A Irmandade dos Cinco: Irmãs de Sangue escrita por Dear Cami


Capítulo 3
Capítulo 3 - Mais forte do que todas as tempestades.


Notas iniciais do capítulo

Olá novamente pessoas! Capitulo novinho para você, desculpem pela demora e espero que você gostem!

Boa leitura (:



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Markos pousou o suéter creme no braço do sofá e passou um dedo pelos pelinhos dourados arrepiados do braço de Blake. Uma faixa dourada brilhou no pescoço dela. Em algum momento, Blake não se lembrava bem como, o colar tinha escapado por de dentro da sua blusa e agora pendia solto por entre o emaranhado de cabelos. Se Markos percebeu ou não, ela não teve vontade de perguntar.

– Como você está se sentindo?

– Melhor. Obrigada. – As pernas de Blake estavam cobertas por uma manta verde que estava em algum lugar perto da lareira; ela observava o fogo da lareira em todos os tons amarelo e vermelho dançarem juntos uma tortuosa dança perigosa. Apenas os dois estavam no grande esconderijo debaixo da casa velha, Markos provavelmente tinha falado para os outros não descerem, Blake supunha. A sala era iluminada pela luz do fogo. Havia mais livros espalhados pelo chão e a mesa de centro.

– Ei! – A luz dos olhos azuis de Markos examinou o rosto dela – Você está bem?

Sim, ela queria dizer, mas a resposta ficou presa na garganta. Fisicamente ela estava bem. A postura séria ainda resistia. Ela estava bem, Markos estava bem – Christian e Cersei, cansados por todo o acorrido do dia, provavelmente já estavam em seus quartos e descasavam suas mentes tranquilamente.

Os quatro ficaram chocados com a chegada da nova garota, e o encontro deles não poderia ter sido pior. Agnes os fizera se sentar em sua grande sala e por um tempo ficaram se encarando, Blake e Rosie. O pesadelo da noite anterior ainda pairava fresco por sua mente e ela não conseguia deixar de pensar no quanto os olhos de Rosie a lembravam de Cassandra.

O mundo pareceu dar voltas para Blake quando a menina finalmente falou com uma voz serena e tilintante que transmitiam uma calma que pareciam ser de outro mundo. Mas não foi a voz ou sequer os olhos que espalhou o horror entre Cersei e Blake. Foram as palavras que Agnes não conseguiu ouvir.

Fortiores quam omnis procellas.

Todo o momento acabou quando Markos se levantou abruptamente, juntamente de Christian, puxando as duas garotas de volta para o mundo. O encontro acabou e mais uma vez o sonho voltou a estremecer Blake.

– Estou bem.

Ela desenrolou as pernas de dentro da manta e ficou de pé, caminhando até a lareira. Estava consciente que Markos a observava do sofá. Blake esticou as mãos como se as esquentasse junto ao fogo, embora não sentisse frio. Na verdade, sempre que Rosie ou Cassie cruzavam sua mente, ela sentia uma onda de raiva, como fogo líquido percorrendo o corpo. As mãos tremiam; ela as olhava com uma forma de distanciamento, como se fossem as mãos de um estranho.

– Rosie tem medo de nós – disse Blake. – Ela nos disse algo, em especial no fim, e pareceu que era como se ela tentasse se comunicar de uma maneira diferente.

– Ela tem medo de não ser aceita – corrigiu Markos. – Não acho que ela tenha certeza do que realmente aconteceu com a sua vida, não mais do que nós. Uma coisa, porém, é certa: ela tentou lhe dizer algo.

– Não – disse ela, sem dar meia volta para olhar para Markos – Porque ela apareceu justo agora? – Não era isso que era queria dizer, mas não parava de pensar no porque de agora. A última filha dos Redhawks, o sonho com Cassandra e as palavras não ditas de Rosie. Porque agora?

Ela ouviu o estalido do sofá de couro enquanto Markos mudava de posição.

– Acho que nada acontece sem motivo – explicou ele – Existe uma simples explicação para todo um grande problema, e só o que nos resta é esperar para descobrir o que vai vir em seguida. Acho que para bruxas, isso não é bem um problema.

Ela se virou e fitou Markos quando ele parou de falar. Estava sentado na beirada do sofá, passando a mão no cabelo loiro bagunçado, os olhos fixos no chão. Ela aguardou, o único som no cômodo era o estalido e o crepitar da madeira úmida na lareira.

– Eu nunca tive que lidar com algo assim – concluiu ele, engolindo as palavras enquanto as pronunciava.

Blake sabia o quanto custava a Markos confessar aquilo, o quanto de sua vida fora dedicada a esconder o medo, a angustia e qualquer vulnerabilidade perceptível. Ela queria dizer alguma coisa, falar que ele não precisava ser tão obstinado, porem não conseguiu. Blake também era persistente, e ela sabia que ambos possuíam boa razão para serem. Não havia ninguém em toda Salem que tivessem mais motivos para proteger seus amigos.

– Eu sonhei com Cassandra.

– Blake. – Markos se pôs de pé e caminhou até ela, a mão esticada e o rosto empalidecido – Você...

