O que eu fui depois de você escrita por Raissa Muniz


Capítulo 1
Prólogo




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Algumas estórias são como contos de trancoso que dificilmente se realizarão. Outras são tão verossímeis que beiram ao tédio com suas descrições minimalistas e apelos às críticas sociais. Algumas trazem riso, outras trazem lágrimas. Há ainda aquelas que se encaixam em todas as categorias e cativam leitores por todos os cantos. São queridas, amadas, esperadas e seguidas por legiões de fãs que, durante algumas páginas, protagonizam não apenas suas vidas, mas também as de seus personagens favoritos. São estórias cheias de graça.

Em contrapartida, há aquelas que não provocam comoção. Nada de risos, nada de lágrimas, tampouco comentários fervorosos e legiões de fãs que trocam suas vidas pelo imaginário de seus escritores preferidos. São estórias, mesmo que forçosamente escritas, que não conseguem despertar emoção alguma no âmago do leitor.

Escrever uma estória é aceitar a condição de indiferença, mesmo que imposta, de tais opções. É não classificar seus próprios escritos sem que aja pelo menos uma acusação imaginária. É sentir-se pedante diante de situações que corriqueiramente não trariam arrependimento algum. É abster-se do olhar não inquisidor. É ter um olhar certeiro, acirrado e discreto diante dos acontecimentos rotineiros. É transformar o comum no que há de mais belo. Escrever uma estória é, por fim, um exercício de humanidade. Abstenho-me, por hora, de explicar-lhes o porquê.

As próximas páginas trazem uma dessas estórias de escritores falidos com olhares discretos. Achei por bem escrevê-la assim, exatamente como a vi correr. Em alguns momentos precisei utilizar de informações de terceiros. Nem sempre o olhar inquisidor do escritor está presente na cena, mas sempre, em qualquer circunstância, a cena corre de encontro a um escritor com olhar certeiro. Recuso-me, pelo menos por um tempo, a divulgar minha identidade. Sou um escritor escrevendo sobre um outro escritor, o último mais jovem e mais bonito do que eu. Sou, acima de tudo, um observador. Agarrei as cenas e fiz sumo dos fatos para colocá-los aqui.

Em alguns momentos serei pedante. Noutros, serei como um companheiro que há tempos discute sobre o tempo e outros fatos entediantes. Demoro-me muito tempo divagando sobre o processo da escrita. Talvez eu queira mascarar o que realmente trago.

Se você gosta de estórias cheias de graça como as que eu citei no início dessas divagações, mude de livro agora mesmo. Mas se aceitar viajar comigo diante do que há de mais belo em temas como maternidade, amor e morte, mesmo aceitando que em nenhum momento encontrará o ar de uma grande estória nesta historieta de um velho louco, prossiga. Afinal, escritos de um velho escritor falido continuam sendo escritos.


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