Candidatos a Deuses escrita por Eycharistisi


Capítulo 38
Capítulo 38




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– Não creio que tenham sido raptados – disse Niko, com ar pensativo – Porque se alguém queria de facto impedir a realização da profecia e se esse alguém conseguisse chegar à Gina, à Hisui, ao Tech e ao Dest, não os teria deixado vivos no mundo humano. Tê-los-ia morto de imediato.

– É verdade – concordou Lilás.

– Então, foram os vossos pais que vos deixaram no mundo humano para vos proteger – notou L, lançando um olhar sugestivo a Hisui, que baixou o olhar para o colo – Eu disse-te que poderia haver essa hipótese.

– Eu sei – murmurou Hisui – Mas isso lembra-me… Saya, disseste que o teu pai morreu numa missão no mundo humano.

Saya enrijeceu, mas acenou.

– Sabes que nenhum humano teria poder para matar um deus – continuou Hisui – O que quer dizer que estava outro deus no mundo humano nessa altura. Mas estaria lá a fazer o quê? Aliás, porque estava o teu pai no mundo humano?

– Achas que… ele estava lá para vos procurar? – perguntou Ouro, compreendendo aonde a rapariga queria chegar – Que ele estava lá por causa dos deuses da profecia?

Hisui acenou.

– A questão é: estaria lá para nos ajudar a realizá-la ou para nos matar e impedir que ela se realizasse?

– Disseste que encontraste um livro velho entre as coisas do teu pai – lembrou Lilás a Saya – Não tem lá nenhuma pista do que ele pretendia fazer no mundo humano?

Saya abanou suavemente a cabeça, dizendo:

– Não sei, nunca cheguei a ler o livro.

– Talvez fosse uma boa altura para experimentares – disse Hisui – Talvez com isso consigas até descobrir quem é que obrigou os nossos pais a abandonar-nos.

Saya ignorou-a.

– Temos mais alguma coisa para discutir? – perguntou Gina, com ar aborrecido.

– Em que consistem os teus poderes? – perguntou Ouro, curioso.

Gina rangeu os dentes, mas Niko tornou a poisar a mão no seu braço para a acalmar.

– Crio – disse ela, simplesmente.

– Ela entende animais e plantas – acrescentou Niko – E tem uma grande perceção em relação ao corpo das pessoas, conseguindo, por exemplo, detetar doenças.

– E tu e o Lilás são Adeptos dela – constatou Snow.

– Sim – confirmou Niko – Eu entendo os animais.

– Eu entendo as plantas – disse Lilás.

Sweet – comentou Shark.

– Já podemos ir embora? – perguntou Burn, com maus modos.

– Se não tiverem mais nada para acertar, sim, podemos ir embora – confirmou Circe, levantando-se – E lembrem-se que não podemos falar sobre nada disto fora desta Bolha. Entendido?

– Entendido – responderam todos.

– Ótimo. Vou desfazer a Bolha.

Circe começou a soprar o fogo que ardia sobre os símbolos que desenhara, pela ordem inversa em que os tinha desenhado. Quando o último símbolo se apagou, levantaram-se todos, alguns soltando gemidos de dor por terem estado sentados no chão duro. Burn foi o primeiro a levantar-se com um salto e saindo da cave com passadas furiosas. Com um mau pressentimento, Softhe correu atrás dele.

– Burn! – chamou, baixinho, esperando que ele olhasse para ela.

Mas ele ignorou-a completamente.

Com um estalido irritado da língua, Softhe deu uma corridinha até chegar a Burn e agarrou-lhe um braço:

– Burn, o que é que…?

Softhe calou-se quando Burn se soltou bruscamente da sua mão, lançando-lhe um olhar ameaçador.

– Não me toques – rosnou.

– O que é que se passa contigo? – perguntou Softhe, franzindo o sobrolho.

– Passasse que não quero ter de olhar para a tua cara outra vez – disse ele, cortante como uma lâmina gelada. E foi gelado que o peito de Softhe ficou, com os pulmões sem ar e o coração apertado.

– O que é que eu te fiz? – perguntou ela, com a voz débil e magoada.

– Tu? Nada – negou Burn – Mas aquele Tech… eu não acredito que ele se atreveu a fazer-me isto. A obrigar-me a apaixonar por ti. A mim ninguém me obrigada a fazer nada. Nada, ouviste bem? Não me interessa se é o Destino, se é o raio que o parta. Eu não ando às ordens dos outros, sejam eles quem forem! Eu não me vou apaixonar por ti, nem que o fogo congele e o gelo queime. Não cries falsas esperanças, porque não vais obter nada de mim. Percebeste? Portanto, afasta-te de mim!

Burn tentou virar costas a Softhe, mas ela cerrou os maxilares e correu a colocar-se na frente dele, poisando as mãos no seu peito para o obrigar a parar.

