– Não existe esse tipo de coisa. - Fabian cerrou os olhos.
Lexi bufou.
– Claro. Sua mãe não cometeu suicídio porque você a persuadiu e eu não senti sua culpa, medo e confusão quando peguei sua mão, tudo vai bem no mundo. Você prefere ser tratado como uma criança e acreditar que Papai Noel existe? Cresça, Fabian. Aceite a anormalidade da sua vida. Eu aceitei na minha. - ela bebeu um longo gole da bebida carmim em seu copo – Eu sugiro que você aceite minha ajuda, antes que sua mãe de fato atrapalhe sua vida e a dela mesma.
– Que vida? Ela morreu! - Fiabian gritou com uma expressão perplexa para Lexi.
Lexi colocou o copo com um estrondo na mesa.
– A vida que vivemos aqui não é a única! - Ela estava completamente impaciente agora - Então?
Fabian encarou o chão.
Não. Tudo isso era errado, era demais. Não havia outra vida, só havia o vazio eterno, a morte, o ponto final. Todos estavam loucos, inclusive ele mesmo. Médiuns, fantasmas, habilidades sobrenaturais, suicídios... A única coisa sã, agora, parecia ser o suicídio.
Sua mãe estava morta, ela não voltaria jamais. A culpa era dele? Ou não era?
Fabian levou ambas as mãos a sua cabeça, despeteando seus cabelos.
Lexi correu até ele, pegou seu rosto entre suas mãos e olhou dentro de seus olhos.
– Fabian.
Ela parecia apreensiva. De repente, ele se sentiu calmo. Não calmo, mas esqueceu facilmente de sua loucura interna. Foi como cair da água.
–Fabian, acalme-se. Deixe-me ajudá-lo. -ela tirou suas mãos de seus cabelos, devagar, ainda olhando em seus olhos.
Ela levou o jovem até uma cadeira próxima e sentou-se na outra. Ela esperou que Fabian acalmasse sua respiração, sua postura, para finalmente falar.
– Você confia em mim? - ela perguntou, séria.
– Sim. - ele não hesitou.
Ela estendeu as mãos sobre a mesa. Olhou rapidamentepara Fabian e depois para suas mãos.
– Não me toque durante todo o processo. Conversaremos com ela, e se tudo funcionar como planejado, ela poderá partir. -Lexi fechou os olhos - Feche a cortina.
Fabian levantou-se e fechou a cortina, fazendo questão que nenhuma fresta de luz entrasse pela janela. Depois, voltou para sua cadeira e sentou-se novamente.
– Isso pode demorar alguns minutos. Sejamos paciêntes.
Dito isso, um silêncio mortal caiu sobre o escritório. Fabian estava nervoso. Olhava para todos os lados, menos para Lexi. Sentia-se como se encarasse uma mulher desnuda quando olhava para ela naquele estado. Lexi, de cabeça baixa e olhos fechados, estava impossívelmente imóvel. Nada parecia natural naquilo.
Fabian notou que a cabeça de Lexi havia se inclinado ligeiramente para a direita, como se escutasse alguém sussurrando em seu ouvido. Ela assentiu para algo dito somente a ela. Seus dedos abriram e fecharam sobre a mesa. Seu rosto levantou-se e ela abriu a boca e disse, mas o que foi dito não foi dito na sua voz.
– Sua mãe pergunta porquê.
Fabian ficou perplexado, tanto que não soube o que dizer.
–Perdão? - ele testou.
–Sua mãe pergunta porquê.
Ele piscou e franziu o cenho.
– Eu não... Eu não entendo. Quem é você? Lexi?
O rosto de Lexi se abriu em um sorriso lijeiramente zombeteiro.
– Lexi está aqui também. Eu estou aqui. Sua mãe está aqui. - O sorriso sumiu de seu rosto - Sua pergunta não foi pertinente. Responda.
Fabian se apressou, ajeitando-se na cadeira.
– Mãe, eu não tive a intenção...
– Teve. Só porque foi dito em um momento de raiva, não significa que não tivesse. A raiva só lhe deu mais coragem para falar com a boca o que os atos já diziam. - Lexi abriu os olhos, que estavam estranhamente vazios.
– Eu jamais quis que a Senhora acabasse com a própria vida. Jamais! - Fabian socou o punho sobre a mesa, enfático.
