Dezesseis Anos e Meio escrita por Lady Padackles


Capítulo 40
Capítulo 39




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Quando Roger e Sarah chegaram ao colégio, estacionaram o carro de qualquer jeito. Avistaram o treinador Brian Scott e correram ao seu encontro, ávidos por saber qualquer informação sobre o filho.

– Eles ainda não voltaram... - explicou o homem, nervoso, e deixando Roger ainda mais desesperado.

– Dean pediu para ser buscado as 17:15h... Com certeza antes disso deve estar de volta... - ponderou Sarah, tentando acalmar o marido.

Roger teve de concordar com a mulher. Mas o tempo passava devagar, e ele roía as unhas de preocupação, enquanto tentava seguidamente falar com o filho pelo celular... Bem, pelo menos tinha o apoio do treinador, que, assim como ele, estava indignado. Scott era um bom homem. Conversando, decidiram que quando Sam estacionasse eles o segurariam e levariam para a delegacia. Ambos vigiavam a porta do colégio atentamente, prontos para resgatar o jovem e inocente Dean das garras do alce do mau.

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Sam estacionou a poucos metros da entrada. Assim era mais seguro, e ninguém veria Dean sair de dentro do Jipe. Despediu-se do louro com um selinho e partiu.

– Ali está ele! - avisou Brian, quando percebeu o carro do professor de teatro. Mas era tarde demais... Sam acabava de sair, e Dean se aproximava da entrada.

– Eu vou atrás do desgraçado! - vociferou Roger, inconformado. O homem pulou para dentro do carro. Sarah, cansada de esperar pelo filho, já estava sentada no banco do carona. - Entra no carro depressa, Dean! - ordenou o pai, apressado, para o menino. Assustado, sem entender o que se passava, Dean obedeceu, e Roger partiu em disparada.

A estrada que dava acesso ao Castelo era longa e demorava a se bifurcar. Se Roger corresse bastante seria capaz de alcançar o criminoso...

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– Pai! O que está acontecendo?

– Eu vou apanhar esse desgraçado, Dean. E nem adianta defender. Ele é um pilantra, mau caráter e pedófilo! E eu não admito que ninguém abuse do meu filho!

O louro engoliu em seco. Só aí percebeu que Roger estava atrás de Winchester. Como ele descobrira?

– Pai... Pelo amor de Deus... Ele não é nada disso... - implorou o garoto. - Você está me assustando! - disse com sinceridade. Nunca havia visto seu pai tão raivoso, e nem dirigindo daquela maneira. A baixa visibilidade por causa da chuva, que agora já podia ser chamada de temporal, apenas piorava o cenário.

Mas Roger estava determinado. Quando finalmente avistou o Jipe de Winchester à distância, enfiou o pé no acelerador. Sarah ia falar alguma coisa quando o carro derrapou, e ela apenas soltou um grito assustado.

Sam estava meio quilômetro a frente e jamais percebeu que estava sendo perseguido. Seguia seu caminho com atenção redobrada por causa da chuva, enquanto o carro de Roger rodava perigosamente, vindo a capotar e bater com força no barranco que ficava na lateral da pista. O ruído do temporal e a canção que tocava no rádio não deixaram que Winchester escutasse o barulho do acidente...

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Brian Scott, que seguia um pouco atrás, pronto para ajudar Roger no que fosse preciso, levou o maior susto ao ver o carro acidentado. O homem parou no acostamento e foi até o veículo, tentando andar depressa apesar da chuva torrencial e de suas pernas, que não o obedeciam. Trêmulo e assustado, viu o quanto o carro estava destruído... O homem estremeceu ainda mais ao perceber que piloto e passageiros estavam desacordados e ensanguentados.

O treinador então voltou para o seu carro, e, já protegido da chuva, discou o número da emergência pela terceira vez aquele dia.

– 911.

– A... aqui é Brian Scott... - disse com a voz fraca.

– Ahhh não. Senhor Scott... Já falei para abrir um processo com a polícia local... - resmungou o atendente. Sim, era o mesmo homem de antes, por uma coincidência do destino.

– Um acidente de carro... Ele pode estar morto! - desabafou o homem, que mal conseguia raciocinar. - Mande uma ambulância. É urgente!