– É contra o destino que estás a lutar, Burn, e será uma luta que não irás ganhar, não importa o que faças. Não seria mais fácil simplesmente… aceitares as coisas como elas são? E deixares-te levar?

– Deixar-me levar por algo que um idiotazinho qualquer disse? – perguntou Burn, descrente – Não me parece. E tu, se fores inteligente, também não te deixarás levar.

Softhe olhou para o lado, tentando encontrar algo que responder. Burn fez um sorriso torto.

– Vá, não me digas que estás mesmo apaixonada por mim. Eu sei que sou uma brasa e que todas as miúdas me querem, mas achei que fosses mais esperta que isso.

– Mais esperta que isso? – repetiu Softhe – Tu beijaste-me, lembraste?!

– Oh, estou a ver – disse Burn – O beijo subiu-te à cabeça, não foi? E achaste que tinha algum significado, que íamos ficar juntos para a eternidade e, blá, blá, blá.

Softhe arfou de choque, sentindo um baque no peito.

– Estás a dizer… que não teve significado nenhum para ti?

– Claro que não, criatura, não sejas ingénua! – estalou Burn – E também não deveria ter tido significado nenhum para ti. Tu sabes quem eu sou. Sabes que sou o Deus Supremo do Fogo, com todas as raparigas da escola aos meus pés e muitas por onde escolher. Achas que iria escolher-te justamente a ti? A uma humana insignificante que não faz mais do que chatear-me a cabeça? Por favor…

E depois empurrou Softhe para o lado, para conseguir continuar na direção do Átrio dos rapazes. Softhe ficou no meio do corredor, sozinha, ao princípio imóvel. Depois, lentamente, levou as mãos ao peito, onde sentia os cacos do seu coração partido a enterrar-se na sua carne e um frio intenso e vazio a espalhar-se desde o peito até ao resto do corpo, ameaçando sugá-la inteira para o meio do nada.

Softhe nunca poderia ter adivinhado que aquilo doeria tanto.

* * *

Niko tentou segurar o pulso de Gina enquanto a rapariga quase corria para longe dele.

– Gina, por favor – murmurou ele.

– Não tinhas o direito – rosnou ela, olhando-o ameaçadoramente através das pestanas – Isto não é um jogo, Niko!

– Mas já pensaste na quantidade de coisas que descobriste? Será que não valeu a pena sacrificar esse segredo sem sentido para descobrires mais coisas sobre ti e as tuas origens? Talvez descubras quem são os teus pais!

– Os meus pais estão mortos – disse Gina.

Niko soltou um suspiro e soltou Gina.

– Como podes ter tanta certeza? – perguntou ele.

– Não te vou contar, agora que sei que não és de confiança – cuspiu Gina, tentando virar-lhe as costas e ir-se embora.

Niko sentiu o coração mirrar-lhe no peito. Ele ouvira muitos relatos de quão horrível era para qualquer Adepto ser repudiado pelo seu Supremo, mas agora sentia-o na própria pele.

– Gina, não digas isso – implorou Niko, correndo atrás dela e virando-a para si, segurando-a pelos ombros para a obrigar a olhar para os seus olhos desiguais, um do mesmo verde que os olhos de Gina e outro dourado – Sabes que podes confiar em mim. Sempre. Por favor, não digas isso…

Gina virou a cara para o lado e Niko soltou um gemido de desespero.

– Por favor, Gina – gemeu ele, sem saber que mais fazer para reconquistar a confiança da sua Suprema – Por favor, não me faças isto…

– De nada te vale implorar pelo perdão, Niko – negou Gina, olhando para ela com a autoridade que só uma Deusa Suprema tinha – Agiste mal. Serão atos, e não palavras, que corrigirão o que fizeste.

– O que posso fazer? – perguntou Niko, pronto para tudo.

– Surpreende-me – disse Gina, tentando virar-lhe as costas de novo.

– Bebe do meu sangue – disse ele, segurando-a virada para si.

Gina ficou a olhar para Niko, sem ter a certeza de que ouvira bem.

– O que foi que disseste?

– Bebe do meu sangue. Assim saberás o meu primeiro nome e poderás controlar-me. Serei teu, Gina. Completamente teu.

Gina olhou para Niko, o convite tentando-a. Tal como os deuses que tinham ligação com a Morte ou a Destruição, também o sangue atraia Gina. Os seus lábios entreabriam-se com a ânsia e Niko viu as pontinhas brancas e afiadas das presas que Gina escondia cuidadosamente.

– Não – negou ela, virando o rosto para o lado, resistindo – Não quero… não quero fazer isso.

– Então ouve – pediu Niko.

E antes de ela poder recuar, encostou a boca ao ouvido dela, e sussurrou o nome que fazia tudo o seu corpo reagir e crepitar, que sacudia cada molécula do seu ser, que explodia na sua boca, estalava na sua língua:

– Lysandre…


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