intrigado.

Garth Qualls gargalhou com gosto e repetiu a pergunta. Ben latiu de novo e equilibrou-se nas patinhas traseiras. Só depois de um bom tempo confessou ter treinado o cachorro durante o dia e exibiu o pedaço de carne escondido entre seus dedos. Era hora de recompensar o inteligente animalzinho por seu rápido aprendizado.

Sam sorriu com a brincadeira. Sentiria falta de Garth quando ele fosse embora na segunda-feira seguinte, ou, mais precisamente, dali a três dias apenas.

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No domingo, Dean voltou à casa de Dona Francisca. Como da primeira vez, Nanete foi pouco amigável, o que foi compensado por todo o carinho que a velhinha parecia ter por ele.

– William, eu sinto como se te conhecesse há muito tempo! – exclamou ela.

Dean estremeceu, pois também tinha essa impressão. Quem sabe não tivessem mesmo se conhecido anos atrás? Sentia-se culpado por não dizer a ela seu nome verdadeiro. Mas não apenas o nome dele havia sido mudado, mas também o de Saul (que agora era George) e Mackenzie (Jane). Talvez estivessem apenas se precavendo caso a velhinha resolvesse denunciá-los por abusar do menino. Besteira, já que Francisca era cega e jamais poderia notar os hematomas e cortes que insistiam em surgir no corpo do jovem.

Naquele dia Saul e Mackenzie demoraram para buscá-lo, e Nanete, como sempre sem paciência, deixou Dean sozinho com Francisca por um bom tempo. Eles então conversaram sobre muitas coisas. O louro sentia-se muito a vontade com ela, inclusive para falar de seus pais. Acabou chorando em seus ombros e recebendo ainda mais conforto e carinho.

– Sempre que quiser, venha aqui conversar com a vovó. Será sempre bem recebido, meu querido. - despediu-se a cega. O menino deu-lhe um abraço. Voltaria com certeza, mesmo que para isso tivesse que fugir de casa, já que Saul não deixava que ele saísse sozinho.

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Os últimos dias de Garth em companhia de Sam foram muito alegres. Qualls inventou uma viagem de fim de semana, arrastando Winchester e Ben consigo. A ideia do homem de tirar o amigo de casa para levantar seu astral e o fazer enxergar novas possibilidades não poderia ter dado mais certo. Após sentir-se bem, após um longo período de incansável sofrimento, Sam começava reavaliar suas decisões.

O Castelo naquela segunda-feira de manhã parecia atipicamente deprimente. Era um dia cinzento de final de outono, e os galhos das árvores, desfolhadas, farfalhavam com o vento, dando impressão de filme de terror. Winchester olhou ao redor, instintivamente procurando por Dean, mas como sempre, não o encontrou por ali. Um nó na garganta e um aperto no peito anunciavam o inicio de mais um dia de angústias. A lembrança de Garth dando adeus no aeroporto, há pouco mais de uma hora, o deixavam ainda mais deprimido. Talvez o amigo estivesse certo. Por que ele insistia em ficar ali e sofrer com tantas lembranças? Se Dean não podia aceitar suas desculpas, não havia mais nada que pudesse fazer. Ele ia tratar de ser feliz. Ia mudar de carreira, de apartamento e de vida.

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– Vocês souberam!? O professor Winchester pediu demissão!!! - guinchou Ruby, ofegante, assim que se aproximou de seus amigos. Ela havia corrido da quadra de basquete até lá para lhes dar a notícia.

– Eu estava escondida em uma moita... tirando fotos do Pablo e do Christian namorando... - a menina parou para tomar fôlego - quando o Brian Scott e a Senhorita Stratta começaram a falar no assunto. Winchester vai embora! - completou ela, enfática, e alarmada.

Misha e Justin se entreolharam. Eles já sabiam da notícia. Souberam pelo próprio Winchester na terça-feira, dia 12 de dezembro, dia seguinte à partida de Garth, quando o professor decidira entregar sua carta de demissão. Já haviam se passado três dias, e só agora a notícia parecia começar a se espalhar.

Jo arregalou os olhos, chocada com a notícia.

– E a nossa peça!? - desesperou-se ela. - A apresentação é daqui a uma semana! Estamos ferrados!

– Não sei o que vai ser de nós! Sem o Dean, e agora sem o professor Winchester. Estamos ferrados mesmo! - choramingou Ruby. Seus olhinhos maquiavélicos se ascenderam em seguida. - Só se a gente chamasse Christan e Pablo para ocupar o lugar deles! - que ideia brilhante ela acabara de ter...