O rapaz, do outro lado da linha, teve dúvidas sobre a veracidade da informação. Tinha sido treinado, entretanto, a tratar com seriedade até mesmo os trotes mais idiotas.

Brian então explicou como chegar ao local do acidente e foi instruído a não se aproximar do veículo. Não havia nada que pudesse fazer a não ser esperar por socorro... Foram os oito minutos mais longos da vida do pobre homem, que rezava sem parar.

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Scott assistiu de longe os socorristas retirarem Roger, Sarah e Dean de dentro do veículo, e os colocarem de maca dentro de duas ambulâncias. A essa altura o diretor do colégio também havia passado pelo local e esperava notícias junto com Scott.

– Estamos levando a família, com vida, para a emergência do hospital Christus Spohn - os dois então foram avisados. E essa foi a única informação que tiveram. Brian, é claro, seguiu a ambulância, com o coração apertado.

– Você vai até lá? - surpreendeu-se o diretor. É claro que ele torcia para que os acidentados ficassem bem, mas daí a se desviar de seu caminho para ver como estavam já era um pouco demais. Principalmente em véspera de feriado, e no meio de um temporal...

Brian, entretanto, não poderia tomar nenhuma outra atitude. Disse para o diretor que iria ajudar os Campbell no que fosse preciso e mandaria notícias.

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Enquanto Sam viajava tranquilamente, escutando suas músicas prediletas e cantando junto, Brian Scott seguia a ambulância, pálido como um fantasma. E se eles estivessem muito machucados? E se Dean não resistisse aos ferimentos? Seria possível que o menino fosse morrer com menos idade que o irmão? Não... Brian não podia acreditar naquilo... Seria uma tragédia grande demais! E tudo culpa de Sam Winchester!

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Outra que nem imaginava o que acabava de acontecer com sua família era Mackenzie. Como eles estavam demorando... A moça estava com fome e de saco cheio de tanto esperar. Pelo jeito Sarah e Roger deviam estar armando o maior barraco no colégio... Acabou decidindo ir comer fora com Saul, comemorando o primeiro dia de trabalho do rapaz.

Quando seu celular tocou, e Mackenzie não reconheceu o número, resolveu ignorar. Estava no meio de um jantar delicioso com o seu namorado. O que quer que fosse poderia esperar...

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Quase uma hora mais tarde, Brian ainda estava sem notícias, e o hospital tentava contactar Mackenzie, sem sucesso.

– Pode me dar alguma informação agora? - implorava o treinador. Mas ninguém parecia querer lhe dizer nada... E isso, para ele, era sinal de que a situação era das piores...

Lá pelas tantas, já não se aguentando de nervoso, Scott percebeu dois médicos conversando no corredor. Um deles parecia muito chateado... Brian sabia que a habilidade que possuía em fazer leitura labial um dia lhe serviria para alguma coisa...

– E o rapazinho? - perguntou o primeiro.

– Ele perdeu muito sangue, está em coma... Dificilmente vai resistir... Uma tragédia... - suspirou o segundo.

Scott arregalou os olhos. Não estava preparado para aquela notícia... Em um impulso, o homem se enfiou pela porta de vidro, que era restrita aos funcionários, e meteu-se no meio dos médicos.

– Por favor, deixe eu ver o menino. Antes que... - o homem sentiu um nó na garganta.

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É claro que Brian foi retirado e encaminhado de volta à sala de espera. Pouco tempo depois, chamaram-no para conversar. Pelo menos sua intrusão serviu para que prestassem atenção na sua preocupada existência.

Quinze minutos mais tarde, o homem voltava da sala do médico, pálido, incrédulo e também revoltado. Culpava Sam Winchester por tudo o que havia acontecido. Estava difícil processar a informação que acabara de receber...

O homem não pôde deixar de prestar atenção, entretanto, na confusão que se formava na sala de espera. Uma mulher loura fazia o maior escândalo. Ao seu lado, um homem, também parecia bastante abalado. Pelo que Brian pôde entender, o filho do casal estava internado, na UTI, e não queriam deixá-los entrar.

Depois de discutir com a recepcionista, e fazer uma cena digna de novela mexicana, a loura voltou-se para um rapaz, que estava sentado, quieto em um canto.