Ela se encolheu, desvencilhando-se do toque dele. Uma luz alarmada ardia nos olhos azuis dele.

– Não sei como posso te ajudar – Ele abaixou o olhar para as mão; o brilho suave da luz do fogo era visível em sua pele clara. – Fale comigo. Por favor.

– Não consigo – disse ela.

– Então...

– Eu simplesmente não consigo entender. Eu devia ter contado, mas simplesmente... Não consegui.

Ele não se mexeu, só ficou olhando para ela.

– Blake, você pode me contar qualquer coisa; sabe que pode.

Ela respirou fundo e olhou para o fogo, observando as chamas dançarem sua dança infinita novamente, perseguindo umas as outras.

– Cinco anos atrás – falou –, antes de existir nosso grupo, depois que meus pais morreram eu descobri que eu tinha uma meia-irmã. Ela era simplesmente perfeita e me acolheu de todos os modos possíveis. Éramos inseparáveis e ela simplesmente me consolou tanto que eu não sabia como retribuir. Eu a trouxe para Woodstock e foi ai que os pesadelos começaram. Era sempre o mesmo toda a noite, Cassandra sangrava em um vestido azul e lá estava eu parada em sua frente sem fazer nada para ampara-la. Distanciei-me aos poucos de Cassie e em um dia eu descobri que ela guardava um antigo livro de feitiços em seu quarto. Foi por acaso que eu o descobri, mas a curiosidade foi enorme no momento e eu li tudo que estava nele: Cassandra queria me matar, queria ter meu Poder para ela. E então como se sentisse que algo estava errado, ela entrou no quarto usando o vestido azul. As palavras saltaram da minha mente e eu apenas as sussurrei. Foi o suficiente de Poder para mata-la, e eu vi que na verdade o sonho era real.

Markos se impressionou de um modo que ela raramente vira; ela interpretava os níveis da expressão dele: pena, medo, apreensão.

– Que... Que palavras?

– Fortiores quam omnis procellas.* – disse ela, e as palavras soaram feias e terríveis na tranquilidade da sala – Foram as mesmas palavras que Rosie sussurrou para nós. Eu nunca soube o seu significado ou como eu as sabia, apenas Cersei sabia dessa historia. – A voz baixou para um sussurro.

Markos ficou branco como papel. Ele abriu a boca para dizer alguma coisa, mas Blake ouvia apenas o eco distorcido da própria voz, como se estivesse de baixo d’água. Ela tremia inteira, violentamente, embora a sala não estivesse gelada.

– Ontem à noite – disse ela, por fim – Eu sonhei com Cassie. No sonho eu vi você, mas eu não conseguia alcança-lo... E as palavras dela foram tão reais.

Eles ficaram em silencio. Acima de tudo, estava cansada, muito cansada. Contar a ele o que Cassandra representava em sua vida tinha sido como erguer um peso impossível, e agora tudo que ela queria era fechar os olhos e desaparecer na escuridão. Tinha ficado tão irritada por tanto tempo – a raiva sempre sob a superfície de tudo, que ela estivesse na sala de aula conversando com Cersei, ou sentada no gramado, ou sozinha em seu quarto tentando ler, a raiva sempre estava com ela.

Era evidente que Markos estava lutando; ele não tentava esconder nada dela, pelo menos, e Blake viu o lampejo breve de emoções no fundo dos olhos dele: ira, frustação, impotência, culpa e, então, tristeza. Era uma tristeza surpreendentemente tranquila, para Markos, e, quando ele por fim falou, sua voz também parecia surpreendentemente tranquila:

– Eu só queria poder dizer a coisa certa, fazer a coisa certa, facilitar isso para você – disse ele sem olhar para ela, e em vez disso, fitando o chão. – O que você quiser de mim, quero fazer. Quero te apoiar da melhor maneira, Blake.

– Isso – falou ela em voz baixa.

Ele ergueu os olhos.

– O que?

– O que você acabou de dizer. Foi perfeito.

Ele piscou.

– Bem, isso é bom porque não tenho certeza se tenho capacidade de um bis dentro de mim. Qual das partes foi perfeita?

Ela retrocedeu os lábios ligeiramente. Havia alguma coisa tão Markos na reação dele, a estranha mistura de arrogância e vulnerabilidade, de resistência, amargura e devoção.

– Eu só quero saber – disse ela – que sua opinião a meu respeito não mudou. Que meu valor não seja menor.

– Não. Não – respondeu ele, consternado – Você é corajosa e brilhante, é perfeita e eu te amo. Eu simplesmente te amo e sempre te amei. E as atitudes de nenhum passado vão mudar isso.

– Sente-se – disse Blake, e ele se sentou no sofá de couro vermelho que estalava, a cabeça inclinada para trás, olhando para ela. A luz refletida da lareira se acumulava feito centelhas no cabelo de Markos. Ela respirou fundo e foi até ele, acomodando-se cuidadosamente no colo dele. – Essa é a primeira vez que você disse que me ama. – A voz saiu em sussurro, mas firme e melodiosa.