– RESPEITE-ME, GAROTO! - A voz se tornou mais profunda, alta, projetando-se pelo recinto - Eu não sou sua mãe. Eu sou um intermediário. E você também deve respeito a sua mãe. Nunca aprendeu a respeitar os mortos, Fabian? - Lexi inclinou a cabeça para o lado, caçoando - Os mortos sempre respeitaram a você.
Fabian franziu o cenho.
– Perdão.
Lexi assentiu.
– O que minha mãe quer me dizer? - ele abaixou o tom de sua voz, apesar do rosto ainda mostrar certa arrogância.
– Ela quer avisar. - Lexi fechou os olhos novamente e virou a cabeça, escutando algo - Ela avisa que você deve aprender com seus erros. Você tem um grande papel nessa casa e ela estava errada. - Lexi abriu e fechou a boca, franzindo o cenho - Onde...? - Ela tirou as mãos da mesa, levantando ambas ligeiramente - Quem você...?
De repente um tremor forte percorreu seu corpo e Lexi arregalou os olhos, olhando fixamente para frente. Ela permaneceu imóvel por vários segundos, enquanto Fabian segurava os braços da cadeira.
Suas mãos se curvaram em garras e estralaram. Ela sorriu, fechando os olhos, estralou seu pescoço e fez um movimento com os ombros, um movimento de deboche, de conforto.
Uma risada um tanto tenebrosa deixou seus lábios.
– Finalmente. Eu esperei um bom tempo para vê-lo novamente, Fabian Montgomery. - Lexi, que não era Lexi, encarou Fabian com olhos sombrios.
– Quem é você? Onde está Lexi? - Fabian arregalou os olhos, observando a mulher a sua frente.
Lexi jogou a cabeça para o alto e gargalhou.
– Lexi? Lexi! Leeeeexiiii, onde está você? O queridíssimo Fabian está a sua procura! - ela disse, agora em uma voz fina, olhando frenéticamente ao redor.
Ela levantou-se e bateu as mãos na mesa. O quarto inteiro estremeceu.
– Ela não está. - ela parou de rir abruptamente e encarou Fabian de cima.
Fabian se encostou na cadeira, suando nervoso. Aquilo foi um erro. Ele confiou em Lexi e ela não estava mais ali.
– Vamos conversar, Fabian, querido. - ela se inclinou na mesa - Você matou sua mãe e seu imão. Acha mesmo que tem salvação?
Ele respirava pesadamente, mas não respondeu.
– RESPONDA! - A voz projetou-se ao seu redor novamente.
– Não sei! - ele gritou de volta.
– Que tal uma proposta? Ao invés da salvação, ao invés de correr riscos, por que não construir uma muralha, um forte ao seu redor? Hm? - Lexi subiu na mesa e começou a engatinhar até Fabian.
– Que tal... descartar a probabilidade... - ela puxou a camisa de Fabian para perto , para sussurrar em seu rosto - ... Da morte?
– Do que... - ele se interrompeu, enquanto Lexi analisava seu rosto de perto - Do que você está falando? - ele encarava a ruiva nervosamente, tentando prever o que ela faria.
– Eu estou falando... -ela correu a ponta de seu nariz até o ouvido de Fabian - De vida eterna. - ela sussurrou sedutoramente.
Fabian arregalou os olhos. Vida eterna. Sem jamais ser obrigado a enfrentar um possível julgamento, uma possível danação eterna. Sem jamais ter que sofrer pelas vidas que, indiretamente, tirou. Sem jamais ter que ser torturado. Viajar o mundo, apaixonar-se. Jamais morrer. Vida eterna.
– O que tenho que fazer? - ele puxou seu rosto para encarar o rosto de Lexi.
Lexi sorriu, desceu da mesa e sentou-se no colo de Fabian, seus movimentos lembrando os de um felino, ou de uma cobra. Ela passou o indicador na sua linha do maxilar, levantando o queixo de Fabian.
Ela agarrou seu queixo e puxou a boca de Fabian até seus lábios. Fabian desejou tocá-la desde o momento em que a viu realizando uma Sessão. E agora ele estava prestes a beijá-la. Ele pousou suas mãos na cintura de Lexi e aproximou seus lábios aos dela.
– Lexi... - ele sussurrou, centímetros de sua boca.
E então ela parou. Largou seu queixo abruptamente e quando Fabian olhou em seus olhos, eles já não eram vorazes e predatórios. Estavam assustados. Mortificados.
– Fabian...! - ela disse seu nome em uma respiração pesada.
E então ela gritou. Um grito que rasgou o escuro do quarto e foi como se todas as almas presas no inferno gritassem. Foi como uma tortura infinita.