– E você? O que ainda está fazendo aqui!? Eu já não disse para você ir embora? Você não é da nossa família! - vociferou ela, indignada, e com pouca educação.

O rapaz, que tinha um capuz cobrindo o rosto, se levantou em seguida.

– Quem é você pra falar assim comigo?! A única família que o Skye teve nesse último ano fui eu!

Brian reconheceu aquela voz... E Skye era um nome pra lá de incomum... Quando o homem percebeu que o rapaz de capuz era Patrick, ele aproximou-se para ajudá-lo. A essa altura o pai de Skye também gritava com ele.

– Algum problema, Patrick? - Brian então perguntou, olhando com fúria para o casal. - Se esses dois te incomodarem, eu posso chamar o segurança. Você tem todo o direito de visitar quem quiser...

Os pais de Skye então se calaram, e Brian chamou o rapaz para sentar-se ao seu lado.

– Skye tentou se matar... Cortou os pulsos... Fui eu que encontrei... Todo ensanguentado dentro da banheira... - desabafou o jovem Patrick, sem esconder o nervosismo. Skye estava em coma.

Brian ficou chocado. O que podia levar uma pessoa a isso? Que tristeza... Pelo jeito era ele o rapazinho sobre o qual os médicos conversavam...

Brian também desabafou, mas sem entrar em detalhes. Estava extremamente abalado com o acidente dos Campbell, e sentia-se bem em ter alguém com quem conversar. Além disso, conversar com Patrick ajudava a passar o tempo, já que o treinador estava determinado a não arredar o pé. Naquele momento difícil, ele jamais deixaria Dean sozinho. Sarah e Roger eram ambos filhos únicos e seus pais eram falecidos. Tratava-se de uma família muito pequena. Os poucos parentes que tinham, moravam longe. Fora Mackenzie, que ainda não tinha sido localizada, não tinham mais ninguém.

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Quando permitiram, Brian entrou no quarto para ver Dean. Ele dormia, pálido e sereno, apesar dos cortes e hematomas que denunciavam o trauma que acabara de sofrer. Parecia um anjinho... Lindo... Brian sentiu seu coração palpitar... Sua vontade era correr para abraçá-lo. Graças a Deus o menino estava bem... E graças também ao cinto de segurança! Dean havia quebrado duas costelas, levado pontos no cotovelo, e nada de mais grave...

Os olhos do treinador encheram-se de lágrimas ao contemplar o garoto. Seu coração doía de tristeza... Quando Scott percebeu Dean se remexendo na cama, entretanto, tratou de mostrar-se forte. O louro fora sedado para se acalmar e não sentir dor, mas, pelo jeito, já estava acordando. Aquela não era hora de falar muita coisa. Não ainda... Afinal, segundo o médico, Dean estaria bastante grogue.

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Dean sentiu seu corpo dolorido. Tentou abrir os olhos mas a claridade o incomodava. O que havia acontecido? Onde ele estava?

O menino sentiu uma mão tocando seu braço.

– Pai? - ele perguntou, confuso, e com a voz fraca.

Brian estremeceu. Não sabia se conseguiria conter as lágrimas... Ele não era Roger Campbell... Roger já não estava mais entre eles. Nem Roger, nem Sarah. Saíram com tanta pressa... Esqueceram-se do cinto. Ambos haviam falecido ainda dentro da ambulância.

Dean finalmente conseguiu abrir os olhos e fixou o olhar no homem que estava ao seu lado. De imediato reconheceu o treinador Scott.

– Treinador? O que aconteceu? - quis saber ele.

– Um acidente... - respondeu o homem. - Mas fica tranquilo... Vai ficar tudo bem... - mentiu, com um nó na garganta.

Dean então lembrou-se da chuva, do carro em velocidade, do pai nervoso... E da perseguição a Sam Winchester... Tudo parecia, entretanto, muito vago. Como um sonho já quase esquecido...

– Onde está o meu pai? - Dean então perguntou, fazendo Brian emudecer. Não iria contar nada para o menino naquele momento... Para sua sorte, o louro não insistiu na pergunta.

– Sabe, professor Scott... Eu amo o Sam e vou falar pro meu pai... Ele me ama também. E quando a gente ama, tem mais é que ficar juntos... Não faz sentido que nosso amor gere ódio... - disse, com a voz arrastada. O estado de torpor deixava Dean sem censura. Falar de Sam Winchester para Brian Scott parecia algo mais que natural...