Ele pôs os braços ao redor dela, apertando-a contra si. Blake sentia os músculos nos braços dele, a forca em suas costas enquanto a tocava delicadamente. As mãos dele não eram feitas para delicadeza, e ainda assim ele sabia ser muito gentil com ela e com todas as coisas com as quais se importava.

Ela se ajeitou contra ele, sentada de lado em seu colo, com os pés no sofá e inclinou a cabeça contra o ombro dele. Blake sentia as batidas rápidas do coração de Markos.

– Você já pode me beijar – disse ela.

Ele hesitou.

– Você tem certeza?

Ela assentiu.

– Sim. Sim – falou – Deus sabe que não temos conseguido fazer isso ultimamente, mas sempre que te beijo, sempre que você me toca, é uma vitória e me acalma de todas as maneiras, se você quer saber. Quando toco em você, faço isso porque quero, e é por isso que eu te amo perdidamente. – disse ela, e se esticou para beija-lo, um toque leve dos lábios nos dele, apoiando a mão nas costas do sofá.

Ele a puxou para perto, e ela enrijeceu. Os pés de Blake foram arrancados do sofá e os dois deslizaram para o chão frio da sala, que era liso e estava empoeirado, cheirando a madeira antiga.

Blake se viu deitada em cima de Markos, com os joelhos abertos, um de cada lado dos quadris dele. A camisa de Markos estava ficando suja, mas ele não pareceu se importar. Ele jogou as mãos para trás da própria cabeça, tirando a camisa.

– Você literalmente me derrubou com a força da sua paixão – observou. – Bom trabalho, Stormwell.

– Você só caiu porque quis. Eu o conheço, você nunca escorrega.

Ele tocou o rosto de Blake.

– Posso não escorregar, - disse ele – mas posso ficar perdido.

– Essa pode ser sua pior cantada, dentre todas.

– Quem disse que é uma cantada?

O calor da sala aumentou, e ela se inclinou para frente, equilibrando as mãos no peito dele. Pressionou o quadril contra o dele e observou os olhos de Markos se arregalarem, indo de azuis a escuros, as pupilas engolindo as irises. Pode ver a si mesma refletidos nelas.

Ele se apoiou em um cotovelo, e pôs uma das mãos na nuca dela. Ela o sentiu se arqueando para cima, contra ela, os lábios tocando os seus, mas recuou, não permitindo o beijo. Blake sorriu na boca de Markos, como se estivesse apenas provocando, e rolou para o lado, encolhendo-se ao seu lado no chão frio. Ele não protestou. Seu braço a envolveu e Blake queria colocar a cabeça no ombro dele, mas não o fez.

– É primeira vez que ficamos sozinhos em semanas – disse ela.

– Eu sei. – Markos estava olhando para o teto. Ele moveu a mão como se fosse o tocar e de repente lá estava.

As estralas brilhavam intensamente lá em cima. A lua era uma onda branca, como uma vela; o peito de Markos subia e descia uniformemente. Os dedos dele entrelaçaram-se nos cabelos dela. Blake exalou lentamente.

– O que foi isso?

– Não sei – respondeu Markos. A voz dele soou distante e como um sonho. – Uma vez que você sente alguma coisa tão profunda, nunca mais pode deixa-la.

– E porque deveria deixa-la?

Markos rolou e subitamente estava em cima de Blake, pressionando-a contra o chão de madeira. Ela mal notou que estava frio; pode sentir o calor irradiando dele em ondas, e os olhos de Markos ardiam. Ele tinha uma maneira de se colocar em cima dela, sem que ela ficasse esmagada, mas que ao mesmo tempo sentisse todas as partes dele: a forma dos quadris, os cortes na calça, o formato dos músculos.

Ela abriu a boca para dizer algo, mas ele já a estava beijando. Ela o beijara tantas vezes – beijos suaves e delicados, fortes e desesperados, selinhos de despedida e beijos que pareciam durar horas -, e este não foi diferente. Ela largou as duvidas e esticou o braço para puxa-lo para perto.

Ele rolou de lado, segurando-a. As mãos de Markos deslizaram para sua cintura puxando um pouco para cima a sua saia, os dedos acariciando-a levemente na parte sensível da pele da lombar. Ela pôs as mãos nos cabelos dele e fechou os olhos, envolvida em uma bruma, com cheiro e som de fogo. Eras intermináveis se passaram, e só existia a boca de Markos na dela, o calor, as mãos dele nela. Finalmente após o que poderiam ser horas ou minutos, ela ouviu alguém gritando, uma voz fina desesperada, se elevando e cortando a tranquilidade.

Markos recuou, com o olhar preguiçoso e lamentoso.

– É melhor se arrumar.

Blake o olhou, entorpecida enquanto arrumava a roupa e se sentava no sofá.

– É melhor colocar a camisa.

Markos se sentou na poltrona, enfiando a camisa de volta enquanto lhe lançava um sorriso.

O coração de Blake pulou algumas batidas quando Cersei e Christian chegaram ao final da escada.

– Temos um problema – disse Cersei, a voz saindo desesperada e chorosa – Um grande problema.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Mereço um comentário? Faz bem para alma do autora hahaha

*"Fortiores quam omnis procellas" significa "mais forte do que todas as tempestades" em latim



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