– Deixem de bobagem! - esbravejou Justin sem paciência. - Mesmo que o Winchester tenha pedido demissão, tenho certeza que não vai dos deixar na mão.

– Claro que ele vai participar da peça! - completou Misha. - E o Justin já decorou todo o papel do Dean. Está tudo certo para o dia 23. Parem com todo esse drama.

As meninas se entreolharam. É... A ideia maluca de Ruby, que queria trazer seus novos queridinhos para perto dela, não daria certo dessa vez. Ambas então começaram a especular o motivo que Sam teria para abandonar o emprego. Justin e Misha, que sabiam de toda a verdade, permaneceram bem quietos.

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Após a decisão que tomara, Sam intercalava momentos de esperança com ansiedade, angústia, saudade e etc... Se pudesse, o professor teria feito suas malas e se mandando dali imediatamente. Mas ainda tinha a peça... Não podia deixar seus alunos na mão. Esse era o seu último compromisso como professor de teatro do Saint Peter, e o honraria por mais que lhe doesse a lembrança de seu amado Dean, e todos os momentos inesquecíveis que passara com ele nos ensaios dessa mesma peça de teatro.

Sam lembrou-se de quando se tocaram, desajeitadamente, pela primeira vez e toda a tensão que ficou no ar. Seus olhares cruzavam e soltavam faíscas... E depois, quando já namorados, se tocavam com cuidado para não serem vistos. Aquelas memórias trouxeram uma lágrima à face do homem. Estava claro para ele agora que aquele não era o momento certo. Dean era muito jovem. Ele iria para Nova York, e o destino, se assim quisesse, se encarregaria de trazê-lo de volta aos seus braços.

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Dean desligou o celular com os olhos marejados. Misha adiara alguns dias até tomar coragem, mas finalmente, há uma semana da apresentação da peça de teatro, Dean recebera a notícia de que esse seria o último dia de Sam Winchester não apenas no Colégio, mas também naquela cidade.

– Por que você não vai até o Saint Peter, Dean? Não podiam pelo menos se despedir amigavelmente?

– Eu não quero. Não tenho nada pra falar pra ele! - respondera o louro, rispidamente, antes de se despedir do amigo.

Agora o menino, sentado em sua cama, não conseguia evitar que algumas lágrimas lhe pulassem dos olhos. Maldito Winchester que o fizera amar intensamente e depois provara nunca ter lhe amado de verdade. Maldito Winchester e suas mentiras fantásticas...

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– Tava falando com quem no telefone? - esbravejou Saul, já entrando no quarto. Dean enxugou as lágrimas o mais depressa que pôde. O desgraçado do Saul levara sua chave dali. Agora nem mesmo se trancar o menino podia.

– Um amigo meu... - respondeu o garoto.

– Amigo? AMIGO? - Saul soltou uma gargalhada forçada. Parecia estar bêbado de novo... - Você estava falando com aquele professorzinho maldito, não estava? Aquele seu namorado!

Dean acenou negativamente e tentou dizer alguma coisa, mas Saul não lhe deu chance de defesa.

– Eu sei que você está doido pra sair e se encontrar com o desgraçado. Está doido pra dar o cu, não está? Seu garoto pervertido! Pois não vou deixar você sair. Filho meu só dá o cu pros outros depois que der pra mim primeiro!

Dean sentiu o sangue subir à cabeça. Que sujeito desgraçado! Pervertido era ele! Completamente louco e pervertido...

– Você não é meu pai, seu psicopata idiota! Eu nunca vou dar para ninguém tão asqueroso como você! - respondeu o louro, sem esconder a fúria e o desprezo que sentia pelo outro.

Saul reagiu com um safanão e alguns socos que se seguiram. Dean tentava reagir, mas o mais velho era muito mais forte. Quando acabou de bater, o homem se retirou, ainda reclamando.

Que ódio! Que ódio Dean tinha daquele homem... Sua vontade era denunciá-lo a polícia e sair de perto daquele casal maldito. Várias vezes pegara o telefone com essa intenção. O medo, entretanto, de ser colocado em algum orfanato, o fazia desistir. Pelo menos ali ele tinha um quarto só seu... Tinha comida... Tinha o conforto da casa de seus pais. Mas assim que atingisse a maioridade, colocaria aquele desgraçado na cadeia. Faltavam menos de dois anos agora...


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