O menino parecia tão frágil e tão inocente... Ele era só uma criança afinal... Não via maldade nas coisas... Mas Brian, que culpava Sam pelo acidente, corroía-se de ódio por ele.

– Dean, Sam Winchester é um homem adulto... O que ele fez, namorar com você, é errado... Seu pai, sua mãe, eu... A gente só queria te proteger - argumentou o treinador - Você ainda é muito novo pra entender certas coisas...

– Mas eu amo o Sam! - insistiu o menino.

Brian sabia que devia deixar Dean descansar, mas aquela afirmação o tirava do sério. Era impossível que amasse o Winchester de fato... Um menino de quinze anos ainda não sabe o que é amar...

– Não ama, Dean. Ele te manipula... Te faz acreditar no que quer...

Dean sorriu. - Não é verdade... - respondeu, simplesmente.

– Como você tem tanta certeza? - Brian estava irritado.

– Como eu tenho certeza? - Dean olhou para o treinador, pensativo por um segundo. Depois deu um sorriso e continuou. - É que quando eu estou ao seu lado... O céu fica mais azul... Mesmo em dia de chuva... E milhões de canções... Lindas... São tocadas... Todas ao mesmo tempo... Dentro de mim! - suspirou o garoto.

Dean não estava fazendo o menor sentido... Culpa de Brian que insistira em argumentar com ele naquele estado. Mas o silêncio do homem apenas incentivou o louro a falar mais.

– Eu sei que eu o amo porquê quando ele sorri, o mundo desaparece ao redor. E só sobra a sua alegria... E aquelas covinhas lindas... Que enchem meu coração de ternura! - e dizendo isso, Dean riu. Era um riso doce e cativante, que fez com que Brian, sem perceber, sorrisse também.

– Mas sabe quando eu tenho ainda mais certeza? É que quando eu olho em seus olhos, eu enxergo a sua alma. E tenho vontade de chorar... Porque ela me emociona... - E dizendo isso, os olhinhos de Dean se encheram de água.

– Brian... Me ajuda... Fala pro meu pai que o que eu amo é uma centelha divina... Se ele tem mais de 30 anos e se chama Sam Winchester, isso pouco importa... Amor só deveria gerar amor... Eu amo a minha família, e amo o meu namorado, e queria que eles se amassem também... - completou o menino, fazendo beicinho.

Brian estava ficando emocionado com aquelas palavras. Ver Dean falando dos pais partia seu coração. Ahhhh se ele pudesse voltar no tempo... Teria conversado com calma... Teria agido com tranquilidade... Poderia ter evitado aquela tragédia...

O treinador sentou-se na lateral da cama e fitou o aluno com ternura, enquanto engolia a vontade de chorar. Talvez, de fato, fosse em parte sua culpa que aquele lindo garoto estivesse órfão agora...

– Treinador Brian Scott... - disse Dean, dessa vez, exibindo um ligeiro sorriso. - Você é meu treinador... Meu amigo... Meu irmão... Eu gosto de você, e você gosta de mim... Tanto faz nosso nome... Brian, Josh... Tanto faz nosso sexo, nosso parentesco, nossa idade... Você me entende?

Brian fez que sim com a cabeça. Josh? Quem era Josh? Não importava... Dean fechou os olhos, cansado, e o treinador não pôde mais controlar as lágrimas que rolavam silenciosas enquanto afagava os cabelos do menino. Dean não custou a adormecer...

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Quando Brian saiu do quarto de Dean, no início da madrugada, Mackenzie já tinha chegado ao hospital. O treinador sabia que a moça tinha os seus defeitos, mas, em um momento como aquele, nada é mais importante que estar com a família... Era hora dele deixá-los sozinhos, com a sua dor. Não havia mais nada que pudesse fazer. Não por enquanto...

Mas se Brian não podia fazer mais nada por Dean, talvez pudesse fazer por outra pessoa. Na sala de espera, Patrick estava vermelho de tanto chorar e parecia cansado... Provavelmente não comia há muitas horas...

– Vem, vamos comer alguma coisa, e depois eu te deixo em casa. Você precisa descansar... – disse o treinador resoluto, puxando o rapaz pelo braço.


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